Quando, na decadência da Arte Real, os Rosacrucianos da Inglaterra depositaram o segredo de suas operações no simbolismo simples e espontâneo de uma Corporação operária, eles acreditaram que a tradição de sua arte passaria às gerações futuras em toda sua pureza.

Apesar de engenhosa, a intenção daqueles adeptos não se realizou. Em nenhum outro lugar a Ciência Sagrada suportou mutilações maiores que no seio dessa Corporação, que acabou por descer ao nível de uma sociedade ignorante de sua própria natureza e de seu objetivo primitivo.

Martinez de Pasqually e seu discípulo Louis-Claude de Saint-Martin, contemporâneos dos últimos Rosacrucianos da Inglaterra, não viram a necessidade de confiar as Tradições herméticas que eles conservavam às associações venais; mas eles reuniram em torno deles um pequeno número de Homens de Boa Vontade, prontos a sacrificar suas próprias personalidades, sem nenhuma esperança além da de transmitir a alguns discípulos cuidadosamente escolhidos os ensinamentos luminosos dos Hierofantes da Antiguidade e de seus sucessores, os Cabalistas e os Doutores Herméticos da Idade Média.

O martinismo viveu obscuramente longe das convulsões das sociedades, pelo menos no Círculo exterior, e absorto na contemplação dos grandes mistérios da Natureza, até que o movimento universal rumo ao idealismo tivesse levado aos quatro cantos um testemunho eloquente em favor da opinião antecipada pelos observadores sinceros: a saber, que o materialismo é incapaz de responder aos desejos imperiosos do homem de ciência; que o clericalismo é odioso ao homem que tem verdadeiros sentimentos religiosos; cabe aqui um parênteses, ao Nobre Irmão, que prefiro não denominá-lo, a denominar o Rito como CRISTÃO, e eu lhe perguntei o que era Cristão?…. Mas vamos prosseguir, que um coração puro se revolta diante da luta repugnante entre um filósofo impotente e uma teologia corrompida, e pede que ambos sejam para sempre enterrados sob o soberano desprezo do homem.

Destaco aqui uma frase de Louis-Claude de Saint-Martin: “Mas os profanos não vos lerão, não importando se sois transparente ou enigmático, extenso ou conciso. Apenas os Homens de Desejo vos lerão e desfrutarão de sua luz. Dai-lhes essa luz tão pura, tão cristalina quanto possível”.

Eles, os profanos, preferem discutir política caseira, arrumar um bom emprego, satisfazer suas vaidades… Usam claramente a Maçonaria como um trampolim. E o pior de tudo isso é que encontram guarita em nossa Sociedade Iniciática. Talvez sejam os mesmos “homens” que não conseguiram absolutamente nada em sua vida particular e querem tirar proveito, sugando a força de nossa querida Instituição. Temos que dar um basta nisso e urgentemente, antes que transformem a Maçonaria em um partido político. Vocês não acham Irmãos que nossos líderes, maçonicamente falando, teriam que estar preparados para poder nos representar? Será que basta ser apenas político? É para isso que nos reunimos em Templos? Não deveríamos ter absoluto conhecimento sobre a vida profissional, familiar, condutas, atitudes… CONHECIMENTO que ele detém? Não chegou a hora de renovarmos?

Meus Irmãos, devemos abrigar o centro do espírito iniciático, pois é de fácil percepção que a maior parte de nossas Lojas Maçônicas (refiro-me aos Irmãos que pertencem ao quadro de obreiros) afastam-se de todo esforço espiritual para se concentrar em compromissos nefastos da política e para descer de grau em grau até se tornarem centros ativos de ateísmo e de materialismo.

Não podemos deixar de dizer que a base fundamental de nossa ordem é sem nenhum dúvida sua Unidade, seu bem-estar e a multiplicação dos esforços da fraternidade, difundindo-as tanto quanto permitem a descrição devida a nossos mistérios, sua excelência e a decência que eles exigem…

Voltemos ao assunto. Vamos expor muito imparcialmente os diferentes aspectos da ordem que podem ser reunidos em quatro períodos:

  • 1º O Martinesismo de Martinez de Pasqually;
  • 2º O Willermosismo de J.-B. Willermoz;
  • 3º O Martinismo de Louis-Claude de Saint-Martin;
  • 4º O Martinismo contemporâneo.

