Na abóbada celeste do Templo REAA estão presentes 6 planetas, 4 constelações e 7 estrelas, das quais apenas uma não está nomeada (GRANDE ORIENTE DO BRASIL, 2009a, p. 26). Existe ainda uma estrela com a letra G no centro, pendente sobre o Altar do 2º Vig, conforme dispõe o item 1.2. Disposição e Decoração do Templo do Ritual do Grau de CM (GRANDE ORIENTE DO BRASIL, 2009b, p. 13). Destas disposições incorrem alguns equívocos acerca do simbolismo do segundo grau. A estrela inominada é amplamente confundida com a Estrela Flamejante, ou é sic et simpliciter desprezada enquanto parte simbólica do Templo Maçônico.

O Ir∴ Albert Pike na obra O Pórtico e a Câmara do Meio, nos informa que: “O teto representa o firmamento. Sobre o Orestá pintado um grande Sol, brilhando; sobre o 1º Vig, uma Lua Crescente; sobre o 2º Vig, uma estrela de cinco pontas” (PIKE, 2008, p. 23).Cabe esclarecer aqui que a disposição dos cargos utilizadas pelo Ir∴ Albert Pike baseiam-se nas Lojas do Ritual de Emulação. Assim, os diagramas dos Rituais modernos do Gr∴ Or∴ do Brasil parecem ter adaptado esta disposição para a organização dos nossos Templos, afastando a Lua para o Noroeste, de modo a suspendê-la sobre o 1º Vig; não obstante, a “estrela de cinco pontas” sobre o altar do 2º Vig, recebeu duas caracterizações nos Rituais em vigor: a estrela inominada e a Estrela Flamejante. Percebe-se que pelos Rituais antigos há apenas uma estrela de cinco pontas sobre o Altar do 2º Vig– sendo esta mesma a inominada! – não havendo outra estrela na parte Sudeste do Templo (GRANDE ORIENTE DO BRASIL, 2009a, p. 26).

Despiciendo destacar que como a estrela inominada e a Flamejante tratam-se da mesma estrela, a postura equivocada do Ritual em inserir ambas deve ser sanada pela supressão da primeira. Além disso, é curioso notar a presença do planeta Marte no diagrama original, excluído dos Rituais brasileiros injustificadamente. Tal situação demonstra que os Rituais da Maçonaria moderna, sobretudo do REAA, se assemelham à tapeçaria de Penélope, feitos pela manhã e desfeitos à noite.
A Estrela Flamejante foi aparentemente inserida no ano de 1737 nos Rituais Maçônicos (BOUCHER, 2012, p. 239) e desde então neles permanecem. É possível vê-la ao centro do painel simbólico do Grau de CM, entre o esquadro e o compasso (GRANDE ORIENTE DO BRASIL, 2009b, p. 26).

O significado primário que a estrela possui deve-se à sua luminosidade; servindo como portadora da luz divina, ou um sol de proporções reduzidas (CHEVALIER, 1986, p. 484). Pode ainda significar o espírito (PEREZ-RIOJA, 1971, p. 167), partindo do pressuposto que este constitui-se de substância luminosa. Inúmeras são as definições para a Estrela Flamejante, v.g., para Guillemain “a Estrela Flamejante é o centro de onde parte a verdadeira luz”; para Gédage “a Estrela Flamejante é o emblema do pensamento livre, do fogo sagrado do gênio, que eleva o homem às grandes coisas”, etc.

Válido indagar que: se todas as estrelas da Abóbada Celeste correspondem à uma estrela no firmamento, o mesmo ocorre com a Estrela Flamejante? Delaunay, citado por Albert Pike na obra Moral and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry afirma tratar-se de Sirius ou a Estrela Cão, que originariamente representa Hórus, o filho de Osíris e Ísis (1992, pp. 14-15). Sirius deriva do grego [σείριος] e significa “brilhante”, por tratar-se da estrela mais brilhante do céu noturno (CHEVALIER, 1986, p. 487), e podendo ser vista de qualquer parte do mundo. Ela era consagrada no antigo Egito à deusa Ísis, e era o ponto de partida do ano civil (CHEVALIER, 1986, p. 236). Além disso, é relacionada ao cão e o lobo – por situar-se na constelação de cão maior – evocando atributos de força e furor (CHEVALIER, 1986, p. 653).

