Provavelmente a imagem do Pentagrama (ou Estrela de Cinco Pontas) é um dos símbolos esotéricos mais conhecidos e reproduzidos no imaginário místico e profano. Reconhecido como símbolo de proteção em diversos rituais imagísticos é também representação da Vontade e do Ser Humano em Perfeição sobre a Natureza, e contém um rico significado que muitas vezes não é devidamente explorado, mesmo diante da rica, centenária (e muitas vezes contraditória) bibliografia sobre o mesmo. Goethe, em seu livro Fausto, usa o Pentagrama de Agrippa, a que chama de “pé do feiticeiro” como instrumento mágico desenhado no chão do laboratório como um poderoso emblema que evita que as forças das trevas invadam o ambiente ou que as mantêm presas no espaço mágico, dependendo da direção do vértice para a porta de entrada no recinto. Tal visão se reflete também no imaginário simplista onde o símbolo com o vértice para cima representa “o bem” e com o vértice para baixo, “o mal”, deixando de lado uma interpretação mais ampla e complexa a que o símbolo se permite. O aspecto imagístico e instrumental do Pentagrama em todas as cerimônias é muito importante, pois, segundo Eliphas Levi, representa o domínio (ou a desordem, dependendo de como é usado) do Espírito sobre os Elementos, “brilhando como uma lanterna na escuridão para as forças astrais, atraindo ou afastando energias positivas ou negativas”, e por isso tendo que ser utilizado com consciência de causa e imenso cuidado e responsabilidade nas cerimônias esotéricas.

Observemos que o uso do pentagrama é muito perigoso para os operadores que não tem completa e perfeita inteligência dele. A direção das pontas não é arbitrária, e pode mudar todo caráter da operação (…). Se perguntarem como um signo pode ter tanto poder sobre os espíritos elementais, perguntaremos, por nossa vez,: por que o mundo cristão se prosternou diante do sinal da cruz? O sinal por si mesmo nada é, e só tem força pelo dogma de que é resumo e verbo. (LEVI: 1976, pp 114/115)

Todo símbolo tem seu sentido e referência no poder de síntese que representa e que transcende o espaço do racional que o “interpreta”. Do ponto de vista esotérico, é uma parte muito maior do que a soma e o todo e é a manifestação de um saber/fazer Universal que não se esgota e que não se pode esgotar. O Pentagrama tem seu poder e significado profundo, como todos os símbolos esotéricos, que também vai além de seu caráter instrumental imagístico ou ritual (por mais fascinante que seja), ao representar o Microcosmo (que É como o Macrocosmo, “para realizar o milagre de uma única coisa”, segundo a tradição hermética):

É também pelo Pentagrama que se medem as proporções exatas do grande e único athanor necessárias à confecção da grande obra. O alambique mais perfeito que possa elaborar a quintessência é conforme esta figura e a própria quintessência é figurada pelo signo do Pentagrama. (LEVI: 1976, p 115)

É no Pentagrama, representando o próprio Homem/Mulher Universal, que se dá a aventura iniciática e o processo de transformação (transmutação) necessário ao crescimento na Senda Real. Suas proporções e simbologias numéricas fascinam desde a antiguidade, especialmente desde a tradição Pitagórica (o símbolo era sinal sagrado de reconhecimento entre seus membros) que se incorpora em tradições filosóficas e iniciáticas posteriores. Do ponto de vista filosófico, os elementos que representam a arkhé (gr., origem, fundamento, autoridade) e a composição das coisas, 4 em Anaxágoras (Terra, Água, Ar e Fogo), constantes em suas pontas inferiores e laterais, e em sua ponta superior se acrescenta o Quinto elemento aristotélico, que é o Aether (Éter), elemento ordenador e unificador que representa a inteligência (e a vontade). Lembramos também que em representações orientais, i.e. China, os elementos que compõem a Natureza e o Homem também são cinco, recordando o Pentagrama.

