Não é racional o homem vir ao mundo só aos objetivos biológicos: nascer, crescer, reproduzir ou não, envelhecer e morrer. Para que tanto cérebro? (Base ao Universo Epistemológico)

A maior posse do homem é conhecer a si mesmo. (Sócrates) Vós sois Deus. (João 10;34)

INTRODUÇÃO AO ENTENDIMENTO DO ECLESIASTES:

A história da humanidade é de relatos emaranhados, de interpretações e de justificativas em conhecimentos advindos de perdidos no tempo, alguns conservados nos costumes ou encontrados ocasionais, perpassados em citações, escritos ou eventuais achados arqueológicos. Também, decorrem da associação somatória de conhecimentos de grupos, distintos de novas descobertas e ações. Neste condensado, considerando um dos tratados sagrados da humanidade, focaremos o Eclesiastes; um dos livros sapienciais da Torá, Judaica, e do Antigo Testamento, Cristão. A autoria do Eclesiastes, posta no Rei Salomão , filho de David , será abordada.

Povo HEBREU, etnônimo de possível origem no termo hebraico Éber, de gerar o hebraico “Ivrim”, de significar “povo do outro lado do rio”. Hebreu é povo semítico da região do Levante, no Oriente Médio. Desse povo nasceu, na cidade de Ur, Abrão; batizado a significar “pai exaltado”. A póstero mudou seu nome para Abrahão a significar “pai de muitas nações”. Ele gerou cem filhos, dentre eles, na ordem cronológica, Ismael com Ágar, escrava de sua esposa Sarah. Depois Isaac, com a sua idosa esposa infértil, Sarah, em consagrado milagre. De Isaac descende o povo israelita; judeu. De Ismael, descende o povo ismaelita; árabe. Ambos os povos constituíam-se de tribos, separados pelas necessidades básicas em terras inóspitas, circunvizinhas, porém, díspares, de invasões e disputas ferrenhas. Povo hebreu das doze primitivas tribos judaicas, na divisão dos clãs, por Josué, sucessor de Moisés. Tribos de viverem em circunvoluções de confrontos bélicos; grupos agressivos, primitivos em disputas internas; precisavam se unir à sobrevivência contra inimigos externos; somar forças e virtudes, ou desprezá-las, condenados aos vícios, denominados de pecados, por ofenderem a Deus. Pecados de destruí-los em desunião – povo hebreu submetido às grandes perseguições e subserviências escravas. O mesmo de suceder às tribos ismaelitas sem, contudo, os enormes percalços israelitas. A sobrevivência desses povos seria conquistada com a harmonia comportamental dos seus constituintes, sob a ordem suprema, posta em Deus. E ela se implantou pela fé em poderoso Deus Único; cada qual o nominou, no seu tempo em suas necessidades, o seu Deus Salvador, de mesma origem histórica sob seus fundamentos culturais, cujas doutrinas pacificaram os dois povos, internamente, e sobre esses fundamentos culturais esses povos se alicerçaram. A cultura ocidental assenta-se no ABRAMISMO. Na crença em YHWH , ‘o D’us Pai” na fé do “Pai ABRAHÃO”. O Livro Sagrado em doutrina dessa fé é a Torá, supedâneo à Bíblia Sagrada, e constituída por cinco livros, o Pentateuco formado pelo Gênesis (Origem do povo hebreu), Êxodo (Fuga do povo hebreu, do Egito), Levítico (Leis ao comportamento hebreu), Números (Estatística demográfica daquele povo) e Deuteronômio (Sapiência ao comportar do povo hebreu). Como também é o Antigo Testamento Cristão, origem sacra e histórica do “povo escolhido de D’us, o povo de Israel”.

