Este trabalho circunscreve-se no tema “impressões de um Aprendiz nos seus primeiros passos na Ordem Maçônica”, nessa caminhada de evoluir enquanto pessoa, a fim de chegar ao Lugar onde a Luz incide com mais abundância. Longe de qualquer paixão ou vaidades, mas consciente de que os estágios a serem alcançados e o compasso dessa caminhada, são dados pelo Aprendiz Maçom, que o torna responsável de ser “artesão de si mesmo”. Consciente também, do dever de “trabalhar e perseverar”, à medida que se incumbe de “vencer suas paixões, submeter suas vontades e fazer novos progressos na Maçonaria”.
O tema carrega consigo o objetivo deste trabalho, que é o de compartilhar com meus Irmãos de Ordem, da Augusta e Responsável Loja Simbólica “Universitária Fonte de Sabedoria” número 3468 do Rito Moderno, quais impressões como Aprendiz, tenho da Ordem Maçônica, nesses primeiros meses, a partir do dia que me receberam nessa “Loja Justa e Perfeita”, na qual “Três a governa, cinco a compõe e
sete a completa…”.

Como a maioria dos Irmãos que estão aqui sabem por que testemunharam, fui introduzido nesta Loja no dia 26 de novembro de 2017, “Em obediência três grandes pancadas”, que significam “Pedi, recebereis; Procurai, achareis; Batei, dar-se-vos-á entrada”. Este princípio foi amplamente difundido pelo Mestre Jesus quando se referia à Porta da Grande Loja Eterna, o Reino de Deus.
A metodologia utilizada para a construção deste trabalho foi à narrativa de memórias dialogando com Princípios e Doutrina Maçônicas constantes do Ritual do 1º Grau – Aprendiz-Maçom – Rito Moderno, edição de 2009. Contudo, entendo que este é uma fase do Trabalho que consiste “Em desbastar a Pedra Bruta”.

Creio ser uma tarefa impossível reduzir às letras por mais erudito que seja o escritor, os sentimentos que o coração de um Iniciado produz ao ser encaminhado ao Norte, depois que ser “Interrogado por três vezes e ter praticado três viagens”. Sim meus irmãos, como transmitir as mesmas impressões, quando a venda dos olhos é retirada… colocada no Iniciado na alta madrugada, a fim de “Precisar o sentido da iniciação, que é a passagem das trevas à luz”?

Para que o significado desse dia e as impressões que tive e estou tendo não fiquem opacas, e os anos tornem as lembranças pálidas, reduzo a termo as impressões de um Aprendiz nos seus primeiros passos na Ordem Maçônica.

Devo esclarecer que este trabalho… essas palavras são de um Aprendiz. Então erros, equívocos, etc. serão encontrados porquê de onde estou vejo com limitações, o que para os equacionarem, conto com a sabedoria de todos os meus Irmãos, pois “No Norte, não se pode suportar senão uma fraca Luz”. Com a ajuda (Benevolência e Tolerância) dos Irmãos, “Entendo adquirir os primeiros conhecimentos maçônicos e também me fazer progredir esforçando-me por adquirir as qualidades de um bom maçom”.

Meus primeiros contatos com a Maçonaria se deram quando ainda estava na adolescência, aqui mesmo na cidade de Porto Velho, pelos idos dos anos de 1980. Eu via os Templos Maçônicos sempre fechados e de difícil acesso às suas dependências. Raras ocasiões eu presenciei os Maçons adentrando os portões dos Templos em seus veículos, caras fechadas, ternos pretos; posturas que faziam a mente de um adolescente produzir as mais extraordinárias, misteriosas e inusitadas imaginações. Sempre me chamou a atenção a inscrição “Augusta Responsável Loja Simbólica”, pois para minha cabeça de adolescente “Augusta” era a filha de uma vizinha do bairro onde morávamos.

