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uantos maçons já indagaram sobre o sentido de uma reunião maçônica? Alguns encarando como atos repetitivos, mecânicos, de pouca ação em sua vida cotidiana; outros, percebendo as sessões maçônicas como contribuição com a evolução do indivíduo através do conhecimento. Os obreiros da Nobre Arte precisam estudar para compreender os princípios dos mistérios e rituais da Ordem, haja vista que, de acordo com Silva (2015), a celebração habitual e correta das cerimônias é uma aplicação da força oculta que produz vibrações astrais, resultando em uma grande onda de paz espiritual e de energia, afirmando que as forças existentes no universo são evocadas no momento das sessões.

Nesse sentido, a Ordem Maçônica passa a ser concebida como uma escola mística que contribui para o engrandecimento de seus membros, usando forças que se encontram no universo em benefício do homem através da ritualística.

Nesse caso, o Rito a ser trabalhado é o Adonhiramita, considerado histórico e tradicional com características essencialmente metafísicas, esotéricas e místicas, buscando produzir um estado de harmonia e bem estar, tornando-se um rito de profunda espiritualidade. Para que este seja melhor compreendido e aproveitado, deve-se perceber além dos sentidos físicos de uma sessão, na verdade essas vão além da simples repetição. Sendo assim, esse texto busca explicar como o esoterismo se faz presente em uma sessão do rito Adonhiramita?

A participação em uma sessão de forma eficiente e produtiva, perpassa pela compreensão dos trabalhos espirituais, sua grandeza e complexidade, direcionando os pensamentos para captação de boas energias, paz interior, objetivando evolução individual, melhorando o sentimento de amor ao próximo. O bom andamento da sessão exige a preparação psicológica e espiritual do obreiro, tendo início na sala dos Passos Perdidos ou Átrio, através da harmonização da mente, concentração e reflexão, para a preparação da egrégora maçônica.
Então preparado, tem-se o ingresso no Templo, o que poderá acontecer em família ou de forma ritualística. Neste caso, respeita-se a hierarquia, onde os primeiros a entrarem são os Iniciantes e por último, o Venerável, o condutor da reunião, sendo à saída de forma contrária à entrada.

A transição dos obreiros da sala dos Passos Perdidos ao interior do templo representa simbolicamente, de acordo com Guimarães (2013), a passagem de um ambiente profano a um solo sagrado. Ritualisticamente leva o obreiro em poucos passos do oriente ao ocidente, do amanhecer ao por do sol, trabalhando conjuntamente com a simbologia maçônica, tendo como função a compreensão sobre a necessidade da evolução do indivíduo, o que exige um estado de consciência adequado ao ritual cognitivo; a divisão do espaço físico da Loja em compartimentos representa a passagem de um estado de consciência a outro.

O templo é o local da reunião, este representa um ser coletivo, onde cada membro é responsável pela sua qualidade. A força energética é resultado da homogeneidade e harmonia de pensamentos e vibrações, gerando a egrégora considerada por Silva Junior (2012) e Silva (2015), como: fenômeno gerado pela interação de pessoas envolvidas num objetivo comum cuidando dos interesses do grupo, sendo essencialmente constituída pela soma de seus membros individualmente.

A egrégora se mantém das emoções, pensamentos e outros materiais de quem a criou, ocorrendo durante os encontros regulares do grupo em seu ritual ou cerimônia regular, retirando e recarregando as energias de seus membros. Por isso, um membro com pensamentos diferentes da egrégora pode ser excluído pela mesma, a egrégora se sustenta pela congregação de seus membros, caso não haja sintonia interna para com o propósito do grupo não haverá conexão.

As vibrações, emanações mentais tomadas de amor e confiança, permanecem no ambiente e se acumulam criando uma atmosfera especial formada por pensamentos, preces e aspirações daqueles que dedicam o melhor de si, ajudando e sendo ajudado.

O Templo representa um recanto de paz, mantendo um clima de ordem, respeito mútuo, harmonia, fraternidade, trabalhando para minimizar divergências, pela superação dos vícios, proporcionando a união de seus frequentadores.