A Torá conta a história da origem do homem, relata suas lutas atávicas pessoais, familiares, comportamentais, sociais, comerciais, religiosas, e, por fim, orienta quanto à convivência, e administração, sob o culto religioso, do indivíduo e da sociedade, para manter a unidade religiosa em preservação da conduta individual de seus líderes, comandando o povo escolhido para a vida coletiva na base individual, e, para preservar a espécie, naquele adensado. O conglomerado de conhecimentos em regras comportamentais bíblicas, reveladas por YHWH aos seus escolhidos, constitui o Antigo Testamento, por base nos Dez Mandamentos impressos por YHWH em Duas Tábuas Sagradas e entregues em mãos a Moisés no monte Sinai, contendo as leis ao homem crente, à humanidade. Na cultura religiosa hebraica, há previsão futura de YHWH enviar o MESSIAS, moto-contínuo para salvar os homens nos seus vícios próprios e conduzi-los, pelo conhecimento, à obediência, e daí a sabedoria para a glória junto ao Pai Eterno, D’US, na humanização pretendida. Principal símbolo do judaísmo, a Estrela de David ou Escudo de Salomão, marca do povo hebreu a sofrer, na maioria das vezes, sórdidas perseguições, étnicas. Aos judeus dissidentes, em arrastado inconformismo para com o poder hebraico dominante, de então, e, agora, aproveitador e em subjugo romano; Houve a quebra da Aliança com D’US. Isso abriu a janela da fé à vinda do MESSIAS. Jesus Cristo é o prometido por YHWH a celebrar a Nova Aliança com D’us, no Novo Testamento, doutrina renovada aos judeus, de se estender aos “gentios” – a todos e quaisquer homens, aos de boa fé que aceitarem a renovada e libertária doutrina. Novo Testamento, nova revelação do MESSIAS; “Jesus Cristo, o D’us Filho Unigênito de D’us Pai, em quem YHWH depositou todo o seu amor e que veio a este mundo para a salvação da humanidade” (tornar os homens, humanos). Assim, o Cristianismo surgiu há 2021 anos. Para tanto a oração do Credo Cristão, na oportuna Janela de Overton, naquela ambiência cultural e geográfica greco-romana, usou os alicerces e datas festivas pagãs a nova doutrina ser aceita e se implantar:

“Creio em Deus Pai, todo poderoso, e em Jesus Cristo, seu único filho, que foi julgado sob Pôncio Pilatos, condenado, crucificado, morto e sepultado (início da cultura cristã), desceu a mansão dos mortos (a mansão do deus grego, Ades, o mesmo Plutão, romano; agora, o inferno, cristão), ressuscitou no terceiro dia e subiu aos Céus (Olimpo, morada do Zeus grego, e do Júpiter romano, e, ao povo, o novo céu cristão), onde está assentado à direita do D’us Pai todo Poderoso, (Zeus grego e Júpiter, de Roma; agora, YHWH), onde há de vir a julgar os vivos e os mortos (juízo final, cultuado religioso pelo Zoroastrismo, a primeira religião monoteísta na Pérsia, atual Irã, há 1750-1000 a.C. e na cultura egípcia, o culto ao deus Osíris, de julgar os mortos). Creio na Igreja Católica (do grego; kata =juntos + holos = todos), na comunhão (união comum) dos Santos (dos homens de boa vontade, os de crer), na ressurreição da carne (crença egípcia que embalsamava seus mortos enterrados com seus pertences ao uso no além) e na vida eterna (crença egípcia e do zoroastrismo)”

Durante sua vida terrena, Jesus ensinou aos seus discípulos – os doze apóstolos escolhidos por ele – através de parábolas e por meio de milagres. Milagres são fatos impossíveis à compreensão do homem, relatados pelos evangelistas como testemunhas visuais e aceitos por aqueles de fé. Visavam ensinar o comportar em práticas às virtudes, condensadas nos Evangelhos, dos quais quatro escolhidos em motivos da Igreja Primitiva, em Nicéia, por intervenção do Imperador Constantino, como Evangelhos Canônicos, isto é, de acordo com os preceitos da Igreja. Dentre tantos escritos, foram eleitos, por aqueles homens, os Evangelhos de Marcos, Matheus, Lucas, João, e, posteriormente, o Evangelho de Paulo, o cerne do cristianismo. Evangelhos assomados ao Antigo Testamento constam já nos três primeiros séculos após a Ressurreição de Jesus Cristo, tempo do início da Igreja Católica Apostólica, e depois, Romana e da Igreja Apostólica de Istambul, a Igreja Ortodoxa. Apostólico é apropriar-se do conhecimento advindo dos apóstolos em princípio de aceitar, para evangelizar; divulgar, propalar ao mundo e o dominar pela Boa Nova, ou seja, a nova doutrina libertária do homem para torná-lo no humano desejado, conforme anunciada.

