Certa vez, Peters, o Grande Ambrósio, venerável Mestre Maçom de um antigo templo, cumprindo feliz a sua  sina de percorrer os sagrados caminhos da espiritualização, encontrou-se com Petras, um aprendiz quem com um olhar de profunda tristeza, lamentava o decepado tronco de uma imensa árvore, carregada de frutas.

-Quanta fome, ela saciou, quanta sombra  aos cansados viajantes! E, quantos galhos cortados! Quantas cicatrizes de maus tratos!Reclama Petras.

O Venerado Mestre compadecido pegou-o pela mão e disse-lhe, amorosamente:

-“Erg et ambula Petras! Venha! Vamos pegar aquelas pedras, esparsas pelo chão; vamos juntos a levantar os nossos templos à virtude; Virtude de cavar masmorras ao vício e, tentar mudar tudo que racionalmente, precisa ser mudado!

Vamos tentar salvar outras árvores, muito maiores, muito mais úteis e, portanto, muito mais importantes para o ser humano.

-Mas, indaga o aprendiz:

-Árvores muito maiores e muito mais importantes que as árvores frutíferas?

-Sim, filho; são duas árvores milenares, muito mais frutíferas cujas existências se perdem na história dos tempos.

Suas flores são o símbolo de suas belas obras e os seus simbólicos frutos, sempre foram os grandes homens da história universal, verdadeiras luzes em nossos caminhos. Suas sementes são os seus bons exemplos e luminosos ensinamentos!

São duas arvores cada vez mais ameaçada pelos materialistas, internos e externos, os ineptos, os indolentes, os egoístas e os vaidosos fariseus, assim como o igualmente perigosos: os fanáticos.

Toda religião é boa, Petras! Todos os caminhos levam a Deus; apenas alguns líderes e seguidores por ignorância ou interesses escusos e inconfessáveis, deturpam e profanam suas sagradas metas.

“A casa do pai tem muitas moradas”, disse o Mestre Jesus, mas a grande parte de seus moradores ainda desconhece a sua santa lei, cultivando a infeliz lei do ódio.

Grande parte dos cristãos, hinduístas, budistas, islamitas, judaicos etc.. odeia-se e destroem-se em nome do mesmo Deus, embora com outros nomes.

Porém, o que é pior e mais estúpido: onde o cristianismo é soberano e quando e onde deveria cultivar a paz, o amor e a união, prefere seus membros olharem-se como inimigos, dividindo-se entre obedientes e não obedientes ao papa, vivendo um constante clima de guerra.

Para o bem da humanidade, Petras! Ainda é tempo de a religião deixar de ser o problema do mundo, religar-se de verdade e de voltar a ser a solução. Na mesma posição, a outra árvore tão importante quanto à religião, e com quase todos os problemas e virtudes iguais, é, pois, a nossa Maçonaria, que como ela, encontra-se em um preocupante processo de envelhecimento e estagnação.

-O sistema de envelhecimento, comentou Peters, o Mestre Ambrosio, “é irreversível, nas associações humanas se deixando em ação livre e sem interferência de fatores externos. O diagnóstico é válido tanto para as grandes civilizações, como para as pequenas nações, tanto para os poderosos grupamentos religiosos, como para as pequenas comunidades religiosas alternativas. Tanto para os pequenos grupos, como para as grandes associações internacionais. Esse trâmite, contudo pode ser influenciado por modificações nos comportamentos a nível individual. Isso dependerá exclusivamente, do crescimento interno de cada um, no campo ético-cultural de cada indivíduo. Caberá a cada maçom, o trabalho inadiável de reverter o curso de cada processo, em esforço conjunto, voltado para o interior do indivíduo. Os movimentos grupais globais estarão sempre na dependência dos esforços pessoais. Não se corrige as falhas de uma sociedade, corrigindo seus estatutos ou, modificando os seus dirigentes, ou os seus programas por melhores que possam ser. Há que modificar os indivíduos, tirando-os de sua mediocridade, movendo-os de sua rotina e de sua acomodação.

Na Maçonaria os movimentos culturais como as Academias de Letras, são criados por ilustres idealistas, com as mais cultas e nobres metas e elogiável trabalho, mas que, vão se estagnando e secando como poças d’água após a chuva, só restando às crostas secas da ilusão de alguns sonhadores, das vaidades e do egoísmo da maioria.

Devemos recordar sempre daquilo que os grandes luminares de todos os tempos, declaram humildemente: ”só sei que nada sei”. Não nos resta a menos dúvida, pois que, adiante da imensidão do que não sabemos, torna-se ridículo o pouco que sabemos.

A maioria daqueles que se tornam acadêmicos parece só ter uma preocupação: colorir o sepulcro caiado de seus currículos. Alguns, os mais cultos, com receio de expor um pouco do muito que não sabem, esquecem-se de que, um farol só é notado de fato, quando está iluminado. Não atinam para o fato de que: se a porcentagem de tudo que não sabemos é tão grande, a melhor forma de aprendermos, mais e melhor, é ensinando o pouco que sabemos àqueles que parecem saber menos e que verdadeiramente querem aprender.

Porém, se Academias há que, infelizmente, pouco justifica a sua verdadeira razão de ser, no entanto, se organizam esporadicamente, em alguns eventos culturais, outras há, o que é pior, que anos após anos, realizam apenas inexpressivas sessões de posse, sem contudo, atinar para o fato primordial de que, acima de qualquer evento social, a “sua academia”, deveria ser “de letras”, também.

As células culturais da Maçonaria (Academias, Lojas de Estado e Comissões culturais de lojas) são a sua base intelectual, importante e elogiável, porém são um tanto raras e, a maioria é acomodada e ineficiente, apesar de toda a cobertura que lhe dão os grandes secretários de cultura e alguns grãos mestres.

A vida, irmão, Petras, é toda ela, uma incessante luta pela aquisição de alguma coisa da qual o homem julga necessitar ou de fato necessita, como a luz.

E a batalha cultural, como a espiritual é travada todo  momento, em busca de luz, pois esta busca é a maior finalidade de toda a nossa existência e o grande galardão de nossa iniciação Maçônica.

Não será enriquecendo de lâmpadas o nosso currículo que brilharemos, pois, sem luz seremos como os peixes na profunda escuridão dos mares, os quais, nem olhos têm.

No majestoso exercito  maçônico da paz e da luz, os seus comandantes deveriam exercer uma serena mas enérgica cobrança de atitudes pela importantíssima luta por mais luz. Seus comandados deveriam cuidar menos de lustras as suas medalhas e, levar a sério o ressurgimento da majestosa obra do grande maçom Giordano Bruno, cuja luz e ideal foram responsáveis pelos grandes movimentos culturais que revelaram grandes luzes como Rousseau, Voltaire, Lafayete, Benjamim Franklin, Diderot e muitos outros.

-Mas, então a Maçonaria, irmão Peters poderá terminar, um dia, como esta árvore, que lamentamos pela sua morte? Pergunta Petras

-Se continuar a trilha a estrada que no momento trilha de pouca certeza e sem a busca das definições necessárias, certamente nos embrenharemos por uma senda brumosa que está se delineando à nossa frente, respondeu-lhe Peters,

Não podemos, nem devemos ficar estáticos, torcendo para que outros dêem as metas e cumpra-as sozinhos.

A Maçonaria acentuou Peters, o grande mestre Ambrósio: A Maçonaria somos nós todos, e, ela somente será grande se nós formos pessoalmente grandes. Não esperemos encontrar nela o que não encontrarmos dentro de nós mesmos.

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