“Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará” (Mateus. 6:14)

Consta na literatura específica do G∴ de M∴ S∴ ser ele representado e designado pelo número 3 e ½ pois corresponde esse interstício a metade do período da verdadeira iniciação. Segundo o Amado Irmão Jorge Adoum, o M∴ S∴ ainda se encontra na divisa do caminho para se chegar ao “super-homem” ou “mago”, uma vez que, muito embora já tenhamos alcançado o Mestrado, ainda desprovidos dos conhecimentos filosóficos, continuamos perdidos, pois “não chegou-se ainda ao ‘CENTRO DA UNIÃO COM O ÍNTIMO’”, razão pela qual devemos dedicar toda nossa vida à grande Obra (daí o número 10 – início e infinito), lapidando nossa pedra bruta, cavando masmorras ao vício, forjando algemas ao crime e erigindo templos à virtude, tornando-nos seres melhores, todos a contribuir para uma sociedade mais justa e fraterna.

Nesse sentido, devemos ser eternos aprendizes, sempre a angariar novos conhecimentos para, posteriormente, aplicá-los em nosso dia a dia, sedimentando, a cada lição, novos tijolos na nossa construção moral e intelectual chamada EU ou TEMPLO INTERIOR. E se nossa vida deve ser considerada como sede de constante aprendizado, forçoso concluir que nenhum de nós somos perfeitos, possuindo mais defecções do que virtudes, daí necessários os ensinamentos, uma vez que erramos muito mais do que acertamos. Ora, somos seres humanos, portanto, sujeito a falhas.

Dessarte, se nos equivocamos, se erramos, se possuímos vícios, defeitos e defecções devemos tolerar e perdoar as falhas alheias, pois certamente teremos que contar, futuramente, com o perdão de outrem. Mas não só isso. O exercício do perdão, por si, constitui-se de sublimidade ímpar, virtude de grande escol que deve ser explorada mesmo por aquele que eventualmente não possui débitos para com outros e, assim, não necessita ser perdoado. E nós maçons, seres que, por determinações regulamentares, éticas e morais devemos construir templos à virtude, temos a obrigação de cultivar esse ato altruísta.

O grande Mestre Jesus, quando de sua estada na Terra, cônscio de que na nossa escala evolutiva o perdão era instituto a ser muito executado, nos deixou sábia lição:
“Senhor, quantas vezes devo perdoar meu irmão? (indagou-lhe Simão Pedro) Será sete vezes? Respondeu Jesus: Não digo que até sete vezes, mas setenta vezes sete vezes”.(Mt 18:15-22)

De acordo com o Rabi da Galileia, exemplo de retidão e caráter moral, o perdão deve ser considerado como processo incessante, a ser exercitado em todas as situações e a todo momento. Aliás, ele mesmo valeu-se do perdão sublime, sem contrapartida (haja vista nunca ter ofendido a outrem), durante quase toda sua vida como missionário. Nas estações do sofrimento, sem precisar e sem merecer, deixou-se imolar, a fim de nos impulsionar ao caminho da suprema felicidade, para nos dar o exemplo. Quando de seu julgamento, a pedido do governador da Judeia, Pôncio Pilatos (e este tudo fez para livrá-lo da condenação, dando ideias, como, por exemplo, a de substituí-lo por algum prisioneiro com processo consumado), o povo preferiu alforriar Barrabás, e, num dado momento do flagício, Polibius, um ajudante de ordens do governador, comovido com os padecimentos de Jesus, foi falar-lhe pessoalmente para que ele pedisse indulgência ao governador. Então, Jesus afirmou que se quisesse poderia invocar as legiões dos seus anjos e pulverizar toda a Jerusalém dentro de um minuto, mas que isso não estava nos desígnios divinos e, sim, a sua humilhação infamante, para que se cumprissem as determinações das Escrituras. Terminou na cruz, sacrificado entre dois ladrões, pedindo clemência para seus algozes, sem se ofender, compreendendo a ignorância reinante: “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem!”.
Sábias lições. Mas, como perscrutadores da verdade que somos, devemos entender o que é esse perdão verdadeiro, compreender os efeitos físicos, morais e espirituais do seu exercício, e, assim, torná-lo ato cotidiano em nossas vidas.

Segundo o sítio eletrônico Wikipedia, o perdão é um “processo mental ou espiritual de cessar o sentimento de ressentimento ou raiva contra outra pessoa ou a si mesmo, decorrente de uma ofensa, percebida diferenças, erros ou fracassos, ou cessar a exigência de castigo ou restituição”.

Perdoar em grego é aphíemi, que quer dizer desligar, soltar, libertar. Compreende-se, então, que o verdadeiro perdão é aquele em que o concessor efetivamente livra-se do estado em que se colocou quando da situação causadora da animosidade. Ou seja, faz cessar eventual ressentimento ou raiva derivada do ato gravoso.

