Verdade: substantivo feminino, do latim verítas, verátis.

Verdade
substantivo feminino,
do latim verítas, verátis.

“Chamamos verdadeiro a um conceito, que concorra com o sistema geral de todos os nossos conceitos, verdadeira a uma percepção, que não contradiz o sistema das nossas percepçõesˮ.

Quando Indra (Deus hindu) criou o mundo teceu-o como uma teia, e em cada encontro dessa teia havia uma pérola amarrada. Tudo que existe ou já existiu, toda ideia que puder ser pensada, todo dado que é verdadeiro, toda chama, todo dharma – na linguagem da filosofia indiana – , é uma pérola na rede da Indra. Na superfície de cada pérola se refletem todas as outras pérolas da rede. Tudo que existe na teia de Indra implica tudo mais que existe.

É importante lembrar que todo fato tem três versões, a minha, a tua e a verdadeira. A título de exemplo citemos um lance de uma partida de futebol. O atacante dentro da área. O árbitro auxiliar (bandeirinha), sem visão completa do lance, vê o pé do atacante à frente do último defensor adversário e assinala impedimento. O árbitro, por ter o atacante encoberto, confia no auxiliar e confirma o impedimento. Ao assistirem o lance na TV, ambos convictos de suas atitudes, verificam que o atacante tinha sido empurrado pelo adversário. Logo seria pênalti.

Este simples exemplo confirma o ensinamento de Friedrich Nietsche. As convicções são inimigas mais perigosas da verdade que as mentiras.

Franz Kafka em A Nossa Verdade afirmou que a verdade é aquilo que todo o homem precisa para viver e que ele não pode obter nem adquirir de ninguém. Viver sem verdade é impossível. A verdade é talvez a própria vida.

Fiodor Dostoievski disse que a verdade é a coisa mais poética no mundo, a mais fantástica que a mente humana é capaz de fabricar ou conceber. Mas a verdade impõe-nos o dever de conhecer a nossa limitação. É muito mais fácil verificar o erro do que encontrar a verdade. O erro está a superfície e a verdade repousa nas profundidades, e não é qualquer um que pode lançar a investigação nessas regiões. Por isso o que é verdadeiro estimula.

Giovani Papini ensinou em O paradoxo da Verdade que o homem deseja e odeia a verdade. Por isso quer mentir aos outros, prefere a ficção a realidade, ou seja, quer que o enganem. Mas, temendo e receando o engano, quer o verdadeiro.

Sabemos que o que constitui o valor do homem não é a verdade, que qualquer pessoa supõe possuir, mas o empenho sincero empregado para descobrir a verdade, pois esta é um modo de estarmos bem conosco. Ninguém fica sozinho se ficar com a verdade. Porém só sabe dizer sim, quem souber dizer não. É tão difícil dizer sim quando deve ser e não quando tem de ser, tantas vezes contra tudo e contra todos. Falar com franqueza e dizer a verdade são duas coisas totalmente diferentes. A franqueza aparece em primeiro lugar, a verdade vem depois e, quando aplicada ás grandes questões, tarda em aparecer. Acontece por vezes, que só se manifesta depois da morte.

Se quiseres convencer alguém de tua verdade, não a explique ou demonstres – afirme-a. E ela será tanto mais convincente quanto mais ênfase puser na afirmação no teu sim ou no teu não, deixando aos fracos o talvez. Não existe a possibilidade de insultar, simplesmente pelo motivo de que um homem sábio não pode ser insultado, pois a verdade não insulta, e a mentira não merece atenção, como bem ensinou Robert Heilein.

A rocha firme que deve ser o maçom torna-se um monte feito de areia seca, quando ele esquece a palavra mais significativa de sua vida maçônica. Mas, afinal que palavra será esta. Não me resta alternativa a não ser tolerante com tua curiosidade! E, ao ser tolerante, encontro a palavra que parecia perdida:

Tolerância: substantivo feminino, do latim tolerantia, tolerantae.

