Para que se possa buscar a compreensão dos aspectos filosóficos e morais da lenda, é necessário que nos recordemos que quando o Templo de Salomão foi concluído e recebeu o depósito do Delta Sagrado, os Eleitos pensaram que o trabalho estava terminado. Ledo engano! Como nos recorda FILHO (2016: 95):

A indolência paralisou os espíritos e perverteu-lhes o coração. O próprio Salomão foi invadido pelo demônio do orgulho; abandonou as veredas da Verdade e da justiça, entregando-se à luxuria vergonhosa; levantou altares a deuses infames. Então, Sião corrompe-se; a Casa do Senhor foi empestada. Os vícios trouxeram o ódio, a superstição e a ignorância.

Ao proceder uma análise a esse trecho inicial, vê-se que constantemente, desde que iniciamos na Maçonaria, nos graus simbólicos, somos instruídos a vencer nossas paixões, pois com nosso desenvolvimento, nosso espírito deve sobrepor à matéria. Dessa forma, ao iniciarmos, a Maçonaria nos ensina que devemos refletir e meditar sobre a jornada que realizamos até aquele momento da Câmara de Reflexões, o que fizemos de nossa vida até aquele momento e, que devemos morrer para o mundo profano (Mundo Maya, da ilusão), para renascer, ou seja, devemos morrer em nós mesmos, eliminando nosso ego, para nascer novamente. No Grau 15, nesse trecho inicial, simbolicamente ele nos ensina o que diariamente vemos no mundo profano, pessoas que deixam “A Casa do Senhor” serem empesteadas pelos vícios e paixões, como a luxuria, ira, gula, inveja dentre outros, levantando altares a deuses como o materialismo, o consumismo, adorando artistas, cantores famosos, que são tão imperfeitos como nós ou pior. Pessoas passam horas e dias a fim, para poder adquirir um celular Iphone novo ou para comprar ingressos de cantores e artistas, que são endeusados pela mídia, mas que na grande maioria das vezes, tem problemas com álcool, drogas dentre outros tantos. Esses são os deuses infames, que naturalmente, e como se fosse uma coisa normal, estimamos, mas quando é para passarmos 10 ou 15 minutos em uma fila de correio ou de banco, achamos um absurdo.
Isso é muito contraditório.

Dando continuidade, FILHO (2016) comenta: A Entrada Santa, que ocultava o Delta, foi esquecida; os descendentes de Davi tornaram-se vis e covardes; os ricos tornaram-se cúpidos; os operários ficaram pobres; a massa da nação quedou-se na miséria. Eis o que aconteceu por terem, os Eleitos, pensado que todo o trabalho, seria daí por diante, inútil e, por isso, não souberam se utilizar da própria Liberdade (FILHO, 2016, 95).

De acordo com a Bíblia, nosso corpo é o Templo de Deus, é como diz o autor, a Casa do Senhor, o Templo de Jerusalém, ou seja, de natureza divina. Sendo nosso Corpo comparado a um Templo, considerasse que nosso Pai Interno está presente em nós, por meio de nossa monada, nossa centelha divina, nosso Delta Sagrado, que nesse momento da lenda, foi esquecido, ocultado…mas por qual motivo?

Como poderia nosso Delta Sagrado brilhar livremente, se nosso templo foi invadido? Comparativamente, podemos utilizar a passagem na bíblia em que Jesus vira as tendas dos comerciantes, fica furioso, chegando a chicoteá-los e expulsá-los do Templo do Pai. Dentro de nosso Templo (Corpo), somos invadidos todo momento, temos vários sentimentos negativos ou pecados capitais que negociam dentro do Templo de nosso Pai Interno, tentando nos dominar e adormecer o pouco de consciência que nos resta.

O trabalho para limparmos ou expulsar de nosso Templo os invasores, esses comerciantes, essas paixões e vícios, a Maçonaria nos ensina a cada passo que damos e nos aprofundamos em seus ensinamentos. Para tanto, a fim de desbastar a pedra bruta, devemos refletir, meditar, observar como atuam esses sentimentos negativos em nós e nos impactam em determinadas situações, compreendê-los e depois tentar extirpá-los de nós. É fácil, não é. Não podemos achar, como os Eleitos, que quando aparentemente nosso Templo foi reerguido, está livre de perigos. No caminho da senda maçônica ou espiritual, a todo momento, temos que estar nos auto-observando, pois senão podemos ser atacados. Já dizia Jesus: Orai e Vigiai, pois senão podemos regredir, cair na entropia da vida horizontal e nos perder. Somente seguindo no caminho do meio até chegar, conforme a Kabala, no Kether e subirmos para o Ain Soph (Absoluto) é que estaremos livres da Roda dos Renascimentos.

Assim, o Cavaleiro do Oriente deve realizar à construção de seu templo, através da morte de si mesmo, do seu Eu, do seu Ego, com base na auto-observação, de sua atuação no seu laboratório alquímico interno, colocando tijolo por tijolo e aos poucos concretizando e reerguendo seu templo sagrado com seu Delta resplandecente.

Bibliografia Consultada
– FILHO, DENIZART SILVEIRA DE OLIVEIRA.
Comentários aos Graus Capitulares do R∴E∴E∴A∴. São Paulo:
Atrolha, 2016, vol. 1 – Graus 15 a 17.

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