A motivação para o desenvolvimento deste trabalho é fazer uma reflexão, de cunho hermenêutico e filosófico, sobre o sentido de solidariedade na Maçonaria, ou seja, que tipo de apoio deve existir entre os irmãos.

Segundo Silveira (2000), a Maçonaria é uma instituição essencialmente filantrópica, filosófica e progressista. Nesse sentido, combate o fanatismo, a ignorância e o autoritarismo, pregando liberdade, respeito e solidariedade, entre outros valores.

De acordo com o Dicionário Aurélio (2016), a solidariedade pode ser definida como: “qualidade do que é solidário; dependência mútua; reciprocidade de obrigações e interesses; e direito de reclamar só para si o que se deve a todos”. Outra definição pertinente sobre solidariedade é dada pelo ex-primeiro-ministro francês Léon Victor Auguste Bourgeois: “Nada durável se constrói sem solidariedade”.

No livro da lei, encontram-se vários e belos exemplos sobre solidariedade, tais como em Hebreus (13:16): “Não negligencies a beneficência e a liberalidade. Estes são sacrifícios que agradam a Deus”; Colossenses (3:23): “Tudo o que fizerdes, fazei-o de bem coração, como para o Senhor e não para os homens”; Mateus (20:26): “Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, se faça vosso servo”; e João (15:12): “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amo”.

A solidariedade, na Maçonaria, não está relacionada ao apoio incondicional a qualquer custo, em detrimento dos valores éticos, morais e republicanos, pois, conforme Darrah (2017) há irmãos que entram na loja com o objetivo de tirar vantagens de todos os tipos, não se importando com valores morais e éticos e muito menos com a filosofia e o simbolismo maçônico.

Nesse sentido, pode se observar dois tipos de maçons, quais sejam aqueles que amam a maçonaria e seus princípios e aqueles que se utilizam da maçonaria para fins pessoais, deixando de lado a essência dos princípios maçônicos, tais como fraternidade e solidariedade.

No simbolismo da Cadeia da União, conforme Camino (2013) e D’Elia Junior (2015), pode-se observar a solidariedade e a fraternidade entre os irmãos maçons, pois, através da egrégora que se forma, tem-se a emissão de bons fluidos, de bons pensamentos que visam atingir objetivos pessoais, bem como os da coletividade.

Para Darrah (2017, p. 75),
[…] há membros do ofício que estão sempre prontos a tirar vantagens de suas afiliações maçônicas para obter favores especiais e adiamento ilimitado no pagamento de dívidas contraídas. A Maçonaria não garante nem aprova conduta dessa espécie. Ela espera que cada maçom dê conta de suas obrigações financeiras de forma adequada, não só com todo o mundo, mas especialmente com os irmãos na Franco-Maçonaria.

Nesse contexto, emerge a questão: qual o verdadeiro sentido de solidariedade na Maçonaria? A solidariedade deve existir entre os irmãos, através de bons exemplos, de bons fluidos, de bons conselhos, de um diálogo fraternal, humanístico e solidário. Não obstante, caso algum irmão que sempre agiu em conformidade com os ditames morais, filantrópicos e éticos – sendo, além disso, um bom obreiro, um bom cidadão, um bom pai, um bom marido – esteja passando por dificuldades, as quais não são oriundas de questões ligadas à libertinagem, ao vício, ao fanatismo, à luxúria e ao exibicionismo, a ordem pode sim lhe dar algum suporte. Contudo, essa não é a razão de ser da maçonaria e, desde a iniciação, são incutidas nos irmãos suas obrigações, seus deveres e o que não se deve esperar da loja.

De acordo com Ebram (2001, p. 36),
[…] a intenção da ordem é incutir no iniciado princípios morais sólidos. Isso não o exime do fato de se encontrar em seus seios elementos indesejáveis que não absorveram os princípios maçônicos e caíram em dormência. Isso pode acontecer ao simples maçom até o ocupante do mais alto cargo da Ordem. Há necessidade de sempre trabalhar em defesa da Ordem, aplicando ao mundo profano os princípios lá adquiridos.

Enfim, a solidariedade na Maçonaria jamais deve ser entendida como uma proteção incondicional a qualquer ato ou ação do irmão ou como a defesa a qualquer custo, mesmo que isso vá de encontro aos valores éticos, morais e republicanos. A solidariedade na Maçonaria deve existir através da fraternidade, do amor, da união, da ética, da responsabilidade, da correção, pois muitas vezes ser solidário é tentar colocar nos trilhos aquele irmão que se desviou do caminho, tentando reeducá-lo. Nesse contexto, são pertinentes as palavras de São Francisco de Assis:

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz; Onde houver ódio, que eu leve o amor; Onde houver ofensa, que eu leve o perdão; Onde houver discórdia, que eu leve a união; Onde houver dúvida, que eu leve a fé; Onde houver erro, que eu leve a verdade; Onde houver desespero, que eu leve a esperança; Onde houver tristeza, que eu leve alegria; Onde houver trevas, que eu leve a luz. Ó mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado; compreender que ser compreendido; amar que ser amado. Pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a Vida Eterna.

Referências
BÍBLIA SAGRADA. 25. ed. São Paulo: Ave-Maria Editora, 2016.
CAMINO, R. da. Dicionário maçônico. São Paulo: Madras, 2013.
DARRAH, D. D. O livro para iniciados na Maçonaria. São Paulo: Madras, 2013.
D’ELIA JR., R. Maçonaria: 100 instruções de aprendiz. São Paulo: Madras, 2015.
DICIONÁRIO AURÉLIO. 2016. Disponível em:
https://dicionariodoaurelio.com/solidariedade. Acesso em: 16 abr. 2017.
EBRAM, J. Uma folha na luz astral. São Paulo: Madras, 2001.
SILVEIRA, J. L. Maçonaria: filosofia e história. Santa Maria: Palotti, 2000.

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ARLS Luz e Fraternidade, nº 367 Oriente de Itaara • GORS/COMAB

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