Ouvi com respeito à Maçonaria as mais espetaculares estórias: sacrifícios de bodes, pacto com as trevas; que dentro dos templos havia bodes pretos enormes; que para entrar na Maçonaria devia o candidato correr no escuro e capturar um bode, que para ser Maçom apenas os ricos eram convidados, que os Maçons cultuavam o bode símbolo do Diabo. Essas estórias nos faziam (nós adolescentes dos anos de 1980) nutrir um medo terrível dos Templos. Naqueles anos eu meus colegas do bairro não entraríamos em Templo nem que fossemos convidados. Vale salientar, que apesar de Porto Velho ter um alto índice de furtos e roubos, nunca tomei conhecimento de que um Templo Maçônico fora violado e seus pertences, furtados.

Apesar de ter nascido em um lar Pentecostal, foi na minha juventude que passei a frequentar os cultos e me filiar à uma denominação religiosa. Depois de alguns anos que abracei a fé cristã e que passei a estudar a teologia e as doutrinas evangélicas, sobretudo as do segmento Pentecostal e Carismático, me foram efetuadas diversas advertências e alertas quanto a Maçonaria. Existem muitos livros de autores pentecostais, protestantes e católicos, que se propõem a ser uma denúncia de que a Maçonaria é uma religião ocultista, secreta, diabólica e incompatível com o Cristianismo. Diversos desses autores afirmam que já pertenceram a Ordens Maçônicas e que alcançaram os mais altos Graus dentro da Maçonaria; que por essa razão são habilitados a falarem e assim, testemunharem do que viram e ouviram dentro dos Templos da Ordem.

Num primeiro momento me mantive apenas como observador, analisando tudo que ouvia e lia. Concluí que os escritos e os testemunhos desses pseudos Maçons adormecidos não passaram nas críticas feitas por mim, auxiliados pelos métodos analíticos adquiridos, com a formação em História pela Universidade Federal de Rondônia entre 2009 e 2013, tendo como Orientador de pesquisa monográfica o Valoroso Irmão Dante Ribeiro da Fonseca, Historiador, Doutor e Pós-Doutor em Ciências Sociais.

Ocorre que a campanha de difamação contra a Maçonaria, a qual eu tive contato, foi protagonizada por protestantes americanos. Em seus escritos percebi com muita facilidade uma ideologia de mercado: constrói-se uma necessidade e depois, apresenta-se a satisfação, ou seja, torna a Maçonaria uma malignidade e depois, apresenta-se os mecanismos de libertação do mal, mediada pelas toneladas de literaturas e seminários de libertação, que movimenta um volume gigantesco de Reais e Dólar.

No Brasil existem diversas instituições especializadas em exorcizar pessoas que, de uma forma ou de outra, tiveram algum contato com a Maçonaria. Esses eventos custam caros e suas vagas, são muito disputadas.

Não é pretensão deste trabalho, fazer uma apologia (defesa) ou retrucar os ataques contra a Maçonaria, não. Como me propus no início, meu propósito é tão somente expor as impressões que tive e estou tendo nessa caminhada; “Porque eu estava nas trevas e desejava a Luz. A sociedade em cujo meio vivemos é apenas meio civilizada. As verdades essenciais ainda estão para ela cercadas de sombras espessas. Os preconceitos e a ignorância cegam-na; a força ainda sobrepuja o direito. Acreditei e ainda creio que é nos Templos Maçônicos, consagrados ao trabalho e ao estudo por homens experimentados e recolhidos, onde deve existir a maior soma de Verdadeira Luz”.

Continuando minha narrativa… por diversas oportunidades recebi o convite para a Iniciação na Ordem, quando contava com vinte e oito anos de idade, mas, pressionado por familiares, declinei do convite. Posteriormente tomei conhecimento que a Loja que me convidara naquela ocasião, era considerada espúria; por não pertencer ao Grande Oriente do Brasil nem à Grande Loja Maçônica.

