A proxima-se o período eleitoral das Lojas Maçônicas. Creio que seja o período “mais emocionante” do ano, onde a prática democrática provoca mais calos e dores que sorrisos e tapinhas nas costas. Quem já viveu eleições turbulentas nas suas Lojas sabe o que digo. 

Há tempos que se discorre sobre o “termo correto” de descrever o intervalo de tempo da presidência numa Loja Maçônica. Se consultarmos um bom dicionário notaremos que os três termos têm tratamento idêntico – ou seja, nenhum. O exercício do cargo de Venerável Mestre de uma Loja Maçônica não é contemplado em nenhum dicionário – nos BONS dicionários, nas obras renomadas como o Aurélio Buarque de Holanda ou o Houaiss. Por que este verbete (ou melhor dizendo estes: venerança, veneralato, venerância) não são tratados? Simplesmente porque tratam-se de jargões próprios da maçonaria. Assim como algumas profissões têm seus termos próprios, cujo significado é exclusivo daquelas profissões, a maçonaria tem suas peculiaridades. Falo alguma novidade? Decerto que não, portanto, o preconceito contra dois dos termos descritos merece ser revisto com alguma isenção de pensamento, se é que você, leitor, tenha alguma opinião formada sobre a correção deste termo.

É impressionante como temas insignificantes como este tomam força no nosso meio. Então por qual motivo escrevo sobre uma coisa que reconhecidamente é desimportante? Quero estabelecer um paralelo e apontar uma expressão que já foi objeto de muita conversa e controvérsia no Grande Oriente do Brasil, que é o de verificar por um conjunto de perguntas e respostas se um Irmão é ou não Maçom. Durante décadas no GOB o termo era “trolhamento” e depois de muita argumentação se firmou o termo “telhamento”, pois “trolhar” era “passar a trolha” (colher de pedreiro) e “telhar” era cobrir o telhado. Como quem verifica a condição de Maçom no ingresso numa Loja é o “Cobridor” (Tyler), então nada mais justo que alterar a expressão anteriormente consolidada – neste caso “trolhar”, pela pretensa “correta” – “telhar”. Estes foram os argumentos utilizados e o termo “telhar” foi o vencedor desta batalha vernacular. Não importa que o autor da sequência de perguntas fosse o Venerável Mestre e não o Cobridor. Não importa que o ato de telhar seja cobrir com telhas e não arguir, o termo “trolhar” perdeu força até ser eliminado do texto do Ritual para ser substituído pelo “novo e correto” telhar. Outrossim na GLESP o termo “trolhar” persiste, e o ato de se verificar em Loja aberta a qualificação de um Maçom (coisa que o Cobridor já fez antes de permitir o ingresso) é de realizar um conjunto de perguntas e esperar as respostas adequadas. Qual é o termo “certo”? Trolhamento? Telhamento? Se o ato de questionar e esperar respostas não é atividade nem de quem cobre um telhado (telhador) nem de completar a construção com argamassa utilizando uma colher de pedreiro, a trolha (trolhador), então estão corretos nas esferas dos seus jargões adotados, cada um na sua Potência Maçônica. Quem disser de modo diferente desconhece a terminologia adotada pelo GOB e pela GLESP.

Durante muito tempo ouvi o termo “venerança” e vez ou outra “venerância”