É impossível perceber claramente o caráter real do Martinismo ao longo do tempo, se não estabelecermos primeiramente a diferença capital que separa as sociedades de Iluminados das sociedades de Franco-Maçons.

A sociedade de Iluminados está ligada ao invisível por intermédio de um ou vários de seus chefes. Seu princípio de existência e duração provém, portanto, de um plano supra-humano e todo o seu governo é feito de cima para baixo, sendo que os membros da Fraternidade devem obedecer aos chefes depois que entram no círculo interno, senão devem deixá-lo.

A sociedade de Franco-Maçons não é de modo algum ligada ao invisível. Seu princípio de existência e de duração provém de seus membros e somente deles; todo o seu governo é feito de baixo para cima com seleções sucessivas por meio de eleições.

Decorre daí que essa última forma de fraternidade apenas pode produzir para fortificar sua existência as cartas constitutivas e os documentos administrativos comuns a toda sociedade profana, ao passo que as ordens de Iluminados sempre recorrem ao Princípio invisível que os dirige.

A vida privada, as obras públicas e o caráter dos chefes da maioria das fraternidades de Iluminados mostram que esse Princípio invisível pertence ao plano divino e não tem nada a ver com Satã ou com os demônios, como tentam insinuar os clérigos assustados com os progressos dessas sociedades.

A Fraternidade de Iluminados mais conhecida, antes de Swedenborg e a única sobre a qual podemos falar ao mundo profano, é a fraternidade dos Irmãos Iluminados da Rosa-Cruz, cuja constituição e cuja chave serão dadas ao longo de vários anos. Foram os membros dessa fraternidade que decidiram a criação de sociedades simbólicas, encarregadas de conservar os rudimentos da iniciação hermética e que deram então surgimento aos diversos ritos da Franco-Maçonaria. Não se pode, portanto, estabelecer nenhuma confusão entre o Iluminismo ou centro superior de estudos herméticos e a Maçonaria, ou centro inferior de conservação reservado aos principiantes. Somente por meio da entrada nas fraternidades de Iluminados é que os Franco-Maçons podem obter o conhecimento prático dessa luz que eles perseguem de grau em grau.

O invisível trouxe uma considerável colaboração aos esforços incessantes dos Irmãos Iluminados da Rosa-Cruz por intermédio da iluminação de Swedenborg, o célebre erudito sueco.

A missão de realização de Swedenborg consistia sobretudo da constituição de uma cavalaria leiga do Cristo, encarregada de defender a ideia cristã em sua pureza primitiva e atenuar, no Invisível, os deploráveis efeitos das extorsões, dos monopólios de recursos e de todos os procedimentos caros ao “Príncipe desse Mundo”, praticados pelos jesuítas, a pretexto de Cristianismo.

Hoje, milhares de homens e mulheres buscam um refúgio na Sabedoria dos Antigos, na Ciência de um tempo que não conheceu nem perseguição religiosa nem intolerância científica, tempo no qual a sabedoria de um iniciado nos Mistérios Egípcios, a riqueza de um adorador de Moloch e a habilidade de um seguidor de Mitra trabalharam na mais sublime harmonia para a construção de um Templo erguido ao Deus de Israel, templo no qual uma idólatra, a bela Rainha de Sabá, e um outro idólatra, Alexandre, o Grande, vieram adorar o Santo dos Santos.

Para entender melhor esse assunto sugiro a leitura da minha obra: Maçonaria – Escola de Mistérios – A Antiga Tradição e seus Símbolos de Wagner Veneziani Costa – Madras Editora.

Diante desse retorno inevitável rumo à Sabedoria da Antiguidade, que produziu Rama, Krishna, Hermes, Moisés, Pitágoras, Platão e Jesus, o martinismo, depositário de Tradições sagradas, sai da sua obscuridade voluntária e abre seus santuários de ciência aos Homens de Vontade capazes de compreender os símbolos, encorajando aquele que é ardoroso e afastando aquele que é fraco, até que a seleção especial dos Superiores Incógnitos esteja completa, quando então o martinismo dissolverá suas Assembleias e retornará ao seu adormecimento secular.

