Capítulo XXXI: Presença de espírito

Denomina-se presença de espírito à facilidade com que certos oradores conseguem responder às provocações, zombarias e insultos, venham estes de algum adversário, no caso de debates, ou do público, no caso de discursos ou palestras. A presença de espírito é um dom e quem o possue consegue livrar-se também de situações embaraçosas que o exporiam ao ridículo ou às gargalhadas dos presentes. Presença de espírito, como diz a velha canção, não se aprende no colégio, mas na prática; cultivá-la é uma arte que depende de conhecimento, vivência e experiência. A impossibilidade de ensiná-la nos obriga a simplesmente enumerar alguns casos, célebres, ocorridos com oradores de renome:

1. Winston Churchill, o grande estadista inglês que, com seus vibrantes discursos, manteve acesa a chama da esperança de seu povo durante a segunda guerra mundial, conclamando-o à vitória quando tudo parecia estar perdido, quando Londres desmoronava sob o intenso bombardeio dos nazistas, é até hoje relembrado pela sua língua ferina e suas prontas respostas à qualquer tipo de provocação. Certa vez, enquanto discursava, citou a famosa frase de Shakespeare “Meu reino por um cavalo” e alguém do público, então, gritou: “- Não serve um burro?”
Churchil, sem se perturbar, prontamente respondeu: “- Serve! Pode subir ao palco!”

2. De outra feita, Winston Churchill, referindo-se a um adversário, ator teatral, que iria estrear uma nova peça, anunciou que iria assistí-la, apesar da rivalidade que os separava. O ator, estando presente e querendo aproveitar a oportunidade para ridicularizá-lo, gritou:
“- Terei muito prazer em recebê-lo. Venha, e traga um amigo…se ainda tiver um…”
Churchil, impassível, respondeu: “- Irei na próxima semana… se a peça ainda estiver em cartaz.”

3. Bernard Shaw, o famoso e polêmico escritor e ensaísta que se notabilizou pela postura crítica em relação ao feminismo exagerado dos anos 60, certa vez foi convidado a um debate promovido por mulheres adeptas desse movimento; lá, polemizando e argumentando contra os princípios por elas defendidos, ouviu uma delas gritar:
“-Se o senhor fosse meu marido, eu lhe dava uma xícara de café com veneno.”
Sem se abalar, Shaw respondeu: “- E se a senhora fosse minha mulher… eu tomaria.”

4. O famoso escritor norte-americano Orson Wells, que pesava mais de cem quilos e ostentava uma enorme barriga, certa vez foi recriminado por um entrevistador que o aconselhou a “comer menos para ter mais saúde”.
“- Meu avô morreu com 98 anos, meu pai com 112”, respondeu Wells.
O entrevistador, espantado, perguntou: “- Incrível… e eles eram gordos como você?”.
“- Não… mas em compensação eles não se metiam na vida de ninguém”, concluiu Wells.

5. O pirata Lafitte, que durante muitos anos aterrorizou os navios mercantes da França, acabou sendo preso e conduzido à presença de Napoleão, que lhe perguntou:
“- O que leva um homem a se tornar pirata?”
Lafitte respondeu: “- Eu me tornei pirata porque minhas posses me permitiram comprar somente um navio; se comprasse uma frota, seria um conquistador”.

6. Sócrates, quando condenado à morte, foi visitado no cárcere por seus discípulos, que lamentaram:
“- É pena vê-lo morrer inocente, mestre!”.
Sócrates respondeu: “- Preferiam ver-me morrer culpado?”.

7. Mahatma Gandhi, o grande líder e mártir responsável pela libertação da Índia, tendo prometido à si mesmo não usar roupas ocidentais, sapatos ou dentadura enquanto seu país não desenvolvesse a tenologia de produzí-las, apresentava-se tal qual um faquir, mesmo em grandes ocasiões ou solenidades. Certa vez, quando seu país ainda era apenas uma colônia explorada pela Inglaterra, foi convidado a comparecer ao Parlamento Britânico e, lá, se apresentou semi-nú, com suas vestes habituais, levando inclusive sua bengala de apoio e a cabra que lhe fornecia a única alimentação quando em viagem: o leite.

Apresentado ao Rei da Inglaterra, este lhe perguntou:
“- Como vai a Índia, Mister Gandhi ?”
E ele, sem demonstrar constrangimento ou medo, respondeu: “- Vossa Majestade quer saber como vai a Índia?…Olhe para mim!”

Resposta rápida, jogo de palavras, astúcia, raciocínio, agilidade mental…eis os segredos daquilo que chamamos de “presença de espírito

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Gr∴Secret∴ Assist∴ de Cultura e Educação Maçônicas do GOSP/GOB. Autor de: “O Livro do Orador”, editado pela Madras Editora.

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