Este estudo de cunho meramente histórico, não pretende provar que Jesus pertenceu a alguma das Ordens judaicas de sua época, mas tem a intenção de demonstrar a influência dessas Ordens em rituais e liturgias das atuais sociedades, sejam religiosas ou não. Bem como demonstrar a possível influência para o cristianismo.

Em decorrência do lapso temporal que o Livro da Lei aponta entre o menino Jesus no episódio no qual se perde de seus pais, e é encontrado em um Templo sendo ouvido com admiração por catedráticos daquela época, até o período que remonta o seu batismo, o recrutamento dos discípulos e, por fim sua morte, há alguns anos que não foram citados, talvez porque Jesus estava se preparando em algum lugar.

“E, tendo ele já doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume do dia da festa.
E, regressando eles, terminados aqueles dias, ficou o menino Jesus em Jerusalém, e não o soube José, nem sua mãe.
Pensando, porém, eles que viria de companhia pelo caminho, andaram caminho de um dia, e procuravam-no entre os parentes e conhecidos;
E, como o não encontrasse, voltaram a Jerusalém em busca dele.
E aconteceu que, passados três dias, o acharam no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os, e interrogando-os.
E todos os que o ouviam admiravam a sua inteligência e respostas.”
Lucas 2:42-47

Dentre as Ordens judaicas na época de Jesus, e bem antes dele, existiam os Fariseus, Saduceus e Essênios.

Fariseu era o nome dado ao grupo de judeus que surgiram no século II a.C.. Suas leis são baseadas no direito consuetudinário, juntamente com a lei formal. A etimologia da palavra Fariseu, remete ao significado de “santos” ou “separados”. Apesar de devotos à Torá, manipulavam a Lei segundo seus interesses. Segundo a explicação da Nova Versão Internacional, suas raízes remontam ao séc. II a.C aos Hassidins. Além da Torá, aceitavam como igualmente inspirada e autorizada toda a tradição oral, quanto ao livre arbítrio e a determinação; defendiam uma visão intermediária que tornava impossível o livre arbítrio ou a soberania de Deus sem cancelarem um ao outro; obedeciam uma hierarquia bastante desenvolvida de anjos e demônios; ensinavam que havia um futuro para os mortos; acreditavam na imortalidade e nas recompensas e retribuições após a morte; defendiam a igualdade entre os seres humanos e a tônica dos seus ensinos era mais ética que teológica.

Saduceus (grego: Saddoukaios; hebraico: bnê Sadôq, sadoquitas) é a designação da segunda escola filosófica dos judeus, ao lado dos fariseus. Também para esta Ordem é difícil determinar a origem. O nome parece proceder de Sadoc, da família sacerdotal dos filhos de Sadoc, que segundo o programa ideal da constituição de Ezequiel devia ser a única família a exercer o sacerdócio na nova Judéia. Aparentemente não acreditavam na ressurreição, pois questionaram Jesus sobre isso. Flávio Josefo, conceituado historiador do segundo século, seria o único que afirma algo a respeito dos Saduceus. No entanto, é questionável, por ser fariseu e por haver escrito para os greco-romanos. As diferenças entre fariseus e saduceus, basicamente, foram jurídicas e ritualísticas. Com a queda de Jerusalém, a Ordem Judaica dos saduceus deixou de existir. Doutrinariamente: tiveram seu inicio no período dos asmoneus (166-63 a.C). Entraram em colapso em 70 d.C. com a queda de Jerusalém; Negavam que a lei oral era autorizada e obrigatória; Interpretavam a Torá de modo mais literal que os fariseus; Atribuíam tudo ao livre arbítrio; Sustentavam que não existe nem ressurreição, nem vida futura; Rejeitavam a crença nos anjos e nos demônios; Rejeitavam a ideia de um mundo espiritual; Somente os livros de Moisés eram Escrituras canônicas.

