Ao fazer resumo dos graus filosóficos do Rito Escocês Antigo e Aceito buscou-se por um encadeamento lógico entre eles; um ou outro formam certa ligação, mas a conclusão até o momento é: não existe interconexão; os diversos graus não mantêm vínculo entre si; o amor é elo da maioria, mas existem graus que dele nem passam perto; é como se os temas dos graus fossem jogados ao léu, em desordem, logicamente desconexos, aleatórios em suas propostas, mas magníficos e esclarecedores em seus objetivos. Essa inexistência de conexão lógica entre os graus é busca constante de mentes com formação cartesiana. Teria a caballah respostas? O misticismo? O esoterismo? A lógica humana continua exuberante dentro da filosofia maçônica, seja ela mecanicista ou mística, mas em todos predomina cegueira, não se entende a possibilidade de existir ordem na desordem. O maçom busca a perfeição. Seu objetivo é a religação com a divindade. Estará ele munido de capacidade intelectual suficiente para ver beleza e ordem onde sua capacidade de pensar ainda não alcança e apenas vê desordem? Infelizmente é na busca dessa condição de perfeição condicionada ao grau de evolução humana que se obscurece a razão para ver ordem na aparente desordem. Kepler é bom exemplo quando forçou beleza e simetria em seus modelos, quando embutiu as órbitas planetárias do sistema solar em cubos e esferas; sabe-se hoje que as órbitas dos planetas que circundam o Sol são elípticas irregulares; ele não admitia que o Grande Arquiteto do Universo pudesse usar de figuras irregulares na construção do Universo. Esteve privado de visão por causa da limitação da ciência e de seus referenciais transcendentais – em sua concepção, um Deus geômetra respeitaria proporções e figuras perfeitas na construção do Universo; aquilo que a mente de Kepler definia como perfeito e belo e não a realidade criada por Deus. Foi um erro de interpretação que trouxe luz para a ciência e assim ainda o é com respeito a muitas verdades a serem desveladas. O sistema da ordem maçônica trata a mente de homens que pensam com lógica, mística e matemática em presença da desordem. Modifica o pensamento do místico e do sensitivo na presença da desordem e intui a presença de ordem. Leva o buscador cientista a encontrar nos mecanismos da Natureza a inspiração de espiritualidade que o religam ao Grande Arquiteto do Universo, mesmo na presença da aparente desordem. Existe evidência para especular e forte razão para inferir que a falta de ligação lógica entre os diversos graus do Rito Escocês Antigo e Aceito pretende demonstrar, provocar, que é na confusão que está assentada a ordem das coisas; que Deus escreve em “linhas tortas”, em linguagem ainda incompreensível, indecifrável ao homem, todo o projeto do Universo. E que essa linguagem, em virtude da visão limitada do homem, mantém aparência de desordem quando em verdade manifesta perfeição num nível superior à compreensão da criatura. A psique humana insiste em buscar ordem, perfeição e disciplina na Natureza porque não aceita que vai morrer, decompor-se em seus elementos químicos elementares, voltar para o lugar de onde foi tomado. Se o homem abandonar a ideia de buscar perfeição naquilo que ele define como perfeito, lógico e belo, encontrará na imperfeição, na aparente desorganização, razões em que tudo é gerado de forma perfeita e bela. Verá ordem no que aparenta desordem, haja vista o homem ser limitado pelos seus sensores e ainda é incapaz de entender a lógica do Criador. O indício transmitido da desarrumação dos graus acena que é da mistura de ideias e sentimentos, emanada da filosofia dos graus que ocorre ligação mais forte com a Natureza no bailado que celebra a vida. Platão afirmava que o único círculo perfeito é a ideia de círculo que existe na imaginação. É comum encontrar o que insiste na formação de ligação matemática e perfeita entre o Grande Arquiteto do Universo e sua criatura, o homem. Ao olhar-se para a Natureza revela-se exatamente o contrário, que a ordem reside na confusão, da diversidade. Pretendem alguns que a experiência mística da existência da divindade de alguma forma esteja ligada ao homem por equações matemáticas, pela lógica ou consciência transcendente ao mundo físico. Sábios tentam estabelecer pontes entre a razão humana e a inteligência divina. O encadeamento ilógico dos graus do Rito Escocês Antigo e Aceito levanta a possibilidade de se observar a origem da Natureza no caos. Ao se especular a história do Cosmos, desde o início da grande expansão até a formação da célula, o caos é uma boa e razoável – não única – explicação para a existência da vida. Quando o homem olha a si mesmo: 1º – como matéria feita com