Em primeiro lugar é necessário, que definamos o que é Coluna de Harmonia. Zaly Barros de Araújo, em seu livro “Coluna de Harmonia”, a define como “o conjunto de cantores, músicos, instrumentos musicais, equipamentos eletrônicos, acessórios” e “o conjunto de partituras, discos e fitas, destinados, no todo ou em parte, sob a direção e a coordenação do Mestre de Harmonia, à musicalização das sessões ritualísticas e outras cerimônias realizadas por uma loja maçônica”.

No entanto, apesar da completa definição, nos dias atuais, são raríssimas as lojas que possuem músicos e instrumentos musicais, limitando o Mestre de Harmonia aos equipamentos de som e CDs, bem como aos notebooks, devido à praticidade e à qualidade da moderna tecnologia de som.

Por outro lado, devemos definir mais especificamente o que significam harmonia e música. Segundo a revista “Universo Maçônico”, “a música é uma das sete artes liberais”. Ela tem o dom de preparar o ambiente para a meditação, para o culto espiritual, não só acalma, ameniza, conforta, como pode curar certos tipos nervosos e ajudar na cura de processos orgânicos. Esotericamente, os sons penetram de tal forma no íntimo dos seres humanos que lhes dão harmonia e paz. Em função do ritmo, da melodia e da mensagem, é possível que o inverso ocorra, ou seja, a desestabilização emocional, a afloração de sentimentos menos nobres. A harmonia, em seu sentido mais amplo, é a ciência da combinação de sons, o que forma os acordes musicais, e tem por finalidade a formatação de uma das expressões da criação da beleza.

Em resumo, de acordo com o “Novo Dicionário da Língua Portuguesa”, de Aurélio Buarque, música (do latim musica, derivação do grego mousike, “artes das musas”) “é a arte e a ciência de combinar os sons de modo agradável ao ouvido”, e harmonia (do latim harmonia, derivação do grego harmonía, “união, proporção, acordo”) seria “a consonância ou a sucessão agradável de sons”.

O lugar do Mestre de Harmonia em uma loja é no sudoeste do Templo, à direita da entrada, entre o cobridor interno e a parede lateral, espaço destinado à instalação dos componentes da Coluna de Harmonia e a seu devido posicionamento. Ele trabalha sentado, mas, quando o ritual exige que fique em pé ou à ordem, ele também o faz, independentemente da manipulação da aparelhagem. Da mesma forma procederá quando pedir a palavra, agindo como de costume.

A joia do Mestre de Harmonia é a lira, instrumento de corda antiquíssimo, mas em desuso atualmente. No início, tinha somente três cordas, porque exprimia o valor do ternário e do triângulo, sendo hoje o símbolo da música e da poesia. Sabe-se que a padroeira dos músicos e inspiradora da Coluna de Harmonia é Santa Cecília, apesar de não haver registros históricos sobre suas atividades musicais ou se ela tocava algum instrumento musical.

A função de Mestre de Harmonia é uma das mais importantes, não desmerecendo aqui as outras. Além de participar de cada momento do ritual, o mestre tem o dever de criar o ambiente musical adequado ao momento. Ele deve ter, evidentemente, conhecimento da cronologia do ritual e sensibilidade para colocar a música certa na ocasião certa, como já dissemos. É uma função trabalhosa, visto que o Mestre precisa ter, no mínimo, duas ou três pastas musicais específicas, a fim de que as músicas não se tornem repetitivas ou monótonas, devendo ser selecionadas e catalogadas com antecedência.

Na verdade, é uma atividade espinhosa, pois cada obreiro gosta de um determinado gênero musical e, mesmo dentro do mesmo gênero, opta por subgêneros. Isso ocorre porque cada um tem uma sensibilidade.

