O fascínio e o terror causados pela morte são aspectos que se fazem presentes há bastante tempo na Civilização, chegando a se tornar fonte inspiradora para filosofia e diversas religiões. Para alguns, o tema morte é desconfortável, pois, deixa claro, a ideia de finitude humana, sendo objeto de estudo de diversas pesquisas. A atual visão sobre a morte foi definida através de herança cultural que as antigas gerações deixaram. Após a morte, os justos vão para o paraíso, buscando obter o conforto que não conseguiram em vida. A morte é inevitável, para algumas doutrinas morte e vida se relacionam de forma suave em outras a morte é temida, é uma punição, causando estranhamento do homem diante deste evento perturbador. Para o homem entender a morte ele a personifica, cria uma série de imagens artísticas que a simbolizam, como é percebido através da figura da caveira com uma foice.

Todos estão sujeitos à morte, isso não é uma anomalia, é uma etapa normal, natural e irremediável do ciclo da vida, morrer faz parte do nosso nascimento. Mas, a morte tem sentido simbólico, e é esse sentido que o texto objetiva analisar, o simbolismo da morte no Rito Adonhiramita. Quanto ao símbolo, Blummer (1969) define como qualquer coisa que pode ser indicada, qualquer coisa que pode ser apontada ou referida: um livro, uma legislatura, um profissional de qualquer área, uma doutrina religiosa, uma doutrina filosófica, um artefato, um fantasma, uma fase da vida e assim por diante, que podem ser de três tipos: físicos (coisas), sociais (pessoas) e abstratos (ideias).

A morte é um símbolo abstrato e pode ser interpretada como elemento de ligação com seres divinos e superiores, marca o fim de uma era e o início de outra, mudança de fases da vida. Esses sentidos e tudo que é encontrado em seu interior, são dados pelo indivíduo que pode manusear e até modificar seus significados. Homens livres e de bons costumes são aceitos na Maçonaria. A iniciação na Ordem exige do candidato submissão ao ritual de passagem, do mundo profano ao maçônico, assim, segundo os preceitos Adonhiramita, em um determinado momento o profano visita a Câmara de Reflexão, espaço físico que pode ser entendido como o interior do ser humano, que através do autoconhecimento consegue perceber pontos fortes e fracos da personalidade e do comportamento, sendo estes otimizados ou anulados. A Câmara é o local simbólico de morte e nascimento do indivíduo e para que nasça o novo homem, o velho precisa morrer e a este é solicitado adotar um nome histórico, pois a nova vida requer um novo nome. Na prática traços do novo e do velho indivíduo coabitam o mesmo ser.

No entendimento de algumas religiões e também da Maçonaria, um dos principais objetivos do ser humano é a evolução, o aperfeiçoamento, para tanto tem a liberdade que o responsabiliza por suas escolhas de vida: seja de viver de acordo com seu egoísmo, individualismo e outros vícios morais, seja de superar e viver de acordo com as leis do desenvolvimento do universo, do processo evolutivo. A compreensão sobre os efeitos das escolhas do modo de viver em sociedade permite ao indivíduo atingir a maturidade de uma consciência interior, de se ver responsável por seus atos, abandonando ações que não contribuem com sua evolução, adotando comportamentos de amor e respeito ao próximo. Ações como essas precisam ser praticadas diariamente, tornando a existência humana um lugar e um espaço de experimentação, de exercício de evolução e de consciência da importância do outro no processo, buscando sempre o aperfeiçoamento moral, que de acordo com o ritual, o Maçom tem obrigação de “forjar algemas ao vício e cavar masmorras ao crime”. É a prática da virtude, que exige que se busquem referências comportamentais diferentes das que foram adotadas até agora.

Os iniciados na arte real devem procurar sempre o caminho da evolução espiritual e consequentemente material, sendo necessário melhorar a forma de pensar, de perceber a vida, para manter a mente clara. É preciso adotar novos hábitos. Os rituais da maçonaria traçam e marcam o caminho do autoconhecimento, propiciando a morte simbólica do ser comum da personalidade egoísta. Nesse caso, a morte se apresenta como o autodomínio de uma parte do indivíduo. Morrer é ser iniciado, à iniciação é a lição da morte e nascimento.

“Após a morte, vem o renascimento onde se lhe é revelado uma nova luz e seu cérebro, sua mente, fortalecida pela vitória sobre os terrores da morte, abria-se a compreensão de ideias mais elevadas e devotamentos mais puros e mais fraternos”. (Ritual 3º grau, p. 142).

Portanto, a orientação maçônica considera que é morrendo para os vícios, preconceitos e obscurantismo que se inicia na ordem. É o ritual de passagem do profano ao maçônico, sendo uma das formas de aprimoramento humano, aprimoramento que depende de cada um. O estudo dos símbolos e sua importância no cotidiano conduzem as grandes reflexões e conclusões, como a percepção de que os símbolos são mediadores do comportamento humano.

Referências:
GRANDE ORIENTE DO BRASIL. Ritual: Rito Adonhiramita. São Paulo. 2009.
BLUMER, H. Symbolic Interactionism. Perspective and Method. New Jersey: Prentice-Hall, Inc., 1969
DIAS, P. R. C. Ritos e Rituais – Vida, morte e marcas corporais: a importância desses símbolos para à sociedade. Revista VIDYA, v. 29, n. 2, p. 71-86, jul./dez., 2009 – Santa Maria, 2010.
POZARNIK, Alain. A morte iniciática do maçon, símbolo ou realidade? Revista Franc-Maçonnerie, novembro 2013.

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