Em representações esotéricas modernas o Pentagrama tem incorporado vários símbolos de diversas tradições – e o símbolo tem um caráter essencialmente sincrético, importante recordar. Elementos de ordem oriental e ocidental são associados ao seu interior ou às suas pontas: símbolos religiosos; símbolos astrológicos e herméticos (também presentes nos templos maçônicos); nomes e representações divinas ou angelicais; símbolos elementos, tawtas etc, ampliando e aprofundando a possibilidade de compreensão da imagem pentagramática. Por exemplo, a Cabala Cristã insere no nome sagrado divino IEVE a letra Shin, formando foneticamente o nome IESHVE, ou YESHUDA ou JESUS na tradição cristã. É importante lembrar que para a Cabala a letra Shin representa o Fogo e passa a representar, no Pentagrama o fogo espiritual (imaterial) que vivifica e concede a imortalidade.

Para os Pitagóricos os Números eram deuses (segundo alguns comentadores) ou eram representações divinas (segundo outros) e o Pentagrama representava o número importante na construção de seu corpo doutrinário. Tudo é número e cada número tem um significado e expressão esotérica que vai além da mera representação quantitativa. Cada número, representado em símbolos possui um valor e significado ocultos os problemas matemáticos (geométricos) também são representações do caráter humano, natural e divino de tudo no universo. Para a Maçonaria, a relação do Pentagrama com o Número de Ouro ou Proporção Dourada é canônica (BOUCHER: 2010).

Sobre a importância dos números para esta Escola místico-Filosófica reproduzimos:

Os Pitagóricos chegaram à razoável conclusão, em seus estudos, de que “tudo são números”. Essa afirmação parece ter sido fortemente influenciada por uma descoberta importante da Escola Pitagórica, a explicação da harmonia musical através de frações de inteiros.

Os Pitagóricos notaram haver uma relação matemática entre as notas da escala musical e os comprimentos de uma corda vibrante. Uma corda de determinado comprimento daria uma nota. Reduzida a 3/4 do seu comprimento, daria uma nota uma quinta acima. Reduzida à metade de seu comprimento, daria uma nota uma oitava acima. Assim os números 12, 8 e 6, segundo Pitágoras, estariam em “progressão harmônica”, sendo 8 a média harmônica de 12 e 6. A média harmônica de dois números a e b é o número h dado por 1/h = (1/a + 1/b) 2.

Pitágoras dava especial atenção ao número 10, ao qual ele chamava de número divino. Dez era a base de contagem dos gregos, e dez são os vértices da estrela de Pitágoras. (COSTA: 2011)

Ainda sobre o Pentagrama: “A estrela de Pitágoras” é a estrela de cinco pontas formada pelas diagonais de um pentágono regular. O pentágono regular era de grande significação mística para os Pitagóricos e já era conhecido na antiga Babilônia. Figuras de muitos significados para a Matemática e a Filosofia da Escola Pitagórica.

As diagonais do pentágono regular cortam-se em pontos de divisão áurea. O ponto de divisão áurea de um segmento AB é o ponto C desse segmento que o divide de modo que a razão entre a parte menor e a parte maior é igual à razão entre a parte maior e o todo, ou seja, AC/CB = CB/AB. Para os antigos gregos, o retângulo áureo, isto é, de lados proporcionais aos segmentos AC e CB, é o retângulo de maior beleza. (Idem: 2011)

Também sobre a relação dos Pitagóricos com o Pentagrama é importante lembrar que foi seu primeiro contato com os números irracionais, representados pelo Número de Ouro que “é um número irracional misterioso e enigmático que nos surge numa infinidade de elementos da natureza na forma de uma razão, sendo considerada por muitos como uma oferta de Deus ao mundo” (EDUC: 2011).

A história deste enigmático número perde-se na antiguidade. No Egito as pirâmides de Gizé foram construídas tendo em conta a razão áurea : A razão entre a altura de um face e metade do lado da base da grande pirâmide é igual ao número de ouro. O Papiro de Rhind (Egípcio) refere-se a uma “razão sagrada” que se crê ser o número de ouro. Esta razão ou secção áurea surge em muitas estátuas da antiguidade. Construído muitas centenas de anos depois (entre 447 e
433 a. C.) , o Parthenon Grego , templo representativo do século de Péricles contém a razão de Ouro no retângulo que contêm a fachada (Largura / Altura), o que revela a preocupação de realizar uma obra bela e harmoniosa. O escultor e arquiteto encarregado da construção deste templo foi Fídias. A designação adaptada para o número de ouro é a inicial do nome deste arquiteto – a letra grega f (Phi maiúsculo).