Entre os anos de 1999 e 2008, várias aproximações de Irmãos convidando-me à Iniciação ocorreram, contudo, eu declinei em razão de não ter a convicção de que era isso que queria, mesmo porque não conhecia nada ao certo sobre a Maçonaria, apenas conhecia os dizeres difamadores, os quais eu já havia rejeitado, “Porque a luz surge do Oriente e é preciso orientar-se para achar sua verdadeira direção”.
Como citamos acima, em 2009, por ocasião de minha entrada na Universidade Federal de Rondônia para frequentar o Curso de História e, em decorrência do relacionamento de amizade construído com o Irmão Dante, que pacientemente me fez a proposta de Iniciação na Ordem e esperou até 2017 para ter minha resposta, a qual foi sim. O Irmão Dante sugeriu-me iniciar na Loja “Universitária Fonte de Sabedoria”, Oficina esta, que eu me adequaria dada as características específicas do seu Rito.

Com isso, em 26 de novembro de 2017 eu dei início às Três Viagens, como resposta às Três Grandes Pancadas, sendo depois disto, submetido à Interrogatórios por Três vezes. Assim, fui recebido Maçom “Em uma Loja Justa e Perfeita”. Minha Iniciação deu-se, como não poderia ser diferente, depois de minuciosa sindicância, na qual recebi em minha residência, três visitas de Irmãos Maçons (Irmãos Rerisson, Ronaldo e Edvaldo) e fui entrevistado por dois Irmãos Maçons (Irmãos Helder e Dalmir) em um local por eles designado. Foi a partir desses primeiros contatos que as minhas impressões foram sendo formadas, as quais, desse ponto em diante do trabalho, passo a narrar.

Duas horas da madrugada do dia 26 de novembro um Irmão Maçom (Irmão Rerisson) chega à porta da minha residência, com a missão de me conduzir ao Templo. Entregou-me um tecido preto com o qual devia vendar meus olhos. Gentilmente me foi dada algumas instruções e logo em seguida, iniciou-se um longo percurso até o Templo onde se reúne a Augusta Respeitável Loja Simbólica “Universitária Fonte de Sabedoria” número 3468 do Rito Moderno para uma Sessão no Grau de Aprendiz; Sessão Magna de Iniciação de quatro profanos; eu (Josué), Dirceu, Gener e Tales.

Após horas de reflexão sob o som de canções que penetravam profundo na alma, arrancando lembranças e suscitando emoções nunca antes sentidas, fui conduzido à Câmara das Reflexões, onde escrevi meu Testamento Filosófico e Moral, que naquela ocasião foi preenchido sem a devida inspiração resultado da reflexividade adquirida com a caminhada na Maçonaria. Medo e curiosidade me assaltavam, mas decidi a confiar nos Irmãos que estavam me conduzindo pelas recamaras da Iniciação, consciente de que eles também estavam confiando em mim, dado que eram os primeiros contatos que estávamos tendo. Só depois de participar de várias Sessões que descobri que um Maçom “É um homem livre e de bons costumes, que prefere a todas as coisas a justiça e a verdade e que, desprendido dos preconceitos do vulgo, é igualmente amigo do rico e do pobre, se são virtuosos”. Na companhia fraterna de homens assim que desejo estar.

Quando dei (embora quem tenha efetuado as pancadas foi outro iniciando) as três grandes pancadas, minha reflexão se remeteu ao relato bíblico no qual Jesus disse “batei, e abrir-se-vos-á” (Mateus 7. 7 e 8). Depois tomei conhecimento que é exatamente esse o significado dessas três pancadas e que constam nas Instruções do 1º Grau: “Pedi, recebereis; Procurai, achareis; Batei, dar-se-vos-á entrada”. Naqueles instantes em que adentrávamos o Templo, tendo os olhos vendados, tudo o que podia entender era o que eu já conhecia durante minhas buscas profanas. E, que a partir de agora, o número três passaria ter um significado mais consistente “Porque o ternário tem um caráter simbólico desde a mais remota antiguidade. Para os antigos iniciados significava criação, conservação, destruição. Para nós simboliza o passado, o presente e o futuro”.

