À luz dos preceitos maçônicos, tudo quanto diz respeito ao ser humano é devido à obra do Grande Arquiteto do Universo. Tanto a criação do universo, da espécie humana (também sua evolução) e o destino que lhe é traçado são frutos dessa intervenção maior, sem a qual não existiríamos e nada seríamos. De fato, não se poderia, sendo maçons entender de modo diverso, especialmente à luz do Landmark nº 19 de Mackey, para o qual a crença na existência de Deus é requisito absoluto e irremovível para a Iniciação. De onde viemos, no ideário maçônico? O crescimento do homem nas potencialidades maçônicas permite, a um só tempo, o próprio desenvolvimento (impacto imediato) e a melhoria das condições de convivência da própria sociedade (impacto mediato). Esse derradeiro aspecto é plenamente compreensível, à medida que o homem maçom está inserido em uma sociedade no mundo profano, nela vivendo com sua família e ali trabalhando. À medida que cresce – moral e espiritualmente – na maçonaria, também faz impregnar os conhecimentos apreendidos na sociedade a que pertence, contribuindo para melhorar a convivência social. O chamamento do Profano à Ordem visa agregar alguém de qualidade moral e intelectual aos trabalhos da Oficina, para o fim de – como responde o 1º Vig∴ à indagação do V∴ M∴ sobre para que os Ir∴ se reúnem no Templo – “combater o despotismo, as tiranias, os preconceitos, as injustiças, a ignorância e os erros; para promover o triunfo da Verdade, da Liberdade e da Justiça; para pugnar pela evolução do Homem, o bem-estar da Pátria e da Humanidade, levantando Templos à Virtude e cavando masmorras ao vício”. No ideário maçônico, portanto, somos chamados à Ordem por essa vontade interna da Loja de agregar mais um obreiro ao seu trabalho de lapidação da pedra bruta, para o fim de desenvolver, moral e intelectualmente, o Homem e fazer progredir a Pátria e a Humanidade. Daí se poder dizer que todo maçom é um “eleito” para o trabalho, tornando-se depois – se concretizado esse trabalho – um escolhido especial para a Ordem. Ademais, a simbologia da Iniciação visa fazer despertar no Profano o renascimento para uma nova vida, notadamente quando redige o seu testamento na Câmara de Reflexões. No testamento, o Profano assume o compromisso de empreender novo trabalho, moral e espiritual, como obreiro da Oficina, a partir da nova jornada que pretende iniciar na Loja. Naquele momento da Iniciação, é importante a leitura, pelo iniciado, do acrônimo V.I.T.R.I.O.L., que significa Visita Interiora Terræ, Rectificando, Invenies Occultum Lapidem. No vernáculo: “Visita o Centro da Terra e, Retificando [Polindo, Desbastando], Encontrarás a Pedra Oculta [ou Filosofal]”. O acrônimo leva à importante reflexão de que há mistérios profundos e ocultos na natureza, e que poderá não ter o Iniciado as virtudes necessárias para compreendê-los em seu percurso formativo. Daí a importância de descer ao centro da Terra para, compreendendo-se a si próprio, ultrapassar o pequeno conhecimento profano das coisas e embrenhar-se nos conhecimentos mais profundos (e ocultos) do mundo maçônico. A “morte” na Câmara de Reflexões é necessária para um “nascimento” puro e desprendido, tal o da criança ao vir à luz, pois nada traz consigo (todos são despidos de seus metais) e está na dependência de tudo e de todos. Esse “morrer” retrata a saída da escuridão para o encontro de um novo mundo, iluminado e doravante voltado à lapidação moral e intelectual do ingressante. Num outro sentido, a Câmara de Reflexões convida o candidato a aprofundar-se no seu eu, assim entendido o seu interior profano, viciado e maculado por um mundo sem virtudes. A simbologia da sala e as inscrições que nela se fazem presentes, cujo significado ainda é desconhecido do Iniciado, formam a atmosfera perfeita para esse momento de reflexão consigo mesmo. Na Iniciação, o candidato sai do seu estado “imperfeito” para (começar a) renovar-se espiritualmente, deixando de lado as imperfeições para sublimar-se. Assim, a resposta à primeira indagação se dá a partir da compreensão (i) do chamamento do escolhido à Ordem e (ii) do “nascimento” do Neófito para a vida maçônica. Se, portanto, há um “chamado” (sob inspiração Divina) ao serviço de obreiro e, depois, um “nascimento” para a vida maçônica, conclui-se que a vinda do Profano à Ordem decorre de uma vontade – desde a proposta do nome do Candidato por um Mestre, sua sindicância etc. – externada pela Loja e guiada pelo Grande Arquiteto do Universo, para que o Neófito some esforços à Oficina, visando à melhoria dos trabalhos