Como podem notar, iniciamos a pergunta do título desta reportagem no presente do indicativo, porque, apesar da ausência física, este brasileiro fez uma verdadeira revolução na cultura e costumes nordestinos sem dar um tiro ou sem aceitar nenhum cargo político ou de direção e mudou o pensamento do seu povo de serem sempre “coitadinhos famintos”. Hoje, ecoa em nossos ouvidos os apelos feitos por esse artista, que emergiu das cinzas da pobreza para cantar e contar, ao povo do mundo inteiro, os valores morais e as lutas por melhorias e condições de uma vida digna a todos os nordestinos, elevando à galeria dos mais altos nomes a música regional, incluindo em sua mala a invenção de ritmos, dentre os quais salientamos o baião como fonte inspiradora de outros artistas e outros ritmos, enriquecendo o nosso folclore e a nossa cultura em geral.

Luiz Gonzaga do Nascimento, o seu nome de batismo, ganhou o mundo com a sua sanfona.
Como maçom, demonstrou a sua sensibilidade em favor do próximo e amor à natureza.Aproveitamos este ano, como o centenário de seu nascimento para, em uma síntese histórica, relatar aos leitores o que talvez muitos já conheçam, mas que estamos, como brasileiros, reconhecendo o valor de um homem que viveu para alegrar o seu povo e, nesse contexto, denunciar as condições em que antes viviam os nordestinos.
A seguir, segue a homenagem do Grande Oriente do Brasil-Paraíba, através do seu Grão-Mestre Aderaldo Pereira de Oliveira, criando no seu centenário de nascimento a “Comenda Luiz Gonzaga”, conforme o Decreto abaixo.

Decreto Nº 001/2012
João Pessoa, 20 de fevereiro de 2012 E∴V∴

ADERALDO PEREIRA DE OLIVEIRA, Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil-Paraíba, federado ao Grande Oriente do Brasil, no uso de suas atribuições legais; e
Considerando o dia 13 de dezembro de 2012 como centenário de nascimento de Luiz Gonzaga do Nascimento – O Rei do Baião;

Considerando a necessidade de se eternizar em todos os seus meandros a obra desse ilustre artista e
maçom brasileiro;

Considerando que Luiz Gonzaga do Nascimento
tornou público, através da música, os desníveis sociais em sua região, clamando por justiça, trabalho e paz para todos;

Considerando que Luiz Gonzaga do Nascimento
patenteou o baião como um dos ritmos
nordestinos;

Considerando que como maçom, Luiz Gonzaga do Nascimento deu exemplos de fraternidade, solidariedade, amor à Ordem e zelo pela Maçonaria;

Considerando a necessidade de se instituir um laurel destinado a distinguir maçons, pessoas, instituições preocupadas com o desenvolvimento da cultura nordestina, o bem-estar da humanidade e da nossa comunidade em particular;

RESOLVE:

Art. 1º – Instituir a Medalha” Luiz Gonzaga”, a ser concedida, anualmente, às personalidades ou instituições que tenham contribuído para o bom nome da maçonaria ou o bem-estar do próximo ou da sociedade em geral;

Art. 2º- As medalhas serão concedidas, anualmente e de forma permanente, durante as comemorações do aniversário do insigne Irmão Luiz Gonzaga do Nascimento – O Rei do Baião;

Art. 3º – Este Decreto entrará em vigor na data de sua assinatura, e será publicado, afixado e divulgado, revogadas as disposições em contrário
Aderaldo Pereira de Oliveira – Grão-Mestre

