“Jamais poderíamos compreender a origem da vida, o Mistério da Vida, se antes não compreendermos, a fundo, o mistério da morte” Samael Aun Weor “O segredo é saber como morrer. Desde o início dos tempos, o segredo sempre foi saber como morrer. O iniciado de 34 anos baixou os olhos para o crânio humano que segurava com as duas mãos. O crânio era oco feito uma tigela e estava cheio de vinho cor de sangue… Como rezava a tradição, ele havia começado aquela jornada vestido com os trajes ritualísticos de um herege medieval a caminho da forca, com a camisa frouxa deixando entrever o peito pálido, perna esquerda da calça arregaçada até o joelho e a manga direita enrolada até o cotovelo De seu pescoço pendia um pesado nó de corda – uma atadura, como diziam os irmãos”… É dessa maneira que o ficcionista norte-americano Dan Brown inicia o Prólogo do seu último livro: O símbolo Perdido (2009), e apresenta dentro da Sala do Templo a enigmática personagem Mal’akh que vai desencadear uma frenética trama de símbolos, códigos, mapas, pistas e imagens, tendo como cenário principal a cidade de Washington, a capital dos Estados Unidos. São aproximadamente 500 páginas divididas nos intencionais e simbólicos 133 capítulos, antecedidos por um Prólogo enunciador e precedidos por um Epílogo em que ressalta uma das mais destacadas virtudes do Homem, a Esperança. E o mais surpreendente, o tempo do romance se desenvolve em apenas uma noite o que realça o caráter imaginativo-criativo do autor. Dan Brow é considerado um dos escritores mais populares da atualidade. Sua obra-mestra, o mega-seller: O Código da Vinci (2003), já vendeu mais de 80 milhões de exemplares em todo o mundo. Autor de outros textos expressivos como Ponto de Impacto (2001), Fortaleza Digital (1998) e Anjos e Demônios (2000), oferece a receita e o cardápio do mundo dos mistérios, suspense e ação, acompanhados de intrincada rede de símbolos, mapas, códigos e personagens marcantes que dão a cada história possibilidades imaginativas, praticamente cinematográficas, mergulhando os leitores em frenética e alucinada leitura de tirar o fôlego, mesmo àqueles mais avisados Nesta sua última produção, O Símbolo Perdido, Dan Brown não foge à regra. O livro é denso, repleto de códigos, símbolos e mistérios. Um dos personagens marcantes é retratado por Robert Langdon, célebre professor de Harvard, que reaparece nesta estória como o já conhecido protagonista em outras obras, pelo seu extraordinário conhecimento de simbologia e sua brilhante habilidade para decifrar códigos e solucionar problemas. Como nas outras aventuras vivenciadas pelo professor Robert Langdon nas cidades de Paris, Londres e Roma, referenciado nos livros O Código da Vinci e Anjos e Demônios e da mesma maneira nos roteiros cinematográficos que lhes emprestaram sucessos estrondosos de bilheteria, desta vez, em O Símbolo Perdido, a capital norte-americana é o palco perfeito e definitivo pela preferência de Dan Brown em elaborar uma nova trama envolvendo os simbolismos e os mistérios maçônicos com a coerência e a convicção de que a cidade de Washington foi concebida e projetada sob sólidos pilares, em que sua Pedra Angular ali foi colocada por grandes mestres maçons, tais como George Washington, Benjamin Franklin e Pierre L’Enfant. O mundo subterrâneo de Washington está repleto de passagens secretas e túneis do mesmo modo que Roma, Paris e Londres escondem seus mistérios. Só que desta vez, Washington oferece algo mais de misterioso e emblemático que, por razões óbvias e atitudes de seus fundadores que deixaram vestígios e rastros do simbolismo maçônico, não apenas na sua vida subterrânea, mas, sobretudo, na arquitetura, nas obras de arte e nos monumentos que representam os principais pontos que identificam a capital norte-americana tais como o Capitólio, a Biblioteca do Congresso, a Catedral Nacional, o Centro de Apoio dos Museus Smithsonian e, de modo especial o Obelisco que ornamenta de forma imponente os jardins do Capitólio. Brow traz maior realidade à sua ficção e lança mão não apenas dos principais pontos emblemáticos de Washington, mas, também, retrata com maestria em linguagem sedutora aspectos relevantes dos rituais iniciáticos praticados pela Francomaçonaria, Rosa-Cruz, e pelos Cavaleiros Templários, entre outros. Mergulha nas informações científicas do Escritório de Segurança da CIA, no Instituto de Ciências Noéticas, além de fatos relevantes ao relatar que em 1991 um documento foi guardado no cofre do diretor da CIA, onde continua trancado até hoje. Sabe-se que o teor desse documento contém informações sobre um antigo portal localizado numa parte subterrânea desconhecida de Washington, com uma frase lapidar: “Está enterrado lá em algum lugar”… É em direção a esse lugar secreto que o fio condutor da trama é construído na narrativa aventuresca de seus personagens