O Período Cristão denominado de Igreja Primitiva terminou no Primeiro Concílio de Nicéia, em 325 d.C. O Antigo Testamento (preservada a tradição cultural religiosa) e o Novo Testamento (introdutor de conceitos novos para aperfeiçoar a tradição) constituem-se na Bíblia Sagrada da fé cristã (novo compêndio sacro, religioso de fé renovadora, de modificar os costumes tradicionais). Na atualidade, a bíblia apresenta mais de trezentas versões da Septuaginta: a Bíblia Hebraica traduzida para o grego Koiné, entre o século III a.C. e o I a.C., em Alexandria, base para as demais traduções.

O cristianismo surgiu na Palestina e de lá migrou para a Europa. Por ele se matou e se mata; morreu e morre; é a Cruz. A Torá e a Bíblia Sagrada se prestaram para O Corão (Alcorão), Livro Sagrado do Islã, no qual, entre outros profetas islâmicos menores do que Maomé, Jesus é o profeta ISA. O Profeta Maomé se propôs libertar seu povo nômade dos desertos da Arábia; belicoso, perigoso em conflitos de guerras internas e tribais, Maomé, por inspiração em seu Deus Misericordioso e único, elaborou o Alcorão, direcionado ao comportamento a ser modificado de seu povo incréu. Em uso dessa oportuna janela de Overton, conseguiu apaziguar, unir seu povo. Islã é a segunda religião de mais adeptos e Meca, o maior Santuário Religioso para o Islã. Islã significa submissão.

Todos os Livros Sagrados monoteístas se propõem ao Deus “verdadeiro”, com suas derivadas hermenêuticas do Sagrado, na concepção iluminada das revelações no momento histórico da necessidade humana, nas crises de um grupo ou povo, propícias ao aparecimento do Superior, “deus” revelador de entender e solucionar as necessidades essenciais, dizimadoras (Na falta do problema, de que serve a solução?); eis o milagre (A solução prática ao ‘insolúvel’, por meio do poderoso às ocorrências fora do alcance daquela compreensão, a do desesperado em busca do resultado salvador). Os princípios humanos à espécie são os mesmos em quaisquer tempos e lugares, interpretados nas necessidades do momento – a espécie do Homo sapiens é imutável há tempo remoto, anterior a Torah e à própria história (até a 8.000 anos, no surgir da escrita). O homem na Terra é calculado de 120 a 200 mil anos; Aborígenes constituem-se em civilizações primitivas da Austrália e Nova Zelândia, isoladas há cerca de 50 mil anos.

Livros Sagrados trazem normas objetivas de transformar e manter o homem no humano, e na convivência fraterna, harmônica ao menor sofrer e social de defender e promover a espécie. Os sofrimentos são decorridos do desconhecido de gerar a avareza causada pela vaidade, vaidade decorrida do medo pela insegurança, e, se sentindo seguro e inabalável, pelo seu suposto poder, o poderoso causa a dor e a dor gera o sofrimento de, por sua vez, propiciar o preventivo medo. “Quanto mais humano, tanto mais divino”. Em complemento; “E conhecereis a verdade e ela vos libertará” (João 8;32) . Com a verdade revelada pela fé (crença de se obrigar aos ensinamentos de conduta pessoal/social, ética/moral ao objetivo comum, humano em Deus), o medo se dissipa; “Segura na mão de Deus e vá” . A verdade gera a segurança e brota a alegria do bem viver justo e leal. Amplia, justifica a compreensão do universo epistemológico (fruto do pensamento e da criatividade do cérebro humano), e ameniza as dúvidas, segundo o ramo desse princípio de pensamento, na fé. Eclesiastes assegura em pregação: “Tudo é vaidade”. (Ec. 1.2) “Nada há de novo sobre a terra nem debaixo do sol”. “Tudo que existe e existirá, já existiu e foi esquecido na poeira do tempo”. Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses.