em Loja, do próprio indivíduo, de sua família e da sociedade. O que somos à luz dos princípios maçônicos? A partir da Iniciação todo maçom se torna um obreiro, destinado a trabalhar na Loja para desbastar a Pedra Bruta e evoluir, moral e intelectualmente. Todo obreiro é, portanto, um trabalhador em busca da Verdade, base de toda virtude e sabedoria. É por essa razão que todo maçom, mesmo tendo atingido o grau máximo de seu Rito, continua a ser um aprendiz, dada a incapacidade humana de absorver todo o conhecimento necessário ao conhecimento da Verdade. Daí se dizer serem os obreiros eternos aprendizes (não Aprendizes eternos) em busca do conhecimento. Em João 14:6 está escrito: “Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”. Na busca dessa Verdade é que nos reunimos semanalmente em Loja, invocado, para o início dos trabalhos, a presença do Grande Arquiteto do Universo, com a abertura do Livro da Lei. Apesar de não ser uma religião, não há que se negar que a maçonaria é uma organização dotada de religiosidade e de profunda espiritualidade. Trata-se de instituição espiritualista porque reconhece, oficialmente, um Ser Supremo, sem o qual nenhum Profano pode ser iniciado. Conta, ainda, obrigatoriamente, com um Livro da Lei no Altar da Loja, que é um livro religioso, apenas variando a depender do entorno geográfico do planeta em que a Loja se encontra. A expressa previsão, no Landmark nº 21, de que, “[e]m Loja, é indispensável à presença, no Altar, de um Livro da Lei, no qual se supõe conforme a crença, estar contida a vontade do Grande Arquiteto do Universo”, Livro esse que “pode variar conforme o credo”. Outro motivo pelo qual a maçonaria é religiosa, mas não é religião, ligam-se ao fato de ser incoerente – até mesmo impossível – ter (e seguir) a pessoa duas religiões distintas: a sua religião de origem (cristianismo, judaísmo, islamismo, hinduísmo, budismo etc.) e a “religião” maçônica. Fosse religião a maçonaria, não haveria permissão para que o seu membro professasse outra fé; não haveria qualquer possibilidade de manutenção da religião que o integrante anteriormente adotara. A maçonaria, pelo contrário, não discrimina e não interfere na religião de cada qual, não fazendo acepção a qualquer delas. Para onde vamos, segundo a maçonaria? O Aprendiz, cônscio de suas obrigações, terá todas as condições de evoluir moral e intelectualmente dentro da Ordem, ultrapassando os três primeiros graus e avançando para os graus filosóficos, até o ápice. Essa evolução, contudo, deve ocorrer de forma compassada, prestando-se atenção a todas as simbologias do grau e com a atenção voltada ao aprendizado futuro dos símbolos e da espiritualidade nos demais graus. Tudo, porém, com apreensão segura de cada instrução passada pelas luzes do Templo. Assim, a escalada de estudos da Arte Real até o grau máximo garantirá ao maçom a máxima condição espiritual, com luminosidade plena. A caminhada rumo ao desenvolvimento e ao burilamento interior, com desbaste à Pedra Bruta interna, leva ao conhecimento dos “Mistérios” maçônicos, ampliados à medida que se conquista um grau mais elevado. Ao avançar no conhecimento desses mistérios, o estudioso caminha para burilar a sua espiritualidade, sem a qual não faz sentido manter-se na Ordem. A maçonaria, nesse sentido, pode ser considerada, a título de Ordem, um patrimônio moral e espiritual. Portanto, o destino da aprendizagem maçônica é dúplice, tanto simbólico quanto espiritual. Na caminhada maçônica, o Aprendiz conhece os seus horizontes próximos, as suas dificuldades e há de ter consciência de que apenas por meio do estudo conseguirá lograr as elevações necessárias para a plenitude dos direitos maçônicos, ao atingir o grau de Mestre. Essa caminhada de estudos pode ser ampliada também para os graus filosóficos, desejáveis para a exata compreensão dos mistérios da Ordem. Assim, no plano simbólico, será possível atingir o ápice da pirâmide embrenhando-se nos graus filosóficos, com esmero e dedicação. No âmbito espiritual, por sua vez, a caminhada de estudos e reflexão pode levar ao desejado encontro da luz plena, necessária à preparação do ser humano para a vida espiritual. Esse destino – possível a todos os maçons que pretendem realmente elevar-se, moral e intelectualmente – serve não apenas à pessoa, obreira de determinada Loja, senão também a toda a Humanidade, pois as qualidades e virtudes que se desenvolvem na jornada maçônica impactam positivamente na vida extramuros dos obreiros, no seio de sua família, de sua pátria e, em último grau, da Humanidade.