Não bastassem os problemas ligados à Ritualística, à Liturgia, e à Administração Maçônica, a maioria das Lojas Simbólicas, em que pese o esforço dos seus Vigilantes e Veneráveis Mestres, deixa muito a desejar no que diz respeito ao aprendizado maçônico. Mas, embora as Lojas tenham o dever de empenhar-se no aperfeiçoamento dos seus membros, em contrapartida seus Aprendizes, Companheiros e Mestres têm igualmente o dever de empenharem-se na busca do aprendizado maçônico. É o que tentaremos demonstrar a seguir. À Loja que iniciou o Aprendiz cabe, doravante, a tarefa de ministrar-lhe os ensinamentos necessários à sua formação maçônica nos três graus da Maçonaria Simbólica. No entanto, no dizer de Nicola Aslan, “as Lojas Simbólicas, geralmente sobrecarregadas por preocupações de ordem administrativa, litúrgica ou filantrópica, dispõem de muito pouco tempo para ministrarem instruções eficientes dos três primeiros graus, limitando-as, via de regra, à comunicação dos Sinais, Toques e Palavras, além do adestramento dos Obreiros na liturgia e no ritualismo…”. Ora, se as Lojas Simbólicas, como constatado pelo Ir∴ Aslan, via de regra, limitam-se à comunicação dos Sinais, Toques e Palavras, não é difícil deduzir que não haja, nesses casos propriamente, aprendizado maçônico. O que há é transmissão de conhecimentos, informações, mas não aprendizagem. “Aprender é a capacidade que o ser humano tem de assimilar, introjetar, produzir e reproduzir conteúdos novos” — ensina a educadora Dulce Magalhães. Esses conteúdos — ela prossegue — são os elementos que formam percepção, intenção, interpretação e decisão – as quatro modalidades de construção da realidade. Quando aprendemos, alteramos nossos conteúdos de forma a produzir uma nova realidade. Para que haja aprendizagem é preciso que haja alteração da realidade. Quando aprendemos, a percepção e interpretação da realidade já não é a mesma que tínhamos antes. Podemos dizer que nosso mundo mudou. Houve mudança. Nós mudamos. Por outro lado, se apesar do estudo e conhecimento que adquirimos a nossa realidade não mudou é sinal que não aprendemos. Aprender, portanto, é muito mais que simplesmente estudar ou receber as informações sobre determinado conhecimento, pois nem sempre isto irá gerar uma nova perspectiva ou realidade. Para que o Aprendiz, o Companheiro e o Mestre possam, de fato, aprender é necessário muito mais que simples comunicação de Sinais, Toques e Palavras ou informações sobre os conteúdos simbólicos dos instrumentos de trabalho do seu grau. A mesma professora aponta para algumas qualidades necessárias para que ocorra o aprendizado, dentre as quais, elegemos três e sobre elas passaremos a discorrer. Abertura – A abertura é uma das primeiras condições para que o processo de aprendizagem desabroche. O Aprendiz Maçom há que estar aberto ao conhecimento do novo, à mudança, à formação de novos paradigmas. Em hipótese alguma ele deve estar fechado em suas “verdades”. É preciso que duvide daquilo que sabe ou conheceu até então. Interesse – Interessar-se é voltarmos nossa atenção para aquilo que a nós convém, julgamos conveniente, importante, oportuno; que irá acrescentar algo mais em nossa vida. O Aprendiz tem que ter o interesse despertado para os ensinamentos maçônicos. Caso ele considere o processo de ler, pesquisar, inquirir e ouvir a respeito dos ensinamentos maçônicos uma tarefa chata e enfadonha, não verá interesse e, portanto, a aprendizagem não ocorrerá. Curiosidade – A curiosidade é outra qualidade indispensável para o aprendizado. Sem ela não teríamos os maiores gênios e filósofos. Quando é iniciado, o Candidato é advertido: “Se a curiosidade aqui te conduz, retira-te!” Mas não nos referimos aqui à curiosidade no sentido pejorativo do termo. O Aprendiz Maçom não deverá ser um xereta, bicão ou intruso, mas alguém insatisfeito com aquilo que lhe é repassado, disposto a querer mais, perguntar, saber mais, investigar. Ele deverá ter sempre em mente as perguntas “Por quê?” e “O que é?” Por que Loja? Por que orla dentada? Por que a Bíblia? Por que três passos? O que é pavimento mosaico? O que é Oriente? E assim sucessivamente. O Aprendiz Maçom há que estar aberto ao conhecimento do novo, à mudança, à formação de novos paradigmas O Aprendiz Maçom recebe os ensinamentos do seu grau nas Sessões Maçônicas. Mas, por diversos fatores, eles não são suficientes para que ele adquira os conhecimentos necessários ao seu aprendizado. Assim, como um aluno não consegue apreender tudo apenas comparecendo às aulas do seu curso, também o Aprendiz deverá, além das instruções recebidas nas Sessões, dedicar-se em casa ampliando os seus estudos a respeito daquilo que lhe foi repassado nas Sessões Maçônicas. Para tanto, ele deverá atentar para alguns pontos fundamentais: O Local – A escolha do local é fundamental. Um ambiente tranquilo em qualquer canto da casa é o suficiente. Não precisa ser superequipado. Basta que nele o acesso aos livros e demais materiais de estudo estejam à mão. Não é conveniente estudar no local de trabalho, nem nas conduções no trânsito. Além disso, o Aprendiz deverá ter: Disciplina – A disciplina é uma virtude e como tal pode ser adquirida pelo hábito. Caso o aprendiz decida estudar um pouco sobre o seu grau todos os dias, criará um hábito. No entanto, não é preciso que ele chegue a tanto. Basta decidir por um ou dois dias na semana, uma ou duas horas e já terá um aprendizado satisfatório. Espírito crítico – O espírito crítico aqui referido não é o de atentar apenas para o lado negativo de pessoas e coisas, mas de não aceitar tudo como pronto e acabado. Trata-se de questionar, analisar os méritos e deméritos do que estiver nos livros, revistas, internet e outros ensinos repassados. A leitura dos rituais é de extrema importância. Mas não é o suficiente. Os estudos maçônicos vão além dos rituais. Estes, embora indispensáveis, não devem ser o único objeto de estudo. Xico Trolha, um dos maiores escritores maçônicos do nosso país, costumava dizer que os rituais são apenas o feijão com arroz. As cartilhas, instrucionais e manuais de estudos maçônicos criados por algumas Lojas e Obediências, são subsídios importantes, mas também não são suficientes. O Aprendiz deverá dispor ainda de alguns bons livros, nacionais e estrangeiros, inclusive, dicionários maçônicos etimológicos e de termos maçônicos. A relação dos livros próprios para o Aprendiz deverá ser feita pelos principais instrutores da Loja, os Vigilantes e o Orador. Além destes, qualquer outro Irmão com o conhecimento necessário deverá orientar o Aprendiz quanto aos livros que deve comprar e aqueles que não deve comprar, por serem produtos da fantasia de determinados autores e nada confiáveis. Cremos que, cumprindo a Loja a sua tarefa de orientar e ministrar ao Aprendiz os ensinamentos maçônicos básicos do seu grau e este se dedicando com interesse aos estudos, o aprendizado com certeza virá. Por derradeiro, é importante ressaltar que o ser humano está continuamente aprendendo. Não há limite de idade para aprender. Qualquer pessoa é capaz de aprender, desde que deixe de lado a baixa estima, o “eu não consigo”; tenha garra, vontade, determinação e atente para alguns requisitos básicos para o aprendizado. 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