Maçonaria moderna, enquanto instituição trissecular, mantêm-se firme até os dias atuais graças ao seu rico e robusto corpo doutrinário, às suas tradições, e à superioridade de seus ensinamentos, resguardados da vista dos profanos. Esse majestoso edifício abriga a pluralidade de homens Livres e de bons costumes, ensejando a todos a oportunidade do exercício da tolerância e do respeito, bem como o desenvolvimento e a prática do verdadeiro sentimento de fraternidade. As bases da Maçonaria estão assentadas em sólida construção de ideias e em Verdades eternas, hauridas em várias Tradições Iniciáticas, que compõem a herança cultural da Humanidade, preservadas em sua essência e transmitidas aos Iniciados na Sublime Ordem através de símbolos, alegorias, lendas e sinais. Todo esse conjunto de conhecimentos superiores está à disposição dos Maçons, porém, requerem o esforço da vontade firme em busca da iluminação, a perseverança e a busca incessante da Verdade. Esse é o escopo da Maçonaria Universal: transformar o homem da condição de Pedra Bruta (estado de Natureza) em Pedra Cúbica (Autoaperfeiçoamento co-criativo).

Para tanto, o Maçom deverá desenvolver certas habilidades, adquirir novas virtudes e promover em si, mudanças de comportamento ético/moral para realizar progressos em cada etapa de sua existência, apoiado nos ensinamentos contidos nos Graus que for galgando. Os ensinamentos são dados de forma escalonada e progressiva, completando-se a cada Grau num encadeamento lógico, desde os três Graus da Maçonaria Simbólica até os Graus Posteriores, mais conhecidos como Filosóficos. Assim, pouco a pouco o Maçom vai descortinando o que estava oculto, amealhando para si os tesouros incorruptíveis do Conhecimento que, com o passar do tempo, se transformarão em Sabedoria.

O Grau 17 Cavaleiro do Oriente e do Ocidente do R∴E∴A∴A∴ está situado entre os graus chamados bíblicos, porque alguns pesquisadores vinculam vestígios de sua origem aos trabalhos esotéricos dos essênios. Segundo a Wikipédia,
Os Essênios (português brasileiro) ou Essénios (português europeu) (Issi’im) constituíam um grupo asceta, apocalíptico messiânico do movimento judaico antigo que foi fundado em meados do 2º século A.C. e foram dizimados no ano 68, com a destruição de seus assentamentos em Qumran. O movimento já foi mencionado por autores antigos. Atualmente, tem-se redespertado o interesse pelo grupo após a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto e do levantamento arqueológico de Qumran.

A doutrina do Essênios é formada por um conjunto de crenças e práticas que os diferenciam dos judeus em alguns pontos e, em outros, os aproximam. Dentre aquelas está a crença na cura e na bênção pela imposição das mãos, os milagres físicos, a cura de doenças através de ervas medicinais, a dieta vegetariana. Os Essênios aboliam a propriedade privada, tornando-a um bem comum; os Mestres eram celibatários mas essa condição não era obrigatória para o restante da comunidade; a purificação pela água era feita diariamente nos banhos, antes das refeições, e pelo batismo dos iniciados.

Acreditavam [os essênios] que a Natureza, os seres humanos e todas as coisas vivas eram o verdadeiro Templo de Deus, pois Ele não habitava em lugares feitos pelas mãos dos homens, mas sim as coisas vivas e que as ofertas a Deus eram o partilhar da comida para com os famintos, sejam homens ou animais.
Os essênios eram pacifistas e cultivavam a resignação como virtude necessária à submissão aos desígnios de Deus. A resignação é uma atitude (ou virtude) que se espera daqueles que professam a crença na prevalência do espírito sobre a matéria.

Buscamos a definição no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa: “resignação. s.f. ato ou efeito de resignar(-se). 1. Submissão à vontade de alguém ou ao destino. 2. Demissão voluntária de um cargo. 3. Renúncia a uma graça, a um lugar, a uma função. […] 4. Aceitação sem revolta dos sofrimentos da existência. (negrito nosso)
Na definição do Houaiss, a quarta acepção é a que mais se aproxima do sentido de resignação na Maçonaria, em consonância com a ataraxia estoica que proclama a completa ausência de perturbações ou inquietações da mente, concretizando o ideal tão caro à filosofia helênica da tranquila e serena felicidade obtida através do domínio ou da extinção de paixões, desejos e inclinações sensórias. É a atitude serena e impassível diante da dor, do sofrimento e do infortúnio.