principais. A busca pela descoberta de um mito simbolizado pela Pirâmide Maçônica leva o misterioso personagem Mal’akh a cometer todos os desvarios e perversidades. Seguindo a tradição da maçonaria norte-americana, Mal’akh é convidado para ser iniciado ao Grau 33, e que acontece conforme relatado no Prólogo do livro, e tem por objetivo primordial, a descoberta de um mito: o segredo contido na Pirâmide Maçônica. Essa procura torna-se numa verdadeira obsessão. Para o simbolista e escritor Joseph Campbell (1992: 24 e 26): “os mitos são metáforas da potencialidade espiritual do ser humano, e os mesmos poderes que animam nossa vida, animam a vida do mundo”… “Precisamos de mitos que identifiquem o indivíduo, não com seu grupo, mas com o planeta. Um modelo para isso são os Estados Unidos”. O início de sua formação como Estado soberano a história revela que havia 13 pequenas nações coloniais distintas que decidiram agir no interesse comum, sem desconsiderar os interesses particulares de cada uma delas. os mitos são metáforas da potencialidade espiritual do ser humano, e os mesmos poderes que animam nossa vida, animam a vida do mundo Ainda segundo Campbell, por uma questão de sobrevivência e manutenção de seu inconsciente, há sempre uma necessidade recorrente para que o homem passe a criar um novo mito. Conforme fica explícito no seu exemplo ilustrativo: “O Grande Selo dos Estados Unidos, representado na nota de um dólar, a declaração dos ideais que permitiram a formação dos EUA. A pirâmide tem quatro lados. São os quatro pontos cardeais. Há alguém nesse ponto, alguém naquele, alguém naquele outro. Localizando-se na parte baixa da pirâmide, você estará de um lado ou de outro. Mas quando você chega ao topo, os pontos se reúnem e então o olho de Deus se abre. Era o Deus da razão. Foi a primeira nação do mundo que se edificou com base na razão, não no espírito guerreiro. Todos os homens são dotados da razão. Esse é o princípio fundamental da democracia” (1992:26). Em O Símbolo Perdido, o personagem Mal’akh, um homem extremamente forte, inteligente, ambicioso e tatuado da cabeça aos pés, é o dissimulado maçom, representação personificada das leis basilares da goécia, faz da tirania sua bandeira, um contraponto a todos os ensinamentos encontrados na teurgia e, acima de tudo, na Maçonaria. Dan Brown trabalha essas oposições e uma guerra psicológica de egos entre seus principais personagens durante a trama, infiltrando com a maestria de suas pesquisas os fundamentos históricos e simbólicos das sociedades secretas, do esoterismo, da alquimia e da própria Ciência Noética que tem por objeto encontrar uma relação entre o misticismo e a ciência moderna; isto é, investigar o poder que a mente humana tem de influenciar o mundo físico. A descoberta do antigo portal onde se encontram a Pirâmide Maçônica e o símbolo gravado perdido nos subterrâneos de Washington é o principal objetivo de Mal’akh, essa predestinada personagem de Brown quando atinge o delírio máximo ao aplicar na prática o sadismo peculiar de sua sandice, ao cortar a mão direita de Peter Solomon, outro importante personagem do livro, renomado filantropo e maçom do mais alto grau, com a sinistra decisão de reproduzir um antigo convite para a iniciação no secreto conhecimento de todos os tempos. Esse símbolo é conhecido como a mão dos mistérios. A perspicácia e sedutora trama de Brown remetem essa personagem amputada a uma morte anunciada e sua passagem temporária no purgatório, momento esse em que Dan Brown sinaliza para uma destacada fonte literária de suas pesquisas e nos remete aos nove infernos de Dante. Na mão direita dessa importante personagem existia um anel de ouro que continha um brasão ornamentado com uma ave de duas cabeças e o número 33 “Tudo é revelado no grau 33”. Essa frase pontual marca em vários momentos nesta obra de Brown uma expectativa de descoberta de mistérios que envolvem esse número emblemático e tão importante para a francomaçonaria. Sabe-se que na época de Pitágoras, portanto, seis séculos antes de Cristo, a tradição da numerologia alardeava o número 33 como o número mais elevado de todos os Números Mestres. Representa várias alegorias, com destaque especial para a idade de Cristo e o número de vértebras da espinha dorsal humana. Ele era o mais sagrado, o que simboliza a verdade divina. E essa tradição perdurou entre os maçons e em outras instituições. Assim, a busca da Palavra Perdida; isto é, o Símbolo Perdido encerra em toda a trama da narrativa de Dan Brown, o ponto central do conhecimento humano revelado a todas as pessoas, mas que poucos sabem reconhecê-la. Nesse sentido, o personagem Peter Solomon, eminente maçom do mais alto grau mostra-se indulgente, conforme revela o livro no capítulo 122: “Segundo a lenda, a Palavra Perdida estava escrita em uma linguagem tão antiga e misteriosa que a humanidade