Para os Gregos, entretanto, Sirius era associada ao calor do verão, que lhe conferia caráter nefasto; pois acreditava-se que sua influência levava os homens às paixões brutais e ao desregramento; conforme assinala Homero na Ilíada (apud MACHADO, 2001, p. 39): O velho Príamo foi o primeiro a vê-lo, correndo pela planície, reluzente como a estrela que nasce com o outono, distinguindo-se pelo irradiante fulgor entre as numerosas estrelas, na escuridão da noite. Chamam-na Cão de Órion, e é a mais brilhante, mas de mau augúrio pois traz muitas febres aos desventurados mortais.

Aquele Olho que Tudo Vê, testemunhando nossos trabalhos e cerimônias, Onisciente e emblema máximo da Prudência que orienta o homem torna-se símbolo da Estrela Flamejante e esta, por sua vez, figura entre os emblemas do Sol para nossos IIr∴ ingleses, além de anunciar-lhe o nascimento, como herança dos egípcios (PIKE, 1992, pp. 506; 787). Atualmente é comum dizer-se que um homem é um gênio, entretanto, os gregos antigos diziam que o homem tem um gênio (ESHELMAN, 2000, xi). A Estrela é símbolo do gênio que o homem possui e que lhe guia; àquela verdade divina encerrada em seu coração (PIKE, 1992, pp. 136) que deve ser perscrutada pela Consciência, até que se atinja o âmago mais profundo do ser.

A Estrela Flamejante representa sobretudo o guia infalível da vida humana. É um símbolo, como o grau em que está inserto, de convite ao trabalho e à vida. O daimónion pessoal de Sócrates nada mais era do que a representação dos significados que a Estrela Flamejante procura inculcar no Iniciado. Quando o filósofo grego alegava a existência de um gênio que lhe influenciava para a prática desinteressada do bem e assídua da virtude, guiando-lhe os passos para a fortificação do seu espírito e a abrangência e rutilância de sua Alma, estava demonstrando como este símbolo sagrado ilumina a sendo do recipiendário.

Bibliografia:

– A’L KHAN, Ali/Resende Urbano Júnior, Helvécio de. Maçonaria: Simbologia e Kabbala. – São Paulo: Madras, 2010.
– BOUCHER, Jules. A Simbólica Maçônica Ou a Arte Real Reeditada e Corrigida de Acordo com as Regras da Simbólica Esotérica e Tradicional. São Paulo: Pensamento, 2012.
– CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Diccionario de los Símbolos. Barcelona: Editorial Herder, 1986.
– ESHELMAN, James A. The Mystical & Magical System of The AA: The Espiritual System of Aleister Crowley & George Cecil Jones Step-by-Step. Los Angeles: The College of Thelema, 2000.
– Grande Oriente do Brasil. Ritual do 1º Grau: Aprendiz Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito. Grande Oriente do Brasil, – São Paulo, 2009a.
– Grande Oriente do Brasil. Ritual do 2º Grau: Companheiro Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito. Grande Oriente do Brasil, – São Paulo, 2009b.
– MACHADO, Roberto. Zaratustra, Tragédia Nietzschiana. – 3ª ed. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
– PEREZ-RIOJA, J. A. Diccionario de Simbolos y Mitos: Las Ciencias y las Artes em su Expresión Figurada. Madrid: Editorial Tecnos, 1971.
– PIKE, Albert. Moral and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry. Montana: Kessinger Publishing Co., 1992.
– PIKE, Albert. O Pórtico e a Câmara do Meio: O Livro da Loja. – São Paulo: Landmark, 2008.

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