“A alma não tem segredos que o comportamento não revele” (Lao-Tsé)

Na Mitologia Grega, os heróis eram semideuses, filhos de um deus e uma mortal (ou de uma deusa e um mortal), encarregados de cumprir tarefas para a humanidade. Os heróis gregos são homens, com exceção de Atlanta, heroína grega que participou da caçada ao javali de Caridon. Esses seres possuíam certos poderes, que os tornavam mais que humanos, mas menos que deuses, ficando à mercê desses e eram mortais. Assim era Teseu, o maior herói ateniense, filho de Egeu e Etra, e que venceu o Minotauro, no labirinto de Creta.

O rei Egeu, de Atenas, não conseguia ter um filho, e resolveu consultar o Oráculo de Delfos. O Oráculo respondeu-lhe que “não soltasse a boca do odre de vinho”, na volta a Atenas. No caminho, Egeu parou em Trezeno, para pedir ao rei Piteu que desvendasse a resposta da pitonisa. Piteu, que compreendera logo o sentido da mensagem, embriagou Egeu e colocou Etra, sua filha, na cama de Egeu. E assim Teseu foi gerado. Teseu passou a viver com sua mãe.

Aos 16 anos, já famoso por seus feitos, vai a Atenas, e não foi reconhecido por seu pai. Egeu era casado com Medeia, a feiticeira, que lhe dera um filho, Medo. Medeia compreendeu logo quem era o recém-chegado, e resolveu envenená-lo. Mas Teseu, percebe a armadilha e, no jantar, puxou de sua espada – Egeu, imediatamente, reconheceu-o.

Quando os primos de Teseu, os “palântidas”, os cinquenta filhos de Palas, irmão de Egeu, que sonhavam com a sucessão, souberam do acontecimento no jantar, resolveram tentar ainda conquistar o poder, mas Teseu conseguiu vencê-los.

A grande tarefa de Teseu foi matar o Minotauro, no labirinto de Creta: Minos encomendou a Dédalo a criação do labirinto de Cnossos, para aprisionar o Minotauro, fruto da infidelidade de Pasífae, esposa de Minos. Essa traição aconteceu por vingança de Posseidon, o rei dos mares, que dera um touro branco de presente a Minos, para sacrifício. Minos ficou com o touro para si, e Posseidon, fez com que Pasífae sentisse desejo pelo touro. Dessa relação nasceu o Minotauro, que se alimentava de jovens atenienses. Dédalo confiou o segredo de como sair do labirinto à Ariadne, filha de Minos, que o contou a seu amante Teseu.

Quando, pela terceira vez, Atenas forneceria o tributo de jovens destinados ao alimento do Minotauro, Teseu decidiu fazer parte do grupo, para matar o monstro. Teseu derrotou-o e seguiu o conselho de Ariadne: amarrar um fio na entrada do labirinto e levá- -lo consigo para depois poder achar o caminho de volta. O herói acaba com a obrigação do sacrifício de 7 moças e 7 rapazes.

O navio que transportava de volta Teseu e as 7 moças e 7 rapazes estava com velas negras. “Se eu for vitorioso, disse Teseu a seu pai, içarei as velas brancas”. Mas, com a alegria da vitória, esqueceu a promessa feita a seu pai e não trocou as velas. Quando Egeu percebeu o navio com as velas negras, persuadido de que seu filho tinha morrido, suicidou-se, jogando-se no mar.

As antigas culturas que conhecemos tinham sem exceção uma coisa em comum: símbolos e rituais. A partir de símbolos elas criavam rituais, não só para as principais fases de transição da vida (ritos de passagem), mas também para o dia a dia e suas exigências. Em nossa sociedade e cultura, os ritos de passagem foram perdidos (adolescência–maturidade, solteiro-casado, etc.), e a Maçonaria cumpre esse papel, ritualizando simbólica e filosoficamente a senda do iniciado.

Essa estrutura simbólica e ritual da Maçonaria identificam numerosas heranças inconscientes coletivas, procedentes de diversas e antigas tradições. Os arquétipos ou símbolos são uma linguagem metafórica. Os rituais são cerimônias de transformação interior, e estão carregados de alegorias que se impõem desvendar e assimilar. Os símbolos utilizados pela Maçonaria têm origens diversas, e a espada, o número 7 e o labirinto são alguns deles.

O mito de Teseu é, claramente, a descrição de um ritual de passagem: do profano ao sagrado. Do homem profano, ao maçom. Pode-se compreender esse mito como o caminho que faz o indivíduo, a partir do momento que decide ser maçom: é o caminho do iniciado.

A espada que Teseu usa no banquete é símbolo da energia solar, do falo, da Criação e do Logos. Representa a força, a energia masculina e a coragem. É também um símbolo de justiça, da divisão entre o bem e o mal, da decisão. Uma espada dentro da bainha significa temperança e prudência. Acessório muito usado nas cerimônias maçônicas, geralmente como símbolo do poder e autoridade, e emblema dissipador das trevas da ignorância. Nas reuniões de banquetes ritualísticos, é o nome que se dá à faca.

O número 7 é místico – as 7 cores do arco-íris, as 7 notas musicais, os 7 estados de consciência do homem, os 7 raios cósmicos, etc. O número da vida – a união do ternário (espírito) com o quaternário (matéria). Os 7 espíritos ante o trono de Deus. Os 7 Sacerdotes da Lei Cósmica. Os 7 Senhores do Carma. Os 7 ciclos da terra (quatro ciclos lunares com duração de 7 dias). A origem do calendário atual. A renovação celular do corpo humano (7 em 7 anos).

Os 7 orifícios do rosto humano. A plenitude, a ordem perfeita. A medida reguladora da coesão universal: 7 planetas, 7 divindades, 7 metais, 7 cores, 7 dias da semana, 7 chacras, 7 pecados capitais e 7 virtudes que lhe são contrapostas. A lei da evolução. O número dos adeptos e dos grandes iniciados. Quando Teseu se coloca entre os jovens que seriam devorados pelo Minotauro, passa a fazer parte da magia do número 7.

No mito de Teseu, o ápice de sua história é a entrada no labirinto, que representa sua alma, seu interior – ele vai até seu âmago destruir o mal ainda escondido. Somente Teseu conseguiu a façanha de sair vivo do labirinto, com a ajuda de Ariadne, que sabia o segredo.

Esotericamente, por seus caminhos tortuosos e desconhecidos, o labirinto é considerado um símbolo da iniciação e representa a descoberta do centro espiritual oculto, a dissipação das trevas para o renascimento na Luz, a superação dos obstáculos e o encontro com o caminho da verdade.

Teseu passou por todas as fases de um ritual: separação, purificação, morte e renascimento. Teseu simboliza as transformações que acontecem com o aspirante a maçom. Ele vai crescendo, enfrentando vários inimigos, até deparar–se com o mais terrível deles: sua própria fraqueza, seu labirinto.

A Maçonaria ensina que, ao sair de cada labirinto, o maçom estará enriquecido, mais experiente e mais determinado – e que sempre haverá outros labirintos a serem conquistados, e não destruídos. O maçom é um Teseu, que sempre aventurar-se-á nos labirintos de suas escolhas.

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