Todo essa obra é baseada essencialmente nas teorias emprestadas dos egípcios por Pitágoras e sua Escola. Ela contém, em seu simbolismo, a chave que abre o “mundo dos Espíritos que não é fechado”; segredo infalível, incomunicável, compreensível somente ao verdadeiro Adepto. Esse trabalho não profana a santidade do véu de Ísis por revelações imprudentes.

Pois somente aquele que é digno e versado na História do Hermetismo e suas doutrinas, ritos, cerimônias e hieróglifos, poderá penetrar a secreta, mas real significação do pequeno número de símbolos apresentados aqui para a meditação do Homem de Vontade.

Louis-Claude de Saint-Martin, o Filósofo Desconhecido, nasceu em Amboise (Indre-et-Loire), em 18 de janeiro de 1743, e morreu em Aulnaye, perto de Sceaux, em 13 de outubro de 1803. Iniciado no estudo e na prática da Filosofia Hermética por Martinez de Pasqually, e no conhecimento do Absoluto pela meditação das obras de Jacob Boëhme, Saint-Martin sempre defendeu a pureza da Tradição contra as injúrias dos profanadores.

Foram sempre sustentados pelos seus esforços os trabalhos que levaram a salvar de uma perda total a porção da Tradição ainda conservada pela Maçonaria e cuja importância essa Ordem ignora.

Muitas Lojas de Filósofos Desconhecidos foram fundadas por Martinez de Pasqually e pelo seu discípulo Louis-Claude de Saint-Martin. O quartel general do martinismo era em Lyon, na Loja dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa (CBCS).

Em sua origem, as Lojas Martinistas compreendiam sete graus: 1º Aprendiz; 2º Companheiro; 3º Mestre; 4º Mestre Perfeito; 5º Eleito; 6º Escocês e 7º Sapiente.

A supressão dos três primeiros graus transformou a iniciação, que foi assim reduzida a três graus essenciais e a graus acessórios de aplicação. É desse modo que está atualmente estabelecida a Ordem dos CBCS.

“Vou tomar a liberdade de citar aqui uma pequena parte de um trecho que é lido por uma das dignidades em Loja:
(O Irmão apresenta o espelho ao Neófito, que permanece com os olhos vendados).

Isso dá nascimento à dualidade, ou princípio binário da oposição dos contrários, representada simbolicamente pelo número 2, que é o princípio passivo por excelência; ou às duas colunas entre as quais tu deverás passar antes de ser admitido a penetrar na Câmara Mística.

As duas colunas, que explicam o mistério de todas as oposições na natureza, são as duas chaves que abrem as portas do céu. Astronomicamente, elas representam os Solstícios de verão e de inverno. Todas as iniciações mostram ao Neófito o simbolismo do binário ou de oposição de contrários, desde a sua entrada no Templo; e a busca da Verdade, da Verdade cuja luz é o objeto de teu ardente desejo, não é outra coisa que não o desejo da alma humana de descobrir o terceiro termo, o elemento de equilíbrio, o reconciliador dos inimigos gêmeos.

No Bhagavad-Gita, Krishna adverte ao vacilante Arjuna: “Mas tu, eleva-te acima dos pares de contrários!” pois conseguir ultrapassá-los será alcançar a Mônada suprema, o Grande UM. Entre o Sim e o Não permanece o espírito, entre afirmativo e negativo. “No sim e no não fundam-se todas as coisas”, era uma expressão do místico Boehme.

Jung, estudando a gênese desses pares de contrários, que sempre surgem nos campos do conhecimento – par e ímpar, direita e esquerda, alto e baixo, positivo e negativo, ativo e passivo, essência e existência, atração e repulsão, amor e ódio, máxima e mínima, macho e fêmea -, observa que todo extremo psicológico “contém. secretamente o seu contrário”, ou então se relaciona “de algum modo com este de maneira muito próxima e essencial.” E exemplifica com a doutrina do Yang e do Yin da filosofia clássica chinesa.