De múltiplos livros menores, apanhados de períodos dispares na evolução humana, constituem-se os maiores Livros Sagrados. Seu objeto é a salvação de cada homem, no bem comportar ético e moral; bases sem as quais não existe a humanidade. Virtudes de proventos das leis das religiões para “a salvação humana”. “Propõem preservar a convivência harmônica entre os filhos de Deus e manter a espécie”. Faremos considerações sobre um desses livros apanhados no transcurso evolutivo da fé à humanidade, e se presta ao conhecer epistemológico. ECLESIASTES, livro atribuído a Salomão, mas com outros entendimentos dos estudiosos, integra um dos Livros Líricos e Sapienciais junto a Provérbios, Jó, Eclesiástico (Sirac), Sabedoria, Salmos e Cântico dos Cânticos.

O ECLESIASTES

Vaidade de vaidades, disse o Eclesiastes;
Vaidade de vaidades, tudo é vaidade.
Que proveito tira o homem de todo seu trabalho…?
Uma geração passa, e outra geração lhe sucede,
mas a terra permanece sempre estável.
O sol nasce e se põe, torna ao lugar donde partiu (…)
O vento corre, visitando tudo em roda, e recomeça seus circuitos;
Todos os rios entram no mar, e o mar nem por isso transborda;
Os rios voltam ao mesmo lugar donde saíram e voltam a correr.
Todas as coisas são difíceis;
O homem não as pode explicar com palavras.
O olho não se farta de ver, nem o ouvido se cansa de ouvir. (…)
Não há nada de novo debaixo do céu. (…)
Então, eu disse no meu coração:


Irei, engolfar-me-ei em delícias e gozarei de todos os bens.
Mas vi que também isto era vaidade…
(Poema inicial do livro Eclesiastes)

O Eclesiastes é o terceiro livro da terceira secção da Bíblia Hebraica e um dos livros poéticos e sapienciais do Antigo Testamento da Bíblia Cristã. É dos livros mais filosóficos e intrigantes da Sagrada Escritura. Seu título advém da interpretação do hebraico Qöhélet para o grego, como o Pregador, extraído da primeira frase do livro: “Palavras de Qoélet (…)” (Ec. 1;1). Seguida da afirmação: “Tudo é vaidade”. (Ec. 1;2). O livro é mensagem de como se deve viver, aquele que busca a felicidade, a sabedoria. O autor se apresenta como o protagonista, o conselheiro, o mestre e o rei (Ec. 1. 2. 12;7, 27;12,8-10); “Sou filho de David, rei em Jerusalém”. Portanto; refere-se ao próprio ou simbolicamente à sabedoria de Salomão. Ele prega, discursa sobre o sentido da vida e a melhor forma de vivê-la.

O momento histórico do pregador:

Eclesiastes ou Pregador (do hebraico Qöelet ou Cohelet) teve vida provável em Jerusalém, no séc. III a.C. Aos estudiosos, seu livro remonta entre 250 a 200 a.C. Pouco se sabe sobre esse período da conquista de Alexandre Magno (332 a.C), com a Palestina por 100 anos sob o domínio dos Ptolomeus (301 – 200 a.C.), cujo comando Egípcio estava em Alexandria. A Palestina, pequeno território saído do domínio Persa, sob a grande influência da cultura grega, como posteriormente passou à romana. Durante esse período, os judeus vicejavam em formidável maioria, como escravos ou migrantes, mais numerosos no Egito que em Jordânia/Judá/Palestina.

Os sacerdotes palestinos defendiam o poder Egípcio e criou-se casta sacerdotal hereditária, a quem os judeus pagavam impostos revertidos aos Ptolomeus. José Tobias, de dinástica família sacerdotal, poderosíssima, tornou-se governador da Palestina no reinado de Ptolomeu III. Assim, se estabelece regional situação favorável a desenvolver o poder e a cultura, pela forte influência estrangeira e seus contrastes naturais, culturais, sociais, econômicos, religiosos; humanos. A alta sociedade, o cimo administrativo, os altos funcionários se enriqueciam de explorar o povo em taxas e impostos exorbitados, agiotagem franca e desmesurada; pequenos comerciantes e iguais lavradores, cada vez mais empobrecidos à miserabilidade. Nesse mundo caótico, Qöelet tem seu nicho para descrever a sua vivência, seus aprendizados na observação de comportamentos absurdos e propor uma linha utópica, à felicidade e sabedoria, em modelo mais justo e humanitário de convivência humana. Disso nasceu o Eclesiastes afirmando que, só os princípios da fé em Deus e a obediência de seus ensinamentos são capazes de propiciar a felicidade da vida, pela sabedoria. Qöelet começa ao afirmar; “Tudo é vaidade” (Ec.1;2). E, termina afirmando: “Teme a Deus e observe seus mandamentos, pois Deus trará a juízo todas as obras” (Ec. 12:13)

