No dia da cerimônia da minha posse como venerável mestre da Loja Fidelidade & Justiça – 565 de Sorocaba –SP, parei para pensar sobre qual seria a reflexão que iria propor aos irmãos após a sessão. Qual seria a proposta naquele instante que viesse preencher de sentido a nova etapa da minha vida em particular que sinalizasse aos irmãos a continuidade na direção justa e perfeita, um prisma reflexivo atualizado dos nossos trabalhos em harmonia com os demais irmãos do universo. Aponto com discernimento aos irmãos do universo porque acredito mesmo que nossos atos devem transcender os espaços do templo físico e do tempo ínfimo que vivemos. A vida é tão rara. Diante da dinâmica da pós-modernidade que nada espera, tudo é apressado pelo soar dos telefones tocando, vibrando, bipando, dos e-mails explodindo na tela do computador, da poluição sonora entrando pela janela e atravessando os tímpanos sem proteção, da inteligência artificial, da internet das coisas, da revolução 4.0 das notícias superficiais e das fake-news que insistem em invadir nossa atenção, enfim, calmamente no epicentro deste cenário de “vida e caos” me veio à lembrança do nosso pavimento mosaico. O pavimento mosaico que dentre muitos outros significados significantes, também simboliza os aspectos dúbios e duais, os contraditórios, os paradoxos, o positivo e negativo, o certo e errado, à esquerda e a direita, o bem e mal, a virtude e o vício, a luz e a ignorância, a liberdade e a escravidão, e todos os acréscimos de polos da nossa visão da rotina e da retina maniqueísta, e toda sorte indutiva que permeia nossos sentidos incapazes e ingênuos. Tudo está ali no tabuleiro da vida. Enfim inspirado por esta imagem de simbolismos do piso donde fincamos os nossos pés em convicções em busca das verdades quase toda semana, me permiti criar o que posso chamar da “Tese do rejunte”. Decidi propor então a todos os irmãos (e isso inclui você agora, irmão leitor) a prestar mais atenção ao rejunte do pavimento mosaico da loja, um simples novo desafio de lançar um olhar mais preciso aos detalhes. Um perceber e ver físico e intelectual de que entre um revestimento preto e um revestimento branco há uma pequena fresta de patamar aprofundado no qual se faz a união entre as partes da superfície revestida por opostos. Você também poderá constatar pelo tato, que o nível do rejunte é um pouco mais baixo, o que pode indicar simbolicamente o pensamento e comportamento de algo mais profundo, um pequeno desnível, porem sensível e enorme diferencial que estava ali, todo o tempo do mundo nos mostrando que talvez o segredo esta no “rejuntar”. Minha proposta é fomentar um despertar crítico de consciência e atentar para o fato de que “reunir irmãos num estado somente revestido em superficialidades” não é o mesmo que “Unir irmãos profundamente”. Como você está se sentindo em suas relações? Na sua Loja e no mundo profano? Em um mundo tão fragmentado, egoísta, relativizado, já é sem tempo o momento de atuarmos como “rejuntes” para dar novo sentido, para resgatar valores e obter alguma unidade para a vida tão plural. Deste fato acredito que o exercício mais amplo de irmão trabalhando para o “rejuntar” fará total diferença para a Maçonaria de hoje, e principalmente para suas ambições legitimas que visam às próximas e novas gerações. Será preciso esfregar os olhos acomodados para se livrar da visão míope, enxergar para além dos muros impostos pela linguagem geracional, olhar tudo como um “Todo” de fato e aproximar as extremidades que tendem a brigar por imposições ideológicas ultrapassadas. No contexto prático do existir sendo um Ser livre especulativo, é tratar de assumir o papel do “rejunte” na obra, é se colocar em um nível mais profundo do que aquele que está no revestimento acima, e ir além da visão tecnologicamente objetivada e utilitária do mundo sensível muitas vezes banalizada por falsos afetos. Será preciso “Pensar para continuar Existindo”, utilizar nossa coragem e racionalidade genuinamente humanas, pois é isso o que nos trará Luz, clareza e critica necessárias para edificar a nós mesmos, hoje, e a frente no futuro, isso se quisermos manter algum propósito nobre como maçons. Proponho Descartes, e um finalizar imediato do nosso olhar simplista, aquele focado somente no revestimento publicitário das coisas, do superficial supérfluo. Devemos nos convencer e rápido que um olhar acomodado, cansado, sem brilho e motivação, não é, e nunca será capaz de se transformar em ações que possam dar a sustentabilidade a nossa Ordem, mesmo sublimes objetivos, sejam eles quais forem. E lá se foi o bonde da historia! Necessitamos imediatamente propor e dar maior vazão à possibilidade de ampliação dos nossos limites, compreender nosso lugar na obra divina, porem do século XXI, dialogar socialmente e evoluir amplamente, sair das bordas e caminhar para o centro aprofundado, caminhar para um equilíbrio racional e democrático pela tolerância e pela compreensão da diversidade. Somos perfeitos imperfeitos. Finalmente, quiçá um dia poderemos acessar a base sólida que envolve e suporta a tudo e a todos, a base fundamental não aparente, mas onipresente. É o cimento? Sim, Deus é o cimento. O verdadeiro piso concreto, o alicerce, a argamassa por trás de tudo, certamente inatingível por hora. Sendo assim pense e celebre oportunidade, “ser rejunte” nos coloca mais próximos da eternidade. O momento é agora, a hora é já!