Capítulo XVII: A didática do discurso

Por didática, neste livro deve-se entender, não a arte e a ciência de ensinar, mas sim a de expôr corretamente as ideias, transformando-as em palavras fiéis ao que se sabe e ao que se quer transmitir. Trata-se, em suma, de tornar o discurso inteligível.

De nada adiantam belas palavras porém inseridas em um contexto incoerente.

O bom orador é aquele que consegue descrever com exatidão um fato, explicar bem uma teoria ou desenvolver com lógica um raciocínio; e para isso, é necessário ter, mais do que conhecimentos, um vocabulário rico e extenso, que se adquire com muita leitura (todo grande orador é, acima de tudo, um grande leitor), e um certo interesse por definições, etmologia, sinônimos, antônimos e ideias afins, conforme será demonstrado a seguir:

Definições:
Dar uma definição precisa, mesmo de objetos simples, tal como uma cadeira, não é tão fácil como à primeira vista aparenta: um objeto para sentar-se, talvez seja o que nos ocorra imediatamente; tal definição, porém, pode ser aplicada também a um sofá, poltrona, banquinho, trono,etc.

Quando um orador pretende realmente se comunicar com seu público, passar a ele uma imagem exata, deve saber escolher as palavras certas, precisas, adequadas.

Habitue-se, portanto, a consultar os bons dicionários e a usar a palavra exata no momento certo. Exemplo:

“O deismo e´o sistema ou atitude dos que, rejeitando toda espécie de revelação divina, e portanto a autoridade de qualquer igreja, aceitam, todavia, a existência de um Deus, destituido de atributos morais e intelectuais, e que poderá ou não haver influído na criação do universo; a ele, contrapõe-se o teismo, a doutrina que admite a existência de um Deus pessoal, causa do mundo.”

Obs: o texto acima foi elaborado a partir da fiel transcrição das definições de deismo e teismo, contidas no Novo Dicionário Folha/Aurélio, edição 1995.

Etimologia:
É a parte da gramática que estuda a origem e a história das palavras. Conhecimentos etimológicos conferem brilho às palestras e prestígio aos palestrantes.Exemplo:
O termo cordial provém de cordis (em latim, coração).
As palavras ferir, ferida, ferina (lingua ferina), provém de fera.

Antônimos:
São as palavras ou locuções de significação oposta.
Largamente utilizadas em oratória, realçam o valor de determinadas palavras e conceitos pela apresentação de seus opostos. Exemplos:
“Preserve, ao invés de adulterar.”
“Não tenho por ela afinidade, mas aversão.”
“O mar calmo, que pela tempestade se agita.”
“ O que a virtude uniu, que o homem não separe.”

Sinônimos:
Transmitem ao texto e, principalmente, à palavra falada, um tom vibrante que reforça a ideia central. Exemplos:
“Ninguém se apiedou de sua desdita, de sua desventura, de seu infortúnio, de sua desgraça.”
“Um sujeito espalhafatoso, estrondoso, barulhento…”
“Após a investigação, a exploração, o estudo, o exame, revelou-se a verdade”.
“Ele era um fraudulento, um trapaceiro, um impostor”.

Ideias afins:
Considere as palavras início e ovo; entre ambas parece não haver nenhuma relação de significado, contudo, a palavra ovo pode sugerir a ideia de embrião, germe, origem, início. Diz-se que tais palavras, embora não sendo sinônimas, contém uma área significativa comum, ou seja, que possuem ideias afins. Necessitando-se delas, podemos encontrá-las nos chamados dicionários analógicos.
Exemplos:
Mover: percorrer, correr, mobilizar, agitar, deslocar, etc.
Beleza: graça, encanto, explendor, elegância, requinte, perfeição,etc.
Vingança: represália, desforra, revide, desagravo, retaliação, ajuste de contas, etc.
Sofrimento: padecimento, pena, tormento, aborrecimento, desconsolo, fardo, infortúnio, etc.

Capítulo XVIII – A estrutura do discurso

Os discursos, embora possam ter variadas formas e diferentes estilos, possuem uma estrutura rígida, quase que invariável, que obedece a uma sequência, isto é, devem obrigatoriamente ter princípio, meio e fim.

Essa estrutura baseia-se em princípios lógicos, cujo objetivo é proporcionar uma “linha de raciocínio” a ser acompanhada pelos que ouvem. Para fins didáticos, costuma-se dividir o discurso em várias partes ou segmentos:

1. Introdução
Também conhecida como prólogo ou exórdio, na qual se anuncia o assunto ou tema a ser desenvolvido. Exemplo:
“Nesta noite memorável, estamos todos aqui reunidos para prestar uma homenagem singela, porém verdadeira, a todos aqueles que contribuiram para o êxito de nossa missão..”

2. Narração
É o principal segmento do discurso, sua parte mais importante, na qual se aborda o assunto propriamente dito; a narração deve preencher a maior parte do tempo do qual dispõe o orador. Exemplo:
“Como é do conhecimento de todos, nossa missão teve início nos primórdios deste ano, que ora termina, quando um pequeno grupo de abnegados irmãos, liderados pelo Venerável Mestre desta loja, sensibilizaram-se ante a penúria e o estado de extrema pobreza em que vivem alguns moradores desta região, resolvendo, então, arregaçar as mangas e buscar soluções que extinguissem, ou minimizassem, tão aflitivos problemas. Inútil seria agora rememorar todas as dificuldades que enfrentamos, pois são elas do conhecimento de todos os presentes…”

3. Desvios
Ou digressões, são as considerações paralelas ao tema principal. Exemplo:
“Sabemos perfeitamente que, nesta região, não somos os únicos que desenvolvem atividades em pról das comunidades carentes; outros, com o mesmo sentimento e a mesma abnegação, também o fazem; alguns, mais e melhor que nós… e neles fomos buscar, então, apoio e orientação…e a eles, hoje, queremos externar nossos agradecimentos.”

4. Provas
É o trecho do discurso no qual o orador estabelece a verdade e reafirma suas teses. Exemplo:
“Nosso trabalho, no decorrer destes meses, transcorreu sob a égide da seriedade e da mais perfeita transparência, como o provam todos os documentos fiscais e contábeis, disponíveis a quem queira
examiná-los.”

5. Refutação
Onde se rebatem os possíveis argumentos contrários. Exemplo:
“Alguns, entretanto, dirão que falhamos em certos pontos, que não atingimos determinadas metas, que não cumprimos em sua totalidade tudo que havíamos prometido fazer; e a estes eu direi: uma imprevista enchente, obra da natureza, que destrói alimentos por nós arduamente acumulados, pode ser apontada como falha nossa ?…”

6. Epílogo
Também denominado peroração, ou grand finale, é a parte final do discurso, na qual o orador busca arrematar com chave de ouro as suas palavras. Exemplo:
“No apagar das luzes desta belíssima e significativa reunião, podemos afirmar em alto e bom tom que cumprimos a nossa missão, que alimentamos muitas bocas famintas, que abrigamos muitos deserdados da sorte, que realizamos o bom trabalho, o trabalho voluntarioso e nobre de ajudar aos nossos semelhantes, de praticar continuamente a beneficência… e… como declamou o poeta: quando alguém faz beneficência na terra, Deus colhe flores no céu.”

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