A maçonaria fez sua transição de Operativa para Simbólica; de Guilda operária, para Sociedade fraterna (Irmandade, Confraria, Instituição, Escola Iniciática, Especulativa). Essa teoria histórica já é muito bem conhecida pelos estudiosos Irmãos maçons. Com o passar do tempo, tanto a maçonaria que adotou uma postura de Escola de Mistérios, quanto à maçonaria que escolheu adotar uma conduta mais direcionada ao político social, deu seus primeiros passos na mesma Senda, entre as mesmas Colunas; basicamente, utilizando as mesmas ferramentas e cargos em suas Lojas.
Com o natural desenvolvimento e/ou evolução da maçonaria Simbólica, algumas mudanças aconteceram. Dependendo do Rito e suas respectivas Potências, houve diversas alterações na Ritualística, de acordo com a cultura, os países, filosofias, etc. As mudanças alcançaram também a montagem dos Templos e a condução dos Trabalhos em Loja.

Nesse avanço da Maçonaria Simbólica através dos séculos e no seu inevitável aprimoramento, uma determinada ferramenta (ou utensílio) e uma determinada função (ou cargo), caíram no esquecimento da Ordem e já não fazem parte dos estudos maçônicos da atualidade. É sobre esse assunto, que esse trabalho convida os Amados Irmãos para uma interessante “viagem no tempo”.
Esse trabalho tem o humilde propósito de confabular sobre essa ferramenta (ou utensílio) e também sobre essa função (ou cargo) que fizeram parte dos Trabalhos em Loja na história evolutiva inicial da Maçonaria Simbólica. Apesar de suas valorosas participações ritualísticas na Ordem, suas importantes e marcantes atividades foram cobertas pela poeira do tempo e acabaram se tornando obsoletas em meio à confusa névoa da evolução maçônica.
Uma ferramenta e uma função que outrora tiveram grande importância na “biografia” da Maçonaria, agora se encontram praticamente esquecidas.

O principal objetivo desse trabalho é relembrar esse momento esquecido e importante da Maçonaria Simbólica. Vamos comentar sobre a ferramenta já esquecida, chamada Pemba, que era usada como riscador, para traçar os painéis (ou símbolos maçônicos) no chão.
Ligado a essa ferramenta, existiu uma função, que era encarregada de apagar os “riscos” (os “desenhos”) traçados no chão pela Pemba; esse cargo (função) era chamado de Varredor, ou Esfregador. Esse assunto é com certeza extremamente interessante, de importância histórica e pouco conhecido pelos maçons.

Há muito tempo atrás, no início da Maçonaria Simbólica (Especulativa), quando ainda não existiam os nossos conhecidos painéis dos graus e tão pouco, havia Templos “maçonicamente” decorados com seus tradicionais símbolos e ferramentas, o comum era que fossem traçados (desenhados) no chão os símbolos referentes aos graus que a Loja pretendia trabalhar. Com que utensílio era feito os “simbólicos desenhos” no chão da Loja? Esses “riscos” (desenhos) eram traçados por um utensílio chamado Pemba.

Erroneamente, alguns maçons acreditam que os símbolos eram traçados (desenhados) utilizando simples materiais, como: carvão, pedaços de pedras ou tijolos. Na verdade, os “riscos” traçados com esses materiais são mais difíceis de apagar com rapidez. O provável é que os antigos ritos com tendência mística introduziram a Pemba como uma útil ferramenta nos Trabalhos em Loja (na Maçonaria). Possivelmente a Pemba tenha sua origem em países africanos. Mas o que é a Pemba?

A Pemba lembra um pouco o giz que os professores usavam para escrever nos quadros negros da escola. A Pemba era como se fosse uma “caneta sagrada” e consagrada, usada antigamente para desenhar campos “mágicos” de proteção (círculos místicos de proteção); com ela, se fazia os traçados mágicos, os sinais riscados, os signos rituais. A Pemba tinha um simbolismo especial dentro dos quatro elementos (terra, fogo, água e ar), derivada do pó de calcário (elemento mineral), fazia a conexão do Plano material (terra), com o Plano espiritual (éter, o quinto elemento).

Essa ferramenta ritualística tinha ainda um formato oval (ou ovalado); com um formato que sugere ou lembra o Ovo Cósmico. A composição da Pemba era o caulim, calcário, rochas sedimentares, composto de ferro, argila, cálcio, florita, entre outros minerais naturais. Essa ferramenta foi de grande utilidade e uso na Maçonaria, pois seus “riscos” eram facilmente apagados por uma vassoura ou esfregão.

