A origem da Maçonaria é imemorial. O único consenso entre os autores maçônicos neste particular é a ausência de uma data precisa para tanto. Todavia o que podemos afirmar sem a menor sombra de dúvida é que o primeiro sistema obediencial ocorreu na Inglaterra, mais especificamente em Londres no ano de 1717, no dia 21 de junho. Não foi por mera coincidência que as quatro Lojas que fundaram a Grande Loja da Inglaterra – que passou para a história como a Premier Grand Lodge – escolheram a festa solsticial de São João como data de fundação desta nova associação, numa modalidade nunca dantes experimentada, com a regência de um Mestre comum, pois até então as Lojas eram livres e soberanas. Cada Loja Maçônica tinha a autonomia para suas cerimônias de ingresso, com sinais e rituais proprietários. A reunião naquela data foi combinada em fevereiro do mesmo ano, e o objetivo preliminar era de realizar uma única festa no solstício de verão. O primeiro Grão-Mestre aclamado nesta associação foi Anthony Sayer.

Alguns podem desdenhar a denominação de “Grande Loja” para a associação de apenas quatro Lojas, especificamente “O Ganso e a Grelha”, “A Coroa”, “O Copo e as Uvas” e “A Macieira”. No entanto a realização de uma sessão comum, com a presidência de um dos Mestres (Presidentes) das Lojas foi uma novidade na época. O título dado ao Presidente naquela ocasião – “Grão Mestre” teve este motivo, era o “Mestre” entre os “Mestres da Loja”. A propósito, o nome dado às Lojas era das localidades onde se reuniam, normalmente em tavernas ou cervejarias. Naquela época existiam bem mais que estas quatro Lojas, que não se engajaram neste projeto inicialmente.

A partir do momento em que se permitiu a inter-visitação entre os Irmãos daquelas Lojas, foi necessário uniformizar as práticas litúrgicas das suas reuniões. Outras Lojas aderiram ao sistema da Premier Grand Lodge, enquanto outras o desdenharam. Depois de algum tempo, por conta de se não conseguir ingresso nesta Premier Grand Lodge, maçons irlandeses e escoceses (na sua maioria) fundaram outra Grande Loja, rival à primeira. Auto denominaram-se de “Antigos”, e chamaram a anteriorde “Modernos” por conta de – segundo os “Antigos” – inserirem novações inconcebíveis à boa e antiga prática maçônica. Evidentemente uma associação que tem a tradição como uma das suas pilastras, ser chamado de “Moderno” é uma enorme desvantagem. Outras três Grandes Lojas nasceram e morreram durante algumas décadas, até que em 1813 por conta de uma lei inglesa contra as Sociedades Secretas, as Grandes Lojas dos “Antigos” e dos “Modernos”fundiu-se, formando a Grande Loja UNIDA da Inglaterra (GLUI) e em inglês, United Grand LodgeofEngland (UGLE).

Somente em 1723, que foi compilada a primeira Constituição, pelo pastor James Anderson, tarefa esta que se iniciou em 1720. James Anderson teve a tarefa de colocar em ordem e sistematizar as antigas obrigações, oriundas das confrarias dos Maçons Operativos. Trata-se do primeiro documento onde se registram as regras para convívio entre os Maçons modernos, especulativos.
Sem dúvida alguma estas associações de Lojas foram os embriões das Potências Maçônicas. Para ingressar naquelas Lojas, era necessário preencher uma série de requisitos – e isto é repetido em qualquer Loja, em qualquer Potência Maçônica. A prática do sistema obediencial inventado em Londres difundiu-se no continente europeu, e outras Grandes Lojas – também chamados de Grandes Orientes (como o de França) se estabeleceram. Como os maçons ingleses poderiam se inter-visitar, surgiu então uma ideia: por que não maçons de um e de outro país não poderiam se inter visitar? A resposta dada pelos maçons ingleses foi simples. Claro que PODEM! – desde que atendam alguns princípios contidos no que atualmente se conhece como os oito pontos de reconhecimento.

Antes da União a presença de maçons de uma Grande Loja era interditada na outra. Reconhecia-se como “bom e verdadeiro maçom” apenas aqueles da SUA Grande Loja. Resolvidas as pendências, os Maçons oriundos dos “Antigos e dos Modernos” reuniram-se finalmente em harmonia, sob a égide de uma única Grande Loja. Antes da união os Maçons de uma da Potências não reconheciam e tampouco visitavam os Maçons da outra.

Os oito pontos de reconhecimento são condições NECESSÁRIAS – mas não suficientes. Não basta atender estes pontos para se ter assegurado o direito de inter- visitação. São apenas as condições basilares para esta celebração, e sem a qual não existe a menor possibilidade de se celebrar o tratado.

OS OITO PONTOS DE RECONHECIMENTO
“Para ser reconhecida como regular pela Grande Loja Unida da Inglaterra, uma Grande Loja deve observar os seguintes padrões:
1 – Deve ter sido legalmente estabelecida por uma Grande Loja ou por três ou mais lojas privadas, cada qual garantida por uma Grande Loja Regular.