As Três Viagens que fiz, a saber: “A Infância – A Família; A Juventude – O Mestre; A Idade Madura – O Amigo”; remete-me aos ensinos do apóstolo João em sua Primeira Carta aos seus irmãos, membro de uma comunidade de crentes; no capítulo 2 a partir do verso 12 que diz “Filhinhos, eu vos escrevi porque vossos pecados foram perdoados, graças ao nome de Jesus”. Ou seja, agora você vai caminhar sem tropeços e erros, pois estará acompanhado da Luz. Em seguida escreve o apostolo: “Jovens, eu vos escrevo pois vencestes o Maligno”. A força espiritual e reflexiva da juventude a colocaria a salvo de tudo que é vaidade, paixão e vícios. Por fim, escreve João: “Pais, eu vos escrevo porquanto conheceis Aquele que é desde o princípio.” A maturidade e a experiência são fundamentos de quem tem caminhada; de quem foi desbastado até se tornar um Mestre… um Pai.

Desde minha Iniciação me propus a não faltar nenhuma das Sessões do meu Grau, mas existem situações na vida que estão além de nossa vontade ou domínio. Com muito pesar tive que me ausentar de uma Sessão por motivos de trabalho profano. Cada Sessão, tem sido singularmente um ambiente de ensino e aprendizagem, reproduzindo o ideal do relato bíblico do salmo 133 “Oh! Quão bom e suave é que os irmãos vivam em união” e, conforme escreveu São Paulo em sua carta aos irmãos de Éfeso Capítulo 6.1): “…, vós que sois maduros, deveis restaurar o fraco com humildade”.

Até a última Sessão que participei, não vi nenhum bode ou, não percebi o Diabo adentrando nossas Sessões e recebendo louvores. Quando de nossa ágape (pela ocasião da chegada ao Templo), vejo fraternidade e receptividade sentimentos tão raros no meio profano, até mesmo, em diversas associações inclusive religiosas.

Bem sabemos que em todos os grupos sempre existem aqueles que destoam do propósito de sua existência, penso que não será diferente com a Maçonaria… me vem à memória a obra de arquitetura do Irmão Dalmir, apresentada nesta Oficina, na qual ele questiona profundamente, o ser Maçom, que “Independentemente do dever de auxílio e socorro aos seus Irmãos, o Maçom deve trabalhar incessantemente pela realização dos fins da Maçonaria. Ele deve estudar, sem descanso, e com cuidado, todas as questões que agitam as sociedades humanas, procurar a sua solução pelas vias pacíficas e propagar em redor de si os conhecimentos que tiver adquirido. Deve ser bom, justo, digno, dedicado, corajoso, isento de orgulho e ambição, livre de todo preconceito e toda servidão, pronto a todos os sacrifícios pelo triunfo do Direito e da Verdade”.

Em cada Sessão do Grau que participo a Ritualística se enche de significado, pois traz uma simbologia e alegoria usadas também “Pela tradição das antigas iniciações. É também porque o símbolo e a alegoria, falando ao mesmo tempo aos sentidos e ao espírito, à imaginação e à razão, servem para melhor gravar na memória as ideias que exprimem”.

Resignado e perseverante continuo na senda que Iniciei, com o objetivo de “Vencer minhas paixões, submeter minhas vontades e fazer novos progressos na Maçonaria”. E, com isso, prosseguir “Em desbastar a Pedra Bruta”. Tudo o que expus aqui neste trabalho “Entendo adquirir os primeiros conhecimentos maçônicos e também me fazer progredir esforçando-me por adquirir as qualidades de um bom maçom”.

Sei que tenho apenas “Três Anos”, mas já “Aspiro à honra de ser admitido entre os Companheiros”. Continuo direção em à Coluna J, onde receberei o meu salário. Por isso, obedeço a Ordem do Venerável Mestre: “Trabalhai e Perseverai”, o que me torna responsável de ser “artesão de si mesmo”.