Se o inconsciente coletivo reside nas profundezas da psique humana, sendo, portanto, a herança das experiências vividas pela humanidade que irá formar o conjunto de arquétipos, a consciência coletiva, por sua vez, representa o conjunto dos padrões de conduta moral, ética, cultural e crenças de uma sociedade, um grupo de indivíduos.

Assim, o inconsciente coletivo é construído à medida que as gerações se renovam, enquanto que a consciência coletiva se molda dentro de um contexto próprio. Sendo dinâmica, tem vida própria. Inclusive, deixa marcas no inconsciente coletivo.

Não irei me aprofundar nas definições de um ou de outra. O objetivo deste ensaio é fazer uma reflexão sobre a Consciência Coletiva no contexto do mundo globalizado e de que forma ela tem influenciado a Maçonaria ou, mais objetivamente, como a Maçonaria poderia contribuir para a sua dinâmica.

Partindo desse ponto já temos algumas questões a serem respondidas. Se a Consciência Coletiva é o conjunto dos padrões de conduta moral, ética, cultural e crenças de uma sociedade, como deveríamos definir o momento atual, já que esses valores encontram-se sustentados por pilares tão frágeis? O que está acontecendo? Que irradiação nefasta é essa que não está permitindo o sincronismo da consciência individual com aquela Consciência Coletiva? Por que os valores foram invertidos?

A resposta é simples: O indivíduo bloqueou seu próprio acesso a esse conjunto de regras justificando para isso uma falsa verdade: A conquista da liberdade individual (em contraposição aos valores comuns).

Irei fazer a você algumas perguntas para que possa testar seu grau de sincronismo com a Consciência Coletiva. São perguntas objetivas, portanto, responda a elas de forma objetiva: Você já comprou um produto ‘pirata’? Já dispensou a Nota Fiscal para ter um desconto maior na compra? Se você é empresário, comprou ou vendeu produtos sem Nota Fiscal para se livrar do fisco? Você já ultrapassou um sinal vermelho no trânsito? Já estacionou seu carro em uma vaga não permitida? Na estrada, já jogou o lixo pela janela do carro? Já tentou levar vantagem em uma negociação ou tentou convencer o guarda de trânsito a não aplicar a multa? Umas ‘ coisinhas’ bobas, não são mesmo?! A Consciência Coletiva diz: “Isso está errado!”. No entanto, você se rende ao desejo pessoal de buscar uma vantagem pelo menor esforço.

Pois bem… Esse é o conjunto de ‘valores’ que está criando o ‘caos’ no mundo contemporâneo, globalizado. Interessante notar que isso está acontecendo mesmo entre as colunas da Maçonaria; não deveria, mas está. Pequenas regras quebradas, pelo individualismo, sustentam o grande alicerce da desordem coletiva. O Binário!

Relembrando uma instrução Aprendiz, é fácil perceber que alguns membros da ordem maçônica aventuram-se na hermética do número 2, o número terrível, fatídico, da dúvida. Ao contraporem o Individual diante do Coletivo, meteram-se pelo nefasto caminho da dualidade, do inconciliável. Abandonaram o Uno, o indivisível, e agora pactuam perigosamente com as Trevas. O individualismo é sentido até mesmo nas altas esferas da Ordem; em vergonhosas batalhas na justiça profana.

E como resolver essa questão? O estudo maçônico tem a resposta. E ela está lá, nessa mesma profícua instrução do Aprendiz.

A Luz do Conhecimento, da Revelação, que é o Ternário, que condensa o Binário e a Unidade transformando-se em uma nova Unidade, que se reflete nas três qualidades indispensáveis ao maçom: Vontade, Amor e Inteligência.

Essa nova Unidade não é vaga, indeterminada, como se dá com a unidade primitiva; ela, na verdade, absorve a unidade primitiva, reconhece o antagonismo do binário, da impossibilidade de sobreposição do desejo Individual, imaturo, sobre o desejo Coletivo, sábio. Essa nova Unidade, que vem da Luz do Conhecimento é, portanto, verdadeira, definida e perfeita.

E em qual das três qualidades maçônicas devemos nos apegar para começar a contribuir com a Consciência Coletiva; por aquele desejado mundo melhor (o idealismo maçônico)?

Elas são inseparáveis. Dotado de inteligência e vontade apenas, o homem será um gênio, porém egoísta. De amor e inteligência, será passivo, de boas intenções apenas. De vontade e amor, não seria totalmente útil, pois a inteligência lhe faltaria e poderia ficar a serviço das forças do mal.

“Vede, pois, meus IIr.’., que todo Maçom que quiser ser digno deste nome, deve cultivar igualmente essas três qualidades.” Mas, isso está difícil, não é mesmo? Como cultivar essas três qualidades de modo a produzir aqueles benefícios, se vivemos em um mundo tão incoerente, tão competitivo e absurdamente voraz? A resposta, mais uma vez, a encontramos nos ensinamentos maçônicos, naquele momento singular e simbólico onde a Virtude e a Sabedoria são postas em perigo pela Ignorância. É preciso morrer para ver a Luz. É preciso entender o aspecto fúnebre da morte, para poder valorizar a vida em seu esplendor. Essa é a prova a que é submetido o maçom no momento da sua exaltação: “Vi o luto e a consternação em todos os semblantes”. É preciso, portanto, tirar as vendas da ignorância e do individualismo para entender e despertar uma inequívoca perplexidade diante do quadro funesto do assassinato dos ideais humanos. É preciso encontrar o ramo da Ac.’., resgatar os valores sucumbidos, imolados.

“Vede a vossa obra! Tomastes parte neste horrível crime?”

Enfim, já se faz tarde, seus olhos ainda estão vendados ou apenas lhe falta coragem?

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