Deve-se ressaltar que não há regulamento ou normas relativas à Coluna de Harmonia. No máximo, existem recomendações e, mesmo assim, com certas ressalvas. O regulamento é a sensibilidade musical de quem está no cargo. Além disso, ainda há questionamentos múltiplos, como sói acontecer nas atividades maçônicas. Certa corrente maçônica advoga somente a execução de músicas orquestradas, em que nem mesmo a “Ave-Maria”, de Gounod, pode ser tocada, mas, paradoxalmente, abre exceção para os hinos da maçonaria cantados. Outra corrente pondera que só se devem tocar músicas clássicas, de preferência de autores maçons, e cita uma plêiade de famosíssimos autores, como Mozart, Johann Bach, Franz Liszt, Ludwig van Beethoven, Carlos Gomes e outros menos votados. Determinada corrente propõe a não utilização de músicas sacras, religiosas e populares, estando as cantadas definitivamente fora do contexto. Todas essas correntes tornam árdua a tarefa proposta, confundindo a sensibilidade do Mestre de Harmonia e o impossibilitando de agradar aos irmãos gregos e aos irmãos troianos. Na realidade, nesse cipoal de correntes, vale a sensibilidade musical do Mestre de Harmonia, para quem qualquer música pode ser tocada, respeitando-se a sensibilidade alheia, o momento certo e o velho e bom senso. Por exemplo, na abertura e no fechamento do “Livro da Lei”, a trilha sonora deve ser melodiosa e suave, invocando um profundo sentimento de espiritualidade; quando da circulação do Saco de Propostas e Informações, bem como do Tronco de Beneficência, que a trilha seja melodiosa e nos leve a uma profunda meditação do ato; e, quando do encerramento da sessão, pode ser tocada uma música mais viva e alegre, exprimindo o sentimento de solidariedade dos irmãos e a alegria da participação de uma frutuosa experiência. Por uma questão de bom senso, não se deve tocar música, por exemplo, quando um irmão está falando, lendo a ata ou aplicando a Instrução do Grau, situações que exigem silêncio absoluto.
Esquematicamente, em uma sessão ordinária, poderão ser acompanhados de um fundo musical os seguintes momentos do ritual:

1) abertura da sessão;
2) palavra inicial;
3) abertura do “Livro da Lei”;
4) leitura do salmo;
5) circulação do Saco de Propostas e Informações;
6) circulação do Tronco de Beneficência; 7) palavra final; e 8) encerramento.

Há sugestões de músicas para diversos eventos. Entre eles estão: Sessão Magna de Iniciação; Sessão Magna de Exaltação; Sagração do Templo, do Templo de Salomão, da Regularização da Loja, da Loja de Mesa ou de Banquete, das Sessões Brancas e várias outras formalidades maçônicas.

Em resumo, poder-se-ia dizer que competem ao Mestre de Harmonia, de acordo com Antônio Douglas Zapalla, as seguintes funções: a) dirigir a execução da Coluna de Harmonia; b) assessorar o Venerável Mestre nos assuntos pertinentes à Coluna de Harmonia; c) manter em perfeito estado de conservação, organização e funcionamento os equipamentos e os materiais da Coluna de Harmonia; d) propor ao venerável mestre a aquisição de CDs, fitas e material necessário à Coluna de Harmonia; e) selecionar a sonoplastia de efeitos especiais e os trechos musicais para os trabalhos ritualísticos, incluindo as pausas e os eventos previstos – aqui é oportuna a advertência: não basta, entretanto, escolher qualquer música, sem nenhum cuidado ou critério. É indispensável que, em todos os momentos, haja compatibilidade e adequação entre o sentido e a natureza do evento e do trecho que o acompanha; f) organizar e gravar a sequência musical adequada para cada tipo de sessão, ouvindo antes o Venerável Mestre, devendo existir perfeita correção entre os tempos dos conteúdos da cerimônia e das músicas neles utilizadas; g) sugerir ao Venerável Mestre um treinamento particular antes das sessões mais complexas, de maneira que, estando preparada a trilha sonora, a cerimônia não transcorra mais rápida ou lentamente do que o andamento dos trechos musicais escolhidos; h) interromper a música apenas quando terminar a frase musical – a não observância dessa regra comprometerá a beleza da combinação da música com o evento.

Mutatis mutandis, a função do Mestre de Harmonia, embora ela seja de grande importância, não exige nenhum doutorado em música, nem mesmo que a pessoa seja cantora, expert ou um instrumentista virtuoso, mas ela precisa gostar de música, ser apaixonada por ela e ter uma sensibilidade musical para vibrar nossos sentimentos em direção ao espírito, enfim, ser capaz de sentir, emocionar, e comover.

BIBLIOGRAFIA:

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Disponível em: https://pt.slideshare.net/marcosbuson/jb-news-informativo-nr-0351.
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