“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente”. (Gênesis 2:7)

De acordo com a maioria dos doutrinadores maçônicos o Grau de Aprendiz é eminentemente personalíssimo, erguendo-se sobre os alicerces de dois princípios filosófico cos inquestionáveis: “Conhece-te a ti mesmo” e “Vence-te, se queres realmente vencer”. Por isso nossos rituais citam que é dever do Maçom, sobretudo do Aprendiz Maçom, cavar masmorras ao vício, forjar algemas ao crime e construir templos à virtude, no sentido de nos melhorarmos a cada momento, procurando deixar de lado nossas vicissitudes, defeitos, exortando-nos ao desenvolvimento das grandezas da alma. Esses mesmos estudiosos da Arte Real nos ensinam que o Segundo Grau é, sob todos os aspectos, intrinsecamente filosófico co, uma vez que o Companheiro, já dotado das sábias lições do Primeiro Grau, há que, nessa condição, equilibrar os valores individuais (já, ao menos inicialmente, lapidados) com os valores sociais, contribuindo, através da ação/trabalho, com a construção de uma sociedade melhor e mais justa.

Assim, o Companheiro, cônscio da luz que ilumina as coisas exteriores, materiais, agora busca a luz espiritual, “aquela que lhe iluminará o caminho que o transporta-rá às regiões mais puras da sabedoria maçônica”.1 Por isso, é lhe concedido o direito de, temporariamente, executar o passo lateral, abandonando o eixo central, uma vez que lhe é dado o direito de observar, de procurar e de quantificar os métodos que lhe são colocados ao alcance para aprender e apreender a filosófico a do Segundo Grau. Portanto, claro está que o Grau de Companheiro Maçom preocupa-se com os ensinamentos espirituais, “fonte da mais pura sabedoria”, como dito pelo irmão Castellani, razão pela qual devemos debruçar- -nos na metafísica, ou seja, naquilo que está além da física, além da matéria. E um dos temas mais caros a essa área do conhecimento é a quintessência, no qual nos lançaremos doravante.

Para Theobaldo Varoli Filho, “a quintessência é concebida como o espírito ou a causa universal de todas as coisas”. Aduz ele, ainda, que “nos antigos estudos de Filosófico a, a chamada ‘Metafísica’ era considerada a quinta essência dos estudos filosófico cos”.2 Alexandre Magno Camargo, nosso Amado Irmão Melkisedek, aduz que “a palavra quintessência é composta de ‘quinte’ = quinta e ‘essência’ = espírito, arcano, cósmico. Temos Shou em egípcio. Akasha em sânscrito. Éter em grego (conforme doutrina aristotélica). Nwywre para os druidas. Trata-se da origem primeira da matéria, que em hermetismo se manifesta a partir da composição básica: terra, água, ar, fogo, a exemplo dos antigos filosóficos gregos, e que tem sua origem na quintessência. É também para onde a matéria retorna após sua manifestação no plano dos sentidos, completando assim um ciclo, segundo a Alquimia. É, portanto, a matriz primordial que desencadeia a composição que resultará em manifestação.”3 O termo “Quinta Essência” provavelmente foi primeiramente elaborado pelo filosóficos Aristóteles, que considerava que o universo era composto de quatro ele- mentos principais, a saber: terra, água, ar e fogo. Segundo a sua tese, além destes, deveria haver uma substância etérea que interpenetra em todos os compostos e impede os corpos celestes de caírem sobre a Terra. Depois disso, muita discussão se transcorreu entre alquimistas ou não, sobre a existência, a natureza e a qualidade deste elemento primordial, do qual tudo se origina e no qual tudo se mantém. Isaac Newton foi quem mais defendeu a existência dessa “quintessência” em suas teorias e discussões sobre os conceitos de matéria e energia. Muitas vezes, Newton deixou transparecer a sua crença em uma força imaterial presente nos corpos materiais e nas formas de energia. Ele admitia que matéria e luz comunicavam-se, por algo desconhecido pela ciência. Em suas teorias sobre a propagação das vibrações dos corpos, chamava essa essência desconhecida pelo sugestivo nome de “espírito da matéria”. De Aristóteles aos cientistas modernos, muito já se cogitou sobre a força oculta presente em todas as coisas. Em 1998, três astrofísicos da Universidade de Pensilvânia mencionaram o termo “Quinta Essência” para designar um campo dinâmico quântico que é gravitacionalmente repulsivo.

