Capítulo VIII – A utilização de um gravador. O progresso tecnológico colocou, nas últimas décadas, uma poderosa ferramenta à disposição daqueles que pretendam desenvolver os recursos da oratória: trata-se do gravador, hoje disponível em uma infinidade de tamanhos e modelos, desde os mais simples até aqueles altamente sofisticados. Para voce, querido leitor, que ensaia os primeiros passos na nobre arte de se comunicar, um aparelho dos mais simples poderá servir; nele, voce descobrirá a sua verdadeira voz, aquela que os outros ouvem quando falas, e não aquela que escutas e que chega ao teu cérebro distorcida, por vibrar em ressonância com os ossos de teu crânio. Todos nós, ao ouvirmos nossa própria voz em um gravador, estranhamos e não a reconhecemos prontamente; muitos, nessa experiência, chegam a se perguntar: – Mas, esse sou eu mesmo? E muitas vezes se decepcionam com a resposta porque descobrem não ter a bela voz que imaginavam… mas não importa! Dispomos hoje de técnicas muito avançadas para melhora-la; descobrir nossos defeitos e procurar corrigí-los é o que verdadeiramente nos ensina a maçonaria, ou seja, lapidar a P:.B:. e transforma-la em P:.P:. ou, melhor ainda, em P:. C:. Começe pelas etapas mais simples. Grave um texto discursivo qualquer, extraído de um livro ou utilize os textos sugeridos nos capítulos V, VI e VII. Analise-os detalhadamente, verificando as qualidades e defeitos de sua voz ; constate se ela é grave ou aguda, se voce fala lenta ou rapidamente, se pronuncia todas as palavras ou “engole” algumas…e assim por diante. Repita este exercício muitas vezes, até ter a perfeita consciência de tua voz, até que possas realmente reconhece-la e diferencia-la das demais. Anote tudo que descobrir e guarde a gravação; no futuro ela te será de grande valia, quando, por comparação com gravações mais recentes, poderás apreciar os teus progressos. Aos que desejam se aprofundar ao máximo na arte de falar em público aconselhamos, além do gravador, o uso de uma filmadora; ela dará informações adicionais a respeito da performance do orador, tais como sua postura, naturalidade, desembaraço, olhar, posição dos pés e das mãos, movimentação da cabeça, etc. E para finalizar, uma recomendação: por mais úteis e interessantes que sejam o gravador e a filmadora, nunca abandone a “técnica do espelho”, explicada no capítulo anterior. Capítulo IX – Como superar o medo do público. Certa pesquisa, realizada em 1998, entre 429 alunos da Universidade de Cambridge, revelou que os dois maiores “medos” daqueles jovens universitários eram, respectivamente: 1º) O medo da violência física manifestada em assaltos, sequestros, acidentes de trânsito, etc. 2º) O medo de falar em público, descrito das seguintes maneiras: Antes de levantar-me para falar, sinto-me inseguro e nervoso (87%) Enquanto falo, fico sem saber onde colocar as mãos (72%) É muito difícil encontrar as palavras certas, que exprimam corretamente meus pensamentos (57%) Sinto as pernas trêmulas (38%) Quando começo a falar, parece que vai me faltar o ar (27%) Fico tão assustado que nem sequer sei o que estou dizendo (18%) Não reconheço a minha própria voz, quando falo à um grupo de pessoas (12%) Também nas lojas maçônicas esse temor se manifesta, principalmente entre os aprendizes e companheiros; alguns, contudo, acabam por perderem a inibição ao galgarem o grau de mestres e ocuparem cargos em loja, sentindo-se mais à vontade para falar e opinar; porém, mesmo estes tremem se forem convidados a substituir o Orador da Loja; e tremerão ainda mais se forem compelidos a falar perante uma assembléia de irmãos de outra loja ou, ainda pior, em presença de estranhos, numa sessão pública. A verdade é que sentimos medo daquilo que desconhecemos e um dos passos mais importantes para perder o temor do público, portanto, é conhecê-lo. Geralmente aqueles que se iniciam nas artes oratórias ignoram as reações do público, desconhecem a psicologia das multidões e temem a possibilidade de serem vaiados, incompreendidos ou ridicularizados. Um orador experiente, contudo, antes de se apresentar, procura saber com qual tipo de público está lidando: se amigável, indiferente, crítico ou hostil. Estudaremos, a seguir, esses quatro tipos: Amigável – Este é o público que geralmente encontramos no interior de uma loja maçônica; sendo esta uma Irmandade, o orador sente-se confiante e seguro, pois está entre Irmãos. Além disso, a própria filosofia maçônica preconiza a tolerância; tolerância não com êrros ou mentiras, mas com idéias, opiniões e pontos de vista contrários. Em meus muitos anos de maçonaria, nunca presenciei um orador ser vaiado ou ridicularizado pelos seus irmãos; neste quesito você, maçom, à