A palavra Boaz é citada várias vezes nos livros da Bíblia e possui grafia diferenciada conforme a tradução das Sagradas Escrituras. BOAZ No Dicionário de Maçonaria de Joaquim Gervásio relata que: “Boaz 1- Bisavô de Davi (Ruth 1:13-22). Deriva-se de B, que significa “em”, e oaz, “força”, e portanto “na força”, e era o nome simbólico da primeira coluna à esquerda do pórtico do templo de Salomão (I Reis 7:21 e II Crônicas 3:17), ao sul e a PA da coluna Jachin ao norte. Ambas se erguem na entrada dos templos maçônicos.” Já no Dicionário Maçônico de Rizzardo da Camino, Boaz tem também a finalidade de unir através do som “sussurrado” a força que emana do mais alto poder da Loja. Essa força, essencialmente esotérica, tanto do Oriente como das Colunas, esparge-se por todos os presentes que adquirem, assim, a força necessária para reprimir as “oposições” que a mente de cada um dirige como resistência contra a “força maior” renovadora que provém dos atos litúrgicos iniciais provindos da abertura dos trabalhos. Desta forma, a origem da Boaz é bíblica, pois foi retirada do contexto histórico em que a terra de Judá vivia em um reinado de prosperidade, capitaneada pelo Rei Salomão, filho de Davi, que decidira levantar um Templo ao Senhor em Jerusalém. Sua construção é relatada em I Reis 7:21: “Depois levantou as colunas no pórtico do Templo: e levantando a coluna direita, chamou o seu nome Jaquim; e levantando a coluna esquerda, chamou o seu nome Boaz” O registro da construção do Templo e suas duas colunas que ficavam no pórtico, também é registrado em II Crônicas 3:17 : “E levantou as colunas diante do Templo, uma à direita, e outra à esquerda; e chamou o nome da que estava à direita Jaquim, e o nome da que estava à esquerda Boaz.” O antigo historiador Flávio Josefo também relata a construção das colunas no seguinte trecho de seu livro “A história dos Hebreus”: “(…) Havia em redor dessas colunas folhagens de ouro, que cobriam os lírios, e viam-se pender em duas fileiras duzentas romãs, também fundidas. As colunas foram colocadas na entrada do pórtico do Templo, sendo a da direita chamada Jaquim, e a da esquerda, Boaz.” HEBRAICO Quando se busca os precedentes históricos da Maçonaria Especulativa, toda ela montada sobre sólida plataforma da tradição hebraica, especificamente sobre os Testamentos Bíblicos, compreende-se o Real significado da palavra Boaz. Em Hebraico, onde a leitura é feita da direita para esquerda, tudo tem sentido, e a declaração das palavras passam a ter relevância e fundamento, quando se tem consciência nas atitudes práticas. No estudo da língua Hebraica um dos métodos utilizados é o da Guematria, que nos revela o valor numérico da palavra Boaz, em seus processos de somatória e correspondências. GUEMATRIA A Guematria trata do valor numérico das palavras utilizando as 22 letras do alfabeto hebraico. A numerologia hebraica é um apêndice religioso, que colhe as verdades dos livros sagrados e deles retira palavra por palavra, letra por letra. No estudo da língua Hebraica um dos métodos utilizados é o da Guematria, que nos revela o valor numérico das palavras, em seus processos de somatória e correspondências. Assim, a comunicação da informação que é oferecida pela Guematria é de uma conotação mais distante da origem oculta, porém em um nível espiritual mais elevado do que o faz a palavra, gerando uma vinculação entre o abstrato e o concreto. Assim, o sentido mais profundo da palavra Boaz é revelado através dos processos da Guematria. Pelo método “Mispar Gadol” tem-se o valor parcialmente reduzido, onde apenas se faz a redução parcial da palavra, até uma etapa antes da redução total. Neste caso considerando as 5 letras finais(sofit – MeNaTsPaCh), gerando um total de 27 letras hebraicas, tem-se: PRONÚNCIA Assim, um tratado, o Uber Musar, diz que serão abertas as portas do Paraíso àquele que pronunciar a palavra com verdadeira atenção e devoção. O valor de ser pronunciada em voz alta é importante, pois a reverberação do som nas moléculas à volta nos faz entrar em ressonância com o Altíssimo. Destarte, os sons saem do que clama, embora a criatura humana deixe de “viver” em sua forma visível, as ondas sonoras emitidas perduram sendo a manifestação da eternidade, cujo simbolismo é o do poder da palavra que permanece para sempre. Portanto o valor de Boaz está no som, onde a energia produzida elimina as vibrações negativas. TARÔ A chave geral dessas transformações tão curiosas a que submetem as palavras e as letras encontra-se em um livro hieroglífico e numeral muito pouco conhecido quanto às bases científicas, o Tarô. A explicação mística do Tarô formava a base do ensinamento oral da Magia Prática que conduzia o Cabalista iniciado à profecia. Nossas bibliotecas possuem alguns manuscritos atribuídos a Salomão e traduzidos do hebraico para o latim, esses manuscritos contêm, por um lado a representação, sob o nome de talismã, das lâminas do Tarô, ou “clavículas”; e por outro, a explicação e a maneira de usar essas “clavículas”. São conhecidas sob o nome de “clavículas de Salomão” ou “Semamphoras”. As ideias expressas pelos números e pelas letras são realidades incontestáveis. Essas ideias se encadeiam e concordam como os próprios números, que nos remetem a reflexão sobre o simbolismo da figura retratado na carta. O número 16, que é o número correspondente da somatória da palavra hebraica Boaz, no tarô egípcio corresponde ao valor da carta chamada de “O Obelisco”. SIMBOLISMO