Nesta exposição, procurarei esclarecer alguns dos símbolos que se encontram no quadro que está afixado no vestíbulo, ao lado da porta de acesso ao templo da A.R.L.S. Paul Harris. O quadro contém muitos elementos que combinam Cabala, Alquimia, Hinduísmo e outras culturas. Portanto, um único trabalho não será suficiente para explicar todos os símbolos ali encontrados, entre eles, os desenhos dos chakras hindus. Começaremos pela Árvore da Vida.

Entre os hebreus, há um símbolo muito importante, denominado Árvore Sephirotal ou Árvore da Vida.

A Árvore da Vida é símbolo inequívoco da kundaliní do hinduísmo. Essa energia precisa ser despertada e ascender pelas 33 vértebras da coluna espinhal, uma clara alusão aos 33 graus da Maçonaria.

Ela é citada na Bíblia, no livro Genesis, capítulo 2, versículos 9 e 16.

No versículo 9, lemos:
“Do solo fez o Senhor Deus brotar toda a sorte de árvores agradáveis à vista e boas para alimento; e também a Árvore da Vida no meio do jardim…”

Ora, a localização da coluna vertebral, sede da kundaliní, está exatamente no meio, no centro axial
do corpo.

No versículo 16, temos mais um esclarecimento:
“E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás.”

A ordem está bem clara. O homem estava autorizado a viver num paraíso sem maldade e tinha o consentimento para usufruir da Árvore da Vida, isto é, usufruir do elevado nível de consciência e dos poderes concedidos pelo despertamento da kundaliní, desde que não caísse no reino de Mayá, a ilusão. A dualidade é característica dessa ilusão. Se o homem tomasse conhecimento do bem e do mal, instalar-se-ia em seu coração a maldade.

Quando as pessoas estão imersas nos conceitos de bem e mal, passam a fazer o mal mesmo quando usam o bem como pretexto. É da natureza humana. Veja as atrozes torturas infligidas pela Santa Inquisição em nome do bem e, igualmente, as perseguições políticas, religiosas e morais, cometidas por todas a religiões, em todos os países, em todas as épocas. E o que dizer das pessoas puritanas que perseguem e maltratam todos os que eles suspeitarem estar em desacordo com suas intolerantes regras morais? Tais pessoas não são dignas de comer os frutos da Árvore da Vida, nem de viver no paraíso. Na verdade, suas vidas são um inferno.

Pior do que isso, com poder tais pessoas tornar-se-iam mais perigosas. Imagine, alguém que tivesse despertado o formidável poder da kundaliní e, ao mesmo tempo, tivesse noção de bem e de mal. Quando o vizinho ou o desafeto agisse “mal”, a indignação do detentor de tamanho poder fulminaria com um câncer ou com um acidente quem tivesse obrado, falado ou pensado algo contra um bom ideal ou contra uma pessoa de bem.

O bem e o mal são mencionados no livro Dhammapada, escritura sagrada do budismo, que diz no versículo 412:
“Ao liberto dos dois entraves, o do bem e o do mal […] lhe chamo eu brâmane.”

E no versículo 417, lemos:
“Aquele que, deixado o jugo terrenal, rejeitou o jugo celeste e livrou-se de todos os jugos, lhe chamo eu brâmane.”

Não há dúvida de que trata-se de uma clara referência à superação da dualidade e, consequentemente, de Mayá, a ilusão. Mayá manifesta-se através da dualidade como o bem e o mal. Em estado de consciência expandida transcendemos a noção do bem e do mal. Noutras palavras, conquistamos a candura angelical e estamos livres de todo o pecado. Assim, se conseguirmos atenuar ou eliminar os conceitos de bem e de mal em nossa consciência, estaremos incrementando a predisposição ao estado de megalucidez que conduz ao autoconhecimento.