Hoje a ciência já está quase confirmando a realidade da existência de um quinto elemento através da Física Quântica. No entanto, devemos reconhecer que ainda há uma grande barreira separando a ciência tradicional da grande realidade espiritual que nos cerca. O ceticismo da ciência é um empecilho no caminho para a descoberta de que há um Poder Cósmico manifesta- do e manifestando-se em tudo. Há raras exceções a essa descrença, como o próprio Isaac Newton, cientista altamente espiritualizado que como legado nos deixou um vasto conhecimento cientíco. Mas suas teorias nos provam que ele, além de ter adquirido grande inteligência, possuía também a sabedoria. Eis uma frase célebre de Newton que nos convida a pensar que é possível haver uma comunhão entre a ciência e a espiritualidade:

“Do meu telescópio, eu via Deus caminhar! A maravilhosa disposição e harmonia do universo só pode ter tido origem segundo o plano de um Ser que tudo sabe e tudo pode. Isto ca sendo a minha última e mais elevada descoberta.”

Estudando o Homem, vemos que nele se encontram os quatro ele- mentos: no seu sistema ósseo (Terra), no seu líquido existente internamente (Água), no processo digestivo e a fonte de calor do sangue (Fogo) e no sistema respiratório (Ar). Mas o Homem tem dentro dele um quinto elemento responsável pela vida intelectual, afetiva, espiritual, religiosa, e que nos faz aproximar de Deus. A quinta-essência representa o espírito de Deus dentro do Homem. A busca maior da alquimia interior consiste na manutenção deste Quinto Elemento, através de técnicas químico-espirituais que visam à obtenção dessa Energia Sagrada para finalidades diversas. Em magia, essa mesma energia é denominada Akasha. Quem aprende a dominar e utilizar essa força torna-se um ser iluminado. Geralmente tal “in-sight” só ocorre depois de muitos anos de estudo e meditação quando, trabalhando secretamente no laboratório da alma, o iniciado compreende a simplicidade do Ser Absoluto e a sua Onipresença e Onipotência. Percebendo que tudo deriva dessa coisa única, passa a trabalhar em harmonia com suas Leis e Princípios e em tudo o que vê, sente, toca, consome; sente a presença viva do Divino, do Quinto Elemento. Quem assimila esse conhecimento torna-se capaz de realizar coisas que a ciência materialista dificilmente conseguirá em suas pesquisas simplórias, que leva em conta apenas o lado visível e palpável dos seus objetos de estudo, deixando de lado o estudo da Essência Espiritual presente em todas as coisas. O Alquimista vai além do químico em suas pesquisas justamente quando ultrapassa em seus estudos a análise materialista dos elementos, acrescentando o tal Quinto Elemento. A própria pa- lavra Alquimia, que vem do do árabe al-khimia, signica a Química de Alá. Al ou Al-lah, em árabe, signica Ser Supremo ou Deus Todo-Poderoso. Assim, signica a Química de Deus ou a Ciência Sagrada. Aí está o segredo da Pedra Filosofal, do Elixir da Longa Vida apregoados pelos alquimistas como a chave para a transmutação. Eis um segredo revelado: quem adquire o conhecimento sobre os quatro elementos, podem fazer manipulações na matéria. Quem aprende, compreende, aplica o conheci- mento com base na utilização dos cinco elementos, acrescentando o Divino aos quatro anteriores, pode transmutar as coisas, transformar chumbo em ouro, ou melhor, comandar, por meio da manipulação da energia cósmica, toda a matéria.