A simetria de ensinamentos entre a Maçonaria e o Estoicismo, em relação à resignação e à maneira de ver o Homem, pode ser vista nas próprias ideias dos estoicos, segundo o qual “todas as pessoas seriam manifestações do espírito universal único e deveriam, em amor fraternal, ajudarem-se uns ao outros de maneira eficaz.” Nos Discursos, Epicteto, filósofo estoico, tece comentários acerca da relação Homem/mundo: “cada ser humano é, primeiro, um cidadão da sua comunidade; mas também é membro da grande cidade dos homens e deuses…” Diógenes de Sínope tem o mesmo sentimento, ao dizer: “Eu não sou nem ateniense nem coríntio, mas um cidadão do mundo.

Encontramos, ainda, definição mais extensa, explicando com detalhes esse sentimento essencial à existência humana, tão carregada de lutas e de sofrimentos.

A resignação, ou ainda aceitação, na espiritualidade, na conscientização e na psicologia humana, geralmente se refere a experienciar uma situação sem a intenção de mudá-la. A aceitação não exige que a mudança seja possível ou mesmo concebível, nem necessita que a situação seja desejada ou aprovada por aqueles que a aceitam. De fato, a resignação é frequentemente aconselhada quando uma situação é tanto ruim quanto imutável, ou quando a mudança só é possível a um grande preço ou risco. Aceitação pode implicar apenas uma falta de tentativas comportamentais visíveis para mudar, mas a palavra também é utilizada mais especificamente para um sentimento ou um estado emocional ou cognitivo teórico. Então, alguém pode decidir não agir contra uma situação e ainda assim não aceita-la.

A aceitação é contrastada com a resistência, mas esse termo tem fortes conotações políticas e psicoanalítica que não são aplicáveis em muitos contextos. Às vezes, a aceitação é usada com noções de espontaneidade: “Mesmo se uma situação indesejável da qual não poderei escapar ocorrer comigo, eu ainda posso espontaneamente escolher aceitá-la.”

[…] Noções de aceitação são proeminentes em muitas fés e práticas de meditação. Por exemplo, a primeira nobre verdade do Budismo, “a vida é sofrimento”, convida as pessoas a aceitarem que o sofrimento é uma parte natural da vida.

Se nos atermos à questão do sofrimento humano, colheremos várias lições que nos são trazidas pelas religiões e filosofias. O sofrimento, sendo parte natural da vida, como assevera o Budismo, reagir naturalmente ao sofrimento deveria ser a atitude do homem. A reação natural ao sofrimento está diretamente vinculada à sua consequente solução de continuidade e o poder que o homem tem sobre tal; se está ou não está ao seu alcance resolver o problema que se lhe apresenta. Se está no poder homem suprimir o sofrimento, deverá, então, envidar esforços para solucioná-lo com os meios que dispõe. Buscar trabalhar com determinação e confiança, sem esmorecimentos e colher os frutos da vitória ao final. Se não está ao seu alcance a solução, a atitude mais racional é a resignação, aceitando as próprias limitações sem, contudo, deixar de meditar sobre o que o sofrimento lhe ensina, sendo que este geralmente o alerta a respeito de atitudes e/ou ações que deverá mudar em sua vida. O sofrimento é um mestre rigoroso que nos corrige e nos liberta, quiçá, de um sofrimento maior. Uma frase atribuída ao Dalai Lama diz muito sobre a resignação: “Se não há solução para o problema, então não perca tempo preocupando-se com isso. Se houver uma solução para o problema, então não perca tempo preocupando-se com isso”.

Nos princípios gerais da Maçonaria temos o que nos diz acerca da “prevalência do espírito sobre a matéria”, e nos postulados universais da Instituição temos a crença na “existência de um princípio criador: o Grande Arquiteto do Universo”. Depreende-se desse princípio e do postulado que o espírito, tendo prevalência sobre a matéria, é imortal e sobrevivente à morte do corpo físico, estando sujeito às leis emanadas do G∴A∴D∴U∴ que a tudo governa com Justiça e Sabedoria. A resignação no sentido maçônico é a aceitação serena e impassível das coisas, fatos e situações que não podemos mudar, aliada à confiança (fé) nas Leis divinas, na vida futura e no progresso incessante do espírito adquirido através do autoburilamento. Uma resignação ativa que não descuida do trabalho, nem da aquisição de conhecimentos; que não se prende a fatalismos ou determinismo ontológicos para justificar os insucessos ou a acomodação diante dos desafios da existência.

Enfim, a resignação no sentido maçônico é aquela que espera com fé, trabalha e persevera.