havia praticamente esquecido como lê-la. Esse idioma misterioso era a linguagem mais antiga da terra, a linguagem dos símbolos”. Brown lembra de que “na simbologia, um símbolo reinava suspenso acima dos outros. Sendo o mais antigo e o mais universal de todos, ele unia todas as tradições antigas em uma única imagem que representava a iluminação do deus-sol egípcio, o triunfo do ouro alquímico, a sabedoria da pedra filosofal e da rosa mística dos rosa-cruzes, o instante da Criação, o todo, o domínio do sol astrológico e até mesmo o olho onisciente que tudo vê, a flutuar no topo da Pirâmide Inacabada. O circumponto, o símbolo da Fonte. A origem de todas as coisas. Um círculo com um ponto no meio” (2009: 439 e 440). Desse modo, a Pirâmide Maçônica é um mapa, que aponta para a Palavra Perdida. Parecia que, no fim das contas, o eminente maçom, Peter Salomon dizia a verdade. Todas as grandes verdades são simples. A palavra Perdida não é uma palavra é um símbolo… Há dentro do Capitólio, em Washington, uma escada em caracol que desce mais de uma centena de metros sob uma imensa pedra. Para cima se ergue um enorme obelisco até o seu cume pesando exatamente 3.300 libras, o equivalente a 1,5 tonelada e mais uma vez a representação do número 33. O ápice do obelisco tem apenas 30 cm de altura, o mesmo tamanho da Pirâmide Maçônica, onde se encontra a inscrição latina: “Laus Deo” – Louvado seja Deus. A escada que desce pela espinha dorsal do monumento do Capitólio, o principal monumento de Washington é composta de 896 degraus de pedra em espiral. “Os degraus da pirâmide simbolizam a escada em caracol da francomaçonaria, que sobem das trevas terrenas em direção à Luz, como a Escada de Jacó, subindo até o céu ou a coluna vertebral humana, que conecta o corpo mortal à mente”. (2009: 450). Pode ser entendida como uma alegoria. Uma metáfora. Segundo a lenda, é na base do obelisco. No fundo da escada em caracol onde de fato está enterrada a Palavra Perdida. A verdadeira Pedra Angular está escondida tão profundamente que, até hoje, não se conseguiu encontrá-la. A Pedra Angular é o primeiro estágio do edifício a ser erguido, saindo da terra em direção à luz celestial (2009: 466)… “Essa Pedra foi enterrada em 4 de julho de 1848, durante um ritual maçônico – A Palavra Perdida não é uma palavra ou verbo, porque era assim que os antigos a chamavam no princípio” (2009: 467). Conforme lembra Dan Brow, “toda cultura no mundo tinha seu livro sagrado, seu próprio verbo. Um diferente do outro, mas, no fundo, todos iguais. Para os cristãos, a Palavra era a Bíblia; para os muçulmanos, o Alcorão; Para os judeus, a Torá; para os hindus, os Vedas; para os gnósticos a Pistis Sophia e assim por diante. A Palavra iluminará o caminho. Para os pais fundadores dos Estados Unidos, a Palavra tinha sido a Bíblia. No entanto, poucos na história compreenderam sua verdadeira mensagem”. (2009: 468). Brown ainda enfatiza sobre o envolvimento do Homem consigo mesmo e sua relação com o divino. “Um homem sábio me disse certa vez: a única diferença entre você e Deus é que você se esqueceu de que é divino”… “Buda disse: você mesmo é Deus”… Jesus ensinou que “o reino de Deus está entre vós”… (2009: 472). Enfim, se deixarmos de lado a aventura e a ficção, qual a reflexão que nos remete a esses ensinamentos? É que ao largo do tempo o homem foi se afastando cada vez mais da sua divindade interna, provocando, assim, a degeneração do seu próprio ser que, envolvido com o materialismo, esqueceu de cuidar de seu templo interior. Nesse sentido, não devemos deixar de ver nosso corpo como nosso Templo. Devemos inicialmente descer a Escada de Jacó até o fundo de nós mesmos para alcançarmos à nona dimensão expurgando nossos defeitos, em busca da nossa segunda morte tal como Dante Alighieri nos mostra nos seus nove círculos infernais, para depois subir e em seguida ressurgir como uma Fênix, renascida para a Luz. Para que a árvore nasça, é necessário que a semente morra. Assim também nós devemos “morrer” para atingir a perfeição como ser humano, enfim, conseguir a nossa autorrealização. Dessa maneira deve ser o trabalho do Homem, baixar até os infernos interiores, enfrentar-se a si mesmo, de forma única e verdadeira, e arrancar todos os seus egos, para purificar-se e, posteriormente, subir e encontrar no seu coração a Palavra Perdida, o Verbo, aquela que não se pronuncia, porém, se sente, a verdade absoluta, a essência da alma, a Grande Sabedoria. Referências bibliográficas: – ALIGHIERI, Dante. A divina comédia. São Paulo: Editora Abril, 1981. – BROWN, Dan. O símbolo perdido. São Paulo: Editora Sextante, 2009. – CAMPBELL, Joseph. O poder do mito. São Paulo: Editora Palas Athenas,1992. Leave a ReplyYour email address will not be published.CommentName* Email* Website Salvar meus dados neste navegador para a próxima vez que eu comentar. Δ