Dessa forma, o perdão real não é aquele realizado “da boca para fora”. Pelo contrário, o ato de indulgência deve partir de dentro, deve ser metafísico, de corpo e alma. Perdoar deve ser enxugar o fato causador, retirando-lhe do conteúdo a energia raivosa. Perdoar, em todas as línguas é doar, dar completamente. Denota totalidade, plenitude. Os prefixos per, ver e for significam para. Per doar, per donare, per donar, ver geben, for give, para dar, para doar, é o desprendimento, a liberdade de Espírito. O perdão, portanto, é libertador.

Nelson Mandela ficou 27 anos preso por lutar pela justa distribuição dos meios de sobrevivência em sua pátria, a África do Sul, e ao ser perguntado pelos repórteres se tinha raiva dos carcereiros com quem ele teve contato durante todo o tempo de prisão, resumiu o ato piedoso da seguinte forma: “Não, de forma alguma. Eu queria ultrapassar aqueles muros e ficar livre. Se a raiva permanecesse em mim, eu não estaria livre, mas sim, escravizado por um sentimento mau”.
Agiu bem o grande estadista, pois não perdoar e guardar rancor é carregar um saco de lixo tóxico, prejudicando a nossa estrutura emocional e física, gerando doença num curto espaço de tempo.

O Dr. Frederic Luskin, doutor em Aconselhamento Clínico e Psicologia da Saúde, pela Universidade de Stanford, nos EUA, afirmou, por meio de pesquisas, que a raiva revelou ser um risco significativo para a doença cardíaca. Num estudo fascinante com adultos que possuíam pressão arterial normal, ele constatou que cinco minutos de raiva enfraqueceram a reação imunológica dos participantes, a imunoglobulina salivar, uma medida comum da capacidade imunológica, que ficou diminuída por um período entre quatro e seis horas depois do episódio de cinco minutos de raiva.

Por outro lado, os resultados de algumas investigações científicas têm demonstrado que as vítimas que perdoam os seus agressores experimentam uma melhora física e psicológica maior que aquelas que não o fazem. Quem se recusa a perdoar, conserva em seu interior uma carga de sentimentos negativos e isto faz com que o ato da agressão se prolongue mais no tempo.

De acordo com a psicologia, o rancor, a coragem e o desejo de vingança danificam o corpo e a alma, porque provocam e criam emoções negativas no cérebro, que impedem o funcionamento sereno e equilibrado de uma pessoa. Segundo as últimas investigações científicas, quando o estado de ânimo se mantém desejando uma revanche ou represália, o cérebro e o corpo humano criam toxinas que atuam sobre o organismo e afetam os sistemas cardiovascular, digestivo e nervoso.

O mesmo Frederick Luskin assegura que perdoar nos libera para viver a plenitude e com saúde mental, corporal e espiritual. Pelos seus estudos, quando uma pessoa perdoa uma ofensa, eleva a sua vitalidade, seu apetite, seus padrões de sono e de energia, pois tudo o que diminui a ira, a dor e a depressão pode reduzir também a pressão arterial e tornar as pessoas mais otimistas, energéticas e vitais. Em seu livro O Poder do Perdão ele explica o processo de formação de uma mágoa e demonstra como tal fato possui um efeito paralisante na vida das pessoas, baseando suas afirmações em suas investigações e pesquisas, principalmente em seu Projeto da Universidade de Stanford para o Perdão.
Hodiernamente, descobriu-se que o ato de perdoar uma pessoa acarreta alteração em seu sistema imunológico. Seu organismo comporta-se de maneira mais harmônica e há considerável melhora em seu funcionamento. E os benefícios são tão grandes a ponto de existirem pesquisas para criar drogas responsáveis por causar artificialmente os mesmos efeitos que o exercício do perdão acarreta. Todavia, perquiro-lhes Amados Irmãos: se nós podemos perdoar, essa droga é mesmo necessária?

Esquecem os doutores que junto com os efeitos físicos, o ato indulgente traz consigo repercussões nas esferas moral e espiritual, facetas essas inexploradas pelos fármacos e de suma importância no nosso processo evolutivo. Assevera Jorge Adoum que “o pensamento é o primeiro elemento do Íntimo em sua potência criadora e que todo pensamento que chega a ser uma ideia fixa e definida na mente do homem converte-se em força ativa e objetiva-se ou realiza-se no mundo físico”.

E isso reveste-se de uma claridade cristalina, pois como sabemos, pensamento é radiação mental, força energética apta a gerar transformações em qualquer elemento, seja material ou metafísico. Assim, aquele que plasma o perdão emite de si radiações mentais benfazejas, altruístas, transmitindo tais energias a outrem, beneficiando-o e, sobretudo, aurindo parte dessa força magnética de elevadíssimo escol, sendo, portanto, também beneficiado.

