Dentre todo o Ritual de Iniciação no Grau de Aprendiz, queremos neste trabalho, destacar alguns que julgamos mais relevantes, sem, contudo, ter a pretensão de levar a termo o assunto, pois é de tal porte a magnitude do tema, que muitos irmãos têm a contribuir em novas peças de arquitetura. Poderíamos discorrer sobre outros Símbolos da Iniciação, mas cremos que em momento oportuno teremos mais discernimento para falar. Mister que se compreenda o descrito nesta peça. 1. A Preparação do Candidato:A primeira providência é privar o Candidato de seus “metais”, despojado- -o de uma parte de suas roupas, ou seja: braço e pé esquerdos descobertos, perna e joelho direitos desnudos e pé esquerdo descalço. De uma forma geral, o simbolismo da preparação física é interpretado da seguinte forma: o coração descoberto em sinal de sinceridade e franqueza; o joelho direito desnudo para marcar os sentimentos de humildade que devem ser os do Iniciado; o pé esquerdo descalço em sinal de respeito. Ora, essa preparação física do candidato apresenta um caráter inibidor, isto é, de retenção, que convém assinalar: a atenção do Candidato é atraída para o coração, considerado como sede da afetividade. Ensina-se com isso que ele deverá tomar cuidado com os arroubos sentimentais, aos quais cedem muito facilmente a maioria dos homens; o joelho direito é aquele que se põe em terra no ato de submissão e respeito ao Grande Arquiteto do Universo. Desse modo, estando descoberto, o joelho torna-se particularmente sensível e isso incita o Recipiendário a realizar a genuflexão com mais atenção; o pé esquerdo é descalçado e sabemos que, de acordo com a expressão popular, toda caminhada com denodo e decisão é feita começando-se com o pé esquerdo. Neste caso, a partida está longe de ser assegurada. O pé esquerdo sem calçado entrava na caminhada e o Recipiendário é obrigado a se apoiar solidamente no pé direito, lado ativo: preponderância da “razão” sobre o “sentimentalismo”. 2. A Câmara de Reflexão:O que é a Câmara de Reflexão? É o local sagrado onde o candidato deve ficar enclausurado para meditar sobre o passo que está tomando, para pensar sobre a fragilidade da vida humana, vendo e analisando os elementos que compõem esta Câmara de Reflexão e pense na seriedade da Instituição que está ingressando, nos valores da nossa vida profana, e ali então, no silêncio e no clima de reflexão a que está submetido, possa realmente sentir e meditar sobre aquilo que a Maçonaria lhe irá exigir como ser humano, como MAÇOM, como HOMEM. E isto ele só irá conseguir, ficando sozinho, em meditação, em reflexão, em conexão com o Infinito, com DEUS, com a sua consciência. Através do Testamento, o candidato deve morrer para suas paixões e desejos, e como profano, para renascer para uma nova vida, cumprindo seus deveres para com o Grande Arquiteto do Universo, para consigo mesmo e para seus semelhantes. É a primeira viagem simbólica realizada pelo Candidato, representando o primeiro elemento, TERRA. 3. Cerimônia;3.1. Os olhos vendados:Segundo Jules Boucher, “Vendados os olhos, acentua-se a acuidade dos outros sentidos. O ouvido, sobretudo, se desenvolve. A Maçonaria quer significar com isso que se o profano, se não sabe ver, está demasiado atento aos ruídos do mundo e às palavras de outros. Além do mais, tendo então necessidade de um guia, ele agarra sem pensar no primeiro que aparece”. Observe-se que temos o primeiro momento de confiança total no Irmão que nos guiará, simbolizando que devemos confiar em Deus, em nossos irmãos e na Maçonaria. 3.2. As viagens:Ainda conforme Jules Boucher, citando Ragon: “Quem quer que tenha feito essas viagens, sozinho e sem medo, será purificado pelo fogo, pela água e pelo ar e, tendo podido vencer o terror da morte, com a alma preparada para receber a luz, terá o direito de sair do seio da terra e de ser admitido à revelação dos grandes mistérios”. A primeira viagem simboliza a vida humana, suas paixões, os diversos interesses e seus conflitos, os obstáculos e dificuldades de nossa caminhada enquanto humano, figurado pela irregularidade do caminho e os ruídos ouvidos durante o percurso. um caminho árduo e repleto de obstáculos e trovões ecoando, são os