Voltemos aos termos objetos do título deste artigo, veneralato – venerança – venerância. Um pouco de história não faz mal a ninguém, e o GRAU de Mestre Maçom é relativamente recente, ou pelo menos bem mais recente que os Graus de Aprendiz e Companheiro Maçons. Quem exercia a direção de uma Loja era um Companheiro Maçom e o cargo que este Irmão ocupava é o de Mestre da Loja. O título distintivo para este Irmão é de Venerável Mestre. Quando se instituiu o GRAU de Mestre Maçom, o título foi agregado ao detentor do Primeiro Malhete da Loja, ou o ocupante da Cadeira – no termo inglês. Venerável Mestre é o título honorífico que se dá, assim como Soberano, Sapientíssimo, Sereníssimo, Eminente, Poderoso – para falar exclusivamente dos termos maçônicos que se referenciam às suas autoridades. Ao substantivar o qualificativo “venerável” e defini-lo como o período pelo qual o Mestre Maçom exercerá a presidência dos trabalhos numa Oficina Maçônica temos um neologismo, que ainda não existe no vernáculo, apenas nos jargões maçônicos. Atualmente existe o grau de Meste Maçom, e sabidamente Mestre Instalado não é um grau, é uma qualificação de um Mestre para que possa presidir uma Loja e conferir graus. Perfeito, neologismos são aceitos inclusive na maçonaria, que não é estática, mas convenhamos que se o ar condicionado de uma Loja precisar ser ligado, não é necessário uma emenda no ritual para definir o momento oportuno. O termo “Venerável Mestre” está consolidado como um substantivo composto, sem maiores questionamentos? Creio que se observarmos o tratamento destinado aos Veneráveis Mestres das Lojas do GOB definido no Regulamento Geral da Federação veremos “Venerável Irmão”. Pelo visto há ainda alguma divergência no que seja o “cargo” de Venerável Mestre. Eu não tenho dúvida alguma que quem exerce a presidência de uma Sessão Maçônica mesmo “ad hoc” (para o ato) é o Venerável Mestre. É assim que se qualifica o Mestre Maçom que preside uma Sessão Maçônica.

Durante muito tempo ouvi o termo “venerança” e vez ou outra “venerância”. Se algum Irmão torce o nariz para o segundo termo – “venerância” – lembre-se que num regime presidencialista o principal mandatário exerce a PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA – e não a “presidença” ou “presidencialato”. Somente mais recentemente tenho ouvido dizer que o “correto é veneralato”, e daí os mais arrazoados fundamentos, considerações e etc. – especialmente os etceteras, estes são os argumentos mais divertidos. Já ouvi dizer que o termo “veneralato” é o mais preciso pois são as Três Luzes móveis que sustentam a Loja – Venerável, Primeiro e Segundo Vigilantes, e o termo tem origem do “triunvirato” romano. Não consegui manter a seriedade ao ouvir esta pérola, mas juro que ouvi. Se as palavras inexistem no dicionário e se tratam de um jargão maçônico, então não se pode dizer que uma é “certa” e as outras “erradas”. 

Francamente, espero que um tema desta natureza nunca seja debatido em Loja, mas vejo pela insistência nas listas na internet que será longamente debatido, contestado, apoiado por uns, rejeitado por outros. Como é um tema insignificante, tem chance de proliferar em muitas Lojas Maçônicas – infelizmente. O que não consigo ouvir sem me contrariar é a defesa de um destes três termos como se fosse o “correto” e os demais “errados”. Enquanto não existir uma consolidação do termo que define a presidência dos trabalhos – que é o único termo que encontra amparo na língua portuguesa para definir o presente caso – nenhum sábio pode se arvorar que o termo que ELE julga adequado seja o “correto”. Não é, nenhum deles é.

Não ficaria surpreso se dentro de alguns anos algum Irmão parabenizar o Grão-Mestre Geral pelo exercício da Soberância ou Soberanalato, e ao Grão Mestre Estadual pela Eminência ou Eminentalato, e no caso da GLESP Serenissimalato Serenissiência… Parece ridículo, não? De fato é, tão ridículo quanto discutir o “termo correto” para uma palavra que não existe senão num jargão maçônico. Brincadeiras à parte, auguro aos Veneráveis Mestres eleitos que exerçam a presidência da Loja com a sabedoria daquele que vocês representarão, sem se importarem com o nome que se dê ao exercício da maior honra que uma Loja pode dar a um Irmão, a direção dos
seus trabalhos.

 

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