DA CARTA A primeira associação do Obelisco na carta é com a Torre de Babel, edifício construído por Ninrode para escalar o céu para ter contato com o Altíssimo. Para antigos egípcios o Obelisco era a forma sagrada para o Deus Sol Re ou Rá, o criador da humanidade, a fonte de toda Força e Moral, o sol, de quem o homem era totalmente dependente. Os mais abastados no Antigo Egito colocavam em seu túmulo, um Obelisco, para certificarem-se de que seriam ressuscitados no Reino de Osiris. O obelisco é um importante símbolo de Iniciação para os ocultistas porque eles crêem que o espírito do deus sol egípcio antigo, Rá, habita no obelisco. O Obelisco é o símbolo da ascensão que traduz a energia Divina geradora, transmitida a terra. Assim, o Obelisco é a Âncora do Neófito para que seja lembrado novamente do 19° Landmark: “A crença no G A D U é um dos mais importantes Landmarks da Ordem. A negação dessa crença é impedimento absoluto e insuperável para Iniciação.” O atanor dos alquimistas assume a forma de um Obelisco para significar que as transmutações procuradas nas suas operações encaminham-se todas no sentido da elevação humana, ou seja, do chumbo ao ouro, do peso carnal à pura espiritualização. Na análise da carta evidencia-se, também, a quebra da rigidez por um poder advindo do alto, um raio, que abre novas possibilidades ao Neófito, é o desbastar da Pedra Bruta. Rompimento das formas aprisionadoras, liberação para um novo início. Consiste, ainda, nos desafios dos momentos de transição e na destruição da rigidez e das cristalizações desnecessárias. Abertura. Conhecimento. Em uma miniatura pertencente a um manuscrito da Bíblia Pauperum (1350 a 1370), vê-se que o fogo do altar é aceso por meio de uma chuva semelhante ao raio descrito na carta, que cai do céu: “Celita flamma venit / Et plebis pectora lenit”ou seja “Vem a chama celeste / E aplaca o peito do povo” INTRODUÇÃO MAÇÔNICA A Maçonaria nasceu para facilitar a liberdade do espírito humano. Assim, exige de seus membros ciência e prudência. Muito estreitas são as analogias entre as doutrinas da Cabala e as dos primeiros Graus da Maçonaria, que se tem atribuído à responsabilidade de seu estudo quando da introdução na Maçonaria especulativa, na Ordem moderna. Assim, o estudo da palavra Boaz pela Cabala esmera-se em dar a definição da divindade, em fixar-lhe os atributos e em estabelecer o processo das manifestações de seu poder, como descrito na Invocação Cabalística do Rabi Salomão, filho de Babirol: “Vós sois um, começo de todos os números e o fundamento de todos os edifícios; Vós sois um e no segredo da vossa unidade, os homens mais sábios se perdem porque não a conhecem. Vós sois um, e vossa unidade nunca diminui, nunca aumenta, nem sofre alteração alguma. Vós sois um, não como um em cálculo, porque a vossa unidade não admite multiplicação, nem mudança, nem forma. Vós sois um, ao qual nenhuma das minhas ideias pode fixar um limite e dar definição; é por isso que vigiarei a minha conduta, preservando-me de pecar pela minha língua. Vós sois um, enfim, cuja excelência é tão elevada, que de modo algum pode cair, e não como este um que pode cessar de existir. … Vós sois sábio e, como um operário arquiteto, reservaste da Vossa ciência uma Divina vontade, para em um tempo determinado atrair do nada o ser da mesma forma que a luz que sai dos olhos é atraída pelo seu próprio centro, sem nenhum instrumento ou objeto. Esta Divina vontade cavou, traçou, purificou e fundiu; Ela ordenou ao nada que se abrisse, ao ser que se aprofundasse e ao mundo que se entendesse. Ele mediu os céus a palmos: com o Seu poder reuniu o pavilhão das esferas, com os cordões do Seu poder fechou as cortinas das criaturas do Universo, e tocando com Sua força, as extremidades da cortina da criação, reuniu a parte superior à inferior.” Depreende-se, dentro do estudo maçônico que todas as religiões dogmáticas saíram da Cabala e para ela voltam. Tudo quanto existe de científico e de grandioso nas revelações religiosas de todos os iluminados, tem como fonte a Cabala. Assim, toda doutrina Cabalística é tida como dogma de alta magia, velada sob sua simbologia, e indicada por todos os hieróglifos sagrados dos antigos santuários e símbolos Maçônicos. Dentro deste contexto é interessante notar a similaridade com a passagem do Bhagavad Gîtâ em um dos conselhos de Krishna para Arjuna: “Como de um tanque, em que de todos os lados aflui água, pode-se tirar o fluído cristalino para encher-se com ele muitos vasos de diferentes formas e dimensões, assim as doutrinas dos livros sagrados fornecem à mente do estudante sério, tudo aquilo que ele precisa para chegar ao conhecimento das coisas Divinas, conforme o grau e o caráter de seu desenvolvimento.” BIBLIOGRAFIA: • Joaquim Gervásio de Figueiredo, “Dicionário de Maçonaria”, Editora Pensamento, São Paulo, 1997. • David Caparelli, “Enciclopédia Maçônica”, Editora Madras, 1ª Edição, 2008. • Nicola Aslan, “Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia”, Editora Maçônica “A Trolha”, 2ª Edição, Londrina, 2000. • José Castellani, “Dicionário de Termos Maçônicos”, Editora Maçônica “A Trolha”, 3ª Edição, Londrina, 2007. • Jean Chevalier, “Dicionário de Símbolos”, Editora José Olympio, 22ª Edição, 2008. • Orlando de Rudder, “Dicionário comentado de expressões latinas”, Editora Texto&Grafia, 1ª Edição, 2008. • Bíblia Evangélica – Sociedade Bíblica do Brasil, Trad. 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