Os Pitagóricos usaram também a secção de ouro na construção da estrela pentagonal.

Não conseguiram exprimir como quociente entre dois números inteiros, a razão existente entre o lado do pentágono regular estrelado (pentáculo) e o lado do pentágono regular inscritos numa circunferência. Quando chegaram a esta conclusão ficaram muito espantados, pois tudo isto era muito contrário a toda a lógica que conheciam e defendiam que lhe chamaram irracional.

Foi o primeiro número irracional de que se teve consciência que o era. Este número era o número ou secção de ouro apesar deste nome só lhe ser atribuído uns dois mil anos depois.

Posteriormente, ainda os gregos consideraram que o retângulo cujos lados apresentavam esta relação apresentava uma especial harmonia estética que lhe chamaram retângulo áureo ou retângulo de ouro, considerando esta harmonia como uma virtude excepcional.  (EDUC: 2011)

Para o Maçom, a representação e o simbolismo do Pentagrama, está presente em diversos momentos, nos diversos rituais e nos Templos, mesmo que muitos maçons não percebam sua relação pertinente, presente na simbologia de muitos ritos, do Compasso e Esquadro, da disposição das Luzes e da própria circulação em Loja, por exemplo. É de suma importância a interpretação Pitagórica do Pentagrama como símbolo de aprofundamento iniciático, diretamente essencial aos estudos de aperfeiçoamento moral e espiritual do obreiro. A tradição hermética-pitagórica, salvo a ausência de documentos da própria escola, baseia-se tanto nas informações doxográficas e nos comentários dos diversos filósofos e historiadores da matemática sobre a tradição Pitagórica.

Conta-se que Platão, séculos depois do fim da ordem, comprou à peso de ouro um manuscrito de Filolau de Crotona que divulgou os segredos da ordem. Lenda ou não, a tradição Pitagórica, mística e matemática, influenciou toda a metafísica platônica, refletindo-se em sua interpretação geométrica do universo. Os “segredos” iniciáticos da escola eram transmitidos por uma rígida disciplina e os seus estudos matemáticos faziam parte de uma ascese espiritual, lembrando a frase do pórtico da academia platônica: “não entre aqui quem não for geômetra”. Assim, Pitágoras e seus discípulos, passam a ser associados a uma tradição numerológica essencial para a senda iniciática e que se perpetua nas simbologias, referencias e proporções dos templos maçônicos, inclusive nas persistências do Pentagrama, chamado de SAÚDE pelos Pitagóricos (lembrando que para os Gregos a Saúde estava representada no Equilíbrio e na Harmonia das forças), e símbolo hermético do domínio sobre as forças caóticas do Universo através da Inteligência Sã e da Vontade.

O Pentagrama pode ser desenhado com uma única linha, representando a energia espiritual e mágica que desce desde o vértice superior e circula ao inferior esquerdo e daí ao direito, indo ao esquerdo e ao inferior direito e que novamente ascende o superior, num fluxo e refluxo energético contínuo e dinâmico. Sobre a relação do Pentagrama e o número cinco, considerado positivo e benéfico, com a obra maçônica, reproduzo o seguinte texto, sobre um tema que é rico e continua a oferecer muitos significados, cabendo também, o símbolo, como um elemento de meditação e reflexão sobre o verdadeiro LOCAL DO TEMPLO (e athanor) onde se realiza a Obra do Caminho Real.

O número cinco representa os elementos da natureza: a terra, a Água, o Ar, o Fogo e a Semente ou Germe.
PENTA, em grego, expressa o número cinco e serve de prefixo para diversas palavras, como exemplo, PENTÁGONO, PENTAGRAMA e PENTATEUCO.
Já no misticismo numérico de Saint-Martin, o quinário é o número do princípio maléfico, portanto, diferindo da interpretação maçônica.

