Eis o Hino Rio-grandense:

Como a aurora precursora
do farol da divindade,
foi o Vinte de Setembro
o precursor da liberdade.
Estribilho:
Mostremos valor, constância,
Nesta impia e injusta guerra,
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra,
De modelo a toda terra.
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra.

Mas não basta pra ser livre
ser forte, aguerrido e bravo,
povo que não tem virtude
acaba por ser escravo.
Estribilho:
Mostremos valor, constância,
Nesta impia e injusta guerra,
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra,
De modelo a toda terra.
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda terra.

Sempre que ouvia o Hino-riograndense, uma palavra me chamava muito a atenção: virtude. Há um verso que diz: “Povo que não tem virtude acaba por ser escravo”. Ao ouvir o hino, interpretava esta palavra dentro do contexto do verso e da estrofe, como sendo uma virtude relacionada a moral religiosa, de cumprimento dos mandamentos de Deus, ou algo neste sentido.

Esta ideia perdurou em mim até o final do ano passado, quando, pesquisando alguns livros para feitura de um Trabalho de Conclusão de Curso – pós-graduação, encontrei o célebre livro denominado “Do Espírito das Leis”, de Montesquieu, escrito em 1748.

Neste livro, que trata sobre as peculiaridades das leis que devem reger os diferentes Estados existentes, o autor, em seu prólogo, fez a seguinte advertência:
“Para melhor compreensão dos quatro primeiros livros desta obra, é preciso que se observe:
Aquilo a que eu denomino virtude, na república é o amor da pátria, isto é, o amor da igualdade. Não é uma virtude moral nem uma virtude cristã, é a virtude política; é aquela que representa a mola que movimenta o governo republicano, assim como a honra é a mola que movimenta a monarquia. Denominei, portanto, virtude política o amor da pátria e da igualdade. Tive ideias novas; tornou-se, portanto, necessário encontrar palavras novas, ou emprestar às antigas novas acepções. Aqueles que não compreenderam isso, fizeram-me dizer coisas absurdas, as quais seriam revoltantes em todos os países do mundo, porque em todos os países do mundo exige-se a moral.”

Analisando a data em que foi feito o Hino Rio-grandense (1838), percebi que foi após 90 anos da publicação do livro de Montesquieu e como, possivelmente, os mentores da Revolução Farroupilha foram leitores dos iluministas da Europa, pensei que a palavra virtude, inserida no Hino Rio-grandense, tivesse sido com o significado dado a ela pelo contexto histórico do momento – leituras dos iluministas pelos farroupilhas.

Prosseguindo, após a leitura de toda a advertência constante no prólogo, passei também a pesquisar um pouco mais sobre o hino e descobri que em 1966, durante o Regime Militar, a segunda estrofe foi retirada oficialmente. Eis o que ela dizia:

“Que entre nós, reviva Atenas para assombro dos tiranos sejamos gregos na glória e na virtude, romanos”

Prossegui em minha pesquisa para tentar descobrir o que significaria a palavra virtude para os romanos. Descobri que para eles a virtude dividia-se em virtudes particulares e virtudes públicas e cada uma destas virtudes era formada por um rol de adjetivos.

As virtudes particulares seriam as qualidades de vida, às quais todos os cidadãos romanos deveriam aspirar e praticar. Acredita-se que foram estas virtudes que, no passado, deram à República Romana a força moral necessária para conquistar e civilizar o mundo.

Já as virtudes públicas deveriam ser seguidas por toda a sociedade e inseridas dentro destas virtudes estavam a liberdade e a igualdade.

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