A mitologia grega – bem como, a mitologia de outras culturas e civilizações antigas – é rica em seus ensinamentos, através de suas lendas e alegorias, sendo que, muito provavelmente, serviu de norte para que a Ordem Maçônica construísse seu sistema de ensino, na difusão de seus conhecimentos.

O mito do “Fio de Ariádne” contudo, apesar de não ser utilizado em nossas instruções como mecanismo de aprendizado, detém lições valiosíssimas para que o Maçom – estudioso e laborativo – possa vencer sua jornada na lapidação de sua pedra interior.

O fio, entregue pela musa grega ao herói, representa a trajetória de descoberta psicológica que o obreiro deve fazer, sobre si mesmo, para alcançar sua evolução e, ainda, vencer os desafios que lhe são impostos, durante sua jornada maçônica.

O labirinto representa, de outro lado, todos reveses que a existência lhe proporciona, lhe gerando as dificuldades necessárias para compreender que a evolução pessoal demanda de lutarmos cotidianamente contra nossos vícios, nossas paixões e nossas vontades, a qual se transmutam facilmente na criatura mitológica lá aprisionada.

Ariádne, de outro lado, representa o ânimo, o motivo que aquece a alma do herói, para que ele consiga, após as agruras da batalha, retornar e sair, são e salvo, do labirinto.

Neste contexto, como foco de conhecimento e aprendizado maçônico, é possível se extrair deste mito a importância de que o obreiro enfrente com firmeza de caráter e nobreza de alma todos os desafios que a vida irá lhe impor, pois estes lhe são postos tão somente como obstáculos necessários à fortalecer e justificar sua existência.

As intempéries e dificuldades que a vida lhe proporcionará não devem ser consideradas como mal agouro, mas sim como oportunidades de crescimento individual, verdadeiras janelas escancaradas, quando uma porta se fecha.

O maçom profícuo, imbuído de perseverança e fé, deve ser sempre inabalável em suas ações e princípios, mesmo que lhe custe muito suor e sangue na manutenção de sua postura e de suas crenças, batalhando incessantemente contra “os Minotauros” que o labirinto da vida lhe imporá.

E para tanto, os aprendizados e conhecimentos maçônicos serão seus guias certos e seguros, o fio dourado que lhe salvaguardará o retorno e saída das conturbações apresentadas por sua existência.
Complementar à significação simbólico-filosófica do ponto inscrito no círculo, limitado por duas retas paralelas – onde a primeira representa a perseverança e a outra sabedoria – o fio dourado de Ariádne deve rememorar ao obreiro que a caminhada na senda da virtude demanda esforço pessoal, trabalho árduo e contínuo, para que se atinja o real objetivo da vida: o progresso.

E Teseu, herói grego que vence a besta mitológica, deve representar o maçom, mas não por sua opulência, vigor e ímpeto, mas sim por sua abnegação e virtuosidade, onde preferiu sair de sua zona de conforto, colocou em xeque sua condição onipotente e pôs-se à luta contra as vicissitudes e imperfeições. Dar sua vida e depreender-se em razão de uma causa justa e nobre.

O Maçom, portanto, deve despir-se de suas vaidades, ostentações e de seu padrão de homem mediano para – buscando atingir seus objetivos de crescimento – atrever-se a entrar no labirinto, mesmo sabendo que poderá não voltar íntegro da batalha, pois seu ganho será o desbastamento de suas arestas e, com certeza, se tornar uma pessoa melhor do que aquela que entrou no combate.

Por isso, a importância de o Companheiro Maçom, como em sua marcha, após a concretização de sua formação maçônica, revisitar os ensinamentos do paradoxal número 2 (dois), pois lhe obrigará a rememorar seu aprendizado e, a partir de suas experiências obtidas na antítese, retornar ao caminho virtuoso e reto.

Por fim, o conjunto mitológico estudado deve ser interpretado como o juramento inquebrantável prestado pelo maçom com a luta permanente de seu desenvolvimento, devendo policiar-se quanto à sua trajetória e caminhada para que ao final possa ter a certeza de que alcançar o destino almejado, da mesma forma com que, para Teseu, o início da batalha é o próprio fim do labirinto, com seu retorno em segurança.

Neste sentir, para o obreiro, os meios de conseguir alcançar o objetivo da batalha da vida e sua própria jornada são tão, aliás, mais importantes, quanto à própria conquista, já que o esforço depreendido já lhe trouxe experiências diversas que agregaram ao seu caráter.

Assim, mesmo que os louros da vitória não sejam plenos e totais, o maçom deverá se contentar com o aprendizado e com as experiências adquiridas durante a jornada, vez que muitas vezes este é o consolo do verdadeiro herói.

Imperioso é, desta forma, reconhecer que os ensinamentos maçônicos são perfeitos e devem ser amplamente absorvidos, uma vez que engendra não só conhecimentos filosóficos, simbólicos e alegóricos, mas faz com que o maçom os ponha em prática, para retornar aos braços de Ariádne, em paz e em segurança, obtendo os louros de cada uma de suas vitórias, no decorrer de suas batalhas pessoais.

Que cada maçom se encontre em si mesmo! Que seu herói mítico apareça, tal como a pedra angular seja encontrada, a partir da lapidação da pedra bruta de nossa existência! Que no trajeto do fio de Ariádne, o maçom, em suas lutas épicas contra as bestas cotidianas, não precise usar uma espada mágica, tão somente seus ensinamentos e aprendizados absorvidos, tão bem expressos em nossa simbologia iniciática!