No interior do templo o Mestre de Cerimônia realiza seu deslocamento em Circunavegação, em forma do símbolo do infinito, representando esotericamente a continuidade da vida, caminho constante em busca de conhecimento, evolução e aprimoramento espiritual, obedecendo, o sentido horário ou ante- horário, de acordo com o que exige o grau característico da reunião, sendo a marcha rompida com o pé direito, o que representa a razão. A Cerimônia de Incensação, realizada pelo Mestre de Cerimônia, é o ato de perfumar o ambiente para preparar o espírito dos obreiros, seguindo a hierarquia pronunciando as palavras sabedoria, força e beleza; o Cerimonial do Fogo representa a força impulsionadora do universo, energia e poder de transformação, invoca o senhor de todas as luzes, ritualisticamente as luzes da loja são acesas e as palavras sabedoria, força e beleza são pronunciadas; o Interrogatório tem como objetivo verificar se todos são maçons e se a loja está protegida das vistas profanas pelo Cobridor Interno; os trabalhos tem início ao Meio Dia, sem sombras, momento de muita luz, e finalizado a Meia Noite, sem sol, repouso; as horas são marcadas por 12 vibrações, provocadas por batidas em sinete. Com a abertura ritualística da Loja, forma-se o Pálio, em que o Orador, será protegido por espadas empunhadas por Mestres Maçons formando uma figura triangular enquanto este fará a leitura no livro da Lei e a 1ª oração, João cap. 1, versículo de 6 a 9, onde se destaca a palavra Luz. Nesse momento, a concentração de energias espirituais oriunda de pensamentos voltados à prática do bem e do amor envolve o ambiente. As doze badaladas anunciam o início e o fim dos trabalhos, evoca as divindades e juntamente com a Incensação e o fogo, harmonizam as vibrações místicas e esotéricas da egrégora formada em sintonia com o GADU. O Saco de Propostas nunca volta vazio, sempre retorna com bons fluidos dos irmãos, enquanto o Tronco de Solidariedade retorna com um dos elementos da caridade, metais que socorrerão os semelhantes.

Oração de encerramento, momento em que é citada a fonte de luz e em seguida o Adormecimento do fogo, onde a chama sagrada é adormecida em seu sentido físico, mas que habite de forma permanente e atuante em nossos corações em sintonia com as palavras beleza, força e sabedoria. O objetivo de cada sessão é a renovação das forças espirituais por isso, todos os membros precisam estar preparados, pensando coletivamente e formando um conjunto harmonioso e ordenado. Todos recebem este impulso energético efetivo da vibração e o efeito se dará principalmente por reflexo da mente e assim, cada obreiro se torna transmissor dessa energia e se bem utilizada levará aos outros este efeito.

Segundo Silva (2015), o exercício espiritual proporciona ganhos através de vibrações que se harmonizam com forças universais, lembrando que somente aqueles que compreendem o sentido do ritual e o praticam com reverência, respeito e cooperação, poderão atrair essa influência em sua totalidade.

Com o conhecimento e compreensão desses fenômenos os obreiros são capazes de aplicá-los em seu próprio benefício, da loja a que pertence e a todos a quem possa levar, sendo esse um dos papeis da ordem. Silva (2015) informa que quanto mais os sentimentos de todos na loja são de reverência e devoção, ajudam a quem dirige aumentando consideravelmente a quantidade de energia espiritual emanada em resposta a devoção. Quanto mais instruído o maçom, quanto mais elevada a sua devoção, mais eficiente o trabalho. Silva (2012), afirma que é possível dizer que o resultado final é o de receber e distribuir a grande emanação de força espiritual, difusão da vida e da energia precedente dos mundos superiores irradiada pelo GADU. Quem despreza o rito e seus aspectos ocultos, não pode obter a mesma elevação nem os mesmos benefícios daqueles que conhecem seu significado e o praticam de forma devocional.

Para Silva (2015), o pensamento possui força real e poderosa que pode condensar a matéria astral solta no ambiente, originando o ser coletivo. A egrégora recebe energias e o conhecimento acumulado das pessoas que a formam, passando a ser mais forte que cada um dos membros individualmente. A Egrégora é pensamento e sentimento de um grupo, pode ser positiva ou negativa, como positiva pode atrair boas energias, ajudando no crescimento e na felicidade dos envolvidos.
Sendo assim, o sentido de uma reunião maçônica é o favorecimento dos obreiros em seus processos evolutivos, favorecendo a prosperidade e o autocontrole. Por se tratar de um lugar considerado sagrado nada acontece no templo por acaso, a revigoração das energias ajuda na construção de um novo ser.

Referência

– CASTELLANI. Jose. Liturgia e Ritualística do grau de aprendiz maçom.
São Paulo: editora: A Gazeta, 1992.

– Egrégora e seus modus operandis. Texto, ano, 2016. www. hadnu.org

– GUIMARÃES, Rafhael. Os efeitos psicológicos da prática do ritual
maçônico. Texto. Revista ciência e maçonaria.
Brasilia, v.1, nº 01, p.21-28, jan/jun, 2013.

– GRANDE ORIENTE DO BRASIL. Ritual: Rito Adonhiramita.

São Paulo. 2009.

– SILVA, Vitor Xavier. Considerações sobre o sentido
esotérico das sessões. Texto, ano, 2015

– SILVA Junior, Antonio Ivan. Egrégora e o Livro da Lei. Texto, 2012.