O Neófito é colocado sobre um eixo imaginário que cruza a Loja do Nordeste para o Sudoeste, indicados pela posição em Loja aberta do 1º Diácono – Nordeste e pelo 2º Diácono – Sudoeste. O pé direito do Neófito deve ficar no sentido do Oriente para o Ocidente e o pé esquerdo na direção norte–sul, formando um esquadro com ângulo de 90º – o ângulo reto, para simbolizar a retidão com que o Maçom deve primar suas ações. Nesse local ele fica de forma ereta, que é o emblema do espírito maçônico, sua dificuldade de permanecer rígido dá mostras de como é difícil um Maçom manter seus princípios morais. • Engenharia O canto nordeste é o local onde, na construção de todos os grandes edifícios, a pedra fundamental é colocada, dando início ao erguimento de um monumento que deverá durar para sempre. Na Maçonaria, esse monumento é o próprio Maçom e seu espírito maçônico deverá ser eterno enquanto dure o Maçom neste plano terreno, pois o Templo espiritual do qual faz parte é a construção que está se iniciando com a colocação do Neófito nessa posição. • Religiões O costume de assentar a pedra fundamental no canto nordeste do terreno vem de tempos antigos. A linha imaginária Nordeste – Sudoeste simboliza a trajetória do Sol no solstício de verão no hemisfério norte, que se inicia no dia 21 de junho. No lado nordeste, durante o verão, o Sol nasce com toda a sua plenitude, derramando seus raios de luz sobre o mundo, na estação que é a mais comemorada por todos os povos. No curso anual do Sol, o solstício de verão é o ponto norte mais extremo, e os dias desse período os mais longos do ano. Diferentemente dos equinócios de primavera (a partir de 20 de março) e do outono (iniciando em 23 de setembro), nos quais os dias e as noites têm a mesma duração e no solstício de inverno (começando em 21 de dezembro), cujas noites são mais longas que os dias; tudo isso considerado no hemisfério norte de onde a Maçonaria se origina. Desde tempos imemoriais, as principais festas das antigas religiões eram realizadas celebrando o Solstício de Verão, e narrações históricas apontam que nos templos de adoração, o trono do Deus Sol ficava no ponto em que o Sol nasce no canto nordeste do templo; local onde também estava uma pedra onde eram oferecidos sacrifícios aos deuses. Tal era o poder que o canto nordeste inferia nos homens. O Solstício de Verão também influenciou a determinação de datas na Maçonaria, que dedica o dia 24 de junho a São João Baptista, o Profeta da Retidão; a Grande Loja Unida da Inglaterra foi fundada neste dia em 1717. • O Tabernáculo Deus ordenou a Moisés que construísse uma tenda no Sinai para servir de local para os cultos religiosos dos Hebreus e para a guarda da Arca da Aliança com as Tábuas da Lei, antes da construção do Templo de Jerusalém, a essa tenda deu-se o nome de “Tabernáculo”. Pelas características especiais do povo Hebreu à época, o Tabernáculo era um Templo provisório e portátil, que podia ser facilmente levado para onde o povo se dirigisse. Mas sempre era erguido com seu eixo orientado no sentido oriente – ocidente, com o altar dos sacrifícios colocado no oriente, de forma que o sacerdote ficasse voltado para o nascer do Sol na cerimônia. O Tabernáculo possuía uma fonte de água no seu Canto Nordeste, para que ali os “Cohanim” (Sacerdotes do Templo) realizassem suas abluções, lavando suas mãos e pés, para estarem puros e limpos para suas orações e oferendas no Santuário. • Na Grande Pirâmide Os Arqueólogos que estudaram a Grande Pirâmide do Egito notaram que o meridiano da Grande Pirâmide divide a região do Delta do Nilo em duas partes exatamente iguais. Também descobriram que prolongando as diagonais que vão do vértice da pirâmide para os seus cantos nordeste e noroeste até chegarem ao Mediterrâneo, o triângulo assim formado encerra de forma perfeita toda a área do Delta. • Na Maçonaria Por tais crenças, acredita-se que na Maçonaria os praticantes do Rito de York ou de Emulação resolveram adotar tal ponto para o início do implementação dos sentimentos maçônicos no Neófito, que vai ser orientado para a prática das virtudes maçônicas. Todo Maçom é um Templo vivo, e o G\A\D\U\ nos criou para que atingíssemos a perfeição. O Neófito é