No mundo profano, o bode é o símbolo da maçonaria, sendo ligado por muitas vezes ao satanismo. Porém, para nós, Filhos da Viúva, qual será o seu Real significado?

Ao adentrar neste ramo de pesquisa, na busca da analogia do Bode com a nossa Sublime Instituição, relacionei algumas versões que tivessem realmente um sentido histórico e filosófico para nossa Guilda, com o devido cuidado de não deixar que relatos fictícios ou informações inválidas pudessem influenciar tais relatos. Assim destaco-as:

1. Templo de Salomão:A tradição do bode remonta ao Magnífico Templo de Salomão. O bode era o animal apartado do rebanho e deixado só na natureza selvagem, como parte das cerimônias hebraicas do Yom Kippur, o Dia da Expiação, na época do Templo de Jerusalém. Esse rito é descrito na Bíblia em Levítico, capítulo 16. Conta-se que dois bodes eram levados, juntamente a um touro, ao lugar de sacrifício, como parte dos Korbanot (oferenda) do Templo de Jerusalém. No templo, os sacerdotes sorteavam um dos bodes. Um era queimado em holocausto no altar de sacrifício com o touro. O segundo tornava-se o bode expiatório, pois o sacerdote punha suas mãos sobre a cabeça do animal e confessava os pecados do povo de Israel. Posteriormente, o bode era deixado ao relento na natureza selvagem, levando consigo os pecados de toda a gente, para ser reclamado pelo anjo caído Azazel. Essa versão, autores relacionam com a Ordem por nós termos, como alicerce, a lenda do Templo de Salomão e utilizarmos seu simbolismo. Sendo nós, Maçons, aquele que é levado à frente do altar referido e salvo, indo para o mundo profano, o mundo selvagem.

2. Do Apóstolo: A posterior, por volta do século III da era Vulgar, quando os Apóstolos peregrinavam pelo mundo conhecido a fim de divulgar o Cristianismo, Paulo, apóstolo Cristão, em passagem pela Palestina Judaica, observou que durante esse período de festividade supracitado os hebreus conversavam ao “pé do ouvido” com um bode. Intrigado, pergunta a outros hebreus que ali estavam próximos e revezavam na conversa com o animal. Sua curiosidade provinha do que decorria e o motivo de ser aquele animal. Um deles respondeu que a citada “prosa” era uma forma de confessar seus pecados e segredos, porque o bode nada contava, assim estavam seguros e redimidos, sendo uma tradição Judaica que advinha da época do Templo. Interessante salientar que, anos depois, a Igreja incorporou tal prática do confessionário em seu Rito e instituiu o voto de Silêncio. Avançando na linha do tempo, chegando ao período da Inquisição da Igreja Católica, um Concílio (organização religiosa) perseguia todos os HEREGES, por consequência, os Maçons. Tal Concílio buscava desvendar nossos Augustos Mistérios, através da tortura e opressão. Porém nossos Ir.: não os revelavam. Assim, os Inquisidores falavam:
“Senhor, estes hereges maçons parecem bodes, por mais grave que eu torne o processo de flagelação a que lhes submeto, não consigo arrancar de nenhum deles qualquer palavra.”

3. Iluminista: No Século XVIII e XIX, na França, a Maçonaria viveu o seu período de “clandestinidade” e, assim, não podiam mais constituir fisicamente suas Lojas, pois havia uma proibição do Governo Imperial para qualquer reunião de pessoas, pelo medo de um motim. Buscou-se, então, burlar tal empecilho. Logo, a solução foi se reunir em locais públicos ou em eventos sociais, que decorriam em residências e estabelecimentos comerciais. Para um Maçom saber se em um local encontrava-se uma Oficina em funcionamento, bastava verificar a frente do estabelecimento, se existia um bode amarrado. Assim, a partir desse SINAL, o Irmão sabia que havia uma reunião naquele local. Cabe salientar que alguns estabelecimentos ficaram conhecidos, na época, como “A CASA DO BODE” ou Adega do Bode, devido ao grande número de reuniões que ocorriam no local. Isso tudo, oculto ao olhar profano.

