A liberdade política e administrativa ou a liberdade do povo brasileiro? Neste tocante, qual seria o papel da maçonaria? Lembrando que as respostas para estas perguntas devem estar em consonância com a essência, valores e juramentos que fazem parte da nossa ordem e que é do conhecimento de todos.

Faço aqui um adendo, o processo de independência vivido por vários países, tiveram como base os princípios da Revolução Francesa, que pregavam a Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Assim, deixo mais um questionamento: nossa independência, foi libertária, promoveu a igualdade e buscou a fraternidade entre nós?

Sabemos que em 1822, a maçonaria brasileira estava dividida em basicamente dois grupos. Ambos eram favoráveis à independência, mas a corrente liderada por Joaquim Gonçalves Ledo, da maçonaria fluminense, defendia ideias republicanas, constitucionalistas e abolicionistas; já a outra, de José Bonifácio de Andrade e Silva, que ocupou o cargo de Grão-Mestre, defendia a manutenção de D. Pedro em regime de monarquia constitucional. Situação que posteriormente não foi aceita por D. Pedro, justamente pelo que a monarquia constitucional representa a limitação do poder do imperador.
Mas vamos aos fatos:

– Durante anos vivemos sob o julgo dos diversos interesses de Portugal, pois éramos colônia. A riqueza que daqui se extraia era praticamente escoada para as terras portuguesas e de lá para outros destinos, principalmente para a Inglaterra.

– A Europa vivia um momento delicado ocasionado pelos conflitos entre Inglaterra e França e as constantes invasões de Napoleão, que pretendia dominar toda a Europa.

– Uma dessas invasões Napoleônicas ocorreu em Portugal, o que acabou provocando o exílio da corte de D. João VI que teve como destino o Brasil, fato acontecido em 1808. Não podemos esquecer que D. João VI teve apoio da Inglaterra.

Mas a chegada da Família Real, além de uma série de mudanças na rotina do Brasil, acabou provocando com o passar do tempo algo inusitado. A elite política e econômica brasileira percebeu a possibilidade de se livrar de vez do sistema colonial até então existente, começando, em meio às várias revoltas regionais que eclodiram no país, as conversas sobre o processo de independência. Tudo isso com a importante presença de vários maçons.

Mas não podemos esquecer que do outro lado do Atlântico, os portugueses, muitos também pertencentes à ordem, sonhavam com o retorno do domínio sobre as terras brasileiras, pois não queriam perder a “galinha dos ovos de ouro”. Com a derrota de Napoleão, por volta de 1813 para os ingleses e seus aliados, os portugueses sentem que é hora de reestabelecer o domínio sobre o Brasil, para isto se faz necessário o retorno de D. João VI e o restabelecimento da política colonial.

Justamente neste momento começa a “queda de braço” entre as elites brasileiras e portuguesas. Uma querendo a independência e a outra o desejo de voltar os tempos de domínio colonial.

Mas como já dissemos os líderes brasileiros a princípio não comungavam dos mesmos objetivos. Todavia, naquele momento existia um inimigo em comum, não permitir o retorno do domínio português. E para isto só restava um caminho, articular a independência.

E assim foi feito, mesmo envolto de contradições, manifestadas pelos respectivos grupos (conservador e liberal) conseguiram articular a permanência de D. Pedro e decretar a Independência do Brasil.

Contudo, a paz entre os grupos não passou de um suspiro. Gonçalves Ledo foi perseguido e as ideias republicanas desprezadas.
Para o reconhecido historiador Evaldo Cabral de Mello: “o comportamento aparentemente (…) contraditório do imperador em relação à maçonaria é uma prova de que a instituição esteve longe de funcionar como um corpo monolítico em 1822, decidindo os destinos do Brasil nas suas reuniões secretas. Ainda segundo o historiador, uma acusação muito comum entre os maçons atualmente, é que o imperador teria traído seu juramento ao mandar fechar as lojas e proibir suas atividades”.

Além do exposto sobre o comportamento de D. Pedro, outro ponto merece destaque no processo em estudo. Com a Independência se fazia necessário organizar o novo país, entre outras coisas, criar a Primeira Constituição, que ficou conhecida preliminarmente como a Constituição da Mandioca, devido aos membros constituintes serem em sua maioria pertencentes à oligarquia agrária e escravocrata. Nela está promulgada os interesses dos pequenos grupos, das oligarquias dominantes, e da manutenção do status quo da sociedade brasileira. Resumindo, a independência não chegou ao povo, não atingiu seus princípios de liberdade, igualdade e fraternidade.

Na verdade, a consequência do processo de independência, com o apoio de um dos grupos da maçonaria, liderado por José Bonifácio, estabeleceu uma nação sob o domínio oligárquico, conservador, elitista e mantenedor de uma sociedade injusta. Isto não quer dizer nem tão pouco, podemos afirmar que a história seria diferente caso as ideias do grupo de Gonçalves Ledo fossem predominantes, todavia, fica a incógnita.

Segundo o Maçom Rogério Vaz (GOB/RS), publicado no periódico “O Malhete”: “diante deste cenário de oposição entre simpatizantes republicanos e monarquistas, podemos inferir que o processo da Independência do Brasil não teve nada de “romântico”, leve ou até mesmo consensual. O embate ideológico foi ferrenho e o terreno utilizado foi à maçonaria. No processo de independência brasileiro, quase todos os estados se dividiam entre as correntes liberais, que desejavam o modelo americano, de república federativa, e os conservadores, que preferiam centralização e unidade”.

De todo o exposto, o que nos cabe é a reflexão. Muito mais que participar de um processo, no caso específico o de independência, precisamos perceber as intenções que se escondem por detrás destas participações, se elas estão realmente de fato em consonância com os ideais, princípios e propósitos da ordem maçônica. Caso contrário ela se torna apenas mais um instrumento para a manutenção de uma estrutura social injusta e desumana.

A própria história, percebida na realidade vivida pelo povo brasileiro, é a prova viva que a Independência do Brasil não passou, como se diz no jargão popular, de um acordo entre quatro paredes, que beneficiou alguns e continuou explorando tantos outros. O país se tornou independente, mas o povo não.

Todavia, para finalizar, assim como comecei, deixo um questionamento: quando de fato estaremos organizando e construindo uma sociedade de verdadeiros homens livres, de bons costumes e independentes, uma sociedade justa e fraterna, em que a liberdade, a igualdade e a fraternidade não passem de uma grande utopia?

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