Dessa oposição, prossegue ele, surge um peculiar dinamismo. Não há uso sagrado qualquer que não se converta em seu contrário. E quanto mais é extrema uma posição, tanto mais é de esperar sua enantiodromia, sua conversão no contrário. O mais santo é o mais turbado pelo demônio. E em suas análises verificou no campo da linguística exemplos dessa enantiodromia, como no campo das religiões verificou, exemplos na mitologia, como a versão de um deus que se torna um diabo. Só assim se pode compreender que certos ritos religiosos alcancem o orgástico, em cujos excessos chegam até ao incesto, à prostituição ritual e à conjunção com animais. Temos os exemplos das missas negras, em que Cristo é transformado em símbolo diabólico, comunhões do diabo, pão sacrílego, e o vinho da maldade, ritos no mundo cristão, em oposição contrária à própria religião.

O 2 é o símbolo da dualidade, do binário, da Díade pitagórica. É o símbolo da reciprocidade antagonista, das antinomias, dos contrários.

Em toda a natureza vemos a presença dominadora da lei da alternância, que se revela na dualidade da vibração, na dualidade da moção de qualquer espécie, no devir. O 2 é símbolo do devir, símbolo da alternância, símbolo da criatura, da constituição dualística do universo. Podem os fatores serem múltiplos, mas todos podem ser reduzidos à díada. Os vetores podem ser diversos, mas sempre podem ser reduzidos a 2. Por isso dizia Pitágoras que todo o nosso conhecimento é dual, e só conhecemos quando o dois surge, pois, sem a ,oposição, não poderíamos conhecer. Toda criatura pode ser vista como unidade, mas quando podemos conhecê-la diadicamente, começamos a conhecê-la melhor, porque já realizamos a análise. Depois de conhecida diadicamente, o conhecimento da unidade é rico, muito mais rico, porque j á inclui maior concreção.

É tão importante o reconhecimento do terceiro princípio que deu nascimento ao dogma da Trindade, que reencontramos na base de todos os sistemas de Teogonia. Entre os egípcios, o termo de equilíbrio entre o masculino Osíris e a feminina Ísis é a criança Hórus. O próprio Osíris sintetiza Amon, princípio ativo deificado do Universo, e Ptah, princípio passivo deificado do Universo. Na Teogonia hindu, Shiva, o transformador, reúne os poderes de Brahma, o criador, e de Vishnu, o conservador. Na Teogonia dos cabalistas, Kether, o poder equilibrante absoluto, combina Hochmah, a sabedoria absoluta, e Binah, a Inteligência absoluta. Na Teogonia cristã, o mediador entre o Pai ou princípio ativo, e o Filho, ou princípio conservador, é o Espírito Santo, ou a força universal que anima Animus = Espírito; Anima = Alma.

É esse binário, momentaneamente destruidor do equilíbrio, que mostra as leis, tão pouco conhecidas, da força universal, espalhada em tudo e em tudo invisível na sua essência; força terrível e toda-poderosa nas mãos do Iniciado… Mas basta conhecer dela a existência, meu Irmão… As duas colunas são representadas hieroglificamente pelo caractere hebraico: (daleth), cuja significação cabalística é força, poder, imutabilidade. É a quarta letra do alfabeto sagrado e tem o valor numérico 4, que é o número da virtude geradora, da qual resultam todas as combinações, fonte de tudo o que veio à existência.

E é com essa significação que esse número se reencontra no cume de todas as Iniciações, sob o simbolismo sublime do Nome incomunicável, ou da Palavra perdida, o Nome inefável de Deus, que encontramos composto de quatro letras, na maior parte das línguas modernas e antigas:

Pitágoras comunicava isso aos seus discípulos sob o nome de TeTragramaTon, ou TeTracTis, cujos três “T” formam o venerável símbolo gnóstico do Tríplice Tau, equivalendo à letra V (Schin), o Tríplice Tau hebraico, símbolo cabalístico da Divindade como é manifesta pelo Verbo, pela Palavra, o Nome ou o Discurso. O Tríplice Tau dentro de um Círculo, símbolo da Eternidade, é o monograma do Deus egípcio Thot, a quem o nosso templo é dedicado. E, sob esse círculo, ele forma as iniciais do maior Iniciador, do pai de todas as ciências e de todas as artes, Hermes Trismegisto, o primeiro que proclamou o dogma da imortalidade da alma, e que a simbolizou pela cruz, símbolo similar às duas colunas, indicando a união do equilíbrio das forças contrárias que causam o eterno movimento, a eterna geração e a eterna regeneração; em outras palavras, a imortalidade, representada em nossa Câmara Mística pelo Fogo Sagrado queimando sobre o altar. A Harmonia das esferas, os quatro elementos, água, terra, fogo e ar. Palavra grega que significa ‘o nome de quatro letras’ representa o nome das quatro letras de Deus; as quatro letras hebraicas Yod, Heh, Vav, Heh, as quais transliteradas se tornam YHVH, ou IHVH em latim. A representação gráfica do Tetragramaton é toda uma abrangente descrição de Deus, da Natureza e do Oculto.

Nossos antigos Irmãos, os Irmãos Herméticos, tinham a mais alta veneração pela cruz, a qual eles viam como o símbolo dos quatro elementos, representados pelos animais apocalípticos: a águia e o homem, o touro e o leão, ou o ar e a água, e a terra e o fogo, dos quais eles extraíam a mais pura essência para compor a pedra filosofal, representada pelo nosso altar cúbico. É por isso que os Rosa-Cruzes diziam: “In Cruce Salus”, nossa Salvação está na Cruz. A cruz era também o símbolo da Luz — LVX —, pois a cruz apresenta essas três letras pelo cruzamento das suas linhas.

A Luz entre os Cabalistas, a Pedra Filosofal entre os Hermetistas, o Fogo Central da natureza para os Rosa-Cruzes, a Pedra Cúbica ou o Bloco Perfeito entre os Maçons, não são senão uma só e a mesma coisa, equivalente ao termo mediador que reúne os opostos, esse Santo Arco Real que repousa sobre as duas colunas e que ensina ao Adepto como tirar toda sua energia da reconciliação dos dois inimigos aparentes que, para ele, tornam-se os dois pilares sobre os quais estabelece sua força. A compreensão perfeita da Lei binária te dará o conhecimento do “Bem e do Mal”, que nossos primeiros pais, tomados pela curiosidade e pela desobediência, não foram bem-sucedidos em salvaguardar, tendo sido, desse modo, merecidamente banidos do Éden por sua indignidade.

Mas tu, meu Irmão, tu te isolaste sob a Máscara da discrição para criar tua personalidade por um longo período de silenciosa meditação. Tu podes, sem medo, te apresentar diante do mundo desconhecido, das misteriosas leis da natureza. No entanto, mantenha-te em guarda, porque, desencadeadas contra a tua calma e potente vontade, que exalta a plena compreensão da tua mais absoluta liberdade, todas as forças fatais combinadas lançar-se-ão sobre ti de uma maneira selvagem…

É bom perceber que a personagem bíblica de “um ser Cristão” vem bem depois de tudo isso… Não confundam energia Crística, com o homem. Crístico é a energia pura do Amor. O Amor é a força mais sutil do mundo… A Consciência do Amor!

Mas depois de algumas passagens no cerimonial, existe um outro momento muito importante:
Aprenda, pois, a te envolver com o Manto misterioso, insígnia da Iniciação ou do verdadeiro Conhecimento, ornamento místico do Adepto, contra o qual mesmo a espada flamejante do Querubim não teria poder. Que a prudência não deixe jamais de te aconselhar, meu digno Irmão. Aprenda a te isolar na calma de uma consciência despojada dos vícios e das superficialidades da vida.

Essa vestimenta, que oculta da vista dos profanos e dos perversos o Iniciado, que dela conhece seus múltiplos usos, deve te cobrir com seus franzidos protetores. Do mesmo modo que o Manto de Apolônio de Tiana, esse símbolo representa a plena e total possessão de si mesmo. Ele representa, também, não só o que isola o Sábio das correntes instintivas, mas também a Prudência e a Discrição, que caracterizam o verdadeiro Iniciado. Como o véu de Ísis e o manto de Cibele, que teu ornamento sagrado permaneça para sempre cerrado diante dos estranhos… Talvez o Manto seja o mais profundo símbolo que a Ordem tenha posto diante dos teus olhos; o estudo desse símbolo é deixado aos cuidados do teu trabalho pessoal e de tua perseverança. Representa a superação e a sublimação, por outro lado, também representa a separação dos mundos material e espiritual.