Estrutura e composição

1. Introdução: (1:1)
2. Poema filosófico/introdutório (1:2-11)
3. Investigações de Qöelet sobre a vida (1:2-6:9)
4. Conclusões de Qöelet (o pregador)
a. Ponderações (6:10-12)
b. O homem não tem poder para descobrir quais de seus atos são bons (7:1-8:17)
c. O homem não sabe o que virá depois dele (9:11-12)
5. Poema final (11:17-12:8)
6. Epílogo (12:9-14)

O livro é constituído por 12 capítulos, 223 versículos, curtos em base autobiográfica mítica do Oriente Médio; literatura suave, lírica, agradável e de fácil entender. Na primeira parte do Eclesiastes, um belo poema (1:1-11) dá o tom filosófico do livro, tornando-o especial entre os demais da Enciclopédia Sagrada.
Na segunda parte, o Eclesiastes faz crítica/autocrítica ao rei Salomão (1:12–2:26) e conclui pela inutilidade dos esforços dos homens, mesmo os mais dotados. Resta, após o gozo, um gosto de terra na boca, um cheiro de carniça no ar. “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade”; diz Qöelet!

Na terceira parte (3:1–6:12), o autor prega os aspectos negativos e as limitações humanas, a começar pelos contrastes, bem-postos no capítulo 3: Tudo tem seu tempo. No mais, instantes efêmeros. O sábio aprende como autêntico dom recebido do GADU. Surge a angústia da dúvida. Afinal, para que viver? (1:3; 2:22; 3:9; 5:15). O homem não pode escapar ao desfecho da própria existência. O pregador busca uma mediania humana para o tédio do fracasso.

Na quarta parte (7:1 – 12:7): o capítulo 7 expõe série de reflexões, que são comparáveis às quatorze reflexões do capítulo 3 da parte anterior, quando harmonicamente se usou a expressão “Há um tempo para… , e um tempo para…”. Os capítulos seguintes entram na seara da justiça, do poder, das relações sociais e das injustiças do mundo. O autor defende e reage aos dogmas mais antigos. Contudo, o Eclesiastes em diversos versículos defende a vida, que é dádiva divina, a ser vivida com equilíbrio e alegria – nem otimista, nem pessimista (3:13; 5:17; 8:15; 9:9).

Goza da vida em companhia de tua amada esposa durante todos os dias da tua vida passageira, os quais te foram dados debaixo do sol durante todo o tempo de tua vaidade, por que esta é a tua parte da vida e do trabalho com que te fadigas debaixo do sol. Ec. (9:9)

Os Temas:

Estudiosos discordam sobre o tema principal: É positivo e afirma o valor da vida? Ou é profundamente pessimista? Qöelet é coerente ou incoerente? Perceptivo ou confuso? Ortodoxo ou heterodoxo? A mensagem final é copiar Qöelet, o sábio? Ou evitar seus erros? Há contradição entre Qöelet e o Antigo Testamento e com ele mesmo? É tão e somente livro provocativo ao diálogo. Os temas predominantes são a dor e a frustração. Aconselha a temer a Deus, mas, nesta vida, o melhor é aproveitar as dádivas divinas.
Temas tratados e conclusões:

1) A vaidade de todas as coisas terrestres.
2) O prazer e a riqueza não dão felicidade.
3) Há, para todas as coisas, um tempo determinado por Deus.
4) Os males e as atribulações da vida.
5) Vários conselhos práticos.
6) É lícito gozar os bens que Deus deu, mas, isolados, estes não podem satisfazer a alma.
7) As vantagens do sofrimento, da paciência e da moderação.
8) A obediência devida ao rei.
9) O pecador não é logo castigado; o justo vê-se muitas vezes em adversidade.
10) As mesmas coisas sucedem a justos e injustos.
11) Gozemos os bens que Deus nos dá.
12) A sabedoria é muitas vezes mais útil aos outros do que àquele que a possui.
13) A loucura é a causa de muitas desgraças.
14) Façamos o que é bom, no tempo oportuno.
15) A mocidade deve preparar-se para a velhice e a morte.