Síntese Biográfica de
Luiz Gonzaga do Nascimento

Filho de Januário e Santana, nasceu na Fazenda Caiçara, pé da serra do Araripe em Exú-Pe., em 13 de dezembro de 1912, segundo filho de uma prole de nove irmãos;
Seu pai tocava sanfona de oito baixos, trabalhava na roça e consertava sanfona;
Aos nove anos, Gonzaga acompanhava o pai quando este ia tocar nas feiras ou nos bailes da região; aprendeu a tocar sanfona;
Aos 14 anos comprou uma sanfona de oito baixos por 120 contos de réis, ganho com serviços prestados ao seu patrão, o coronel Aires;
Aos 17 anos começou um namoro com Nazarena, filha de um rico importante da região. Os pais da moça não aceitaram o namoro porque Gonzaga era “pobre e preto”; Gonzaga foi tomar satisfação com o pai da moça e este fez queixa à mãe de Gonzaga e quando chegou em casa foi surrado por Santana;
Com vergonha, porque a localidade ficou sabendo, Gonzaga fugiu para o Crato e lá, vendeu a sanfona e foi para Fortaleza e quando soube que o Exército estava recrutando jovens de 18 anos alistou-se no 23º Batalhão de Caçadores. Na Revolução de 1930 esteve com parte do Batalhão em Sousa-PB.; posteriormente o Batalhão foi transferido para São João Del Rey em Minas Gerais. Lá tentou ingressar na Banda de Música, mas não conseguiu porque não tocava por música e, sim, de ouvido;

Após oito anos e dez meses no Exército foi licenciado porque pegou uma cadeia, por ter se ausentado para São Paulo sem permissão do Comandante;
Viajou para o Rio de Janeiro com uma sanfona de oitenta baixos, comprada em São Paulo de um alemão; lá começou sua história de tocador e cantor nos mangues e vida noturna carioca, até ser aprovado num concurso de calouro na Rádio Nacional no programa de Ary Barroso. Logo foi contratado pela RCA;

Daí para frente o sucesso só veio a crescer. Na Rádio Nacional tocava de terno e gravata, mas nas noitadas se vestia com sua roupa típica de vaqueiro ou cangaceiro, inspirado num gaúcho que tocava e se vestia a caráter da região sul, daí passou a se vestir como o nordestino;
Foi Gonzaga que introduziu o trio de forró (triângulo, zabumba e sanfona).

Vida Maçônica

Foi iniciado na Loja “Paranapuã” Nº1447, federada ao Grande Oriente do Brasil, na Ilha do Governador-RJ. Em 03 de abril de 1971 recebeu o seu cadastro no GOB., sob o número 100.143; Elevado em 14 de dezembro de 1971; Exaltado em 05 de dezembro de 1973;
Foi iniciado na Loja de Perfeição no Sublime Capítulo Paranapuã, em 10 de agosto de 1984;
Seu padrinho maçônico foi o seu vizinho, o irmão Florentino Guimarães, do quadro da mesma loja, pois o mesmo tinha uma escola de alfabetização para crianças pobres, o que sensibilizou muito Gonzaga, que o conhecia de perto e passou a ajudá-lo materialmente.

Feitos Maçônicos

Fundou uma instituição de caridade em Exú-Pe, que entregou para a maçonaria administrar, ajudando-a financeiramente;
Fez shows beneficentes com a participação de outros artistas, inclusive o Gonzaguinha (seu filho), para ajudar instituições maçônicas, tanto no Ceará, como em Pernambuco e Estado do Rio;
Presenteou sanfonas a crianças pobres da região;
Compôs uma música em homenagem à maçonaria, “Acácia Amarela”;
Em 1984, esteve em Paris e ao lado do hotel onde estava hospedado na capital francesa, estava inscrito no muro de uma escola “Liberté, Egalité, Fraternité” e Gonzaga aliviado disse: “já vi que estou em casa pois esse é o lema da minha maçonaria”;
Como maçom, Gonzaga interferiu tentando ver a paz de duas famílias que brigavam há muito tempo em sua região;
Sempre que tinha um tempo estava presente em uma loja maçônica nas suas andanças;
No dia 21 de junho de 1989, foi internado no Hospital Santa Joana no Recife, pois tinha sido constatado um câncer de próstata com metástase nos ossos. Gonzaga dizia que se soubesse que estava com câncer se mataria e daí passaram a lhe dizer que ele tinha osteoporose.
Nesse sofrimento, Gonzaga partiu para o oriente eterno em 02 de agosto de 1989.

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