ventos transportados pelo sopro do espírito afastando as impurezas, separando o joio do trigo. Neste momento percebo que às cegas não chegaremos a lugar algum, sem assistência, sem um braço protetor. Feita a “Primeira Viagem”, esta, representa o segundo elemento, o AR, símbolo da vitalidade, com suas tempestades e calmarias, perturbações e equilíbrio, o que demonstra que o progredir está sujeito a variações contraditórias e que apesar das dificuldades, é necessária coragem e perseverança para vencer as paixões, submeter às vontades e fazer progressos na Maçonaria. A “Segunda Viagem”, com tilintar de metais, que simulam os combates que devemos sustentar contra as forças maléficas, o egoísmo, as paixões, a inveja, a ganância, a ignorância e a superstição. E novamente, cuidadosamente o candidato é guiado na escuridão e é questionado quanto à sua pretensão de ser recebido Maçom. Eis que é contemplado com o TERCEIRO ELEMENTO ao ter as mãos lavadas em água que representam o oceano, que banha praias, continentes e ilhas e que para os Maçons simboliza o povo, hora inerte em suas calmarias hora agitado e revolto, sua instabilidade retrata o comportamento humano com seus caprichos e vaidades. Na “Terceira Viagem”, o candidato não percebe obstáculos e tampouco qualquer barulho e então é submetido às chamas purificadoras, que nas iniciações egípcias eram uma caminhada sobre o braseiro, no interior da Pirâmide. O iniciado aí obtém o domínio completo de si mesmo. Como a Salamandra, deve viver entre as chamas, sem sentir seus efeitos: as chamas das paixões humanas. Eis que surge o QUARTO ELEMENTO, o FOGO. O último modo de purificação. 3.3. O Cálice da Amargura:Este símbolo faz o candidato refletir no juramento que faz, da não traição à maçonaria. Simboliza a maneira de enfrentarmos as desilusões de nossos projetos e aspirações. Segundo Jorge Adoum; “O iniciado deve seguir os passos de Cristo, carregar nos ombros todas as amarguras dos demais, suportar a ignorância, o fanatismo e a ingratidão de todos”. 3.4. O Juramento:O candidato presta o juramento diante do Ara, em presença do Grande Arquiteto do Universo e dos Irmãos e ainda de olhos vendados. É condição inerente ao homem a presença de Deus e isso deve o candidato compreender. O Juramento deve ser prestado espontânea e livremente. Jamais o candidato deve prestar qualquer juramento sob ameaça. Assim leciona Jorge Adoum sobre o juramento: “Não se trata de uma obrigação involuntária ou sob ameaça; porque como o maçom é livre na maior plenitude da palavra, contrai a obrigação ou juramento que o liga ao Ideal da Ordem com espontânea vontade”. 3.5. A Luz:Cumprido os juramentos, o iniciado será digno de ver a Luz. Ao receber a Luz, o candidato vê o deslumbramento das espadas apontadas a ele. Não são as espadas ameaças, mas demonstra as dificuldades que encontrará no cumprimento de seus ideais. Dificuldades somente vencidas com fé e determinação, no simbolismo da pedra bruta e no primeiro trabalho realizado, diante do altar do primeiro vigilante. Conclusão:Somos conscientes que a Iniciação não é um processo fácil nem é entendida da mesma maneira por todos os candidatos. Pode durar um longo tempo, para se atingir o mesmo patamar que outros apenas necessitam de um pequeno instante. Meus Irmãos, de fato não somos iguais! Somos iguais na condição de pessoas que ao baterem à porta do Templo, trouxeram no seu âmago a pretensão de ascender, conhecendo a verdade que vivemos apenas na sombra. A compreensão espiritual que se traduz na capacidade de ouvirmos nosso “eu”, com uma intensidade gradativa, é e sempre foi o que diferenciou os homens! Não há boas nem más pessoas, o que existe são pessoas mais ou menos conscientes, mais ou menos elevadas em espírito. A verdadeira humildade mostra-se sim no respeito que todos devemos demonstrar por alguém que não se encontra na nossa linha de pensamento e põe em causa as verdades transmitidas as nossas verdades. É esta a grande lição da Iniciação a esse neófito: saber ouvir os outros como a si mesmo. Devemos agradecer sempre o tempo que os outros nos dispensam, independentemente se é para nos dirigir um elogio ou uma reprimenda. Ir∴ Edison Luiz Outeiro – A∴M∴ ANÚNCIO