5. Materialista: É a versão mais moderna e tem seu sentido filosófico. Quando um maçom era apegado demais à matéria e aos seus metais, não praticando como deveria a Fraternidade, era chamado de Bode, pois esse homem estava amarrado ao mundo profano, bem como o bode ao
velho Templo.

6. Mandeísta: Conta-se que surgiu de São João Batista, quando houve o aprisionamento de João, que ocorreu na Pereia, a mando do Rei Herodes Antipas I, no 6º mês do ano 26 d.C. e foi levado para a fortaleza de Macaeros (Maqueronte). Salomé conseguiu coagir o Rei na morte de João e a sua cabeça foi-lhe entregue numa bandeja de prata. Assim, seus seguidores sabendo do ato que se sucedeu, esperaram que a cabeça de seu Mestre fosse descartada para que pudessem recolhê-la e retirá-la do Palácio de Herodes. Para isso, tiveram que enrolá-la em feno e palha, com objetivo de escondê-la dos guardas e de curiosos. Logo, quem os interpelava, querendo ver o que carregavam enrolado num pano, tinha a impressão visual de ser a cabeça de um BODE, devido ao sangue, ao feno, e à palha misturados à barba e cabelos do líder essênio. A partir desse fato, os discípulos de nosso Patrono, quando queriam fazer referência ao Mestre Essênio, utilizavam-se da expressão “O BODE”, ficando então conhecidos, posteriormente, como os “Seguidores do Bode”.

7. Medieval ou Escocesa: Esse relato advém da Idade Média, onde o bode era o símbolo do Judaísmo. Assim, judeus e os maçons(segundo a Igreja, praticantes de seita judaica) eram entendidos como seres demoníacos. Desse modo, era costume castigar os judeus (entendam maçons) acusados de práticas heterodoxas, fazendo-os circular montado sobre um bode, castigo esse reservado apenas aos criminosos e inimigos do Estado. Por vezes, esses castigados empunhavam cornos e barbichas de bode, e de acordo com tradição popular, dizia-se que o seu cheiro tinha o odor nauseabundo exalado por esse animal. A associação ao animal e, por conseguinte, ao Demônio, era de tal forma poderosa que, em 1267, o Concílio de Viena obrigou a todos os tais praticantes o uso de um chapéu pontiagudo como um corno – o pileum cornutum.
A própria iconografia da época demonstra essa aversão e perseguição aos bodes. Logo, era conhecido como bode aquele que representa o Diabo, segundo a Igreja Romana. Comprovamos isso verificando através dos dizeres da Igreja Católica(Instituição que dominou a política da era medieval). Ensinavam em seu catecismo que aqueles que aceitavam Cristo eram ovelhas, assim, Cristo veio para separar as ovelhas dos bodes, os condenados, e isso iria ocorrer no Juízo Final. A Igreja Romana, sendo mais forte até que o próprio ESTADO constituído, dominou a opinião da massa, ensinando que tais integrantes da sociedades eram bodes, elementos ruins a serem execrados da sociedade.
Assim, estudando livros antigos e outros relatos históricos, cheguei a conclusões sobre o significado desse animal, como o Abeerden Bestiary, que apresenta o bode como o animal que melhor representa o vício da luxúria, entregando-se sem pudor, aos prazeres da carne. Durante a Idade Medieval, a iconografia trazia a imagem do Demônio como sendo chifrudo, barba pontiaguda, cascos e rabo bifurcados. Ainda dizia que o bode era usado para invocação de feitiços de bruxaria, entendendo que tudo que foi feito através das Eras foi uma forma de dominação de massa utilizada pela maior instituição da época, a Igreja.
O simbolismo da imagem do bode, acredito que é filosófico, é mais profundo. De todos os sentidos vitais, o bode é relacionado ao mais nobre – o da Visão. Seus olhos penetrantes, que lhe permitem distinguir a erva sã da daninha e apenas da primeira se alimentar, revelam-se afinal como os nossos olhos deveriam ser, enxergando o mundo à nossa volta, separando o que nos traria o mal e se alimentando do que traga as nossas mentes e corações, o mais próximo da Perfeição. Assim como o Bode que sobe a montanha para buscar ervas benéficas para se alimentar, é o Maçom (o Bode filosófico) que sobe os graus de cada rito para poder alimentar sua Alma, de forma sadia, buscando chegar mais próximo do Grande Arquiteto.

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