Por fim, os Essênios, segundo a enciclopédia livre, “Essênios (português brasileiro) ou Essénios (português europeu)(Issi’im) constituíam um grupo ou seita judaica ascética que teve existência desde mais ou menos o ano 150 a.C. até o ano 70 d.C. Estavam relacionados com outros grupos religioso-políticos, como os saduceus. O nome essênio provém do termo sírio asaya, e do aramaico essaya ou essenoí, todos com o significado de médico, passa por orum do grego (grego therapeutés), e, finalmente, por esseni do latim.”

Durante o domínio da Dinastia Hasmonéa, os essênios teriam sido perseguidos e foram obrigados a fugir para o deserto. Não há registros bíblicos sobre os essênios, mas por intermédio do historiador Flávio Josefo e por Fílon de Alexandria, filósofo judeu, acredita-se na divisão dos judeus do Segundo Templo em três principais grupos, como já estudado.

Os essênios eram separatistas e tinham como principais características a divisão em grupos de 12 com um líder chamado “mestre da justiça”; vestiam-se sempre de branco; acreditavam em milagres pela imposição de mãos, milagres físicos e benção com as mãos; aboliam a propriedade privada; alguns eram vegetarianos; eram celibatários; tomavam banho antes das refeições; a comida era sujeita a rígidas regras de purificação; eram chamados de nazarenos por causa do voto nazarita;

eles se proclamavam “a nova aliança” de Deus com Israel, mais tarde este mesmo termo aparece na literatura cristã como “novo testamento” e também grande parte das práticas judaicas essênias; não tinham senhores nem escravos; a hierarquia estabelecia-se de acordo com graus de pureza espiritual dos irmãos; mantinham rigorosa observância das leis de pureza da Tora; eram famosos pela propriedade comunitária dos bens; tinham forte sensos de mútua responsabilidade. O culto diário era característica importante junto com o estudo diário das suas escrituras sagradas; tinham de fazer votos solenes de piedade e de obediência; sacrifícios eram oferecidos nos dias santos e durante os períodos sagrados; o casamento não era condenado em princípio, mas evitado; saíam todos os acontecimentos ao destino; dentre as comunidades, tornou-se conhecida a de Qumran, pelos Manuscritos do Mar Morto.

“Então veio Jesus da Galiléia ter com João, junto do Jordão, para ser batizado por ele.” Mateus 3:13
De acordo com o historiador Christian Ginsburg, os essênios foram os precursores do Cristianismo, pois a maior parte dos ensinamentos de Jesus, o idealismo ético, a pureza espiritual, remetem ao ideal essênio de vida espiritual. A prática de banhar-se com frequência, segundo alguns historiadores, estaria na origem do ritual cristão do Batismo, que era ministrado por João Batista, às margens do Rio Jordão, próximo a Qumram.

“E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens.” Lucas 2:52
Assim, aparentemente, Jesus estudou em alguma dessas Ordens judaicas apresentadas. Mas, infelizmente, não há prova cabal de tal afirmação. Sabe-se que do momento no qual os pastores beduínos encontraram os Manuscritos do Mar Morto em 1947, até os dias atuais, já foram 90% dos textos traduzidos, e não cita o nome de Jesus em momento algum, bem como não cita o nome de muitos outros.

Fato é que um menino em meio a muitos outros se destaca, chama a atenção de doutores da época, seu crescimento em sabedoria foi em algum lugar, sua estatura cresce como o grau de sua espiritualidade, é batizado por João Batista, aplica tudo o que aprendeu e entra para a história.

BIOGRAFIA

– http://www.misteriosantigos.com/essenios.htm;
– http://dicionario.sensagent.com/Ess%C3%AAnios/pt-pt/
– Os Manuscritos do Mar Morto, de Geza Vermes, Editora Mercuryo, São Paulo, 1997;
– Os Homens de Qumran, de Florentino Garcia Martínez e Julio Trebolle Barrera, Editora Vozes, Petrópolis, 1996;
– O Evangelho Essênio da Paz, de Edmond Szekely, Editora Pensamento, São Paulo, 1997.

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