Ao final do ritual de iniciação, o então candidato é exortado a fazer um juramento, quando solenemente jura e promete nunca revelar qualquer dos mistérios da Maçonaria, ajudar e defender os IIr∴ em tudo que puder e for necessário e reconhecer e prestar inteira obediência à potência maçônica à qual nos filiamos. Tal juramento já traz em si as três primeiras obrigações do maçom para com a Maçonaria: silêncio, solidariedade e submissão. O Instrucional maçônico do IIr∴ Tito afirma que a obrigação do silêncio consiste no tradicional sigilo maçônico, segundo o qual os assuntos da Maçonaria e os ensinamentos maçônicos são dados exclusivamente a Irmãos Regulares em lojas regularmente constituídas. Justifica esta determinação na Sabedoria da Ordem, que preconiza que o ensinamento esotérico só é proveitoso a quem esteja devidamente preparado a recebê-lo, explicando que verdades mal compreendidas trazem mais prejuízos que a completa ignorância, fundamentada em escrituras sagradas. É sabido que o silêncio também possui profundo significado esotérico, no sentido de ser poderosa ferramenta para o aprimoramento moral e intelectual do iniciado, permitindo contato com o “EU” interior e melhor compreensão daquilo que se pretende aprender. Funciona como verdadeiro casulo de maturação de uma ideia, evitando que o falar a expulse ainda enquanto crisálida. Ele também constitui importante princípio para o agir do maçom, que deve “silenciar sobre tudo o que não for real, e que não ajude ou favoreça a verdade” remetendo, portanto, às peneiras de Hiram. Não obstante, não nego que o seu aspecto mais pragmático, o sigilo, seus fundamentos e as consequências de sua eventual inexistência são o que mais me assombram o pensamento ultimamente, por isso me permito ater-me a eles. Comecemos pelo exemplo. Lembro-me de ter lido, há alguns anos, um artigo em uma revista dizendo que a Universidade Presbiteriana Mackenzie estava começando a lecionar a teoria do design inteligente da vida em suas grades teológicas e científicas, e que isso estava gerando controvérsia dentro da instituição, cuja preferência teológica a respeito da vida sempre foi criacionista. Criada nos EUA nos anos 1980, A teoria do design inteligente da vida e do universo, a grosso modo, não nega a evolução das espécies, apenas afirma que a evolução possui aspectos tão específicos, pontuais e direcionados que desafiam estatisticamente a evolução aleatória proposta por Darwin, concluindo que somente um Designer inteligente poderia ter projetado essa evolução, revestindo-a de propósito. Mas o que isso tem a ver com sigilo maçônico? Tudo. Basta partir da premissa de que as três teorias são verdadeiras e idênticas, mas ditas a pessoas diferentes com conhecimentos diferentes. São etapas didáticas de uma verdade absoluta ainda não totalmente revelada, à semelhança da maneira que um sábio contaria a mesma história para uma criança, um adolescente e um adulto. O livro do gênesis foi escrito há aproximadamente cinco mil anos atrás, é o primeiro livro da Bíblia e da Torá, e a tradição judaico-cristã atribui sua autoria a Moisés, segundo lhe foi ditado pelo próprio Deus. Imagino eu agora Deus aparecendo na forma de Sarça-Ardente a Moisés, homem da idade da pedra, há cinco mil anos atrás, e explicando a ele que planejou e manipulou a evolução das espécies, através de seu DNA, por milhões de anos para que o resultado final culminasse no homem da maneiro que lhe aprouve, e que este ainda estava por evoluir. Se estamos falando de uma época em que o número zero sequer existia, a palavra milhão provavelmente também não faria o menos sentido para Moisés, que fatalmente entederia tudo errado. As escrituras sagradas não deixam dúvidas de que o sigilo é um princípio adotado pelo próprio GADU na revelação de sua verdade. Assim, o sigilo se justifica na medida em que constitui escudo contra a ignorância de ouvidos profanos e dos próprios iniciados que ainda não atingiram a capacidade de entendimento daquela mensagem. O exemplo anterior ainda se aplica: troque a palavra Designer por Grande Arquiteto do Universo, e teremos um paradigma filosófico maçônico de séculos. Entretando, se os maçons tivessem sido queimados em alguma fogueira, presos por heresia ou banidos por ouvidos despreparados para a verdade incompreendida. Essa razão do sigilo também se aplica intimamente à prática da segunda obrigação do maçom para com a Instituição: a solidariedade. Quanto à Solidariedade, o instrucional ensina que devemos vencer as paixões fúteis e cultivar sentimentos nobres que impulsionem a beneficência, de maneira a socorrer nossos irmãos em tudo que precisarem; Assevera que a Amizade Fraterna é um dos fundamentos da Doutrina Maçônica, de Maneira que um Maçom só o é porque seus irmãos como tal o reconhecem. Estabelece como origem da afeição recíproca, da fidelidade e da solidariedade a vivência maçônica, que faz manifestar a virtude desses valores na forma de dedicação, interesse pelo outro, benevolência, tolerância para com as falhas, afetividade e sentimento de união permanente com o amigo, fazendo com que o