Na Cabala, o mesmo símbolo surge em formas retilíneas, mas a essência é preservada: uma haste central com vários círculos (círculo, em sânscrito, chakra), começando com um chakra na extremidade inferior e outro na superior, agora denominados em hebraico sephiroth. Alguns círculos estão no eixo central, enquanto outros estão deslocados lateralmente, como ocorre com as flores ou pires dos chakras nas representações ocidentais. Neste caso, o leitor vai notar que o número de círculos sobe para dez ou mais, dependendo da representação em duas ou em três dimensões. No entanto, alguns círculos são sombra de outros, como podemos observar no desenho da Árvore Sephirotal projetada no espaço, o qual lembra muito o orbe usado pelos antigos navegadores, a esfera armilar, significativo símbolo nacional português e do Brasil Império.

Como a Civilização Ocidental foi muito mais influenciada pela cultura judaica do que pela cultura hindu, a tendência de representar os chakras deslocados lateralmente se perpetuou entre nós.

Observe que se utilizarmos linhas curvas em vez de retas, teremos uma representação muito semelhante à indiana, com uma haste central envolvida por duas serpentes.

As coincidências entre os símbolos da kundaliní e o da Árvore da Vida vão além dos vários círculos ligados entre si pelos meridianos. Primeiramente, sabemos que a kundaliní corresponde à libido, o poder genésico; e Árvore da Vida, aquela que dá a vida, remete-nos à capacidade reprodutora. Depois, é curioso notar que o primeiro chakra chama-se múládhára, que significa “o suporte da raiz” e seu símbolo é o quadrado, que no hinduísmo corresponde ao elemento terra; enquanto na Árvore Sephirotal o primeiro círculo denomina-se malkuth, o “reino”, mas que se associa igualmente à terra, o elemento em que se insere a raiz. Por outro lado, o lótus mais elevado, do alto da cabeça, chama-se chakra coronário (chakra da coroa); já na Árvore Sephirotal o círculo mais elevado denomina-se kether, que em hebraico significa igualmente coroa.

No cristianismo, o símbolo da kundaliní muda mais uma vez, mas continua preservando os elementos fundamentais: um eixo central que sobe desde o polo negativo até o positivo, com duas serpentes, uma de cada lado, usadas aqui como alças. Na extremidade inferior, uma meia lua, símbolo do polo negativo e em cima um círculo com a Cruz do Graal, sinal que se assemelha com o do polo positivo. Sabemos que no inconsciente fazem-se associações de símbolos que muitas vezes passam ao largo do racional.

Outro símbolo que tem similaridade com a Cruz do Graal, mas que não deve ser confundido com ele, é o signo do Terceiro Logos5. Ambos são formados por um círculo externo que envolve uma cruz de braços iguais. A diferença é que no símbolo do Graal os braços da cruz não tocam no círculo e no do Terceiro Logos, sim.

Observe uma curiosidade: a região em que a meia lua aparece é exatamente a que corresponde àquela em que a kundaliní, feminina, polo negativo, é representada em estado passivo, adormecida no períneo, “enroscada três vezes e meia”, segundo as escrituras hindus.

Outra analogia: kundaliní é considerada a Mãe Divina no Hinduísmo6. Shivánanda abre um dos seus livros com uma prece à Divina Mãe Kundaliní (aqui com maiúscula). No cristianismo, a Mãe Divina é a Nossa Senhora. Mais uma analogia: a Nossa Senhora da Concepção (em português mudou para Conceição) tem uma meia-lua aos seus pés e, na mesma região, uma serpente enroscada. Coincidência?

O fato é que todos temos o Santo Graal dentro de nós. Os cruzados viajaram tanto, mataram e morreram para encontrá-lo lá fora, na Terra Santa, e ele estava o tempo todo na base da coluna vertebral daqueles cavaleiros que não precisariam ter saído de casa para conquistá-lo. Precisavam, isto sim, ter elevado essa força descomunal pelas 33 vértebras, ou 33 graus.

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