quem é direcionada esta obra, está em grande vantagem quando comparado aos oradores do mundo profano. Então, tire o máximo proveito dessa situação favorável, desenvolvendo na loja as suas habilidades oratórias; afinal, a maçonaria é uma escola de liderança…e um líder deve dominar o uso da palavra. Indiferente – Este grupo também está presente nas sessões maçônicas; trata-se de irmãos que compareceram à loja sem saber que você iría proferir uma palestra ou preencher o “Tempo de Estudos”, ou de irmãos que compareceram mais com o intúito de participar de alguma votação importante na “Ordem do Dia”, ou ainda de mestres com cargo que estão presentes por “dever de ofício”e que, na última hora, descobrem que o palestrante irá abordar determinado tema; como não foram à reunião com o fim específico de ouvir uma palestra, seu nível de interesse poderá ser pequeno e, nesse caso, o orador, para estimulá-los, deverá iniciar a sua fala interagindo com eles, proferindo frases de grande impacto emocional, suscitando questões polêmicas, etc. A respeito dessas questões falaremos no capítulo xxxxxx. Para despertar o interesse de um público indiferente, o bom orador também poderá alterar o foco da apresentação, sem fugir da essência do tema, adequando-o, porém, às necessidades de uma platéia específica, como demonstraremos com o seguinte exemplo: Certa ocasião fui convidado a proferir uma palestra de minha livre escolha para um grupo de jovens que participavam de um clube de serviços. Decidi apresentar uma visão abrangente da filosofia maçônica, discorrendo a respeito da tríade liberdade, igualdade e fraternidade e anunciei a palestra com o título de “Os ideais da maçonaria”. Contudo, antes mesmo do início da palestra, conversando com os presentes, percebi que aqueles jovens, motivados pela ação social e prestação de serviços à comunidade, estariam pouco propensos a ouvir abstrações e questionamentos filosóficos; assim, desviei o foco da palestra para as obras sociais das lojas maçônicas, o trabalho desenvolvido por maçons em creches, orfanatos e asilos. Os ouvintes imediatamente identificaram-se com a minha exposição e passaram a demonstrar grande interesse. Crítico – Este é o público com o qual o orador tem mais dificuldades em lidar. Na maçonaria, muitas vezes nos deparamos com tal situação na “Ordem do Dia”, quando, por exemplo, determinado orador inscreve-se para propor algo à loja; embora todos o ouçam com atenção, caso não concordem com a proposta estarão mentalmente elaborando contra-argumentos para derruba-la. São nessas ocasiões que o bom orador deve se utilizar de determinadas técnicas de persuassão e convencimento que serão abordadas no capítulo xxxxxxx. Hostil – Não há público que seja totalmente hostil às palavras de um orador ou palestrante, a não ser que este, no decorrer de sua exposição, provoque reações de hostilidade e/ou rejeição. Para evitar a presença de pessoas hostís, recomenda-se ao orador que defina bem, no nome e na sinopse da palestra, a “linha de pensamento adotada”. Percebam, no exemplo abaixo, a importância de tal definição: Certa vez compareci à uma palestra cujo título foi assim anunciado: “A vida após a morte”; o público atraído ao evento era constituído, em sua grande maioria, de espíritas, que crêem na reencarnação e o palestrante abordou a questão sob o ponto de vista da ressureição. Resultado: conflito, polêmica, bate-boca, pessoas se retirando do recinto, etc. De quem a culpa? … do palestrante, é claro, que deveria anunciar sua palestra com um título mais específico, como por exemplo: ” Uma visão reencarnacionista da vida após a morte”. Ainda com relação ao público, podemos classifica-lo por inúmeros outros critérios: Faixa etária: crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos. Sexo: homens, mulheres, misto. Crenças: cristãos, muçulmanos, budistas, ateus, espiritualistas, etc. Profissões: advogados, economistas, policiais, médicos, militares,etc. Para cada um desses grupos há uma linguagem específica e um bom orador deve conhece-las todas, utilizando-se de exemplos, casos e enfoques com os quais o grupo esteja mais familiarizado. Nas lojas maçônicas podemos identificar também vários grupos, de acordo com o tipo de sessão: grupos de aprendizes, companheiros, mestres, lowtons, sobrinhos, cunhadas, etc. e para cada um deles se faz necessário um cuidado adicional: não revelar segredos relativos à ordem maçônica e aos graus simbólicos ou filosóficos, tais como diálogos ritualísticos, sinais, toques e palavras privativas aos graus e/ou ritos. Leave a ReplyYour email address will not be published.CommentName* Email* Website Salvar meus dados neste navegador para a próxima vez que eu comentar. Δ