Somos todos conhecedores, ou pelo menos, lembramos superficialmente de que em determinado momento de uma cerimônia de iniciação, em nosso R∴E∴A∴A∴, o Venerável Mestre afirma dizendo que: ”na Maçonaria nada se faz que não tenha razão de ser”. Baseado nesta afirmativa passamos a refletir a partir deste dia, sobre tudo em um templo maçônico. Observamos e não podemos deixar de observar em todas as sessões, do ocidente ao oriente, de norte a sul, todos os seus símbolos e alegorias, disposições de tudo e de todos em uma Loja em trabalho. A dúvida de todos “os porquês” começaram a nortear meus pensamentos e me conduzir a cada minuto de trabalho nesta oficina. O meu caminhar pela busca constante da verdade, a verdade escondida em cada alegoria. Esta verdade oculta em cada detalhe cabendo a cada um de nós descobrirmos através de nossos esforços, leituras e reflexões.

Em uma instituição filosófica como a maçonaria pouco se pergunta, pouco se fala, ate mesmo entre nós irmãos, o que acho bom, pois entendo que é através de nossa introspecção e em presença do silêncio, que chegamos a um nível melhor de reflexão e entendimento. E é somente através desses estudos e observações que se vai chegando próximo das compreensões dos ensinamentos ocultos e adormecidos nos símbolos. A maçonaria e seus ensinamentos têm ligação permanente com o passado, em meu entendimento temos dois caminhos para compreender o passado: vivendo na época (que aqui neste contexto seria impossível) ou o estudando, sobre aqueles sábios e artistas da época que tiveram a sensibilidade e a habilidade de perpetuarem a sua história, através de literaturas, imagens, pinturas e porque não, nos símbolos que muito tem a nos dizer.

Recentemente ouvi de um irmão: “Não é errando que se aprende, e sim estudando”! Concordo plenamente, com essa frase, pois, aprendemos sim com os erros, mas temos outros caminhos mais prazerosos e menos constrangedores. Mas se errarmos, e podemos errar, já que somos seres imperfeitos e em constante evolução, cabe a todos nós praticarmos um dos grandes baluartes de nossa instituição, que é a TOLERÂNCIA. Se realmente tudo tem uma razão de ser, como consta em nosso ritual de Aprendiz, não vejo outra saída a não ser, mergulhar nas páginas de nossos rituais e literaturas maçônicas, cada um em seu grau e buscar desvendar o significado de cada instrumento de trabalho, de cada alegoria, de cada disposição. Nossas atitudes dentro e fora da Loja precisam ser pautadas e norteadas através de nosso Regulamento Geral, Estatuto, Constituição de Anderson e Landmarks, por isso a necessidade de sua compreensão.

A Maçonaria e a dúvida caminham como irmãs siamesas. Arrisco dizer que a dúvida faz parte da maçonaria, assim como, a morte faz parte da vida. Quem de nós, mesmo os Irmãos em graus superiores, já finalizando nos graus filosóficos, não tem uma duvida? Na verdade arrisco a dizer novamente que, o Irmão maçom fica em constante dúvida e a levará consigo para o oriente eterno, pois nunca aprendemos tudo. Feliz do mestre que sabe que, também é um aprendiz! E por algumas vezes me perguntei: vários porquês… O por quê daquele mosaico? O por quê do compasso, do esquadro, do prumo, da régua de 24 polegadas, enfim, e o que estes instrumentos ricos em ensinamentos nos servirá, principalmente, para aqueles que ainda não os compreenderam seu real significado de transformações positivas em nossas vidas profanas? O por quê o Aprendiz ainda neófito deve permanecer no topo da coluna do norte e não na do sul? O por quê do crânio humano na Câmara das Reflexões? O por quê não chamamos de sala de espera e sim a Sala dos Passos Perdidos? Por quê essa nossa corda estendida, tem 81 nós e suas duas extremidades terminam nos dois lados da Porta do Templo e, seu nó central se encontra acima do delta? O quê aquela luz vermelha no topo da Coluna representa? Essas e dezenas de outros questionamentos me intrigaram e com eles a vontade de buscar a verdade de todos esses “por quês” e posso dizer que, através do pouco que tenho estudado, quase que diariamente, tenho encontrado respostas. São verdadeiras? Ainda não posso afirmar! Mas o tempo se encarregará disso, sem pressa, sem estresse, sem atropelos, afinal de contas, na maçonaria tudo tem o seu devido tempo. Precisamos apenas de tolerância e deixar que as coisas que não dependem somente de nós, simplesmente aconteçam.

