Ao chegar a frente do templo em dia e horário pré-estabelecido, fui recepcionado pelo Ir∴ Leonardo, conversamos um pouco sobre o que poderia acontecer na iniciação. Ao mesmo tempo em que o Ir∴ confortava-me com suas palavras de que tudo daria certo, que nada de ruim iria acontecer, que as pessoas ali presentes só queriam o meu bem, que o ritual, ora, praticado na maçonaria era milenar, dentro de mim trazia um sentimento dúbio.

Sentimento este que trazia certa preocupação, como eu iria entrar em uma instituição sem deter conhecimento pleno, sem saber o que estaria por vir, mas no meu coração sentia que aquele momento seria único e que deveria seguir as orientações e vivenciar algo que iria mudar minha vida.

Após esta breve conversa, mais dúvidas pairavam em minha cabeça, em seguida o Ir∴ Leonardo disse que eu iria entrar no templo de costas e em seguida seria vendado, assim foi feito. Logo em seguida chegou uma pessoa e ela me conduziu até um local no qual fiquei sentado, parecia que tinha sido colocado em um cubículo de frente a uma parede como se ali fosse um castigo.

Não demorou muito e fui conduzido por uma pessoa por um caminho estreito no qual tinha uma escada, escutava vozes mas não sabia distinguir se era o Ir∴ Leonardo ou não, naquele momento ficava tudo confuso, não conseguia entender o que estava acontecendo, apenas confiava em quem estava me conduzindo.

Fui colocado em uma sala, retirada a minha venda pude observar um homem com capuz. A sala tinha pouca luz, paredes pretas, desenho de uma caveira e algumas frases escritas, observei um castiçal com uma vela, em seguida este senhor que estava de capuz pediu para que eu lhe entrega-se tudo que eu tinha em meus bolsos, assim como todos os metais. Não demorou muito ele voltou e pediu para que eu tirasse um lado da minha camisa, tirasse meu sapato, meia e levanta-se a calça de uma das pernas.

Ali fiquei um período e foi me entregue duas folhas para que fossem preenchidas, respirei fundo, tentei baixar a adrenalina, li tudo e comecei a preencher. Depois de preenchido os papéis, começo a observar com mais calma o que aquela sala pequena com pouca luz poderia me proporcionar, percebi que a falta de visão nos causa dependência plena, você fica sem saber ao certo o que esta acontecendo, você fica perdido no tempo.

Todavia, como ali estava, comecei a ler as frases e refletir sobre a vida e, algo que ficou gravado em minha mente mesmo que já tenha lido diversas vezes na Bíblia Sagrada:
“do pó viemos, ao pó retornaremos” Gênesis 3.19
Pude refletir que realmente não somos nada, pelo simples fato de estar vendado e na dependência de terceiros sem poder ter iniciativa de fazer qualquer coisa. Pensei muito na minha família, pensei como elas estariam, me senti preso, vi o quanto a liberdade é importante para o homem de bem e quanto eu preciso estar próximo das minhas filhas e esposa.

Não conseguia firmar meu pensamento no que estaria por vir, mesmo que fosse utópico tentar entender o que estava acontecendo, a única coisa que conseguia pensar era na minha família.

Enfim, após algum tempo fui conduzido novamente, desta vez para um lugar que trouxe-me insegurança, não pela forma que estava sendo conduzido, pois, esse foi o liame entre eu e a maçonaria, deveria confiar plenamente no meu condutor, pois, inúmeras viagens estariam por vir, mas a insegurança vinham pelas perguntas que me foram feitas, pelas provas a qual fui submetido, não tinha noção do que estaria por vir. Cheguei a ter certo receio quando ouvi metais batendo ao chão, quando me foi colocado algo no peito, mas esse receio não chegava a ser um pavor, não sei explicar ao certo, pois, estava tranquilo, o mesmo sentimento que tive na porta do templo perdurou por toda a iniciação, o sentimento dúbio.

Após cada viagem meditava sobre o que estava acontecendo e tentava entender o porquê de cada viagem, algumas me chamaram a atenção, principalmente pela purificação da água e do fogo.

A duas piores partes de toda a iniciação foram ficar vendado, pois traz a sensação de impotência, e beber no cálice o líquido que representa a doçura e o amargor da vida, a verdade e a mentira. Naquele momento após beber e ouvir que deveria ser retirado de onde estava aos gritos de “morra”, várias coisas vieram a cabeça: está tudo acabado, perdi um sonho, será que sou mesmo um profano incapaz de demonstrar a minha sinceridade a pessoas que não me conhecem?
Fora o sentimento de incapacidade me veio a frustração, contudo, em seguida percebi que fazia parte da iniciação e voltei a ficar centralizado ao que todos diziam e tentei manter a tranquilidade novamente.

Contudo, ao ser retirado do local que estava e sendo devolvidas as minhas vestes e pediram para eu me recompor, fiquei em paz, nesse momento meu coração dizia: “chegou ao fim”.

Entrei novamente conduzido, mas desta vez muito mais calmo do que eu estava no momento das provas e da inquirição que me foi feita. Quando me foi dada a luz pequena, pude observar que o local era muito menor do qual fui submetido as provas, na verdade tratava-se do mesmo lugar, mas a venda nos olhos nos impossibilita ter noção de onde estávamos, quanto andamos e quanto tempo se passou.
Tentei observar tudo que estava a minha frente, não tive medo das espadas apontadas em minha direção, pelo contrário, percebi que aquele ato me proporcionava segurança.

Neste momento a preocupação era outra, de como eu iria aprender tudo que estão me passando?
Se os meus atos estavam corretos?
Se eu iria conseguir lembrar de tudo na próxima reunião?
Mas como já havia sido dito eu deveria observar tudo, vivenciar aquele momento, e os ensinamentos e aprendizados viriam com o passar do tempo.
Mesmo observando tudo ao redor, torna-se difícil para quem estava sendo iniciado naquele momento. Tudo é muito complicado, não se entende muito sobre o que está acontecendo, principalmente pelas palavras que são ditas e também pela ritualística utilizada na sessão.
Ser aceito como maçom e poder participar ativamente de uma instituição milenar é algo indescritível, pois, assim como foi dito pelo Ir∴ Or∴ “não é você que aceita a maçonaria, e sim ela que aceita você”.
Ademais, após toda as provas, obstáculos e inquirições feitas, ser recebido com boas vindas, mensagens de apoio dos IIr∴ e principalmente a presença e apoio da minha família, não há como mensurar tamanha gratidão.
Por fim e não menos importante, o final da cerimônia de iniciação maçônica é apenas o começo de uma nova trajetória de aprendizado e aperfeiçoamento humano, onde a pedra bruta deve ser desbastada.

Leave a Reply

Your email address will not be published.