A
credito que o Grau de Maçom do Real Arco seja o mais intenso do sistema americano, que além da grandiosa história em que o recipiendário vivencia, existem símbolos únicos e curiosos da mitologia judaico/cristã. Hoje estamos aqui para abordar um grupo específico deles, que são as bandeiras das tribos dispostas junto aos mestres dos véus. Então questionamos: Qual o significado desses quatro símbolos e a sua conexão com culturas e mitologias antigas?

Primeiramente, saliento que existe uma diferença considerável entre a Real Arco Americano e o Sagrado Arco Real Inglês. No sistema americano, usamos apenas quatro bandeiras, enquanto os ingleses utilizam 12, para representar as 12 tribos de Israel. E Por que usar apenas quatro bandeiras ao em vez dos doze? Uma resposta provável está disposta na Enciclopédia da Maçonaria (Mackey), na qual afirma:

Mas nossos maçons do Real Arco Americano, como vimos, usam apenas quatro bandeiras, sendo atribuídas pelos talmudistas às quatro principais tribos, Judá, Efraim, Rubén e Dã. As alegorias nessas bandeiras são respectivamente um leão, um boi, um homem e uma águia.

É no Livro dos Números que encontramos as referências dessas principais tribos de Israel representando cada um dos 4 pontos cardeais. No capítulo 2, contém a descrição do acampamento que cercava o Tabernáculo que Moisés ergueu por ordem divina. Seguem:

Ao leste, do lado do nascente, estará acampado Judá, com sua bandeira e suas tropas.
(Números 2: 3)
Ao sul ficará a bandeira do acampamento de Rubén, com as tropas.
(Números 2: 10)
Ao ocidente ficará a bandeira de Efraim, com as tropas.
(Números 2: 18)
Ao norte ficará a bandeira do acampamento de Dã, com as tropas.
(Números 2: 25)

Acredito que isso seja uma resposta razoável a respeito de por que o Real Arco Americano usa apenas esses quatro estandartes e tribos. É preciso também ver que o uso de quatro vem a nós como lembrete dos véus para o Tabernáculo. Agora estamos diante de uma importante pergunta: Por que utilizamos esses signos nas bandeiras? No segundo versículo do Segundo Capítulo do Livro de Números, lemos que “Os Israelitas acamparão junto à sua bandeira, cada qual perto do estandarte de sua família paterna, em círculo, a certa distância da tenda de reunião.“. Quanto à cor e ao signo de cada bandeira não pode ser encontrada nos Santos Escritos, devemos como vemos acima, confiar no gênio inventivo dos talmudistas. Novamente da Enciclopédia da Maçonaria, lemos:

Devemos, então, depender dos escritores talmúdicos apenas para a disposição e o arranjo das cores e dos signos nessas bandeiras. Pelas obras, aprendemos que a cor da bandeira de Judá era branca; a de Efraim, escarlate; a de Rubén roxa; e a de Dã, azul; e que os signos das mesmas tribos eram respectivamente o leão, o boi, o homem e a águia.

Quanto ao que influenciou a aplicação desses símbolos, basta olhar para o Livro de Ezequiel, em que lemos:
Quanto à forma das caras, tinham cara de gente, cara de leão do lado direito de cada um dos quatro, cara de touro do lado esquerdo de cada um dos quatro, e cara de águia cada um dos quatro.
(Ezequiel 1:10)

Deixando o Antigo Testamento e indo para o último livro da Bíblia, no livro de Apocalipse, lemos:
O primeiro ser vivo parecia um leão, o segundo era semelhante a um touro, o terceiro tinha rosto de um homem e o quarto parecia uma águia voando. (Apocalipse 4: 7)

É provável que este último versículo tenha sido influenciado pela visão de Ezequiel. Ezequiel e o uso dos quatro rostos em sua visão podem ter sido influenciados por seu ambiente ao escrever seu trabalho durante o cativeiro judeu na Babilônia. Essas quatro criaturas vivas vistas na visão de Ezequiel são chamadas de “tetramorfos” e são os quatro querubins que cercam Deus em seu trono e representam o Tetragrammaton (as quatro letras hebraicas). É dito que o Novo Testamento representa os Quatro Evangelistas que escreveram os quatro aspectos de Cristo. As quatro criaturas vivas associadas à visão de Ezequiel, aplicadas aos Quatro Evangelistas e às quatro principais Tribos de Israel, também estão associadas aos quatro signos fixos do Zodíaco, onde o Homem representa Aquário, o Leão representa Leão, o Boi representa Touro e a Águia está associada ao Escorpião. Estes signos representam respectivamente os quatro elementos, conforme veremos a seguir:

Os tetramorfos são definidos como “um arranjo simbólico de quatro elementos diferentes, ou a combinação de quatro elementos díspares em uma unidade. O termo é derivado do grego tetra, que significa quatro, e forma”. Ou seja, quatro formas. Os tetramorfos aparecem em muitas culturas antigas e modernas, e o tema mais comum que os une é que eles geralmente permanecem como guardiões ou protetores. Algumas culturas podem usar animais iguais ou semelhantes e algumas usam animais completamente diferentes, mas o propósito de guardar continua o mesmo.

Os Quatro Evangelistas foram representados simbolicamente pelas Quatro Criaturas Vivas vistas em Ezequiel e Apocalipse. Na arte cristã, esses tetramorfos geralmente cercam Cristo, o evangelista é representado por uma das quatro criaturas vivas. Mateus é representado como homem, pois seu evangelho gira em torno da vida humana de Cristo. Marcos é representado como um leão, porque seu evangelho envolve a realeza de Cristo, pois o leão é o rei dos animais, o mesmo acontece com Cristo, o rei dos reis. O touro ou o boi, um antigo símbolo de sacrifício, representam Lucas, devido ao fato de que este evangelho nos mostra a expiação e o grande sacrifício de Jesus Cristo. Finalmente, João é representado com uma águia ao lado, como símbolo da elevada espiritualidade que transmite em seus textos. Nenhum outro livro tem tão elevados pensamentos como seu Evangelho.

Existem muitos exemplos do uso de tetramorfos em culturas antigas, como Egito, Assíria, Suméria, Mesopotâmia, Grego e Babilônia. O
primeiro exemplo que veio à mente é o “lamassu”.

O lamassu é uma divindade protetora ou guardiã, muitas vezes representada com o corpo de touro ou leão, possuía asas e cabeça humana. O lamassu costumava ser encontrado perto das entradas de residências, palácios, templos ou cidades. Para proteger casas e moradias menores, o lamassu era entalhado em tábuas e depois enterrado no limiar da porta. Para palácios, templos e entradas da cidade, eram encontradas grandes estátuas do lamassu, geralmente em pares, cada uma em pé como uma sentinela em ambos os lados do portão ou porta. Nas entradas das cidades, se a localização permitisse, eram assentados quatro pares do ser mitológico, um em cada ponto cardeal.

O lamassu também está ligado à esfinge, que também une várias criaturas em uma única entidade. A mais famosa é a Grande Esfinge de Gizé, que é composta pelo corpo de um leão com cabeça humana. Diz-se que esta esfinge é a guardiã do túmulo de Khafre (Quéfren).

Ainda sobre os antigos egípcios, estes quando morriam passavam pelo processo de mumificação, pois acreditavam em uma vida após a morte e que a alma voltaria a tomar seu corpo. Conforme a importância do morto, o processo era complexo, que envolvia a retirada de órgãos, o qual eram armazenados em 4 frascos específicos (vasos carnópicos) que simbolizariam os pontos cardeais. As tampas desses frascos possuíam a imagem dos quatro filhos de Horus que tinham o papel de guardião desses órgãos. Duamutef, que representava o leste e tinha cabeça de chacal. Hapi, com cabeça de babuíno representava o norte. Quebesenuef com cabeça de falcão representava o oeste. Por último Imseti, este com cabeça de homem representava o Sul.

Existem muitos outros exemplos de tetramorfos em várias mitologias, como a manticora ou harpia. Porém tendo em vista as diferenças dos tetramorfos aqui citados, percebemos que as bandeiras do Real Arco e seus signos, são claramente inspirações na visão de Ezequiel acerca dos querubins, mas salientamos que o uso desses seres mitológicos não é exclusivo das tradições judaico-cristãs, como exemplificado nesse texto. Os tetramorfos são comumente usados ​​como guardiões divinos e vemos essa semelhança com os Mestres dos Véus e o Capitão do Real Arco, que carregam e protegem os estandartes, e que representam os servos que protegeram os quatro véus do Tabernáculo.

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