A letra hebraica que representa o Manto é a última do alfabeto, Z (Thau), que é o signo cabalístico da Verdade, da Luz, do Sol e do Ser Humano em seu estado de perfeição. Seu número é 400, ou 5 x 8 x 10, o que significa que é pelas portas da Morte que a vontade humana sobe em direção ao Pensamento Divino. Nesse momento supremo, quando te encontrares no umbral da imortalidade, diante de um mundo que não conheces, isolado à beira de um terrível e fremente oceano, onde as correntes mais horrorosas se batem umas nas outras e enchem a atmosfera com indescritíveis ruídos, gritos nunca antes ouvidos, lamentações de partir o coração e clamores de ensurdecer, que o terror não te apoderes de ti, mas olha para o Oriente e contempla a magnífica Estrela da Esperança, o Pentalfa, símbolo da dominação da Vontade sobre a matéria, signo da superioridade e da Autocracia das faculdades intelectuais sobre os maus espíritos ou as paixões do Homem material.

É a estrela dos três Sábios do Evangelho, símbolo do Verbo feito carne. Representa o cordeiro abençoado de São João ou o bode de Mendes, Lúcifer ou Vésper, Maria ou Lilith.

Em resumo, ele representa o Homem, em sua toda-poderosa Vontade livre. Segundo os místicos, diz Macrobe, os cinco pontos representam o Deus Supremo ou Primeiro Motor, a Inteligência ou os homens nascidos d’Ele, a alma do Mundo, as Esferas celestes e as coisas terrestres. É chamado em Cabala o Signo do Macrocosmo, signo do qual Goethe exaltou a potência no sublime monólogo de Fausto: “Ah! como esta visão excita meus sentidos! Sinto a jovem e santa voluptuosidade da vida ferver em meus nervos e em minhas veias. Era ele um Deus, aquele que traçou esse signo calmante o atordoamento de minha alma, enchendo meu pobre coração de alegria e, num estremecimento misterioso, desvelando em torno de mim as forças da Natureza? Sou Deus? Tudo para mim se torna muito claro. Vejo, nas simples linhas, a Natureza ativa se desvelando diante de minha alma. Agora, pela primeira vez, compreendo a verdade das palavras do Sábio: ‘O mundo dos espíritos não está fechado… Teus sentidos são grosseiros, teu coração está morto… Levanta-te! …Banha teu peito, ainda envolvido num Véu terrestre, nos esplendores do dia nascente, ó Adepto da Ciência Divina!'”

Em nome do Nosso Venerável Mestre, o Filósofo Desconhecido, e pelos poderes que me foram concedidos pelo Supremo Conselho da Ordem Martinista, eu te confiro o título de Iniciado, Aprendiz Cohen, Obreiro do Segredo”.

Por hoje é só…

Eu Sou,
Wagner Veneziani Costa

Bibliografia

  • A História da Rosa-Cruz – Os Invisíveis, Tobias Churton, Madras Editora, 2010
  • A Franco-Maçonaria e o Martinismo, Papus, Madras Editora, prelo
  • Coleção Mestres do Esoterismo Ocidental, Vários autores, Editado por Wagner Veneziani Costa, Madras Editora, 2007
  • Alquimia Espiritual e a Via Interiror – Robert Ambelain
  • A História da Franco-Maçonaria – (1248 – 1782) – Jean Ferré, Madras Editora, 2006
  • Ritual da Ordem Martinista, Teder, Editora Incognito.
  • A Antiga Franco-Maçonaria – Cerimônias e Rituais dos Ritos de Memphis e Misrain – Robert Ambelain, Madras Editora, 2006
  • O Mago da franco-Maçonaria – Tobias Churton, Madras Editora, 2010

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