De outro bordo, devemos compreender nossos ofensores, já que se assim agiram demonstram pequeno estágio de evolução, merecendo, dessa forma, nossa indulgência. Afinal, quando ofendem deliberadamente, conduzindo o nome e o caráter de outra pessoa em descrédito, em verdade se desacreditaram eles mesmos. O perdoado é alguém em débito, o que perdoou espirito em lucro.

Se revidarmos o mal seremos igual ao ofensor, se o perdoarmos demonstraremos estar em melhor condição moral. Portanto, não deveremos descer até ao agressor senão para ajudá-lo.
Em razão da sublimidade da lição, trago à baila texto oriundo do Apóstolo Paulo, em espírito, de 1861, transcrito na obra “O Evangelho segundo o Espiritismo”, capítulo X – Bem-Aventurados os Misericordiosos:

“Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si mesmo; perdoar aos amigos é dar prova de amizade; perdoar as ofensas é mostrar que se melhora. Perdoai, pois, meus amigos, para que Deus vos perdoe. Porque, se fordes duros, exigentes, inflexíveis, se guardardes até mesmo uma ligeira ofensa, como quereis que Deus esqueça que todos os dias tendes grande necessidade de indulgência? Oh, infeliz daquele que diz: Eu jamais perdoarei, porque pronuncia a sua própria condenação! Quem sabe se, mergulhando em vós mesmos, não descobrireis que fostes o agressor? Quem sabe se, nessa luta que começa por um simples aborrecimento e acaba pela desavença, não fostes vós a dar o primeiro golpe? Se não vos escapou uma palavra ferina? Se usaste de toda a moderação necessária? Sem dúvida o vosso adversário está errado ao se mostrar tão suscetível, mas essa é ainda uma razão para serdes indulgentes, e para não merecer ele a vossa reprovação. Admitamos que fosseis realmente o ofendido, em certa circunstância. Quem sabe se não envenenastes o caso com represálias, fazendo degenerar numa disputa grave aquilo que facilmente poderia cair no esquecimento? Se dependeu de vós impedir as conseqüências, e não o fizestes, sois realmente culpado. Admitamos ainda que nada tendes a reprovar na vossa conduta, e, nesse caso, maior o vosso mérito, se vos mostrardes clemente.
Mas há duas maneiras bem diferentes de perdoar: há o perdão dos lábios e o perdão do coração. Muitos dizem do adversário: “Eu o perdôo”, enquanto que, interiormente, experimentam um secreto prazer pelo mal que lhe acontece, dizendo-se a si mesmo que foi bem merecido. Quantos dizem: “Perdôo”, e acrescentam: “mas jamais me reconciliarei; não quero vê-lo pelo resto da vida”! É esse o perdão segundo o Evangelho? Não. O verdadeiro perdão, o perdão cristão, é aquele que lança um véu sobre o passado. É o único que vos será levado em conta, pois Deus não se contenta com as aparências: sonda o fundo dos corações e os mais secretos pensamentos, e não se satisfaz com palavras e simples fingimentos. O esquecimento completo e absoluto das ofensas é próprio das grandes almas; o rancor é sempre um sinal de baixeza e de inferioridade. Não esqueçais que o verdadeiro perdão se reconhece pelos atos, muito mais que pelas palavras.”

Como bem descrito no Livro da Lei:
“Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão.” (Mt. 5:25).
Ante o exposto, o perdão é virtude a ser exercitada por nós diuturnamente, seja deliberadamente (como feito por Jesus), seja porque futuramente necessitaremos da indulgência alheia, não constituindo-se, portanto, mera faculdade, mas sim dever, sobretudo em razão da necessidade que temos de trilhar na senda do caminho evolutivo, mostrando desprendimento das coisas pequenas, ligando-nos cada vez mais aos valores mais sublimes, dentre os quais destaca-se tal virtude.
Não nos esqueçamos que a maioria de nós cristãos, quando agradecemos ou pedimos algo ao
G∴ A∴D∴U∴ e fazemos a prece que o querido mestre Jesus nos ensinou, dizemos: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.

Bibliografia:
– ADOUM, Jorge. Do mestre secreto e seus mistérios. Ed. Pensamento. 16ª ed. 1ª reimpressão
– FERREIRA, Itair. O Morfeu dos sonhos. Ed. Entrelinhas;
– KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Ed. FEB;
– MELKISEDEK. O mestre adonhiramita. Ed. A Gazeta Maçônica. 1 ed.;
– WIKIPEDIA. Artigo publicado no sítio eletrônico https://pt.wikipedia.org/wiki/Perd%C3%A3o, acessado em 20 de agosto de 2015.
– XAVIER, Francisco Cândido. Há 2000 anos. Ed. FEB

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