Tudo tem seu tempo:
O Eclesiastes fala da sabedoria humana e da ciência, que, se não tiver uma utilidade e uma finalidade, e, por isso vai além da vida, torna-se uma das maiores vaidades. Em seu âmago, inclui a angústia, diante do mistério do destino humano. Parece lógico, e até mesmo simplista, dizer que tudo tem seu tempo. Mas, muitos passam pela vida no polo inconsciente das vaidades, sem nunca ou quase nunca se deslocarem, buscando entender o outro extremo. O soberbo poema do capítulo 3, diz por si:

Todas as coisas têm o seu tempo.
Todas elas passam debaixo do céu, segundo o prescrito;
Há tempo de nascer e tempo de morrer;
Há tempo de plantar e de arrancar (colher) o que se plantou;
Há tempo de matar e tempo de sarar;
Há tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; (…)
Há tempo de dar abraços e tempo de se afastar deles;
Há tempo de rasgar e tempo de coser;
Há tempo de calar e tempo de falar;
Há tempo de amor e tempo de ódio;
Há tempo de guerra e tempo de paz;

No Eclesiastes, tudo está determinado por um ser Supremo, o homem não tem influência e jamais decifrará tudo. Entendimento perigoso, pois, pode fazer do preguiçoso, mais preguiçoso e do laborioso, mais edificador. Seja gazela, seja leão, todos os dias, cada qual ao seu modo, ao acordar, deve começar a correr, se não quiser morrer de fome ou virar cadeia alimentar… Então, há tempo de projetar e tempo de executar, tempo de pensar, de planejar o cinzel e tempo de aplicar o maço, bem como o derradeiro tempo, na velhice a se findar, para contemplar a própria obra e, talvez, seja este o tal “Juízo Final” perante o D’us de cada um.

Influência do Eclesiastes na literatura e nas artes:

William Shakespeare:Hamlet (To be or not to be; This is the question – Ser ou não ser; eis a questão), Otelo e diversos sonetos, preponderantemente o soneto 66.
Farto de tudo, a paz da morte imploro/ Para não ver no mérito um pedinte,/ E o nulo se ostentando sem decoro,/ E a fé mais pura em degradado acinte,
E a honra, que era de ouro, regredida,/ E a virtude das virgens violada,/ E a reta perfeição ser retorcida,/ E a força pelo fraco subjugada,
E a prepotência amordaçando a arte, E impondo regra o tolo doutoral,/ E a verdade singela posta à parte,
E o bem cativo estar do ativo mal:/ Farto de tudo, a morte é o bom caminho,/ Mas, morto, deixo o meu amor sozinho.
(Tradução Ivo Barroso)

Machado de Assis:Obras Póstumas de Braz Cubas. Ver 1- Afrânio Coutinho, A Filosofia de Machado de Assis, Rio de Janeiro: Casa Editora Vecchi, 1940. 2- Sérgio Buarque de Hollanda, A Filosofia de Machado de Assis. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 22 dez. 1940, p.17 e 20

Ernest Hemingway:The Sun Also Rises – O Sol Também se Levanta; primeiro livro de sucesso do escritor. O tema foi o Eclesiastes: “Uma geração vai e outra geração vem, mas a terra permanece a mesma”. “O sol também levanta e o sol se põe, e se apressa para o local onde nasceu”. Livro de orgias, beberagem na fuga americana à Paris, a se embriagar em exercício na” Lei Seca”.

Thomas Wolfe: “De tudo o que vi ou aprendi na literatura ocidental, aquele livro parece-me ser o mais nobre, o mais sábio e a mais poderosa expressão da vida do homem sobre a terra – e também a maior das flores da poesia, eloquência e verdade. Não costumo realizar julgamentos dogmáticos em criação literária, mas, se tivesse que realizar um, eu diria que Eclesiastes é a maior obra singular de literatura que eu conheci e a sabedoria expressada nele é a maior e mais duradoura e profunda”.