Na Maçonaria Simbólica antiga, a Pemba era uma ferramenta geralmente utilizada pelo Irmão Mestre de Cerimônia, que era o Mestre mais indicado para reproduzir os “riscos” (símbolos maçônicos) no chão do ressinto onde os Trabalhos eram realizados.
Atualmente, a Pemba continua sendo usada; não mais na Maçonaria, mas em religiões como o Candomblé e Umbanda; de onde foi provavelmente emprestada aos antigos maçons.

Na época em que os maçons eram perseguidos e a Maçonaria era vista como uma ameaça, as reuniões em Lojas eram extremamente tensas. As Sessões maçônicas eram improvisadas em lugares diversos, em clima de disfarce e uma das funções mais importantes daquele período, era a função de Varredor (ou Esfregador). Essa era uma função improvisada (provisória) e não um cargo oficial da Ordem.

Geralmente, eram o Irmão Primeiro Experto ou o Irmão Segundo Experto, os responsáveis por executar tal função (algumas vezes, em caráter emergencial, quando necessário por falta de quórum, essa função era delegada aos Irmãos Aprendizes ou companheiros). Na função de Varredor (ou Esfregador) eles ficavam encarregados de apagar todos os desenhos rituais, para que os “segredos” não fossem descobertos ou usados como provas distorcidas para uma possível incriminação pelos perseguidores da Maçonaria.

Caso a reunião (a Sessão maçônica) fosse ameaçada por algum “inimigo invasor”, o Irmão Cobridor Externo e/ou o Irmão Cobridor Interno, davam o apresado aviso de que profanos estavam chegando ao “Templo” e IMEDIATAMENTE, o Irmão Varredor (ou Esfregador), se apresava a apagar todos os símbolos desenhados no chão; utilizando de uma vassoura ou esfregão.

Na antiga Prússia, mais precisamente onde hoje fica a Polônia, bem antes de virem ao Brasil, os meus antepassados da família Besen, frequentavam Lojas nessa região da Europa. Alguns dos meus descendentes viveram aquela pressão; e eles temeram a terrível perseguição a Maçonaria. Na Polônia, durante séculos, a Maçonaria foi reprimida e extinta inúmeras vezes; como por exemplo, durante a partição da Polônia ou durante o regime comunista.

Dizem que a Maçonaria na Polônia se estabeleceu em 1767 e foi suprimida em 1822. Surgiu de novo como instituição organizada em 1921. Era literalmente uma perigosa “luta”. Meus Irmãos e familiares, que viveram todos esses momentos marcantes da História maçônica na Europa, experimentaram essa fase “estressante” na Maçonaria.

Um dos exemplos era a época que o rei da Prússia (Frederico Guilherme I), o célebre “Rei Sangrento” mostrava a Maçonaria uma hostilidade radical; denunciando nela uma força contrária aos interesses do Estado e da região. Era mais um inimigo declarado. Mal sabia Frederico Guilherme I que em um futuro próximo, seu próprio filho seria iniciado na Maçonaria. Ao seguir atravessando os anos e séculos, a Maçonaria passou por muitas fases (entre os momentos de tranquilidade e perseguição).

Entre seus algozes, sempre houve poderosos inimigos, como: reis, príncipes, políticos, fanáticos opositores, papas e outros religiosos. Por esse e outros motivos hostis e perseguidores da Ordem, a função de Varredor (ou Esfregador) nas Lojas da Maçonaria, era tão importante.

Lojas de diversos países tiveram essa função desempenhada em suas Sessões durante anos e até séculos. Com o passar dos anos, acabou a perseguição; e então, a função de Varredor (ou Esfregador), foi deixada de lado e caiu no esquecimento. Nos dias de hoje, já não se fala mais da ferramenta Pemba e nem da função de Varredor (ou Esfregador); ficando assim, mais um capítulo da Maçonaria esquecida.

A Maçonaria é como um prazeroso labirinto de conhecimento, ou como um misterioso corredor onde nos deparamos com diversas portas secretas. Cada porta aberta nos traz um “ticket” que nos dá o direito ao acesso a um aditivo em nossa sabedoria pessoal. Um bônus evolutivo que permite ingressar um novo mundo. É muito interessante quando nos debruçamos sobre o mapa do valoroso tesouro da Maçonaria; descobrindo caminhos antigos, histórias contadas nas entrelinhas, mensagens subliminares e surpresas ocultas.

Essas riquezas culturais estão ao alcance de todos os irmãos, mas é preciso buscar; é preciso estudar e pesquisar. Um trabalho arqueológico histórico literário. É necessário ser respeitosamente humilde, dar o voto de confiança e acreditar no que realmente faz sentido; tentando, na medida do possível, ser sempre Justo e Perfeito. Independente da compreensão e do julgamento do Irmão leitor desse trabalho, eu desejo do fundo do meu coração que a Providência Divina ilumine sempre a Maçonaria do Brasil. Á Gloria do Grande Arquiteto do Universo.

BIBLIOGRAFIA

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