2 – Deve ser verdadeiramente independente e auto-governada, com autoridade inconteste sobre a Maçonaria Operativa ou Básica (id est , os graus simbólicos de Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom) dentro de sua jurisdição e não estar sujeita de nenhuma maneira a divisão de poder com outro corpo maçônico.

3 – Os maçons sob sua jurisdição devem ser homens, e ele e suas Lojas não devem ter nenhum contato maçônico com lojas que admitam mulheres como membros.

4 – Os maçons sob sua jurisdição devem acreditar em um ser supremo.

5 – Todos os maçons sob sua jurisdição devem tomar suas obrigações sobre ou à plena vista do Volume da Lei Sagrada (id est, a Bíblia) ou o livro considerado sagrado pelo postulante.

6 – As Três Grandes Luzes da Franco Maçonaria (id est, o Livro da Lei Sagrada, o Esquadro e o Compasso) devem estar visíveis quando a Grande Loja ou suas Lojas Subordinadas estiverem abertas.

7 – A discussão de religião e política dentro das lojas deve ser proibida.

8 – Deve aderir aos princípios estabelecidos e as regras (os antigos Landmarks) e os costumes da Ordem e insistir na sua observação dentro das Lojas.

E tem mais:
Existem alguns corpos maçônicos auto-estilizados que não preenchem esses padrões. Por exemplo, eles podem não exigir a crença em um Ser Supremo ou podem mesmo encorajar seus membros a participar como maçons em política. Esses corpos não são reconhecidos pela Grande Loja da Inglaterra como maçonicamente regulares e o contato maçônico com tais corpos é proibido. Isto, colocado claramente, significa que membros de Lojas sob a jurisdição da Grande Loja da Inglaterra não podem assistir às sessões desses corpos e eles não podem assistir aos nossos, nem, neste particular, associarem-se de modo semi-oficial (por exemplo, ajustar algum tipo de grupo como uma “Liga Pan Maçônica para o Fortalecimento do Bem-Estar à Volta do Mundo). Obviamente, nas conversas ordinárias os Maçons são livres para falar com quem quer se seja.

De tempos em tempos Grandes Lojas que não tenham sido reconhecidas se acham capazes de atender os requisitos acima e os contatos com tais Grandes Lojas é então permitido. Da mesma maneira, outras Grandes Lojas falham em perfazer todos ou alguns dos requisitos acima e seu reconhecimento retirado.

A Regularidade é um fato. As relações entre constituições regulares (id est, Grandes Lojas e suas Lojas) seguem reconhecimento, que é um ato bilateral decidido pelas Grandes Lojas afetas. Sem regularidade, não há reconhecimento. Sem reconhecimento não pode haver nenhuma relação entre Grandes Lojas ou Maçons em suas Lojas. Reconhecimento, uma vez fornecido pela Grande Loja “A” a uma Grande Loja regular “B” pode ser retirado. Isto, entretanto, não afeta a regularidade da Grande Loja B, porém, significa que os Maçons sob a Grande Loja A não podem em circunstâncias maçônicas, reunir-se com maçons da Grande Loja B.

Uma lista atualizada das Grandes Lojas pode ser encontrada no Livro Anual (List of Lodges) Maçônico. Algumas estão presentes também nas suas homepages.”

O RECONHECIMENTO ENTREPOTÊNCIAS MAÇÔNICAS NO BRASIL
Desde nossa fundação em 1822, existem regras para ingresso e inter visitação. Isto não é uma invenção brasileira, existe desde sempre. Associações maçônicas distintas existiram no Brasil desde sempre – como o Grande Oriente dos Beneditinos. Cizânias e fusões fazem parte da nossa história – como da história maçônica de qualquer local do mundo. Todavia existem regras certas e fáceis para o convívio entre Potências Maçônicas, e estas regras estão contidas na nossa Constituição. Maçons gobianos podem visitar Lojas de qualquer potência maçônica? Evidente que não. Servimos a um sistema obediencial, somos associados de Lojas Maçônicas que trabalham num determinado Rito sob os auspícios do Grande Oriente do Brasil, e é do GOB que emanam as Leis Maçônicas que espontaneamente juramos cumprir e alguns de nós fazer cumprir.

Por exemplo, a Grande Loja Arquitetos de Aquário (GLADA) não tem, nunca terá e nunca teve a pretensão de ser reconhecida pelo GOB, pelo fato de ser uma associação mista. Outras Potências Maçônicas exclusivamente masculinas celebram tratados de reconhecimento mútuo com Potências Maçônicas que não têm tratado com o GOB, e nem por isso sentem-se “inferiorizados” por isso. Existem dezenas de Potências Maçônicas que se reconhecem entre si e não são reconhecidas pelo GOB. Existe algum mal nisso ou trata-se apenas das regras próprias das associações?

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