Dentro daquilo que a Maçonaria preconiza como ideal, a mente do maçom equilibrado não tolera tudo. É incentivado a ser inimigo figadal dos que tolhem a liberdade das massas e tentam agrilhoar a ele ou seus irmãos. Recebe treinamento para repudiar emoções desenfreadas, que induzem à tirania e conduzem ao despotismo. É intransigente com a intolerância desenfreada que conduz a perseguição ou a ignorância das massas conduzidas por homens inescrupulosos. Sua tolerância deve ser tal que não fique posando qual ingênuo, que confunde tolerância com licenciosidade. A Maçonaria educa aqueles que são iniciados em seus segredos porque é de sua crença que um povo desenvolvido não pode ser escravizado e um povo ignorante não pode ser libertado. O verdadeiro maçom é um estudioso prático, um intelectual que age. Sem estudo não existe progresso. Sem discussão e exercício do pensar não existe evolução. A história da Maçonaria tem em torno de dois séculos. Afirmar que seja mais velha é apenas vaidade de uns poucos que acreditam que quanto mais no passado estiver a origem de uma organização maior é sua credibilidade e grandeza. E neste espaço de tempo ela já angariou miríades de inimigos implacáveis e vingativos, sempre movidos pela intolerância, ignorância e escravidão mental e espiritual. No Brasil, um grande exemplo de intolerância com a escravidão física, mental e espiritual proveio do homem maçom Deodoro da Fonseca. São de sua iniciativa: institucionalizar o casamento civil, tornar sem efeito jurídico o matrimônio religioso; instituir o registro civil; proibir o ensino de religião em escolas públicas; tirar os cemitérios do domínio das igrejas, secularizando-os; promulgar o Código Penal que extinguiu a pena de morte em tempo de paz no Brasil. Mesmo que tenha dirigido o país por curto tempo sob ditadura, ele é um exemplo do homem maçom que atuou na defesa das liberdades constitucionais e direitos inerentes ao povo. Usava da tolerância e da intolerância com equilíbrio. É treinando seus adeptos que a Maçonaria combate intolerância, tirania, fanatismo, brutalidade e ignorância. O fato de desenvolver a tolerância, não significa que ela seja subserviente e sucumba diante da posição de homens mal orientados, mas bem intencionados, pois se assim fosse, ela já teria caído no esquecimento há bastante tempo. No exercício da tolerância e em seu treinamento a Maçonaria ensina que tolerância exige a definição de limites. Quando o maçom filosofa, faz exercícios na arte de pensar, especula e teoriza dentre as mais variadas linhas de pensamento, aí ele exercita a tolerância. Respeita e defende o que o outro maçom diz e pensa, a tal ponto que afirma ser capaz até de morrer para defender o pensamento de seu irmão. Ao maçom é ensinado que o filosofar é pensar sem provas, isto exige tolerância, mas perseverar num erro é para ele uma falta que deve ser combatida, é a intolerância disparada pela ultrapassagem aos limites estabelecidos. É o limite do que é tolerável. Parte do princípio que ao intolerante imoral falta mesmo é inteligência, é desprovido de liberdade e não quer por isto dar liberdade aos outros. Para o maçom a liberdade de espírito vem da experiência e da razão exercida com tolerância limitada, pois só assim ela é efetiva. E como a necessidade de tolerância surge apenas em questões de opinião, então em suas discussões ou estudos, normalmente é de praxe ao maçom sábio fazer severos exercícios de dicotomia, apresentar as mais diversas linhas de pensamento para qualquer verdade que defenda; deixa-se para o irmão ouvinte tirar suas próprias conclusões daquilo que postula em seu constante filosofar. O maçom é condicionado na prática a combater a tolerância absoluta porque sabe que uma tolerância universal é moralmente condenável exatamente porque esqueceria as vítimas em casos intoleráveis de violência e abuso dos tiranos. Isto é, existem situações em que a tolerância em excesso perpetuaria o martírio das pobres vítimas. Dentro dos limites ditados pela moral, tolerar seria aceitar o que poderia ser condenado, seria deixar fazer o que se poderia impedir ou combater. Nesta linha podem-se tolerar os caprichos de uma criança ou as posições de um adversário, mas em nenhuma circunstancia o despotismo alienante de uma pessoa ou instituição. Com humildade aceita que não há tolerância quando nada se tem a perder, haja vista que tolerar é se responsabilizar, porque uma tolerância que responsabiliza o outro já não é mais tolerância. Tolerar o sofrimento dos outros, a injustiça de que outros são vítimas, o horror que o poupa, já não é mais tolerância; é indiferença, egoísmo ou algo pior. Antes ódio, antes fúria, antes violência do que a passividade diante do horror, do que a aceitação vergonhosa do pior! Pela imposição de limites que o homem maçom se impõe em resultado de seu treinamento, uma tolerância universal seria tolerância do atroz. E quando levada ao extremo, a tolerância