Há uma grande discussão sobre qual seja o lado do olho (esquerdo ou direito) presente nos símbolos maçônicos. Ele traz, encerrado em si, o símbolo de sabedoria, pois são os olhos que nos revelam a realidade aparente e, através dessa percepção, realizamos vários processos cognitivos importantes. Seu simbolismo vai além da materialidade do olho, como símbolo ele se torna uma representação, inclusive do que não é material. Logo, como sujeitos racionais que somos, tratamos de cartesianar este conhecimento, tentamos dividir a sabedoria em caracteres diferentes, o conhecimento racional e o conhecimento espiritual – um olhar para o tempo e outro para a eternidade (SILESIUS, 1986). Contudo, vale lembrar que, mesmo sob a análise dualística do significado do olho, só se alcança a plenitude do conhecimento quando ambas são contempladas de uma forma holística.

Agora, eis a questão: como símbolo maçônico, usa-se o olho direito ou o esquerdo? Aqui, cabe-nos recordar que as alegorias maçônicas são símbolos que tomamos emprestados de várias civilizações, então para compreendê-los melhor, devemos retomar sua história.
Nas diversas religiões espalhadas pelo planeta – Taoísmo, Islamismo, Budismo, Cristianismo, etc. – aparecem olhos que espelham essa dualidade entre o divino e o material, masculino e feminino, passado e futuro, raso e profundo, etc. No entanto, a maioria dos símbolos maçônicos remete às civilizações hebraico-cristãs e egípcias e, aí um detalhe nos chama atenção: o olho que tudo vê – que está num delta luminoso – está ladeado pela lua e pelo sol, o que nos faz crer que este seja um símbolo de origem egípcia, pois, nessa civilização, estes três símbolos estão imbricados nas lendas que envolvem Isis, Osíris e seu filho Hórus

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Ao longo da história do Egito, o Deus Hórus se fundiu ao Deus Rá, o que fez do seu olho direito um símbolo solar. Lutou com Seth, com o intuito de fazer justiça à morte de seu pai Osiris e para retomar o reino dos vivos no Egito. Durante o combate, feriu seu olho esquerdo e foi curado pelo deus Thoth, esse processo de cura simbolizaria as diferentes fases da lua. Seu olho foi substituído por um amuleto de serpente, usado mais tarde pelos faraós na frente de suas coroas. Assim, o olho passou a ser símbolo de realeza e de poder. O olho esquerdo foi chamado de Wedjat e o direito de Udjat. (CHEVALIER; GHEERBRANT, 1981). O olho que representa o sol, símbolo do deus Rá, também foi chamado de o ‘sol do meio-dia’ – hora dos trabalhos de aprendizes (!).

O olho esquerdo de Hórus passou a ser, então, símbolo de justiça na estrita execução dos ritos e das leis. Sua luta contra as trevas (Seth) passa a ilustrar na história a necessidade permanente de vigilância contra os inimigos e os erros, caráter essencial ao líder real.

O estudo dessa lenda, nos mostra uma íntima relação do símbolo olho com a divindade e o poder. O que é poder sem o conhecimento? O que é o divino, se não o conhecimento absoluto? Ora, temos aqui, então, uma ligação do símbolo olho com o conhecer, o que tudo vê. Ainda resta-nos a pergunta primeira: olho esquerdo ou direito? Então, olhamos para o delta sagrado presente nos templos e vemos que todos têm o olho esquerdo em seu interior: o olho ferido e curado de Hórus.

BIBLIOGRAFIA

CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. Teresópolis: José Olympio, 1981.
QUEIROZ, Álvaro de. Os Símbolos Maçônicos: Aprendiz, Companheiro e Mestre. São Paulo: Madras, 2010.
SILESIUS, Angelus. Não Pertences ao Todo se Fixo é Teu Ser. Petrópolis: Editora T. A. Queiroz, 1986.

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