Jesus, o Mestre dos mestres, fez muito isso quando dentre nós. Quando Ele falava que a fé de definiria a cura de determinada enfermidade (Marcos 10, 46-52), induzia o paciente à mobilização de todo potencial fluídico (anímico) próprio em seu próprio benefício. Com certeza, nessas ocasiões Ele coadjuvava no processo através da emissão de sutilíssimos e penetrantes fluidos, posto que oriundos de um Ser em harmonia. Ordenando que cassem curados (Marcos 1, 40-42), os enfermos de toda espécie recebiam vigorosos potenciais fluídicos de reparação, vindo seus organismos a participarem de monumentais transformações, tamanha a profundidade e o alcance daqueles fluidos. Sem dúvida, esses fluidos eram orientados por uma vontade que sabia, por uma determinação que “queria”, de fato, fazer… e que fazia. O poder de ação magnética de Jesus se patenteava máxime em vitalidade quando determinava que aquele que parecia morto retornasse à vida (Lucas 8,49-56). Situação excepcional foi registrada quando a mulher hemorroíssa (Mateus 9, 20-22), vencendo a multidão que o cercava e, mesmo estando extremamente debilita- da, já que perdia sangue havia mais de 12 anos, conseguiu tocar-lhe as vestes; na ocasião, não apenas aquela criatura obteve a cura imediata e definitiva, como Jesus, mesmo cercado, tocado e apalpado por inúmeros que o rodeavam, registrou que d’Ele saíra “uma virtude”, vindo a perguntar: “Quem me tocou?”. Só detentores da prática e do conheci- mento dos campos fluídicos, tanto em suas feições de exteriorização quanto de usinagem (produção fluídica), conseguem detectar, mormente em situações complexas como a ocorrida com a hemorroíssa, o circuito usinagem-doação fluídica, ali representada pela “extração de uma virtude”. Dessarte, o estudo dos quatro elementos: ar, água, terra e fogo, tem quase sempre um objetivo intermediário para se chegar ao conhecimento do Quinto Ele- mento, que consiste na Quintessência alquimista. Através de técnicas de trabalho e oração, o Alquimista da Alma consegue penetrar na essência dos materiais e se apoderar da Energia Divina aprisionada em todos os mistos. Alguns o chamam de Pedra Filosofal, outros o chamam de Ovo Filosó co, outros, Licor Alkhaest, Eli- xir da Longa Vida etc etc. Assimilar o poder do Quinto Elemento ou da Energia Cósmica Criadora presente em todas as coisas, para o Alquimista, consiste na proeza do que chamam “realização da Grande Obra”. Mas tal pro- eza não está limitada a alguns poucos iluminados que se debruçaram sobre enciclopédias inteiras buscando encontrar o segredo oculto por trás de todas as coisas. Eu, você, qualquer um dos seres humanos que habitam a face da terra podemos nos apropriar desse quinto ele- mento, na medida de nossas capacidades e a partir do momento em que vivenciarmos na sua completude os ensinamentos espirituais dos grandes mestres.

Orat e Labora, diziam os sábios alquimistas. Aliás, o significado da palavra laboratório pode ter tido sua origem nestes termos, do Latim: ore e trabalhe. Eis o segredo maior da alquimia.

Orat e Labora, amados Irmãos!

Bibliografia:
– CAMARGO, Alexandre Magno. O companheiro Adonhiramita. Ed. A Gazeta Maçônica, 1a ed. 2003, pág. 210.
– CASTELLANI, José e RODRIGUES, Raimundo. Cartilha do Companheiro. Ed. A Trolha, Londrina/PR4a ed.
– VAROLI FILHO, Theobaldo. Curso de Maçonaria Simbólica – Companheiro (II Tomo). Ed. A Gazeta Maçônica – 1a ed;

[1]CASTELLANI, José e RODRIGUES, Raimundo. Cartilha do Companheiro. Ed. A Trolha, Londrina/PR4a ed.
[2]FILHO, Teobaldo Varoli. Curso de Maçonaria Simbólica – Companheiro (II Tomo). Ed. A Gazeta Maçônica, 1a ed. 1976, pág. 102.
[3]CAMARGO, Alexandre Magno. O companheiro Adonhiramita. Ed. A Gazeta Maçônica, 1a ed. 2003, pág. 210.

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