Tolerância é a capacidade de aceitar o diferente, como já ensinou diversas vezes o Coronel Rick Riacho, embora não se saiba que tenha praticado o ensinamento. Intolerância é não suportar a pluralidade de opiniões e posições, crenças e ideias, como se a verdade fosse propriedade de alguém e todos tivessem que compartilhar dessa propriedade.

A primeira lei da convivência social é a tolerância, pois temos uma porção de erros e fraquezas, enquanto que a lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, pois jamais pensaremos todos da mesma maneira, nem veremos senão uma parte do todo, de diversos prismas.

A tolerância decorre da diversidade; sem diversidade não há necessidade de tolerância: só faz sentido ser tolerante perante o que é diferente de nós. Vale apenas contra si a favor de outrem. Não existe tolerância quando nada temos a e menos ainda quando temos tudo a ganhar, suportando e nada fazendo.

O problema da tolerância só se põe em questões de opinião, que nada mais é que uma crença incerta. Temos então um paradoxo: se as liberdades de crença, de opinião, de expressão e de culto são liberdades de direito, então não precisam ser toleradas, mas simplesmente respeitadas, protegidas e celebradas.

Karl Popper determinou este fenômeno como o “paradoxo da tolerância”: Se formos de uma tolerância absoluta, mesmo com os intolerantes e não defendermos a sociedade tolerante contra os seus assaltos, os tolerantes serão aniquilados e com eles a tolerância, pois democracia não é fraqueza e tolerância não é passividade.
Quem tolera a violação, a tortura, o assassinato deveria ser considerado virtuoso, quem admite o ilícito como tolerância tem um comportamento louvável. Tolerar é aceitar aquilo que se poderia condenar, é deixar fazer o que se poderia impedir ou combater.
Tolerar a intolerância sob o argumento de que é “natural” só é aceitável para quem esteja disposto a abdicar de tudo quanto desenvolvemos como seres racionais. Há, essencialmente, duas formas de gerir a diferença: pretender tornar todos iguais, ou aceitar que somos todos diferentes. Mesmo na população mais homogênea há diferenças de indivíduo para indivíduo, então não nos resta senão em aceitar a diferença – e tirar o maior partido desta. Podemos pretender agir sobre os outros – tornando-os iguais a nós mesmos ou suprimindo-os – ou pretender agir sobre nós mesmos – aceitando outros como são. A tolerância é uma deliberada indiferença perante a diferença.

Só os intolerantes se julgam donos da verdade. Sejam líderes religiosos que se mantêm intransigentes e não admitem o direito dos praticantes de outras religiões, ou de dirigentes de algumas nações que decidem que as armas são o melhor argumento para convencer o mundo de que seus países sempre têm razão.

Todo intolerante é inseguro. Não é capaz de ver o outro como outro. A seus olhos, o outro é um concorrente, um inimigo ou, como diz um personagem de Sarte, “o inferno”. Ou um potencial discípulo que deve acatar docilmente suas opiniões.

Não é tolerante aquele que o é apenas com os tolerantes. Se a tolerância é uma virtude ela vale por si mesma, inclusive para os que não a praticam, os quais não poderiam queixar-se, se fôssemos intolerantes com eles. O justo deve ser guiado pelos princípios da justiça e não pelo fato de o injusto poder queixar-se. Assim como o tolerante, pelos princípios da tolerância.

Assim como a simplicidade é a virtude dos sábios e a sabedoria dos santos, a tolerância é a sabedoria e virtude para aqueles – como nós – que não são nem uma nem outra coisa. Da mesma maneira que se aprende o silêncio com os faladores, a bondade com os maldosos; a tolerância é ensinada pelos intolerantes. “Agradecemos, a todos esses professores que nos permitem lapidar a pedra bruta, lembrando como ensinou Arturo Graf, que são pouquíssimos os homens capazes de tolerar, nos outros, os defeitos que eles próprios possuem.”
O como afirmou nosso maior mestre: O bom julgador por si se julga.
Forte e fraternal abraço aos valorosos irmãos que todos os dias teimam em construir a fraternidade, igualdade e liberdade no seio de nossa amada ordem.