Frans Hals (1582-1666): Autodidata de só trabalhar no Haarlem e ali se inaugurou o Frans Halsmuseum para expor a maioria de seus quadros e de seus discípulos. Entre suas obras o tema Eclesiastes: 1 – “Retrato de um Jovem”. Vanitas (Vaidade) – 1624. National Gallery – Londres. 2- “Vanitas” – Still Life – Frans Halsmuseum. Seguidores de Frans Hals que abordaram a temática da vaidade: Pieter Claeszoon (Vanitas, Still Life, 1625; Frans Halsmuseum); Adriaen van Nieulandt (Natura morta co Vanitas, 1636: Frans Halsmuseum); Van der Vinner the Elder (Vanitas Still Life, 1648: Frans Halsmuseum).

Frases do Eclesiastes na cultura dos povos

– Vanitas vanitatum: Vaidade das vaidades; tudo é vaidade. (1:2)
– Nada de novo há sob o sol. (1:9)
– Há tempo de nascer e tempo de morrer. (3:2)
– Tempo de amar e de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz. (3:8)
– Todos vão para o mesmo lugar; todos procedem do pó e ao pó tornarão (3:20)
– Melhor é serem dois do que um, porque tem melhor paga do seu trabalho. Porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas, ai do que estiver só, pois, caindo, não haverá outro que o levante. (4:9-10)
– Não sejas demasiadamente justo, nem exageradamente sábio; (7:160)
– Nada há melhor debaixo do sol do que comer, beber e alegrar-se (8:15)
– Teme a Deus e observe seus mandamentos, pois Deus trará a juízo todas as obras. (12:13)

COMENTÁRIOS FINAIS:

A vaidade se manifesta de várias formas. A vaidade mais comum é a beleza física, enquanto, dentre outras, se destacam; ser inteligente, bondoso, caridoso, culto, calmo, rico, simpático, bom cantor ou bom ator. Contudo, a mais dissimulada das vaidades é o desejo de expressar humildade, promulgando-se não ser vaidoso.

Na cena final do filme O Advogado do Diabo, protagonizando o diabo em pessoa, Al Pacino solta frase inesquecível, certamente eivada de soberba ironia:

A vaidade é, definitivamente, meu pecado predileto!.

Se a imprudência é arma da juventude e a prudência é baluarte do idoso, ambas manifestam a mesma vida de conquistar e viver ou manter sua cidadela e repassá-la aos vindouros. Viver é mais que posses; é uma das condições da sabedoria.

Não sabemos de seus discípulos, Qöelet não fez escola. Plantou sua implacável dialética: a vida é eterno exercício de aprendizagem, do qual o sábio tira proveito entre alegrias e dissabores. O tolo, em seus vícios, vive seu rompante de alegria fátua e, por fim, finaliza em sofrimento e dor. Donde posto: Ao fim da vida, nos estertores da consciência, só o ator daquele viver discerne seu êxito ou seu fracasso; tudo passa. Afinal, velhice respeitável é juventude equilibrada, pois a vida é dádiva da maestria suprema. Cada instante vale o viver, a mediania humana para o tédio do fracasso! Há tempo para tudo… No melhor, aproveitar as dádivas divinas, equilibrar as delícias da carne e as oportunidades de triplos fraternais abraços!

Bíblias consultadas
1.Bíblia Sagrada: novo e velho testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Imprensa Bíblica do Brasil, Rio de Janeiro, 1949;
2.The Holy Bible. Red Letter Edition. Books Inc Publishers. New York, Conformable to the edition of 1611: Authorized King James Version;
3.Bíblia Sagrada. Traduzida em Português segundo a vulgata latina pelo padre Antonio Pereira de Figueiredo. Livros Irradiantes, São Paulo, 1982;
4.Bíblia Sagrada. Tradução vulgar pelo Padre Matos Soares. Edições Paulinas, São Paulo. 1979;
5.Bíblia Sagrada com reflexões de Lutero. Sociedade Bíblica do Brasil. São Paulo, 2012;
6.Bíblia Judaica de Kittel (BHK);
7.Bíblia Sagrada 81a Ed. Revista por Frei João José Pedreira de Castro. Tradução dos originais mediante Versão dos Monges de Maredsous (Bélgica);
8.Bíblia da Promessa. Copyrigth King´s Cross Publicações Versão revista e corrigida na grafia simplificada, da tradução de João Ferreira de Almeida;
9.Bíblia Sagrada. Edição Pastoral. CNBB. Paulus – 1990.

About The Author

ARLS Loja Paz e Amor Nº 16 Oriente de Belo Horizonte • GOMG