elo psíquico criado por esse sentimento de permanência do convívio fraterno traga naturalmente a fidelidade, solidariedade e confiança mútua. Exorta os maçons a ajudarem-se uns aos outros, materialmente, quando necessário, mas principalmente espiritual e moralmente, com pensamentos construtivos e sábias palavras, de maneira a não só avaliar as agruras por que passa o irmão, mas a fortalecê-lo para que este possa sozinho vencer seu próprio mal, descaracterizando a ajuda como esmola e transformando-a em aprendizado e preparo para a batalha e progresso pessoal. Nesse raciocínio, define a solidariedade como um sentimento de união que nasce de uma comunhão ideal, uma fraternidade consolidada no plano espiritual que se manifesta por meio da cooperação recíproca e da afeição mútua, extrapolando a senda do dever, configurando verdadeira dádiva na forma de sentimento positivo resultante da ação em grupo. A vitória do irmão é também a vitória pessoal daqueles que o socorreram, dignificando por fim a fraternidade como um todo. De minha impressão pessoal, tenho que a solidariedade fraternal é na verdade um exercício de caráter educativo para o engradecimento moral e espiritual de que a pratica, fundado num princípio ainda maior que é o de “amar ao próximo como a si mesmo”, que traz benefícios muito maiores ao que ajuda do que ao que é auxiliado. “Mais aventurado é o dar do que o receber”, diz também o Livro da Lei. Como exemplo, temos a parábola maçônica do vendedor mascate maçom que quebra seu veículo em frente a uma fazenda do interior, e ao buscar auxílio descobre que o fazendeiro também é maçom, e este providencia o conserto do veículo e confortável hospitalidade por dias até que tudo esteja pronto para sua partida. Ao despedirem-se, o vendedor indaga a seu benfeitor se foi ajudado daquela maneira por ser maçom, recebendo a seguinte resposta: “Não, eu o ajudei porque EU sou maçom.” O fazendeiro da estória compreendeu que a solidariedade fraterna, ainda que com todos os seus benefícios, é na verdade um degrau na evolução pessoal que estimula um valor ainda maior e universal, o da caridade. Ajudar a quem nos ama é louvável, mas ajudar a quem precisa, indistintamente, é sublime. Nisso repousa a diferença da solidariedade e da caridade; a primeira pressupões reciprocidade; a solidariedade fraterna é uma obrigação para com a maçonaria, para com os irmãos e os seus, engrandecendo quem a pratica e a ordem, a caridade é universal, desinteressada e gratuita, engrandecendo quem a pratica e o mundo todo. O Instrucional traz ainda como atributos da solidariedade fraterna a Discrição, a Humildade e a Fidelidade à Ordem, como garantia de que seja praticada sem orgulho, ostentação ou vaidade. No que tange à discrição, aqui temos a correlação da solidariedade com o sigilo maçônico: aos olhos do ignorante, todos estes princípios e objetivos altruístas do auxílio ao irmão serão convenientemente ignorados, taxando-se algo belo e transcedental como troca de privilégios ou “tráfico de influência”, vícios que não raro são apontados por profanos como objeticos da maçonaria. A última das três primeiras obrigações é a submissão, que consiste na obediência às Leis e aos Fins da Ordem. Está fundamentada no princípio da autoridade, segundo o qual o homem livre se submete voluntariamente às Leis como forma de prestar seu compromisso ao bem comum na luta por um ideal coletivo. Esse Princípio é a Constituição pessoal do Maçom, que atrave’s dele declara o que dele pode-se esperar em relação aos preceitos e decisões da Ordem. O princípio da submissão se compatibiliza em harmonia com o Princípio da Liberdade, na medida das balizas que equacionam os dois nortes. Justiça, razão e bom senso são atributos de qualquer Lei ou Ordem legítima, e quando não estiverem presentes deverá prevalecer o princípio da Liberdade, pautado em virtude moral maior. Nesse caso, mais vale continuar a ser livre e de bons costumes do que praticar o mal a título de Obediência cega e irracional. O Princípio da Autoridade também é atribuído ao Próprio GADU, conforme o livro da Lei, que prevê: “Todos devem sujeitar-se às autoridades superiores; porquanto não há autoridade que não venha de Deus”. Mas também o livro da Lei chacela a medida dessa obediência, dizendo: “Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” Assim, a submissão dentro de uma instituição progressista e evolucionista, que pugna pelo aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade, e cujos fins supremos são a Liberdade, Igualdade e Fraternidade só pode ser uma Obediência Racional. Concluindo, buscava eu uma alegoria que sintetizasse as três primeiras obrigações do maçom, e não pude encontrar outra melhor do que a própria resposta para a pergunta: “Sois Maçom?” “Meus Ir∴ como tal me reconhecem”, traz em si, o reconhecimento do maçom à devoção destas obrigações. Silêncio porque diz: “se queres saber se sou maçom, sejas então maçom, conheças meus irmãos e eles lhe dirão”; submissão porque diz: “Se eu não tivesse irmãos, maçom eu não seria”. 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