A missão que temos é a de Aprender, mas antes e acima desse propósito, vem a nossa capacidade de pensar. Todo ser humano tem a capacidade de pensar, dada pelo G∴A∴D∴U∴, mas não nasce com essa habilidade, é necessário “aprender” a pensar. O sentido desse paradoxo se dá na expressão “O pensar é uma aprendizagem que o ser humano carrega para a vida toda” (Introdução à vida intelectual. Autor, JOÃO BATISTA LIBANIO. Editora, LOYOLA.), que em seu cap. 2, o autor nos convida a “pensar o pensar”. Como em nosso processo de aprendizagem dentro da Sagrada Arte, temos que parar de pensar simplesmente de maneira espontânea, observando o “objeto” pensado. É preciso o “provocador do processo” de pensar, indo além do que é visto ou sentido, fazendo perguntas, a fim de termos mais perguntas e mais respostas sobre nosso conceito, num tríplice movimento com as seguintes indagações: “Sobre esse saber, o que diz a Realidade?” Dentro de uma humildade e honestidade objetiva, devemos começar nossa educação com a leitura e o estudo do tema, despojada dos preconceitos ideológicos, religiosos e dogmáticos. “O que esse saber me diz?” É aqui que o saber precisa de nossa originalidade e “O que esse saber me faz dizer?”, pois guardar o aprendizado somente para si fica vazio, devendo, tudo que aprendemos, ter um fim na sociedade.

COMO É QUE APRENDEMOS? Segundo o filósofo Aristóteles “Nada está no Intelecto antes de ter passado pelos sentidos”. É aqui que entra o propósito dos sentidos humanos. O discípulo de Platão diverge profundamente do conceito de “dualismo platônico” de seu mestre, que traz o artífice de mundo sensível e mundo das ideias. Para Aristóteles “Nossos pensamentos não surgem do contato de nossa alma com o mundo das ideias, mas da experiência sensível.” São os nossos sentidos que nos trazem essas experiências. O que nos distingue como seres racionais é a nossa capacidade de conhecer, não a simples recepção de informações, mas percebendo as coisas que acontecem e como elas acontecem, através da razão. Se ficarmos no esporádico e no superficial, nunca chegaremos ao conhecimento da essência. Se utilizarmos a nossa Visão e o nosso Olfato somente como nossos sentidos, sem chegar ao essencial, estaremos só cumprindo o tempo necessário ao nosso aumento de salário e não galgando realmente os Degraus da escada de Jacó.

A Visão
Para os parâmetros maçônicos, a visão é um dos sentidos mais nobres, utilizado para nossa comunicação fraternal, junto com o tato e a audição, pois é pelo tato que se reconhecem os toques; pela audição se percebem as palavras e as baterias; pela visão que se notam os sinais. O olfato e o paladar são somente para a percepção dos odores do Altar dos Perfumes e para, na iniciação, sentirmos o doce e o amargo. A humildade da razão e do pensar nos submete a realidade de que, a visão, mesmo sendo o mais poderoso sentido, tem uma necessidade para se fazer existir. A presença da Luz. Sem Luz nada se vê. No simbolismo maçônico, a Luz vem do Oriente, vem dos Mestres que nos guiam, ensinam e conduzem. É exatamente esse o símbolo que compete aos IIr∴, mostrando pelo seu exemplo suas ações, dando um pouco de Luz ao Mundo Profano, mas ciente de que isso só é possível através da Luz do Oriente vinda dos Mestres, que lhe possibilitam a Visão de sua Missão.

O Simbolismo, atributo fundamental da Sagrada Arte, tem quase todos os seus efeitos através da Visão. São poucos os simbolismos percebidos pelos outros sentidos (baterias dos graus, odores do Altar dos Perfumes, uso dos malhetes e as Viagens Iniciativas, que são feitas sem a mesma). O símbolo, sendo “uma ideia consciente que representa e encerra a significação de outra inconsciente,” pode projetar nossas ideias, conceitos e emoções em tudo que vemos ao nosso redor. Instantaneamente vêm as conexões com o que já sabemos ou imaginamos, ou rejeitamos e não consideramos suas possibilidades. Segundo o Ir∴ José Eduardo Stamato, os sentidos que trazem o contato com o mundo exterior limitam nosso conhecimento, pois “nem tudo que percebemos através dos sentidos, tem o crédito da verdade.” Para conseguirmos uma nova visão das coisas precisamos provocar uma ruptura dos nossos conceitos, preconceitos, modos de vida e pontos de vista. Se estivermos acostumados a aprender através de correlações com o que já sabemos e com os nossos paradigmas, devemos ampliar cada vez mais essas correlações, vendo mais longe, ampliando nossa Visão.

O Olfato
Esse sentido comparte suas funções com o paladar. A ele é atribuído funções mais primitivas, ligadas a sobrevivência, através da alimentação e da reprodução. É simples na sua explicação nos dicionários e sua ausência como deficiência física, não compete nem de perto com a falta que a Visão faria na nossa sobrevivência. A cegueira é muito mais temida que a ausência de cheiros, e consequentemente, de paladares mais rebuscados. Mas como seriam estéreis nossos prazeres humanos, sem esse sentido. Se formos analisar filosoficamente, o olfato pode ser comparado com o Guarda do Templo, o Ir∴ Cobridor. É ele que nos faz eleger ou rechaçar os alimentos que consumiremos, assim como é o Ir∴ Cobridor o responsável pela introdução dos IIr∴ e VVis∴ em Loja, e ambos podem nos advertir sobre suas qualidades e valores.

Como conceber a vida sem a respiração. Patrick Suskind em seu livro “O Perfume”, diz que o homem pode sobreviver dias ou meses sem alimentação, cerrar seus olhos para a realidade, não escutar o que lhe dizem ou simplesmente não sentir quando lhe tocam, mas jamais deixará de respirar, enquanto viver. “Quem dominar os odores, dominará o coração das pessoas.”

É através do olfato que inalamos odores agradáveis, que nos eleva os pensamentos e favorece nossa concentração. Se aprofundarmos mais nossa sensibilidade, sentiremos que existem odores imperceptíveis, como o odor do medo ou o odor da coragem, reconhecido somente pelo nosso olfato mental. O Ir∴ Eduardo Freitas relatou em seu Estudo Interpretativo do Simbolismo e Alegorias do 2º Grau Maçônico que “cada pensamento, cada atitude da mente, mesmo que cada individualidade tem seu próprio odor, em que raramente se acha perceptível fisicamente; porém, nosso olfato mental nos faz a miúdo capazes de reconhecê-los, e assim, como se explicam certos casos de telepatia e pressentimentos”. Respirar é viver. O Livro da Lei traz em Gênesis Cap. 2, Vers.7 que o G∴A∴D∴U∴ deu o “fôlego da vida”, pois aos quatro elementos inertes, foi agregada uma Alma, um espírito. Incluindo o Homem que recebeu o “hálito vivo de Deus”. Só podemos perceber o hálito através do olfato e dignificar o “hálito vivo de Deus”, através do olfato da Alma.

Nossa percepção deve ir além da superficialidade, com objetividade, paciência, humildade e perseverança. A Luz do Oriente wsempre deve guiar nosso caminho na Senda Sagrada, representada pelos quatro elementos: Água, Terra, Fogo e Ar, perceptíveis hora pela visão, hora pelo olfato, hora pelos outros sentidos. Mas a consagração ao número cinco, que representa a Quintessência, sentida e ensinada aos Sentidos da Alma, somente se dará se vermos além do que nos é mostrado e sentirmos mais profundamente daquilo que nos cheira bem ou mal.

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