Aqui, um velho e alquebrado minerador, com o coração cheio de admiração e revolta, com duas lindas pedrinhas de diamante na mão, olhava com desprezo o imenso monte das pedras-brutas que, tanto trabalho e frustração, passaram por sua decepcionada vida.

Cada uma representava, para ele, fortes emoções de esperança e decepção no fervoroso afã de encontrar muitas gemas de valor.

Assim, entre enganos e desenganos, diante de tão pequena quantidade colhida, apesar de tantas orações, ele se questionou se valera a pena tanto trabalho e duvidou da bondade de Deus.

Entretanto, fechando os olhos, ele sonhou e passou a ver ao longe, muito longe, muitos séculos atrás, numa Grécia tão divinizada: um Deus!

Era Cronos! O deus do tempo e da eternidade, com sua misteriosa ampulheta que ao deslizar no tempo, descortinava também aos seres humanos todas as realidades e ilusões da vida.

Mais além, por entre os espectros do grande e ilusório deserto da fraternidade, um simplório e crédulo mortal, com o coração cheio de fé e esperança, se deliciava em etéreos devaneios crendo ver, em cada grão de areia, um fiel amigo: um exemplar e sincero irmão.

O universo se lhe apresentava como um dourado e inefável paraíso, repleto dos mais santos e confiáveis amigos.

Porém, como tempestade após a bonança, Éolo, o deus das mutações, sopra com inesperada força, nas desunidas areias do tempo, destruindo as suas desérticas visões, as quais se diluíam nas misteriosas brumas do não ser.

Então, Cupido, o deus do amor, mostrou-lhe que ainda lhe restavam dois ilibados amigos de todas as ocasiões e de todos os tempos, pois não eram ilusões.

Voltando a si daquela lição onírica, compreendeu, então, que para conseguir apenas duas pedrinhas de real valor teve que acreditar em cada pedra-bruta que encontrou e tratá-las com todo carinho.

Afinal, tudo aquilo, apesar da lição material que a vida lhe dava, também espiritual e esotericamente, lhe fazia entender que cada amigo que ganhamos, tanto os verdadeiros (as raríssimas gemas), como a imensidão de pedras-brutas dos garimpos de nossas vidas, são todos eles um importantíssimo presente de Deus para que nos aperfeiçoemos e enriqueçamos o nosso espírito.

Os maus, pela consequência dos maus atos que praticam nas masmorras de seus vícios; os templos à virtude, são raríssimos faróis nos sombrios caminhos de nossas tão atribuladas vidas.

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