Falar de uma personalidade tão brilhante e tão controversa como Fernando Pessoa, é um grande desafio. Há várias vertentes de raciocínio que tem em comum a certeza de que, este notável cidadão português, foi acima de tudo corajoso em suas palavras e atitudes.

Para melhor compreensão deste trabalho, procurarei ordenar cronologicamente os fatos históricos que coletei.
No Período que compreendeu o final da Primeira e o início da Segunda Guerra Mundial (1918-1939) houve um grande desarranjo político e ideológico, principalmente
na Europa.

Havia o surgimento de diversos regimes políticos que levantaram a bandeira da opressão e intolerância. Esses pré-governos totalitários pregavam a perseguição filosófica, racial e religiosa à diversas associações e doutrinas.

Dentro desse período da história, a Ordem Maçônica foi vítima de inúmeras campanhas que visavam veementemente sua extinção. Por total ignorância dos ideais e Pilares Maçônicas, ditadores das mais diversas linhas ideológicas, de direita e de esquerda, perseguiam nossos IIr∴ simplesmente pelo caráter secreto e sigiloso das reuniões nas LLoj∴ e que eram, muitas vezes, vinculadas às conspirações Políticas. De maneira particular, os governantes ou comandantes de direita associavam a Mac∴ ao Movimento Comunista, o que servia de desculpa para atacá-la frequentemente.

Naquela época, a Mac∴ foi muitas vezes utilizada como bode expiatório pelo regime nazista encabeçado por Adolf Hitler na Alemanha, pelo Franquismo encabeçado por Francisco Franco na  Espanha, pelo Fascismo de Mussolini na Itália, apenas para citar alguns regimes.

Em Portugal a situação não foi diferente, o governo ditatorial encabeçado por Antonio Salazar propôs de forma sutil e indireta a extinção da Ord∴Mac∴ através de um projeto de lei apresentado por um agregado deputado de nome José Cabral.

Foi apresentado um projeto que proibia a todos os cidadãos portugueses fazerem associações secretas, sob pena de prisão ou até o desterro. Os candidatos e cargos públicos deveriam jurar que não pertenciam a nenhuma sociedade secreta. Embora não fosse específico, esse projeto tinha como principal alvo a Aug∴ Ord∴.

Em Fevereiro de 1935, um reconhecido escritor, que já na época tinha sua qualidade enaltecida, publicou um artigo no jornal Diário de Lisboa, muito instrutivo, provocativo e corajosamente esclarecedor, em defesa da Arte Real. Com esse artigo intitulado “As Associações Secretas – Análise Serena e Minuciosa a um Projeto de Lei apresentando ao Parlamento”, Fernando Pessoa esclareceu sobremaneira a atuação da Mac∴ ao longo do tempo, tanto em Portugal como no restante do Mundo, explanando os Laços de Fraternidade que mantém unidos seus membros através dos tempos.

Com seu finíssimo e refinado humor, aliados à sua cativante ironia, repassava importantes informações sobre os princípios da Ord∴ e sua função edificante para a sociedade. Ponderando sobre seus textos, havia sempre os destaques para a ignorância da antimaçonaria, e a intolerância cultivada pela falta de conhecimento. Parte do texto de Fernando Pessoa: “(…) como a maioria dos antimaçons, o autor deste projeto é totalmente desconhecedor do assunto Maçonaria. O que sabe dele é até, porventura, pior que nada, pois, naturalmente terá nutrido o seu antimaçonismo da leitura da imprensa chamada católica, onde, até nas coisas mais elementares da matéria, erros se acumulam sobre erros, e aos erros se junta com a má vontade, a mentira e a calúnia, senhoras suas filhas. (…)”.

Apesar de diversas vezes ter se declarado como um não iniciado na Ordem, ou seja, um não-maçom, Fernando Pessoa mostra sua profunda admiração e respeito pela Mac∴ e não se cansava de afirmar o quanto era difícil para os profanos ter acesso aos seus augustos mistérios, para poder compreender melhor os nobres ideais da Ordem.

“(…) Não sou Maçom, nem pertenço a qualquer outra Ordem semelhante ou diferente. Não sou, porém, antimaçom, pois o que sei do assunto me leva a ter uma ideia absolutamente favorável da Ordem Maçônica. A estas duas circunstâncias, que em certo modo me habilitam a poder ser imparcial na matéria, acresce a de que, por virtude de certos estudos meus, cujas naturezas confinam com a parte oculta da Maçonaria – parte que nada tem de político ou social -, fui necessariamente levado a estudar também esse assunto – assunto muito belo, mas muito difícil, sobretudo para quem o estuda de fora (…)”
Fernando Pessoa fez de forma clara, incisiva e imparcial, uma importante defesa da Liberdade, que é sem dúvida, um dos mais importantes componentes de Tríade Maçônica.

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