O pentagrama é um símbolo muito mais antigo do que se pode pensar. No ocidente alguns afirmam que este símbolo nasceu com Salomão, porém, ele já era usado no Antigo Egito onde há registros em tumbas e sarcófagos.

O pentagrama sempre esteve associado com o mistério e a magia. Ele é a forma mais simples de estrela, que deve ser traçada com uma única linha, sendo consequentemente chamado de “Laço Infinito”.

Quem deu o nome de Estrela Flamejante ao pentagrama foi o teólogo e médico Enrique Cornélio Agrippa de Neteshein – natural de Kholn (Colônia), onde nasceu, no final do século XV – que também era dedicado à magia, à alquimia e à filosofia cabalística.

Em Maçonaria, a Estrela Flamejante só foi introduzida nos meados do século XVIII, na França, pelo barão de Tschoudy, também ligado ao ocultismo. Ela, na Ordem maçônica, é relacionada às escolas pitagóricas, mas não se pode esquecer que Pitágoras também era dedicado à magia, não sendo de admirar o fato de ter adotado esse que é o símbolo máximo da magia. Em resumo, o pentagrama é uma forma geométrica, utilizada por muitos povos, religiões, associações, com os mais diversos significados, não sendo um símbolo puramente maçônico.

Na magia, de acordo com a sua orientação, o pentagrama pode acompanhar operações de magia branca, ou de magia negra. Quando colocada com sua ponta isolada para cima, ela significa teurgia e conclama as influências celestiais, que, por seu poder mágico, virão em apoio ao invocador; com a ponta isolada voltada para baixo, ela significa goécia e, de acordo com as intenções do mago, atrai maléficas influências astrais. Dessa segunda forma, algumas religiões satânicas o utilizam em seus rituais. Aparece dentro desse pentagrama invertido a figura de um bode, representação do mal, o Bode de Mendes. Isso tem servido a opositores da Maçonaria como fundamento à uma prova, falsa diga-se para ficar registrado, de que nossa Ordem serviria a propósitos torpes e de adoração do mal.

A real significação no simbologismo maçônico é o próprio homem, inserido dentro do pentagrama, com cabeça e membros, daí também ser chamada de Estrela Hominal. As pernas ocultam o membro viril, revelado na Estrela de Davi, de seis pontas. Significa ainda a Paz e o Amor Fraterno. Pode também significar os cinco sentidos, um atribuído a cada uma de suas pontas.

Cabe acrescentar que esse símbolo não era conhecido dos primeiros maçons e atualmente somente alguns ritos a utilizam. O Rito York, por exemplo, adota somente a estrela de seis pontas.

Agradecimentos ao Ir∴ Marcos Santana pela orientação sobre a importante relação do Pentagrama com a tradição pitagórica presente na maçonaria e aos Irs∴ do Grupo de Estudos em Simbolismo Maçônico pelas discussões e esclarecimentos que permitiram complementar
este trabalho).

BIBLIOGRAFIA

– BOUCHER, Jules. A Simbólica Maçônica ou a Arte Real reeditada e corrigida de acordo com as Regras da Simbólica Esotérica e Tradicional. 13 ed. São Paulo : Pensamento, 2010.
– COSTA, Cristina. A vida de Pitágoras.   www.blogmcris.blogspot.com/2009/06/pequena-biografia-de-pitagoras. Acessado em 06/10/2011.
– EDUC. O Número de ouro. www.educ.fc.ul.pt/icm/icm99/icm17/ouro. Acessado em 06/10/2011.
– LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual da Alta Magia. São Paulo: Pensamento, 1976.
– As Origens da Cabala: O Livro dos Esplendores; O Sol Judaico; A Glória Cristã e a Estrela Flamejante – Estudo acerca das origens da Cabala com investigações sobre os mistérios da Franco-Maçonaria, seguido da Profissão de Fé e de elementos da Cabala. São Paulo: Pensamento, 1977.
– História da Magia: com uma exposição clara e precisa de seus processos, de seus ritos e seus mistérios. São Paulo : Pensamento, 1979.
– Tempo de Estudo – www.polibusca.com.br/texto.aspx?idTxt=350 – Acessado em 07/10/2011

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