Capítulo XIX: Estilos

Se, como foi visto no capítulo anterior, o discurso deve, obrigatoriamente, apresentar uma estrutura rígida, linear, com princípio, meio e fim, o mesmo não acontece com o estilo, que pode variar ad infinitum, adaptando-se aos diferentes temas, motivos, gostos e públicos. O estilo é a “marca registrada” do orador, aquilo que o identifica e distingue dos demais; depende de inúmeros fatores, tais como imaginação, sensibilidade, memória, talento, simpatia e, principalmente, qualidade de voz; quem a possui muito aguda, ou grave, ou monocórdica, deve, primeiramente, procurar um bom fonoaudiólogo para corrigí-la e, somente após, se aventurar pelos caminhos da arte de falar em público.

De um modo geral, pode-se classificar os discursos, quanto aos estilos, em: solenes, pomposos, dramáticos, festivos, persuasivos, combativos, etc.

Há também um estilo especial de discurso conhecido, vulgarmente, como sermão, muito utilizado e apreciado nos cerimoniais das Igrejas e congregações religiosas, no qual o orador, que geralmente é o sacerdote ou oficiante, procura transmitir aos seus seguidores noções e conceitos de espiritualidade e moralidade; tecnicamente designado como prédica ou pregação, seu estudo é o objeto da paranética e se você, querido leitor, desconhecer esse termo, ou qualquer outro mencionado nesta obra, deve habituar-se a procurar os significados em um dicionário pois, quem aspira a ser um bom orador necessita consultá-lo frequentemente, seja para elucidar dúvidas ortográficas, esclarecer sinonímias ou ampliar o vocabulário.

Quanto à qualidade, o estilo pode ser simples, elevado e sublime.
• Simples – é assim chamado quando empregamos a linguagem cotidiana, do dia a dia, sem rebuscamento ou impostação, visando apenas a transmissão clara e precisa de informações, conhecimentos e experiências. Desaconselhável para discursos, é, no entanto, o estilo mais apropriado para professores e palestrantes.
Exemplo: “Pitágoras, quando explicava aos recém-iniciados o significado e o valor dos números, detinha-se longamente no dois, ensinando que ele representava a dualidade, o contraste entre os opostos e a polaridade que gera a existência dos elementos contrários, demonstrando que a vida imita este número e que, nela, cada vez que surge algum bem, imediatamente manifesta-se o seu oposto, que é o mal; assim, sempre que surge um movimento filosófico ou espiritual, um outro movimento, contrário, vem fazer-lhe oposição. Com o passar das épocas, a própria história se encarregou de confirmar essa lição: a cruz cristã e a espada romana, a heresia albigense e as cruzadas, a maçonaria e o jesuitismo são apenas alguns exemplos; aos pitagóricos, porém, não foram necessários séculos ou milênios para comprovarem-se tais lições.Hipasus, um discípulo que chegou rapidamente a mestre, destacando-se pela cultura e erudição, mas não por outras virtudes, agindo nas sombras, elogiava o divino mestre quando em sua presença, criticando-o em sua ausência. O alvo principal de suas críticas eram os, assim chamados, números irracionais.

…E o que seriam eles? ”.
(Texto extraído do livro de minha autoria “Pitágoras – Ciência e Magia na Antiga Grécia”- Madras Ed.)

Solene – muito utilizado em discursos, quando se pretende dar um brilho maior à fala. Largamente utilizado nas sessões maçônicas, é também o estilo empregado nos diálogos ritualísticos e – deveria ser – nos debates e deliberações de qualquer loja maçônica.
Exemplo: “Nos albores do século vinte, quando São Paulo, libertando-se dos grilhões da monocultura do café, dava seu grande salto em direção ao progresso e à modernidade, assumindo as rédeas da liderança de nossa Nação, quando os brasileiros, aqui residentes, abriam seus portos – e suas portas – para o mundo, inicia-se a saga e a epopéia de nossos imigrantes, vindos de todas as partes do mundo e irmanando-se na grande Babel paulistana…
Levas inteiras de famílias que aqui chegavam, atraídas pelo que este país, ainda jovem, de melhor tinha a oferecer: oportunidades de trabalho, paz, estabilidade política, justiça social…
A História é mestra da vida… e o passado, uma importante lição…
Os caminhos da imigração – tão desiguais – cruzam-se, encontram-se e desembocam no admirável mundo novo que é este país tropical… terra abençoada por Deus e bonita por natureza… terra onde os sonhos tornam-se realidade, onde a paz e a esperança existem, onde as realizações acontecem…
Todos nós, imigrantes ou seus descendentes, viemos de outros tempos e de outros climas para aqui fincarmos nossas raízes, para aqui educarmos nossos filhos e netos.
Meu coração de origem estrangeira é hoje verde e amarelo… e brinda este país que nos acolheu como filhos, que nos uniu como irmãos, que nos amou como ninguém”.
(Peça de Arquitetura de minha autoria, extraída do “O Livro do Orador”. Madras Ed.)

Pomposo – Exige o emprego de expressões enérgicas e nobres, plenas de harmonia e brilho. Reservado para ocasiões especialíssimas, na maçonaria é, ou deveria ser, utilizado em grandes ocasiões, tais como sagração de templos, fundação de lojas, visita de autoridades, pompas fúnebres, etc.
Exemplo: “Aqueles que sabem das coisas ocultas ensinam-nos que os rituais e cerimoniais maçônicos têm o sortilégio de nos colocar em contato com as forças supremas do universo, representadas, em nosso estranho linguajar, pelo Grande Arquiteto do Universo, excelsa representação da Divindade.
Todos os rituais maçônicos foram inspirados – e derivam – de um único ritual supremo: o Ritual da Grande Loja Eterna, da qual procedem todas as coisas e todos os seres e para a qual, um dia, tudo retornará. Lá, na Grande Loja da Eternidade, universal e perene morada do Grande Arquiteto do Universo e da Grande Fraternidade de seres espirituais que O circundam, o excelso ritual da Criação e da Manutenção do Universo jorra as suas energias, o poder do fogo criador que mantém e sustenta o Universo.
Mantém e sustenta…
Pois o Universo não foi apenas criado, mas é mantido pelo poder do Grande Geômetra e de suas hostes.
O mundo existe…porque Deus pensa nele!
É unicamente por meio do Ritual que nós, homens livres e de bons costumes, temos a oportunidade – e o privilégio – de participar da obra divina da Criação.
Para isso… e por isso… somos os Artífices da Arte Real, os Construtores do Templo, os Edificadores Sociais…
E temos consciência – e nossos rituais afirmam – de que o Templo é um Universo, que o Universo é um Templo.
Aqueles que entendem das coisas ocultas… sabem e afirmam: que a missão da maçonaria é sagrada, que o seu objetivo é disseminar ideias e fomentar ideais, proclamar independências, abolir escravidões, erguer e derrubar impérios…
Enfim… modificar o mundo.” ( Texto discursivo extraído de meu livro “A Doutrina Maçônica”. Madras Ed.)

Um orador experiente sabe intercalar, no mesmo discurso, estes três diferentes estilos; normalmente, inicia-se o texto discursivo com um estilo simples, passa-se ao elevado, intercala-se ambos e, finalmente, conclui-se com o estilo sublime.

É importante salientar, que quando se tratar de palestras, o orador deverá, diferentemente dos discursos, manter-se no estilo simples, lançando mão do elevado e sublime somente ao final – grand finale – nas conclusões que antecedem os aplausos (aplausos que podem irromper, ou não, dependendo de seu talento e empenho).

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