acabaria por negar a si mesma. A tolerância só vale dentro de certos limites, que são os da sua própria salvaguarda e da preservação de suas condições e possibilidades. Se o maçom enveredasse por uma tolerância absoluta, mesmo para com os intolerantes, e se não defendesse a sociedade tolerante contra seus assaltos, os tolerantes seriam aniquilados, e com eles acabaria também a própria tolerância. O treinamento maçônico revela que uma sociedade em que uma tolerância universal fosse possível, já não seria humana. As conclusões da ordem maçônica levam seus adeptos a verificar que a tolerância é essencialmente limitada, pois uma tolerância infinita seria a fim da própria tolerância. Não se deve tolerar tudo, pois destina a tolerância à sua perda. Também não se deve renunciar a toda e qualquer tolerância para com aqueles que não a respeitam. Aquele que só é justo com os justos, generoso com os generosos, misericordioso com os misericordiosos, não é nem justo, nem generoso, nem misericordioso. Tampouco é tolerante aquele que só o é com os tolerantes. A tolerância como virtude depende do ponto de vista daqueles que não a têm. O justo é guiado pelos princípios da Justiça e não pelo fato do injusto não poder se queixar. Democracia não é fraqueza. Tolerância não é passividade. Moralmente condenável e politicamente condenada, uma tolerância universal não seria nem virtuosa nem viável. A tolerância como força prática, como virtude, tem os seus fundamentos alicerçados no fato de que a fraqueza humana resulta de sua incapacidade de alcançar o absoluto. A prática das oficinas maçônicas, naquelas aonde permanentemente é exercitada a capacidade de pensar, discutir, debater, ouvir e calar revela que a evidência é uma qualidade relativa. Mesmo que algo pareça exato, verdade, correto, pode no decurso de um debate mostrar que não é absoluto, daí nunca admitir-se que uma verdade é absoluta e final. As discussões, longe de afastar um irmão do outro, aproxima-os quando praticam dentro dos limites impostos pela tolerância que todos os seres humanos, indistintamente, são constituídos de fraquezas e de erros. Com isto em vista, o verdadeiro homem maçom, aquele que está desperto e ativo, perdoa as tolices que o outro comete e aguarda que aquele irmão de pensamento equivocado acorde de sua inconsciência, dando cumprimento para com esta primeira lei da sua natureza: a falibilidade. A grande salvaguarda do homem maçom quando se contrapõe aos tiranos, é o conhecimento de que aquele, mesmo que possua em suas mãos o poder absoluto, não tem condições de impô-lo a ninguém, porque não poderia forçar um indivíduo a pensar diferente do que pensa, nem a crer verdadeiro o que lhe parece falso. Esta a razão da Maçonaria ter sido hostilizada e proibida desde quando surgiu na França e Holanda, países onde foi proscrita logo no início de sua expansão. É no pensamento que o maçom deve ser livre de forma absoluta, pois não há liberdade nem sociedade próspera sem inteligência. A tolerância é tema fundamental da Maçonaria, inclusive sua existência é devida a ela, pois nasceu em decorrência da intolerância entre facções políticas e religiosas. É uma tolerância calcada na definição de limites claros. Ultrapassou o limite definido pelas leis em vigor em sua linha de tempo, não tem comiseração, o castigo deve ser aplicado com todo o rigor ou a sociedade fenece. Cada maçom é estimulado de forma diferente pelo ensinamento da Maçonaria. O lastro que carrega mostra que o principal aspecto da ordem maçônica é o desenvolvimento de princípios morais calcados na espiritualidade. A simbologia, a ritualística e toda a filosofia envolvida, sempre em seu centro destaca a espiritualidade. O meio para desenvolver em espírito, apesar de ressaltado, não fica tão evidente. Apenas os mais sensíveis e aplicados a desenvolvem. Existem homens Maçons já bem antigos na ordem maçônica que sequer sabem de fato o que alguns símbolos representam. Um exemplo é o símbolo composto formado pelo esquadro, compasso e o livro da lei, onde o olho perspicaz visualiza um homem circunscrito por uma estrela de cinco pontas, significando a criatura religada ao Grande Arquiteto do Universo por laços de carne, pela espiritualidade encarnada. E disto se deduz a união com o Grande Arquiteto do Universo, sua religação com a divindade. A tolerância é o que permite aos homens da Maçonaria viver em harmonia, onde esta última não existir, certamente não há tolerância com limites. Em consequência não existe amor, a única solução de todos os problemas da humanidade. E onde não existe amor também não se manifesta o Grande Arquiteto do Universo, o Deus que cada um venera a sua maneira, pois este só está onde as pessoas se tratam como irmãos, demonstram e praticam o mais profundo amor entre si. Leave a ReplyYour email address will not be published.CommentName* Email* Website Salvar meus dados neste navegador para a próxima vez que eu comentar. Δ