uma Pedra Bruta que deve ser trabalhada para que possa ter uma forma perfeita a fim de fazer parte de um Templo sólido, principalmente com inabaláveis bases morais. Tão importante para a Maçonaria é essa nova pedra, que é colocada em local de grande destaque no canto nordeste e onde começa a ser trabalhada para chegar à Pedra Polida, encaminhando-se para a Perfeição, que só será atingida quando chegar ao Or\Et\, após a passagem para a nova vida, atingindo ao cume da Esc\de Jacó. Colocado no canto nordeste, e olhando para o sudoeste, o Neófito tem, figuradamente, o Sol, nosso astro maior, ao seu lado esquerdo em sentido de suas costas, espalhando a luz para o caminho à frente, evitando que os raios solares firam os seus olhos, não o impedindo de enxergar plenamente todo o caminho que tem para trilhar, e cujo sucesso depende exclusivamente de seu trabalho e dedicação. À semelhança da purificação na fonte do Tabernáculo, o Neófito no canto nordeste também transmite a certeza de estar puro e limpo para ingressar no seio da Maçonaria, por isso se mostra desprovido de metais e bens terrenos. No canto nordeste, o Neófito começa a tomar conhecimento das virtudes que caracterizam o Maçom. A primeira delas, a Caridade, que é a mais marcante no coração do Maçom. Quando o Neófito é convidado a colaborar com necessitados, não tem como dar sua contribuição, pois não carrega valores materiais, mas ficará na mente seu desejo de depositar algo na Sacola de Benemerência, e que ficou impossibilitado de realizar. Quando em circunstâncias futuras for chamado a auxiliar, o fará com satisfação visando suprir a falta cometida na cerimônia de Iniciação, e lembrará que seu auxílio material deverá ser complementado com seu trabalho pessoal, colocando-se sempre à disposição de Irmãos necessitados. Muitas das vezes, o auxílio material não é o mais importante, mas sim o espiritual. Não se deve dar peixes, mas sim ensinar a pescar. O dar metais representa o caminho mais confortável em atender ao necessitado, mas não é o mais duradouro, uma vez que as necessidades retornam muitas vezes com mais intensidade. Se o homem não aprender a buscar fontes de recursos com seu trabalho pessoal, ficará sempre dependente de outros, o que o levará à acomodação, uma vez que sempre que suas necessidades aflorarem sabe que pode encontrar alguém disposto a fornecer os recursos para satisfazê-las, sem lhe cobrar retribuição nem iniciativa para captação dos meios com seu próprio trabalho. • Virtudes maçônicas Aprendemos que a Caridade tem por irmã a Misericórdia, abençoando aquele que dá e aquele que recebe. Misericórdia é a virtude do perdão. Perdoar não é esquecer, nem tornar uma falta nula ou não acontecida, nem é a clemência que renuncia a punição, nem é a compaixão que significa demonstrar simpatia no sofrimento. Não podemos simplesmente esquecer os crimes nazistas, isso seria faltar com a fidelidade às vítimas; nem esquecer quem nos roubou ou magoou profundamente. Ter misericórdia, praticar o perdão, é cessar de odiar renunciando à vingança. Entender que o outro é um ser dominado por paixões, que não lhe permitiram agir de maneira contrária. Devemos vencer o ódio em nós, pelo menos na impossibilidade de vencer em outrem, de sermos felizes com a possibilidade de nos dominar, de alcançar a vitória sobre o mal e, também, sobre o ódio não somando ódio ao ódio. A misericórdia não pressupõe o esquecimento do crime ao criminoso, nem a abolição da falta, que permanece; mas suprimindo o ódio dispensa justificativas. Assim como aplacando a cólera e o desejo de vingança, permite a realização da justiça. Cristo do alto da cruz deu a maior prova de que se pode ser misericordioso quando disse: “Pai perdoa-os, …” O Maçom deve ser acima de tudo misericordioso. Sendo misericordioso podemos dizer com o coração aberto que não entramos simplesmente na Maçonaria, mas que a Maçonaria entrou em nossos corações. Fontes de referência: – Ritual de Emulação (Rito de York) – The Northeast Corner – autor desconhecido – O Livro de Hiram – Christopher Knight e Robert Lomas – Dicionário Enciclopédico de la Masoneria – D. Lorenzo Frau Abrines – Pequeno Tratado das Grandes Virtudes – André Comte-Sponville