quase nada de massa; se considerar o átomo composto essencialmente de espaço vazio, possuidor de diminutas partículas; que todas juntas possuem massa insignificante, mas tremenda energia; isso pode até justificar a volta ao pó. 2º – como matéria totalmente destituída de massa, absolutamente nada em termos físicos; se o átomo for considerado resultado de fenômenos eletromagnéticos; o átomo ser o resultado da interação de campos magnéticos, dipolos; apenas energia; nada de matéria; apenas o vazio, o nada; isso pode até justificar a volta para a luz. Somos pó? Somos luz? Ainda não sabemos ao certo. Experiências de laboratório demonstram que a superfície da pele humana emite brilho, luz, fótons, que pode ser a manifestação do corpo físico do homem possuir nada em termos materiais, montado a partir da mais pura energia. A partir dessas meditações pode-se especular que nesse nível de observação da Natureza abala-se qualquer convicção de ordem e perfeição; ressalta-se dessa observação que a vida é resultado de imperfeições, acidentes e assimetrias que ocorreram na linha de tempo construída pela história do Cosmos. A existência da vida ainda é um acontecimento fora das leis naturais inferidas pela concepção tecnológica e mística humana. O que é inexplicável à compreensão humana ou é denominado milagre ou se constrói ao seu redor uma interpretação mística que usa da perfeição interpretada pelo homem e, à semelhança de Kepler, encaixa-se tudo o que não se consegue explicar dentro de padrões que são familiares aos sensores materiais. Na concepção do homem material, em sua concepção antropomórfica, o Grande Arquiteto do Universo usaria apenas aquilo que a mente humana já concebeu em termos de perfeição e beleza. É o homem quem encaixa o que não entende em padrões simbólicos ao seu alcance e é por isso que não aceita o padrão definido pelo Grande Arquiteto do Universo na construção do Universo. É a razão do maçom não discutir a constituição e aparência do Grande Arquiteto do Universo, um ser dessa magnitude está fora de sua capacidade sensorial; cada homem cria um Deus de acordo com sua própria experiência sensorial. O conceito maçônico de Grande Arquiteto do Universo é o mais inteligente dos estratagemas para obter liberdade de dogmas e falácias resultantes da interpretação humana do Universo e da vida. O homem que se conscientiza como resultado perfeito de fenômenos aleatórios e imperfeitos, percebe, justifica e testifica a existência de uma mente orientadora e criadora a qual o maçom materializa pelo conceito de Grande Arquiteto do Universo. Sem uma mente por detrás do caos a concepção de vida é impossível. Caos transmite para a lógica humana a ideia de destruição, imperfeição e apenas uma força ou mente orientadora poderia, na concepção humana de perfeição, colocar ordem no caos. O homem apenas não domina ainda a capacidade de entender como o Arquiteto dos Mundos desenha a matéria animada e inanimada; principalmente de onde resulta a vida, o que certamente afastaria o medo da morte, do nada, do esquecimento. O homem considera-se muito importante, é a criatura eleita, o centro do Universo. Falta-lhe humildade para reconhecer que o código, a lógica divina está escrita em símbolos que ainda não formam sentido nem para a mente de formação mecanicista nem para a de formação mística. Todas as criaturas vivas da biosfera da Terra são parte de uma única criatura viva e interdependente, na qual o homem é apenas mais uma criatura deste imenso caldeirão de massa viva. Sua percepção ainda não está capacitada para entender o alfabeto e a lógica do Grande Arquiteto do Universo. E como tenta construir a lógica divina enclausurada em sua própria experiência, condicionada à ilusão percebida pelos seus próprios sentidos, as tentativas de esclarecimento conduzem a respostas falaciosas, inverdades. Daí uma minoria tentar impor suas verdades aos demais pela força, resultando em prepotência e obscurantismo, empecilho na busca de aperfeiçoamento da simbologia da criação. O homem iludido pela sua percepção do Universo há que aperfeiçoar seus sensores ou utilizar-se de instrumentos que permitam ver muito além de sua restrita realidade, até o momento em que consiga ver ordem no caos. A filosofia é um instrumento que permite ver onde não existe luz, onde os sensores materiais e místicos nada percebem. A luz provém do caos. A ordem é inanimada, não se modifica, é sinônimo de morte. O caos é movimento, é energia, é manifestação de vida. Da divisa dos graus filosóficos do Rito Escocês Antigo e Aceito verte “ordo ab chao”, “ordem no caos”; ou seria, “a ordem está no caos”? 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