Por fim quero falar de outro símbolo, este bem conhecido por todos os Irmãos e até por profanos. Como neófito fui convidado pelo Irmão Mestre de Cerimônia a gravar meu nome na tábua da Loja, junto à mesa do Irmão Chanceler e, assim ele me orientou onde deveria assinar, porém a minha assinatura de anos ganhou mais um complemento, ou melhor, três complementos. Sendo três pontos de forma triangular no final de minha assinatura e, com ela me veio mais uma dúvida, o por quê eu deveria assinar com o tri ponto? Ao colocarmos os três pontos (não obrigatório) da forma correta no final de nossa assinatura temos consciência de seu verdadeiro significado? Ou apenas colocamos porque muitos Irmãos assinam com três pontos? Segundo algumas literaturas a prática de colocar três pontos após a assinatura de um maçom não é tão antiga, ela aparece pela primeira vez em 12 de agosto de 1774 em uma circular do Grande Oriente da França, comunicando a mudança de local e o aumento da anuidade às lojas jurisdicionadas. Apesar de não ser um ato obrigatório entre os maçons muitos se orgulham em usar os três pontos na assinatura. Já diziam meus avós “para quem sabe ler um pingo é letra”… e aqui não poderia ser diferente. Várias são as interpretações destes três pontos após uma assinatura ou após algumas palavras e siglas em nossos rituais, mas uma coisa não podemos negar, que é a sua ligação ao ternário, que como bem sabemos, é algo ligado diretamente ao numero três bem presente em nosso Grau de Aprendiz Maçom. Não podemos ser reconhecidos apenas com nossa assinatura tri pontuados, até por que, muitos são os profanos que a utilizam. Devemos sim, sermos reconhecidos pela nossa “VONTADE, AMOR/SABEDORIA e INTELIGÊNCIA”. Essas qualidades inseparáveis e que, sempre, devem estar presentes nas atitudes diárias de cada maçom.
O maior desafio talvez, não seja o de entender a filosofia maçônica, mas pode ser a dificuldade do maçom de colocar em prática estes ensinamentos, da porta do Templo para fora! Também, não podemos ser reconhecidos, pelo mundo profano, apenas através de nossos distintivos na lapela, através de anéis, bonés e adesivos em carros etc. O verdadeiro maçom deve ser conhecido por seus atos, pela cortesia constante com as pessoas, por sua atitude ilibada, seja em sua exemplar conduta em sua família e no seu trabalho, seja pela caridade e solidariedade anônima.

A maçonaria traz consigo centenas e centenas de símbolos, símbolos estes que tem um papel importantíssimo de desvendar aos Iniciados, sua constante evolução enquanto ser humano. É preciso que mergulhemos nesta simbologia a fim de absorver os conhecimentos e posteriormente aplicá-los em nossa vida profana, se estivermos em maçonaria apenas por estar, em busca de distinções mundanas, curiosidades, status, sem interesse pela leitura, sem aprendizados e principalmente, desinteressados em desbastar constantemente a nossa pedra bruta interna, infelizmente, apenas passaremos pela maçonaria, sem vivenciá-la e compreendê-la de verdade.

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ARLS Cidade dos Profetas n°152 Oriente de Congonhas • GLMMG/CMSB

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