A Maçonaria, a partir do Século XVIII, foi uma das instituições incubadoras das idéias iluministas e libertárias que permeava o pensamento ocidental. Ao passar de “operativa” para “especulativa”, aceitando entre seus membros não mais os construtores e artesãos oriundos das guildas medievais, mas sim filósofos e livres pensadores, começou a se estabelecer como uma fonte de novas idéias e, principalmente, novos questionamentos. A humanidade aos poucos se libertava do domínio cultural imposto pelos dogmas religiosos nos campos das artes, da música, da literatura e principalmente, da filosofia. O homem passou a questionar mais, a não aceitar as supostas verdades e os “Mistérios da Fé”, substituindo antigas “certezas” por uma liberação de idéias que modificariam a existência humana de maneira indelével. Neste ambiente libertário nossa Arte Real desenvolveu suas bases e seus ensinamentos, procurando proporcionar a seus membros e à sociedade como um todo, condições ideais para manter viva a chama do questionamento e, o conseqüente crescimento intelectual da humanidade. Passado mais de dois séculos apresenta-se à reflexão dos modernos construtores sociais uma questão vital: Ainda somos “livres pensadores”? Mantemos o constante questionamento do qual se originam novas teses e novas idéias, ou nos acostumamos a aceitar as primitivas bases de nossa instituição como “verdades absolutas”, como landmarks imutáveis, permitindo a criação de dogmas cuja existência é, em essência, a própria negação de tudo aquilo que entendemos como “livre pensar”? Contemporâneos Maçons se reúnem em sessões semanais para perpetuar seus usos e costumes, praticar a necessária ritualística e estabelecer salutares vínculos sociais tão necessários e tão vitais, porém com pouco ou nenhum desafio intelectual que os faça produzir pensamentos que contribuirão para o desenvolvimento humano. Onde exatamente estamos sendo “construtores sociais”? Estamos sob o risco da dependência prática da Dialética Hegeliana, ou o “Processo do Consenso”. Desenvolvido no mesmo Sec. XVIII pelo filósofo alemão Georg W. Friedrich Hegel, o processo é constituído de três etapas: A tese, a antítese e a síntese. Também conhecido como a “Práxis” ou “Pensamento de Grupo”, a dialética Hegeliana estabelece verdades baseadas no consenso geral. Consiste basicamente em se apresentar a determinado grupo (ou sociedade, ou nação) uma tese, que mediante um moderador será afrontada por uma antítese, originando daí uma síntese, que obrigatoriamente será aceita por todo o grupo, uma vez que se estabeleceu o consenso. A “Síntese” é na concepção humana o consenso de tudo que é válido e necessário, aceito por todos em prol do bem comum. Não é uma má prática. Ao contrario, ela é perfeita para a sociologia, para a política pública e para tudo que necessita de uma afirmação geral, de grupo e de consenso. Sem a dialética Hegeliana é impossível estabelecer, em base democrática, qualquer tipo de associação ou sociedade. Onde o risco, então? Bem, o processo possui a grande desvantagem de, uma vez determinado o consenso, estabelecida a “verdade” do grupo, desestimular a apresentação de nova tese, o debate de nova antítese e a criação de nova síntese. Nossa instituição, sob o manto dos Landmarks, usos e costumes, oferece a condição ideal para que seus membros acomodem-se naquilo que acreditam ser “verdade absoluta” ou dogma e, calcados em sínteses criadas dois séculos atrás, deixam de brindar às gerações atuais idéias inovadoras e adequadas à realidade vigente. Aos Mestres de nossa instituição se impõe a reflexão: Como fomentar em nossos Companheiros e Aprendizes a produção de novas teses? Como usar a egrégora de nossas oficinas para estabelecer a antítese? Como comunicar ao orbe a síntese produzida? E o principal, como estabelecer um circulo virtuoso para que toda síntese garanta sua própria transformação em tese, ad infinitum? Se não buscarmos ferramenta adequada para transformar a Maçonaria atual numa nova incubadora de idéias, corremos o grave risco de nos tornarmos dependentes da Dialética Hegeliana, da síntese alcançada por nossos antepassados e que nossas atividades sejam vistas como sofismas, como inócuas, como um exclusivo e tradicional “clube masculino” social ou de gastronomia, e só. Eis aí um bom desafio para nossa própria sobrevivência enquanto instituição de “Homens de Livre Pensar” Leave a ReplyYour email address will not be published.CommentName* Email* Website Salvar meus dados neste navegador para a próxima vez que eu comentar. Δ