Fato: “O número dois é um número terrível, o número fatídico. É o símbolo dos contrários e, por consequência, da dúvida, do desequilíbrio e da contradição. Para demonstrar isso, tomemos o exemplo concreto de uma das sete ciências maçônicas, a Aritmética, em que 2 + 2 = 2 x 2.
Até na Matemática, o número dois produz confusão, pois ao vermos o número quatro ficamos na dúvida se é o resultado da combinação de dois números dois, pela soma ou pela multiplicação, o que não ocorre com qualquer outro número. “Por isso, na Antiguidade, representava o Inimigo, símbolo da Dúvida quando nos assalta o espírito”1.

Conclusão: Segundo ref. 1: “A Unidade é a primeira causa, o principio criador dos números; é o ponto de que se geram as linhas. Sendo só, a Unidade não pode produzir; para isto, é necessário que se oponha a si mesma, que se desdobre: assim se obtém o Dois, o número binário. Um é ativo, dois é passivo. Um é Deus, dois é a Natureza. Um é o homem, dois é a mulher. Um é o Ser, dois é o reflexo. Um é a energia absoluta, dois é a oposição, a divisão”.

“Dois não existe por si só; é o reflexo da unidade. Assim a natureza é o reflexo de Deus, e a mulher é o reflexo do homem…”.
Segundo Linda Goodman (ref. 2): “O número um vibra com o Sol. Representa criatividade, proteção e benevolência. É o número da ação original, a base iniciadora de todos os outros números… O número dois vibra com a Lua. Representa a imaginação, progenitura e sensibilidade. O número dois é o número da concepção, parição e sonhos…”.

Tanto em ref. 1 como em ref. 2 não foram encontrados indícios de o número dois ser fatídico, terrível ou traiçoeiro conforme menciona o Ritual (ref. 5), a menos que o antagonismo, a dualidade, ou a oposição que aqui se está fazendo, o seja! Até na unidade humana se percebe a dualidade, se percebe o dois: excluindo-se o nariz com suas duas fossas nasais, boca, umbigo e o falo com seu par de glândulas, o resto é em duplicidade, inclusive boa parte dos órgãos internos são duplos. O dois sempre presentes e operantes. É fatídico ou mesmo terrível possuir dois pulmões? Dois rins? Dois braços? Onde eles se contrariam? Pelo contrário, complementam-se! Terrível mesmo é não ter qualquer um dos dois órgãos!

Onde se encontra o desequilíbrio no número dois? Pelo contrário, é ele que estabelece o equilíbrio, ele é um dos pratos da balança da vida…
Para os cabalistas (ref. 1), a primeira letra do alfabeto hebraico, aleph (a), valor numérico 1, simboliza a ideia do homem; já a segunda , beth (b), valor numérico 2, está associada à ideia de habitação. Onde reside a dúvida? Onde a Cabala2 qualifica o dois como nefasto?
A ref.3 corrobora esse principio: “a é o homem, b é a mulher; 1 é o princípio, 2 é o verbo; A é o ativo, B é o passivo; a unidade é Bohas; o binário é J∴… Essas duas colunas explicam em Cabala todos os mistérios do antagonismo, quer natural, quer político, quer religioso, explicam a luta geradora do homem e da mulher, porque, conforme a lei da natureza, a mulher deve resistir ao homem e este deve atraí-la ou submetê-la”.

Onde a Cabala ‘condena’ o dois? Claro que a Cabala ensinada por Enoque ao Patriarca Abraão, este aos seus filhos e netos até os livros de Moisés não poderia ter chegado aos nossos dias com tamanha incoerência! Ainda da ref. 3: “O princípio ativo procura o princípio passivo, o cheio é amante do vácuo…”.

“A importância do dois se manifesta ao associar a ao primeiro homem, Adão, gerador da fonte de vida manifestada na habitação (depósito) b, isto é, Eva”. O alfabeto hebraico, coincidentemente (?!) é constituído por 22 letras… Exatamente dois dois! E que se reduzem a quatro! Onde reside o inimigo?

A igualdade 2 + 2 = 2 x 2, expansível para as três igualdades 2 + 2 = 2 x 2 = 22, que amplia mais as coincidências matemáticas, não pode ser usada para caracterizar o número3 dois como terrível, fatídico ou mesmo responsabilizá-lo por qualquer espécie de confusão (ref. 5). Essa feliz coincidência matemática, ao contrário, faz com que o dois seja especial, pois somente ele atende as três igualdades, torna-se desta forma um número extremamente especial, um número para ser idolatrado; ainda mais porque o dois é o único número par que é primo4.
O zero, também apresenta característica similar ao número dois, ou seja, 0 + 0 = 0 x 0 frontalmente contrariando o Ritual! Será que o zero também é fatídico? Um número cruel tal qual o dois?
Algo mais a dizer?

Sim! Para nossa satisfação, o mano Francisco Feitosa, editor do ARTE REAL, também residente em Minas (São Lourenço, bem perto de nós), igualmente compartilha conosco o mesmo ponto de vista já externado em algumas publicações. Como não existem evidências que o número 2, seja ‘terrível, fatídico, símbolo dos contrários, da dúvida, do desequilíbrio e da contradição etc.’ como apregoa o Ritual do Grau 1, ficamos na dúvida se esta é a única falha do Ritual! Será que não existem outras, invalidando-o de forma definitiva?

1Texto extraído do ‘Manual de Instruções – Grau 1 – Quinta Instrução: A simbologia dos números – Grande Loja do Estado da Guanabara – Rio de Janeiro, GB 1964’ (atualmente o texto, um tanto modificado, faz parte da Sétima Instrução que também mantém a essência do ensinamento).
2Também se escreve Qabbalah (ref. 1).
3Parece mais correto algarismo ou dígito.
4Apresentam apenas dois divisores: o próprio e a unidade.

Material originalmente publicado nas edições 169, 170 e 174, respectivamente de 06/12/2008, 13/12/2008 e 10/01/2009 do semanário FOLHA MAÇÔNICA.

Referências Bibliográficas:

1. Lorezn, Francisco Valdomiro. Cabala: a tradição esotérica do ocidente. São Paulo: Pensamento, 1967.
2. Goodman, Linda. Os códigos secretos do universo signos estelares. Rio de Janeiro: Record, 1987.
3. Levi, Eliphas, Dogma e ritual de alta magia. São Paulo: Pensamento, 1997.
4. AMORC. O universo dos números. Paraná: Ordem Rosacruz, 1983.
5. GLMERJ. Ritual do Aprendiz Maçom, Grau I, R∴E∴A∴A∴. – Rio de Janeiro: GLMERJ, 1995.

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